Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O Estado de S. Paulo

RIO 2007
Dora Kramer

Palavra de arquibancada

‘Pior não foi a vaia. Ruim mesmo foi a combinação de falta de espírito esportivo do presidente Luiz Inácio da Silva, ausência de senso de realidade de seus áulicos e sabujice do cerimonial, que levaram Lula a passar um recibo diante do mundo: é intolerante com a divergência e não tem desenvoltura para enfrentar algo perfeitamente natural na vida de um homem público.

Não suporta a vaia e só transita bem em platéias treinadas para a aclamação.

Podia perfeitamente ter evitado passar para a história do Panamericano como o primeiro presidente, em 56 anos, a não abrir oficialmente os jogos.

Alega-se que o conselho a fuga ao cumprimento do dever – apelidado de ´quebra de protocolo` – teve o intuito de proteger o presidente de constrangimentos.

Se foi essa mesmo a intenção, conseguiu-se o efeito oposto, pois o constrangimento acabou sendo muito maior.

Vaiado seis vezes, se falasse, Lula enfrentaria a sétima, daria por iniciado o Pan e nada mais sobraria do episódio a não ser a óbvia e normalíssima constatação de que o Brasil não é governado por um fenômeno andante e, sobretudo, falante, mas por um homem em quem a população reconhece qualidades, mas não deixa também de enxergar seus defeitos.

Isso é espírito crítico, exercício saudável da contradição. Anormal mesmo é que nem o presidente nem sua assessoria ou mesmo seus aliados políticos tenham feito em momento algum uma concessão ao bom senso e imaginado que uma vaia – mesmo monumental – estaria perfeitamente dentro do roteiro.

Ainda mais em quadra da história particularmente infeliz para a relação entre Estado e sociedade, dada a rejeição geral ao mundo da política, do qual Lula era ali o representante mais vistoso.

Mas a lógica do tributo à egolatria como forma de governo obstrui os canais da percepção e como ocorreu na abertura do Pan, pega desprevenidos tanto o vaidoso quanto o bajulador.

Consulte-se a antologia de um especialista em natureza humana e se encontrará a frase de Nelson Rodrigues que, levada em conta com antecedência, livraria Lula da surpresa: ´No Maracanã vaia-se até minuto de silêncio e, se quiser acreditar, vaia-se até mulher nua.´

Pois, então, era de se imaginar, ao menos como possibilidade robusta, que alguma contestação pudesse ser feita naquele cenário a um presidente da República cujo partido, equipe, aliados, familiares protagonizam escândalos em série em governo de eficácia administrativa celebrada apenas na pirotecnia da auto-exaltação e ele próprio se dá ao desfrute de defender malfeitores de malfeitorias reconhecidas – como Severino Cavalcanti, para citar só um exemplo.

Por muitíssimo menos, Lula foi vaiado no velório de Leonel Brizola, no ambiente fechado do Palácio Guanabara, em junho de 2004, quando o único escândalo conhecido ainda era o de Waldomiro Diniz.

´O carioca é o único sujeito capaz de berrar confidências secretíssimas de uma calçada para a outra´, dizia também o cronista de almas, contribuindo mais uma vez para a compreensão do episódio muito facilmente compreensível, embora o berro do Maracanã não tenha revelado confidências secretas e sim traduzido o devidamente sabido e dito em toda parte.

Mas, e as pesquisas?

Elas medem a popularidade genérica, refletem o efeito da presença de um personagem único em cena a atuar sem contraditório e com a força do uso do aparelho de Estado em prol do culto à personalidade.

Além do mais, se metade aprova o presidente nas pesquisas, metade não aprova.

Na sexta-feira, no Maracanã, certamente não havia só críticos do presidente, mas, assim como os apoios prevalecem na medição fria dos números, o barulho da vaia se sobrepõe a qualquer outro quando a manifestação ocorre ao sabor do anonimato da multidão, o ambiente de espontaneidade e o controle do oficialismo não exerce poder sobre o desenrolar da solenidade.

Após o ocorrido, as autoridades presentes tiveram o bom senso de economizar declarações para esperar a digestão das avaliações. A exceção foi o ministro dos Esportes, Orlando Silva.

Figura apagada no cenário governamental, o ministro perdeu excelente oportunidade de continuar calado. Deu o palpite de sempre, atribuindo tudo a uma ´orquestração´.

Isso falando de um público de 90 mil pessoas vindas de toda a parte da cidade, do País e das Américas, que pagaram ingressos de R$ 20 a R$ 250, que receberam convites e estavam ali para celebrar o esporte e se divertir.

E, de fato, se divertiram dentro do espírito da festa – sem ofensas, exercendo só o direito à barulhenta contestação. Nenhuma seriedade maior teria o episódio caso Lula não se sentisse ofendido e seus áulicos não errassem feio ao aconselhá-lo a se esconder atrás do biombo da omissão.

No mais, o espetáculo da abertura do Pan foi de competência exemplar. Exuberante, organizado, ao mesmo tempo técnico e despojado, brasileiríssimo, exibindo aquilo que o Brasil sabe fazer de melhor: um carnaval muito do profissional.’

Vera Rosa e Carlos Marchi

Oposição diz que vaia serve de alerta; Lula vê ´molecagem`

‘As vaias que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu sexta-feira, na abertura dos Jogos Pan-americanos, no Estádio do Maracanã, foram uma surpresa para ele, seus aliados e até para a oposição. ´Foi bom para ele não confundir popularidade com onipotência´, disse ao Estado o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ). Um assessor disse que Lula classificou as vaias como ´molecagem´, que ficou muito irritado e teria dito: ´Eu não tenho medo de vaia.´

A oposição comemorou. ´É bom para ele não se achar dono da opinião pública e saber que há súditos que vaiam´, comentou o senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB. ´Essa ação no Maracanã foi fruto de irreverência, um gesto de meninada que quer fazer barulho´, rebateu o senador Romero Jucá (RR), líder do governo. Ele lembrou que o escritor Nélson Rodrigues dizia que no Maracanã as pessoas vaiam até minuto de silêncio.

O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA) listou o que chamou de uma série de desacertos do governo no semestre para justificar a vaia. Lembrou a crise dos aeroportos, o episódio Renan Calheiros no Senado, com reflexos para o governo, e os sucessivos escândalos de corrupção que envolveram, até o irmão do presidente. ´A população começa a ver o governo com outros olhos´, disse.

Um dia depois do episódio, porém, ministros e parlamentares aliados pareciam mais dispostos a abafar o protesto, que, no diagnóstico do Planalto, pode ser traduzido como ´ato de irreverência` ou ´coisa orquestrada` para causar constrangimento ao presidente.

Os oposicionistas, de uma forma geral, entenderam que a vaia no Maracanã adveio de um conjunto de pessoas que não formam no público que aprova o presidente. ´Ficou claro que uma parcela da população rejeita o presidente´, disse ACM Neto. Gabeira afirmou que a vaia pode representar ´um momento de inflexão´.

Em busca de uma boa explicação, o deputado Doutor Rosinha (PT-PR), vasculhou o site do Pan para descobrir os preços dos ingressos. Com os números nas mãos, concluiu que nas arquibancadas do Maracanã estava a elite. ´Parafraseando Tom Zé, vaia de elite reacionária não vale´, atacou. Seu colega Cândido Vaccarezza (PT-SP) foi mais pragmático: ´Isso é natural da democracia. Há pessoas que não gostam do PT e do Lula, mas a maioria gosta, como mostram as pesquisas.´’

Para analistas, Rio não reflete popularidade do presidente

‘O Maracanã consolidou uma tradição de apupar políticos, mas as vaias ao presidente Lula, na sexta-feira, têm uma explicação sociológica: os números da popularidade do presidente no País são diferentes dos índices que ele consegue ostentar no Sudeste e no Rio de Janeiro, adverte o analista de pesquisas Antônio Lavareda, da MCI. A análise foi reiterada por Márcia Cavallari, diretora do Ibope. Os dois disseram que a popularidade de Lula no País segue elevada e estável.

De fato, a última pesquisa CNI/Ibope atesta que a aprovação do presidente é de 66% no País, mas de 62% no Sudeste e de 57% nas capitais. Mas nos segmentos de renda esses índices variam muito: entre os que ganham até 1 salário mínimo, por exemplo, é de 77%. Mas a platéia que foi ao Maracanã sexta-feira, pagando ingressos de até R$ 250, certamente é de grupamentos mais elevados.

NÚMEROS VARIAM

Entre os que têm renda familiar entre 5 e 10 salários mínimos, 54% aprovam Lula e 42% desaprovam, segundo a mesma pesquisa Ibope. Entre os que têm renda familiar de mais de 10 salários mínimos, a aprovação desce para 53% e a desaprovação diminui para 41%.

A pesquisa Ibope não fez um corte para o Rio de Janeiro, mas Lavareda observa que os índices de aprovação de Lula no Sudeste têm sido maiores em Minas Gerais e menores em São Paulo e no Rio. É de supor, pois, que o Rio seja mais refratário à aprovação de Lula e que, lá, as classes de renda média e superior rejeitem ainda mais o presidente.

´As pessoas pensam no índice de popularidade de Lula no País para buscar uma explicação para um fenômeno ocorrido no Rio de Janeiro. Os números da aprovação no Rio são inferiores´, menciona Lavareda. Mas ele lembra outros fatores que colaboraram para conformar as vaias. ´Ali, no Maracanã, devia haver uma concentração de classes A e B, com presença reduzida da C. tinha muito pouca gente das classes D e E, onde está o apoio mais firme a Lula´, disse.

Lavareda menciona, ainda, a típica irreverência carioca como outro fator que pode provocar vaias de grandes multidões a políticos. ´O carioca tem um comportamento diferente´, atesta ele. Existe, por fim, um terceiro fator a colaborar para o cenário de rejeição pública – o que o analista chama de ´cultura do Maracanã´.

A primeira grande vaia popular a um dirigente da ditadura aconteceu lá, em 1970, quando o presidente Emílio Médici recebeu minutos de apupos em um jogo do Flamengo. Leonel Brizola, duas vezes governador do Estado, também recebeu sonora vaia no estádio.’

TV DIGITAL
Ethevaldo Siqueira

Só 30% das famílias americanas têm TV digital

‘Quando vejo o que acontece nos Estados Unidos, 9 anos depois de iniciada a introdução da TV digital, penso que devemos ser mais realistas em nossas projeções sobre o que pode acontecer no Brasil. Por mais entusiastas e otimistas que sejamos quanto à digitalização, é bom considerarmos que sua introdução no Brasil será um processo lento, que exigirá de 10 a 15 anos para alcançar a maioria dos domicílios. Isto se considerarmos apenas a mera recepção do sinal digital a partir de um conversor.

Vale a pena refletir sobre os dados da pesquisa divulgada no final de junho pela entidade que representa a indústria, a Associação Americana de Eletrônica de Consumo (Consumer Electronics Association ou, simplesmente, CEA). Ela mostra que, até agora, só 30% dos domicílios americanos dispõem de um televisor capaz de receber sinais digitais. Isso significa que 70% dos televisores dos Estados Unidos ainda são analógicos, mesmo depois de 9 anos de transmissões regulares de TV digital.

Ainda assim, a agência reguladora das comunicações, a Federal Communications Comission (FCC) mantém o prazo de encerramento das transmissões analógicas em fevereiro de 2009.

O estudo, que tem o título de Alta Definição: Você tem o televisor, mas não tem conteúdo, mostra que apenas 44% dos domicílios que dispõem de televisores digitais estão recebendo regularmente programação em alta definição (High Definition TV ou HDTV). A maioria, portanto, não recebe e alega, entre outras razões, o alto custo dos pacotes de programas na TV a cabo ou a falta de interesse na alta definição.

O mais surpreendente, no entanto, é a resposta de alguns proprietários de televisores digitais que dizem não saber exatamente se estão ou não recebendo programas de alta definição, na TV aberta. Por outras palavras, há telespectadores que não identificam a HDTV nem quando vêem as imagens de um programa.

Comentando a pesquisa, Joe Bates, diretor da CEA, afirma que o telespectador precisa ser continuamente informado e educado sobre a tecnologia, suas características, suas vantagens e o modo de utilizá-la. Muitos ainda não entendem o que significa alta definição nem tiveram a oportunidade de sentir a experiência total de alta definição, que os especialistas chamam de ‘full HD experience’.

O estudo também revela as duas razões principais que levam o consumidor americano a tomar a decisão de comprar um televisor de alta definição. A primeira delas, imaginem, é melhorar ao máximo o visual dos videogames. A segunda é dar nova vida aos filmes.

Segundo a CEA, de cada 100 proprietários de HDTV, 66 recebem seus programas via TV a cabo, 27 via satélite, 8 pela atmosfera, 3 via fibra óptica e os 3 restantes pela internet.

No Brasil, a popularidade da TV aberta pode ser medida pela presença do televisor em mais de 94% dos domicílios do País – uma penetração até um pouco superior à dos Estados Unidos. Já a TV por assinatura não alcança sequer 10% dos lares brasileiros, mesmo com o crescimento expressivo dos últimos dois anos.

O longo tempo de maturação da TV digital em todo o mundo e, em especial, nos Estados Unidos deve servir de alerta e de lição para o Brasil. E é bom lembrar que os países desenvolvidos têm tudo para acelerar a universalização da HDTV. Basta lembrar que a renda per capita do cidadão americano é quase 8 vezes superior à dos brasileiros.

Vale lembrar, também, que a introdução da TV digital ocorreu nos EUA, em 1998, tendo como grande motivação a HDTV, isto é, o salto de qualidade das imagens. Naquela época, nem indústria nem emissoras manifestaram interesse noutras características da TV digital, como a interatividade e a mobilidade. O único propósito era oferecer a HDTV como algo mais ao telespectador da TV aberta e gratuita. Mas essa estratégia de valorização da TV aberta não está funcionando como se esperava.

O sistema nipo-brasileiro de TV digital escolhido e adotado no Brasil é muito mais ambicioso do que o dos Estados Unidos. Desde o início das discussões, o País exigiu que a tecnologia digital proporcionasse tanto a alta definição como a interatividade e a mobilidade.

Alta definição significa imagens da melhor qualidade possível, com mais de 2 milhões de pixels. Interatividade possibilita a intervenção do telespectador, respondendo a pesquisas, votando e acessando novos serviços, como os de comércio eletrônico e governo eletrônico. Mobilidade, por sua vez, quer dizer viabilidade de recepção de TV em veículos ou no telefone celular.

O Brasil tem a seu favor hoje muito maior disponibilidade e maturação da tecnologia do que os Estados Unidos de 1998, quando introduziram a TV digital. A tudo isso se soma a paixão avassaladora pela TV aberta e gratuita. O grande limitador, no entanto, é o baixo poder aquisitivo de sua população.

Será que teremos melhores resultados que os Estados Unidos?’

CULTURA BRASILEIRA
Luiz Zanin Oricchio

Cult dedica dossiê a reflexão sobre a televisão brasileira

‘E bom sinal que uma revista de cultura dedique o dossiê do mês a uma reflexão sobre a TV brasileira. É o que fez a Cult com o dossiê TV Brasileira com artigos de especialistas como Laurindo Lalo Leal Filho, Gabriel Priolli Jr., Arlindo Machado, Alzimar Ramalho e Inimá Simões, além de uma entrevista com Fernando Barbosa Lima. O artigo inicial, intitulado A Ética, a Linguagem e a Guerra de Audiência, traz depoimentos de homens de televisão ou estudiosos do veículo como Silvio de Abreu, Nelson Hoineff, Vladimir Safatle, Eugênio Bucci, Marília Franco, Edney Silvestre e Marília Franco.

O número da Cult é tanto mais importante no momento em que se discute um marco regulatório para as tevês e a adoção do novo padrão digital. Na semana passada, as emissoras venceram mais um round contra qualquer tipo de controle social de programações. Na quarta-feira passada, o governo, pressionado pelas emissoras e por artistas, recuou e transformou a classificação de programas em autoclassificação. Mas a questão da qualidade da programação continua pendente.

Um bom depoimento sobre o tema é o de Fernando Barbosa Lima que, aos 73 anos, tem em seu currículo a produção de mais de cem programas, alguns deles marcantes como Canal Livre, Conexão Internacional, Cara a Cara e Família Brasil. Ele está lançando um livro sobre sua experiência de 50 anos na televisão chamado Nossas Câmeras São Meus Olhos. Nele, destaca-se uma frase que parece espantosa, quase uma profissão de fé: ´Sempre acreditei que qualidade vende.´

O repórter (Geraldo Galvão Ferraz) duvida um pouco e pergunta se isso é verdade para a TV de hoje. Fernando acha que sim: ´O público de classe média procura uma televisão com melhor nível. E esse público é exatamente o que tem maior poder de compra.` Nesse sentido, o que ele vê de positivo na Globo? ´O padrão técnico de qualidade, com certeza.` Mas ressalva: ´Acho apenas que ela deveria investir mais em educação e cultura.´

Gabriel Priolli discute outro tópico polêmico em A TV Pública É Importante? A implantação de uma rede pública tem sido alvo de ataques, tendo como alvos a baixa audiência dessas TVs, o perigo de aparelhamento por parte do Estado e o uso da rede para propaganda do governo. Tema sensível, cuja discussão apaixonada tende a provocar mais calor do que luz. Priolli tenta colocar um pouco de ordem no debate, ressaltando a necessidade de um tipo de televisão que não se renda à lógica do mercado, isto é, que não precise pautar sua programação pelo desempenho medido pelo ibope.

Bastante problematizador é o artigo de Arlindo Machado, Modos de Pensar a Televisão. Machado lembra que o cavalo de batalha de todas as discussões é a noção de ´qualidade` da programação. Sabemos que não é fácil defini-la, embora seja possível reconhecê-la. O desafio, lhe parece, é compatibilizar as exigências industriais da produção televisiva com a necessária crítica aos produtos que dela saem.’

TV FECHADA
Etienne Jacintho

24 Horas não é Os Simpsons

‘Em 24 Horas há personagens russos e árabes. Na dublagem da Fox, porém, o único que possui sotaque é o vilão Gredenko. Outro problema na dublagem é o som: a voz dos personagens é baixa enquanto o barulho dos efeitos sonoros cai como uma bomba – desculpe o trocadilho – no ouvido do telespectador. Quem já se acostumou com a voz de Kiefer Sutherland reclama do herói Jack Bauer falando português.

Dublagem é um risco e nem sempre gera um Bart, uma Marge ou um Homer Simpson, impecáveis em português. Mas eles são animados e, nesse caso, os dubladores dão vida a cada Simpson.

No caso dos personagens de carne e osso, o ator é quem dá o tom com sua voz, as pausas, o sotaque, o modo de falar… Faz parte da atuação, certo? Então, por mais que alguns considerem a defesa da legendagem algo elitista, nada melhor do que assistir a um programa no idioma original.

Não sei que tipo de pesquisa a Fox fez para chegar à conclusão de que o público prefere dublagem. Talvez o canal esteja atrás da audiência da TNT, que sempre teve bom ibope com seus filmes dublados. Porém, até mesmo a TNT exibe suas séries legendadas.

Achei boa a dublagem de Dexter na Fox, mas não supera o inglês com legendas. Até porque o ator Michael C. Hall já fala português na Warner – que exibe A Sete Palmos dublado, por contrato. Mas não adianta reclamar. A Fox afirma que, até o fim do mês, 100% de sua grade será dublada.

Essa parece ser uma decisão da Fox Brasil. Na Argentina, Bauer ainda fala inglês e seus inimigos continuam com sotaque!’

´Tudo tem sido surreal; até essa entrevista é surreal`

‘Em uma conversa com cerca de 20 jornalistas de todo o mundo por telefone, Masi Oka não escondia seu espanto. ‘Tudo tem sido surreal. Essa entrevista é surreal’, disse o ator que dá vida a Hiro Nakamura, o personagem mais querido de Heroes, que o Universal Channel exibe às sextas-feiras, às 21 horas.

O ator japonês, que foi morar nos EUA quando tinha 6 anos, deu um tempo no trabalho da equipe de efeitos especiais de George Lucas para se aventurar na carreira que tinha deixado de lado: a de ator. E deu certo.

Agora, Oka é celebridade. ‘Provei o poder de uma mulher gostosa’, diz o ator, em referência aos olhares que atrai. E hoje, Oka não sai de casa sem se arrumar. ‘As pessoas querem tirar fotos.’ Confira trechos da conversa da qual o Estado participou.

Você achava que sua carreira de ator fosse dar tão certo quanto a de expert em computador?

Não sei dizer. Adoro computação e matemática – gosto de trabalhar esse lado do cérebro. E atuar profissionalmente é algo que nunca pensei em ir atrás. É um sonho.

Você ainda tem tempo de trabalhar com George Lucas?

Está difícil. Trabalho com a equipe um dia por semana, mas não posso desenvolver nada novo porque Heroes é minha prioridade.

Você tem vontade de se envolver na criação dos efeitos especiais da série?

Acho que a equipe está fazendo um ótimo trabalho considerando que a verba e o tempo são de TV. Venho do cinema, onde há mais tempo e mais dinheiro. Quero me envolver com a produção da série e, quem sabe, na 3ª ou na 4ª temporada, eu possa dirigir um episódio e aprender mais sobre TV. Sempre fui fascinado com o que acontece atrás das câmeras.

Como é sair em público hoje?

O assédio é algo bom. Os fãs chegam e dizem: ‘Nossa, adoro seu seriado!’ É bacana sair, encontrar fãs e sentir a paixão deles. Tem sido surreal. Essa entrevista é surreal. Até me arrumo para sair de casa, porque as pessoas querem tirar fotos…

Você fica ansioso como os fãs para saber o que vai acontecer nos próximos episódios?

Toda vez que abro o roteiro é incrível. Começo a fazer conjecturas e falo com os roteiristas. O maior segredo é como os escritores conseguem surgir sempre com novidades. Tenho pistas do que vai ser a 2ª temporada. E é inacreditável!

Quais foram os desafios ao construir Hiro?

Tudo é um desafio como, por exemplo, o sotaque de Hiro. Outra coisa é manter a essência de Hiro quanto à sua inocência e seu entusiasmo pela vida, além de manter o realismo e o fundo cômico do personagem.

Você emprestou algo seu para o Hiro?

Sim porque adoro colaborar com os roteiristas. E essa indústria vive de criatividade e de colaboração. Os roteiristas são tão generosos e abertos que parte do sucesso da série vem dessa visão criativa de todos.

O sucesso de Heroes o surpreendeu?

Para ser honesto, senti que estávamos fazendo algo especial durante o piloto. Tim Kring criou esse mundo maravilhoso onde cada personagem tem muita profundidade, mas não achei que fosse ser esse hit.

E Hiro é o personagem mais adorado…

Ah, não sei… Gosto de interpretá-lo e espero que eu passe para o público esse meu entusiasmo e paixão.

Quem é seu super-herói favorito de todos os tempos?

Meu super-herói favorito está na vida real. É minha mãe. Qualquer mãe solteira para mim é uma super-heroína.’

Roberto Godoy

Realismo fantástico

‘O show de conversa de David Letterman, apresentado diariamente no GNT, é um exercício de realismo fantástico. Um dia, Letterman abre o Late Show contando que Nova York está estalando o couro sob o sol do Verão e, no seguinte, fala do frio e das atrações de Natal. Natal do ano passado, bem entendido.

Não há uma única linha de informação na tela sobre a temporada que está sendo exibida – tanto na estréia noturna quanto nas reprises matinais. Custa muito afagar o freguês?

Nesse caso o canal GNT deve explicações aos assinantes por outra razão: jogou as reapresentações do dia – a primeira entrava pouco depois da meia-noite – para a manhã seguinte, às 5h (?!) e depois às 8h30. Perdeu audiência.

Na faixa das 21h, boa parte do público básico, formado por executivos e profissionais liberais, ainda não voltou para casa. Na hora da segunda chance, está dormindo. Ou pegando no batente.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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