Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O Estado de S. Paulo

DOW JONES VENDIDA
Editorial

A ‘murdoquização’ do WSJ

‘Há mais tempo do que a memória alcança os jornais não publicavam notícia tão má como a que saiu no mundo inteiro na última quarta-feira – sobre a própria imprensa. Trata-se do anúncio de que foi consumada, afinal, a aquisição do controle acionário do grupo americano de mídia Dow Jones, que edita o Wall Street Journal (WSJ), pelo magnata Rupert Murdoch. A notícia é má e agourenta para a imprensa, em crise no mundo inteiro, precisamente por serem quem são o jornal e o personagem que, depois de quatro meses de negociações, acabou vencendo os escrúpulos da família Bancfrot, proprietária da companhia há mais de um século, com a sua oferta de US$ 5 bilhões. O WSJ, considerado com razão ‘a bíblia dos homens de negócios’, não é apenas o mais completo diário especializado em economia e finanças do mundo, em que pese a indiscutível qualidade de seu principal rival, o britânico Financial Times. Duas outras características notáveis distinguem o Journal, como é comumente chamado no circuito da mídia. A primeira é o alto padrão de suas reportagens – que estão longe de se restringir ao universo da atividade produtiva e do dinheiro. As suas matérias sobre política nacional e assuntos internacionais competem rotineiramente com as do New York Times – ainda a referência planetária do jornalismo de qualidade -, embora as deste sejam mais numerosas e variadas. A segunda característica é o seu padrão de rigorosa distinção entre informação e juízo de valor. Ela complementa a proverbial barreira – própria das publicações preocupadas com a ética e o respeito ao público – entre ‘Estado’ (os interesses negociais das empresas editoras e os de seus anunciantes) e ‘Igreja’ (os critérios estritamente jornalísticos na abordagem dos fatos).

No Journal, a compartimentalização entre a página editorial e as páginas do noticiário é sagrada. Por exemplo, nenhum grande jornal americano o superou em matéria de apoio irrestrito à aventura iraquiana do governo Bush. Nem por isso, no entanto, o seu corpo de profissionais deixou de noticiar e publicar artigos contundentes e bem fundamentados sobre os resultados catastróficos dessa aventura. Já a trajetória do empresário australiano Rupert Murdoch, de 76 anos, é a prova viva de que o que ele entende por jornalismo é a antítese do que pratica o WSJ, com uma agravante devastadora. Ele não apenas usa despudoradamente o seu império de mídia como gazua para abrir portas para seus negócios, interferindo com mão pesada nas decisões de seus editores sobre o que e como publicar, como não faz a menor restrição ao jornalismo de esgoto, desde que seja lucrativo.

Muito se fala do seu direitismo. Mas isso não o impediu de aceitar mansamente a censura do governo comunista chinês sobre, entre outras coisas, o noticiário de violações de direitos humanos no país, transmitido pela Sky News Television de sua propriedade. Com isso, vá lá o jogo de palavras, fez negócios da China com o governo comunista de Pequim. O homem, pode-se dizer, faz qualquer negócio, desde que seja bom para as contas da News Corporation, o seu conglomerado multinacional de jornais, revistas, emissoras de televisão, editoras de livros, estúdios cinematográficos, sites na internet, etc. Como publisher que desdenha do termo integridade, não lhe passará jamais pela cabeça deixar que o relato honesto dos fatos atropele os seus interesses empresariais. Os executivos dos órgãos de mídia que ele adquire aprendem num abrir e fechar de olhos que ou se dobram às ‘verdades’ e gostos do novo patrão ou pedem as contas.

Murdoch tem um faro como que inato para tudo aquilo que a cultura de massa tem de especialmente degradante – e sabe como ninguém faturar alto com as emoções baratas instigadas pelo sensacionalismo, o escândalo, a vulgaridade, a pornografia. Na mídia impressa, o seu carro-chefe é o abominável tablóide londrino The Sun. Com 3 milhões de exemplares, é o mais lido diário de língua inglesa do mundo. Murdoch é sinônimo de ‘tabloidização’, o que designa menos o formato de um jornal do que a sua indigência ética e jornalística. E ‘murdoquização’ é o desfiguramento que ele imprime aos jornais que captura, como foi o caso do outrora venerável Times de Londres. Será de espantar se outra for a sorte do WSJ.’

Sérgio Augusto

The Murdoch Street Journal

‘Venda do jornal de economia mais importante do mundo é um risco para o jornalismo

A novela finalmente chegou ao fim. Com o desfecho previsto: Rupert Murdoch dobrou as últimas resistências da família Bancroft, e sua News Corporation comprou a Dow Jones Corporation, proprietária do diário The Wall Street Journal. Valor da transação: US$ 5 bilhões (ou US$ 60 por ação).

As ações da Dow Jones valiam em torno de US$ 36 quando, em 1º de maio, a CNBC noticiou o interesse de Murdoch em arrematá-las. De imediato, subiram para US$ 56. Mas teriam caído com a mesma rapidez se Murdoch desistisse do negócio e nenhum outro interessado se apresentasse. O investidor Warren Buffett, a General Electric e outros ameaçaram entrar no leilão, mas desistiram ao avaliar melhor a obstinação e o poder de fogo do magnata australiano.

Para Murdoch foi mais um negócio da China. Com circulação diária de mais de 2 milhões de exemplares, o WSJ é o segundo jornal mais lido dos EUA (o primeiro é o mcpaper USA Today) e o mais respeitado no que diz respeito à cobertura de assuntos econômicos (suas reportagens sobre show business são mais abrangentes que as do Variety e quejandos).

Para o jornalismo, foi um desastre, similar à eventual compra de qualquer um dos três maiores jornais do Brasil pelo bispo Edir Macedo.

Para os Bancroft, bem, a família é enorme, vive espalhada entre Roma e o Havaí, e, naturalmente, dividiu-se. Uns foram contra a venda de cara. ‘Qualquer um, menos Murdoch!’, estrilou Elizabeth Steele, inflamada integrante do board da Dow, daquelas para quem o jornalismo é (ou deveria ser), em primeiro lugar, pentecostalista, e, só depois, lucrativo. Ou seja, acima de tudo, fiel a determinados princípios éticos e a um padrão de excelência profissional.

Os Bancroft poderiam ter oferecido conteúdo e parceria ao canal de negócios, Fox Business Channel, que Murdoch pretende inaugurar em outubro. Mas, em vez de vender só o leite, negociaram a vaca. De resto, sagrada. Desde 1902 que a família tocava, de forma invisível, o WSJ, procurando mantê-lo irrestritamente atrelado aos ideais do capitalismo, mas sem filiação partidária ostensiva (o último candidato a presidente endossado pelo jornal foi o republicano Herbert Hoover, em 1928).

Seus editoriais e colunistas podem ser irritantemente conservadores, mas a redação sempre trabalhou com espantosa liberdade e frutuosa competência, tradição imposta pelo legendário editor Barney Kilgore, que lá deu as cartas nas décadas de 40, 50 e 60. Muitas das denúncias contra ações fraudulentas no mercado de capitais, nos anos 80 e 90, que renderam ao WSJ vários prêmios Pulitzer, talvez não chegassem aos leitores se o jornal já estivesse sob a tutela de Murdoch; se já fosse, enfim, The Murdoch Street Journal.

Murdoch é um misto de polvo e trator. Só na Austrália controla mais de 60% da imprensa, é dono da mais poderosa operadora de TV a cabo, de metade da Qantas (a maior empresa aérea do país) e de toda a liga de rugby. Também fez uma limpa no mercado internacional. Além de 93% da Star TV e 100% da HarperCollins, a News Corp. possui mais de uma centena de revistas e jornais, a Fox TV, os estúdios de cinema da Fox e interesses em empreendimentos televisivos de cinco continentes. Seu império jornalístico já contava com 175 jornais antes da compra do WSJ. Nele, o sol nunca se põe – e há sempre, ao fundo, um televisor ligado (também é dele o programa mais visto no mundo, ‘The American Idol’) e um computador acessando o MySpace. Compará-lo a Charles Foster Kane é abusar do eufemismo.

Seu maior defeito não é ser de direita, é não ter escrúpulos e só pensar em acumular poder. Deram-lhe um apelido perfeito: ‘Aussie vulgarian’. Os australianos não primam pela sofisticação, mas Murdoch abusa do direito de cultuar e disseminar a vulgaridade, o sensacionalismo, o nivelamento por baixo. Ted Turner, dono da CNN, principal concorrente da Fox News, já o comparou a Hitler. Bruce Page, ex-editor do britânico Sunday Times, comprado e encolhido por Murdoch, preferiu compará-lo a Falstaff – uma injustiça com o boêmio e glutão personagem shakespeariano.

Murdoch não tem o menor constrangimento de usar suas publicações e emissoras de tevê para seduzir políticos e alterar legislações criadas para evitar concentração de poder, monopólios e outros malefícios à democratização da mídia. Perseguiu o senador Edward Kennedy por sua vigilância às regras da Comissão Federal de Comunicações dos EUA (FCC, na sigla em inglês), que contrariavam os interesses da Fox Corp. A Fox News (vulgo ‘Faux News’) é linha-auxiliar confessa do governo Bush, promiscuidade que o comentarista do New York Times Paul Krugman caracterizou, muito polidamente, como ‘conflito de interesses’.

Suas ligações com os republicanos transcendem o campo das idéias. E do decoro. Ele ofereceu US$ 4,5 milhões de adiantamento por um livro ao então bambambã do Congresso americano, Newt Gingrich, não porque farejasse um best seller, mas porque necessitava de sua ajuda para abrir brechas na legislação da FCC. Até o beneficiado assustou-se com a proposta.

Apesar de ferrenho anticomunista, não economiza agrados ao governo chinês. Não quer perder o fabuloso mercado que de certa forma já controla com a sua tevê por satélite, a StarTV, sediada em Hong Kong desde 1993. Quatro anos atrás, tirou a BBC do cardápio da tevê por assinatura BSkyB porque os manda-chuvas de Pequim não gostavam da maneira crítica como a emissora britânica cobria a China. Em seguida, não apenas suspendeu a publicação das memórias do último mandatário britânico em Hong Kong, Chris Patten, que sairiam pela HarperCollins, conglomerado editorial formado por Murdoch em 1989, como ofereceu US$ 1 milhão à filha de Deng Xiaoping para que escrevesse a biografia do pai, um monumento ao clichê, à propaganda e à pieguice.

O que mais se temia – a interferência de Murdoch na linha editorial do WSJ – pode até demorar, em função, sobretudo, das ameaças de cancelamentos de assinaturas que se avolumaram desde o início das negociações, mas na certa ocorrerá. Ele prometeu aos Bancroft e demais membros da cúpula da Dow Jones que respeitaria a liberdade editorial do jornal. Fez o mesmo com a família Carr, por ele usada para comprar The News of the World, sua ponta-de-lança na Inglaterra. Também assegurou a Dorothy Schiff que não mexeria na postura liberal do New York Post, que dela comprou em 1976, e o que se viu foi uma guinada repentina do jornal para a direita. Ao empalmar o londrino Sunday Times, reprisou as juras de sempre, para, na primeira oportunidade, demitir o editor Harold Evans, e pôr o jornal a serviço de Margaret Thatcher – e dos interesses da News Corp., claro.

A única publicação em cuja linha editorial Murdoch não interferiu foi o semanário alternativo The Village Voice, por ele tonificado financeiramente em 1977, a pedido de Clay Felker, que também editava as revistas New West e New York, ambas beneficiadas pelo australiano. Na primeira oportunidade, passou a perna em Felker. Tem tudo para abafar no Brasil.’

MÍDIA & POLÍTICA
Flávio Aguiar

Petista inclina-se por modelo chavista

‘O Presidente exagera ao reclamar das vaias?

Sim, há oposições que estão tentando um terceiro turno contra a vitória de Lula em 2006. É importante qualificar que tipo de oposição é essa, que fica em busca desse terceiro turno, que poderia se materializar numa falência do governo. Não há crise social no ar, além da crônica situação de má distribuição de renda no Brasil.

O que há é uma crise política, uma crise de representação política, que atinge todo o sistema, mas sobretudo os partidos e setores de mídia conservadores. No Brasil a mídia não é espelho da política, ela faz parte da política institucional, seus jornalistas e arautos se comportam como tal. Arvoram-se com freqüência em promotores, juízes, meirinhos. Acusam, julgam, dão penas, depõem, repõem. Isto é assim pelo menos desde o fim do segundo governo de Vargas, em 54. No presente momento, as chamas da tragédia em Congonhas ainda queimavam, e já havia dizeres no ar e artigos acusando o governo de ‘assassino’, interpretação que as primeiras investigações descartaram.

Quem perdeu mais com a reeleição de Lula em 2006? Na esfera política em senso estrito, o ex-PFL, hoje DEM. Viu suas bases tradicionais serem atropeladas pelas políticas sociais do governo em todas as frentes.

Ainda que mantendo governos importantes, o PSDB também perdeu. Perdeu o quê? Representatividade. Quem, ou o quê, representa hoje o PSDB? É difícil dizer com precisão. Mas o caso mais grave é o da mídia.

A ‘teoria da pedra no lago’, que sustentava a auto-imagem de muitos jornalistas conservadores, faliu em 2006. O lago revelou-se um copo d’água. Seguiram-se torrentes de palavras iradas contra o povo, que não sabe votar, os pobres, os nordestinos, e assim por diante. Repetiu-se ad nauseam a falácia de que pobre (até com base em pseudo-interpretações de pesquisas) é mais condescendente com a corrupção.

É desse universo, sobretudo, que parte essa tentativa de impugnar, pelo menos moralmente, o resultado das eleições de 2006. Não estamos diante de uma conspiração tradicional, que leve a um golpe tradicional. Mas sim de uma campanha, que desmoralize o governo e o impeça de governar.

Potenciam-se os fatos negativos, minimizam-se os positivos. Vão dizer: com governos, na imprensa, é sempre assim. Mas nunca como neste, com tal sanha, com adjetivos tão pesados, como este de ‘assassino’. Nem com tais agressões à pessoa do presidente.

É verdade que nem sempre o governo se ajuda. Como no caso da crise aérea, é moroso em tomar decisões e atitudes. Quando as toma, é moroso em comunicá-las. Durante muito tempo teve uma política de marketing, não de comunicação. Suas hesitações pavimentam o caminho das acusações desqualificadoras.

Este quadro pode mudar? Duvido. O jornalismo conservador vai continuar a tentativa de desqualificação do presidente. Na falta de programas alternativos, os políticos de oposição vão continuar correndo atrás do noticiário sensacionalista contra o governo. A mídia conservadora é que pauta a oposição, não o contrário. E o governo provavelmente vai continuar moroso, alimentando a fogueira em que seus adversários pretendem queimá-lo, como se dizia no jargão dos anos 60. Esperemos que mais uma vez, para consolidar a democracia, seja o povo quem de fato decida.

*Pesquisador do Programa de Pós-Graduação de Literatura Brasileira da USP’

José Álvaro Moisés

Mídia tenta impugnar resultado de 2006

‘O Presidente exagera ao reclamar das vaias?

Há pelo menos três significados para as reações do presidente Lula e do PT aos acontecimentos das últimas semanas. Primeiro, elas revelam uma concepção de democracia pouco abonadora para eles. Classificar protestos e vaias como terceiro turno é uma idéia essencialmente antidemocrática. A Constituição prevê eleições em dois turnos quando a disputa não se resolve no primeiro, mas garante aos cidadãos o direito de se opor ao governo, quando há motivos para isso, através de partidos, ações na Justiça, pressão direta e protestos. Classificar isso como terceiro turno revela incapacidade de conviver com quem pensa diferente.

Segundo, interpretar como orquestração vaias e movimentos de cansaço em face de claros sinais de desgoverno – apagão aéreo, insegurança pública e dificuldades para bem aproveitar a bonança econômica internacional – é indicador, ao mesmo tempo, de surpresa e de arrogância em face do sentimento real de setores da população com o que ocorre no País. O governo e os dirigentes do PT parecem ter tanta certeza de que tudo o que fazem está correto que não cogitam perguntar-se sobre os verdadeiros motivos do descontentamento. Cegos pela arrogância política, ao invés de procurar entender a frustração de expectativas de parte dos eleitores, limitam-se a classificar manifestações legítimas como orquestração, sem perguntar por que tanta gente aceita isso.

Terceiro, Lula parece inclinar-se – no limite – pelo modelo chavista de enfrentar opositores, menosprezando o perigo implícito de dividir o País ao meio. Embora lembre, com razão, que não se deve ‘brincar com a democracia’, porque não sabemos o que vem depois dela, revela que não hesitaria em levar as divergências para ‘as ruas’, se entender necessário, desconsiderando que isso fere a lógica e o processo institucional democráticos de dirimir conflitos políticos. Os riscos para a democracia e para uma realidade que, cada vez mais, envolverá a presença de cidadãos críticos são evidentes.

*Professor Titular de Ciência Política da USP e Diretor do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas’

Carlos Marchi

Lula esquece passado e vê ameaça à democracia em crítica ao governo

‘A democracia está em xeque, acusou na semana passada o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao irritar-se com apupos de pequenos grupos em Cuiabá e Campo Grande. ‘Com a democracia não se brinca’, ameaçou Lula, ‘porque o que vem depois dela é muito pior’. A reação não combina com o tom duríssimo com que, durante 24 anos, ele vergastou governos e personagens a quem fazia uma oposição implacável.

Sob o comando de Lula, o PT apresentou incontáveis pedidos de impeachment contra o então presidente Fernando Henrique Cardoso. Não há registro de que um chefe da oposição o tenha xingado, mas, na oposição, Lula chamou FHC de ‘ladrão’ e ‘corrupto’; José Sarney, de ‘grileiro’; e Itamar Franco, de ‘imbecil’. Numa das acusações a FHC, bradou: ‘Se eles (FHC e seus aliados) tivessem uma escola para ensinar a governar, eu não deixaria meus filhos entrar (sic), porque o máximo que meu filho ia aprender era roubar, e não governar.’

Em dezembro de 1998, dois meses após a eleição que FHC venceu no primeiro turno, uma corrente trotskista do PT lançou o bordão ‘Fora FHC’. O partido não a aprovou e, em abril, três meses após a posse, lançou o mote ‘Basta de FHC’ para substituí-lo, mas o ‘Fora FHC’ já ganhara dimensão nacional. Em maio de 1999, o hoje ministro da Justiça, Tarso Genro, escreveu um artigo defendendo o ‘Fora FHC’.

PEDRAS E PICARETA

‘O PT de Lula sempre foi muito mais agressivo que a oposição de agora’, constata a cientista política Maria Celina d’Araújo, do CPDOC/FGV. No início de 1986, o PT organizou manifestações de protesto no campo. O então presidente José Sarney afirmou: ‘Não podendo alcançar o poder pelo voto, o PT recorre à luta armada.’ Lula respondeu muitos tons acima: ‘Sarney não vai fazer reforma agrária coisa nenhuma porque ele é grileiro no Maranhão.’ Em maio de 1985 militantes da CUT atacaram com pedras e uma picareta, no Rio, um ônibus que levava a comitiva de Sarney. O presidente ficou coberto de cacos de vidro.

Só nos primeiros seis meses de 1998, um ano eleitoral, o PT fez cinco representações pedindo o impeachment de FHC, ao contrário da atual oposição, que evitou chegar ao impeachment no escândalo do mensalão. No Congresso, o PT passou os oito anos de FHC cobrando CPIs para tudo. Em setembro de 2001, Lula denunciou que o acordo do governo FHC com o FMI incluía cláusulas secretas para privatizar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Não houve registro de que o governo FHC pretendesse privatizar o BB e a CEF, mas o governo Lula já não vê pecados em privatizar: há alguns dias anunciou a privatização de algumas das principais rodovias brasileiras.

A ELEIÇÃO ACABOU

‘Diga a eles que a eleição acabou em outubro’, afirmou Lula, terça-feira passada, em Campo Grande (MS), mandando um recado às pessoas que o vaiaram. Em 8 de julho de 1999, o PT decidiu promover passeatas para pressionar a Câmara a iniciar um processo de impeachment contra FHC, explicou Lula à época, sem se dar conta de que a eleição acabara nove meses antes e ele tinha sido derrotado.

Na comemoração do 1º de Maio de 1997, em São Bernardo, Lula acusou FHC de estar ‘metido na maracutaia dos precatórios, do Sivam, do Proer e da compra de deputados para a reeleição’. Em seguida, a CUT-SP comandou massiva vaia a FHC, à qual Lula assistiu com um sorriso maroto, sem achar – como acha hoje – que vaias ao presidente podem ameaçar a democracia.’

João Ubaldo Ribeiro

O fim do PT e a ascensão do lulismo

‘Talvez julguem que a expressão ‘fim do PT’ seja uma provocação. E talvez venha a redundar nisso, a depender do leitor, mas não é minha intenção. Na verdade, é o resultado de uma constatação tão ‘neutra’ quanto é possível fazer constatações neutras, em matéria deste tipo. E é absolutamente honesta. Lembro, embora não literalmente, uma frase de Bernard Shaw a respeito do cristianismo. ‘A crucificação de Cristo foi o maior êxito político do Império Romano, porque o cristianismo acabou assim que Cristo expirou.’

Não estou tomando partido nisso, até porque o velho irlandês gostava muito de radicalizar em frases de efeito. Mas, de certa forma, pode-se adaptar o que ele disse à nossa realidade política. E, vendo como as coisas se têm desenrolado no Brasil, não creio de todo descabido dizer que na hora não se notou, mas o PT acabou assim que Lula foi eleito (não reeleito). Está certo, amenizo um pouco, não sou nem Bernard Shaw nem Nélson Rodrigues: o PT começou a acabar assim que Lula foi eleito e agora tem que reexaminar-se e ver para onde vai, inclusive se vai se tornar um mero instrumento de Nosso Guia.

O PT tinha uma identidade clara. Havia até uma certa aura santimonial em muitos de seus dedicados militantes. E o que representava o PT? Representava a ética e a honestidade na política, isso era pilar incontestado. E representava a mudança, pelo menos o início das reformas de que se fala desde que nos entendemos, não importa nossa faixa etária. O PT vinha para mudar. Quem votou em Lula, notadamente da primeira vez, sabia, de modo geral, que não estava escolhendo um governante através de uma revolução, mas das instituições vigentes. Portanto, muitos desses, como eu, não esperavam milagres e rupturas estrondosas. Mas esperava-se pelo menos certa fidelidade ao prometido, apregoado e bravateado ao longo dos anos, esperava-se alguma luta para a eliminação de alguns dos nossos males, esperavam-se, sim, reformas, ainda que não de todo satisfatórias. Esperava-se no governo, enfim, o PT que se conhecia, ou se julgava conhecer.

Não foi bem assim, como se viu e ainda se vê. No começo, a crise no PT se declarou internamente, provocando a expulsão de militantes como a ex-senadora Heloísa Helena e mais muita gente, inconformada com a mudança de cara do partido. Gente suspeita de falcatruas ou ladroagem ficou, oportunistas e puxa-sacos ficaram, mas aqueles outros foram sumariamente expulsos. Ainda assim, poderia alegar-se que não havia lugar para radicalismos e que esses militantes não compreendiam bem a situação nova do PT, agora guindado ao poder legítimo e sujeito às limitações institucionais e circunstanciais a que todo poder legítimo está sujeito.

Para lembrar novamente o grande Nélson, a verdade ululante é que esse PT que agora está aí não é, nem de longe, o PT da oposição. Não pode ser – sofismem de lá – porque agora é situação. Coisa nenhuma, digo eu, esse PT que está aí viu alguns de seus principais quadros desmoralizados, manchados, ou inteiramente desiludidos, mantém alianças antes inconcebíveis, não quer mais saber de reforma nenhuma a não ser da boca para fora, e é enfim, na visão cansada de quem acompanha nossa vida pública há décadas, apenas uma reapresentação de todas as nossas conhecidas vergonhas sociopolíticas, da corrupção à ineficiência ao desperdício à falta de seriedade na condução da república, enfim, o mesmo de sempre, os mesmos de sempre.

Enquanto isso, com habilidade e uma matreirice solerte que, pelo menos eu vejo em seus ares histriônicos, suas piadinhas de boa-praça e a falsa inocência para cuja plena credibilidade ele precisaria aperfeiçoar-se um pouquinho mais em artes cênicas, o presidente chama os usineiros de heróis, beija a mão de Jader Barbalho, faz tudo para segurar a barra de Renan Calheiros, enche a bola de Nelson Jobim e, no geral, age como a mais camaleônica figura, agente do status quo, capitão de um governo omisso e conservador, que insiste, contra todas as evidências, em chamar-se de progressista, o que é tão grotesco quanto ver no PT de hoje em dia um partido de esquerda.

Revestido do teflon que ele reforçou com suas alegações de que não sabia de nada, não viu nada, não tomou parte em nada, ele hoje, pelo menos até o momento em que escrevo, parece, na visão da maioria, ainda imune ao lamaçal e aos bandidos que orbitam em torno do poder. Ou seja, pode-se reprovar o PT, mas Lula é inatacável, nele não pega nada. Mais ainda, é claro que Lula não é mais PT, nem o PT é Lula. Aliás, já era tempo, embora eu não tenha nada com isso, para o partido resolver se é PT ou se é um ponto de apoio do lulismo, este, sim, palpavelmente existente.

Pai dos pobres com a farsa irresponsável do Bolsa Família, que, além de danosamente assistencialista, não transfere renda dos ricos coisa nenhuma, mentira mais deslavada não podendo haver, o presidente se dissocia claramente de seu partido e é homem da Zelite. O PT, como muitos de nós também, serviu para ele se fazer. Ele se fez e agora ser um petista ao menos parecido com o passado é inconcebível. Descrevendo a posição em que está como o ‘ápice a que o ser humano pode chegar’, o presidente se interessa, acima de tudo, por permanecer no poder e dele desfrutar tão intensamente quanto possível. Ao PT a crise de identidade: ou continua pegado com Lula, nesse jogo social-democrático-oportunista e até humilhante, ou volta a ser PT, necessariamente oposto a esse presidente do establishment. Ou não faz nada e assiste, como os revolucionários franceses ao ex-cônsul Bonaparte, ao presidente botar sua coroazinha de imperador. Imperador no interesse dos verdadeiros poderosos, mas na ribalta do jeito que ele gosta, que é o que parece lhe bastar.’

José de Souza Martins

O presidente acusa o golpe

‘Tanto o ‘Cansei’, da OAB de São Paulo, quanto o ‘Cansamos’ corporativo da CUT já nascem cansando pelo inócuo, um, e pelo suspeito, outro. No entanto, o primeiro nasce legitimamente do cansaço de setores da classe média intimidada pela intolerância e pelo autoritarismo que se difundem sorrateiramente pela trama social, encurralando o protesto dos descontentes nos espaços residuais da opinião pública. A central de produção de rótulos de impugnação do democrático direito de expressão já se articulou e já colou as etiquetas de satanização no grupo que mal abriu a boca: golpistas e direitistas.

O segundo, o Cansamos, da CUT, se expressa numa lista de 17 cansaços que, na maioria, não são apenas dela, mas de todo o povo brasileiro em relação a problemas que não têm merecido, sobretudo do governo Lula, a intervenção mais incisiva e urgente, como o trabalho escravo, a sonegação de impostos, o trabalho infantil, as jornadas desumanas de trabalho, a justiça que privilegia o poder econômico, o lobby das grandes empresas sobre o poder público, as altas taxas de juros, os acidentes de trabalho, a superexploração da mão-de-obra, as taxas bancárias, a precarização da força de trabalho, o superávit primário, a falta de direitos trabalhistas para mais da metade da população. A mídia mereceu três cansaços por não se dobrar às conveniências do corporativismo partidário e governista.

Tudo muito estranho porque a CUT está na base do governo Lula, que supostamente tem o poder e o dever de resolver esses problemas. Pior: em Cuiabá, na terça-feira, um Lula desconcertado afirmou que os que o estavam vaiando (supostamente membros do mesmo coro dos inconformados do Cansei), eram ‘os que ganharam muito dinheiro no meu governo … É só ver quanto ganharam os banqueiros, os empresários’. Ora, a maior parte dos 17 cansaços da CUT é relativa aos problemas sociais e trabalhistas que são a contrapartida da injusta distribuição da riqueza e desse ‘muito ganhar’, de cujo patrocínio Lula se gaba. Certamente, a imensa maioria dos que preferem o coro do Cansei ao coro oficial do Cansamos é vítima da tributação extorsiva que paga as mordomias do governo e não beneficiária da cornucópia governamental. Os cansaços da CUT seriam oportunos, se não fossem tardios.

A reação articulada de Lula, da CUT e de intelectuais do silêncio às vaias do Maracanã e de Cuiabá e ao tímido descontentamento dos adeptos do Cansei, batendo nas mesmas teclas, a do golpismo dos descontentes e a da culpabilização da mídia, sugere que para o partido do governo os diferentes setores da sociedade já não têm direito de opinião e de protesto. Ora, é na opinião divergente e fundamentada e no protesto político decorrente que a democracia se firma como convivência da diversidade social e política.

O Cansei da OAB se circunscreve à tragédia de Congonhas e se limita a convocar os descontentes para um minuto de silêncio no dia 17 de agosto, às 13 horas. É significativo indício de fragilidade política que Lula, a CUT e o PT tenham vestido a carapuça do cansaço tão prontamente. E que considerem esse minuto de silêncio a ponta de um movimento tão perigoso que possa levar à deposição do presidente e de seu partido.

Tanto a reação da CUT quanto a dos petistas convocados para a guerrilha ideológica auto-defensiva acabarão por provocar a aglutinação dos descontentamentos, sobretudo da classe média e dos setores esclarecidos da sociedade, dando-lhes efetivamente a dimensão e a importância social de amplo protesto contra o governo e o PT. Essa tem sido a dinâmica da maioria dos movimentos sociais entre nós: eles se robustecem no antagonismo dos que os temem.

Esse cenário expressa a novidade de que Lula, preservado na rítmica turbulência de seu primeiro governo, começa a ser alcançado diretamente pelo descontentamento social e político, neste segundo governo. Se o PT não fosse um partido corporativo e sindical acolheria com regozijo essa tímida onda de insatisfação que dá ao seu governo a oportunidade de se confrontar com a discordância e se livrar da sustentação política mais apoiada na bajulação que na opção política cidadã. Para isso, teria que se livrar da estratégia inquisitorial e primária de se defender acusando e desqualificando os opositores. O mandato de quem governa se legitima, também, e sobretudo, no direito ao descontentamento e na discordância dos que a ele se opõem.

Nos espasmos das vaias e do Cansei, a sociedade dá a entender que de fato se cansou não só com o que percebe, mas também com o que não percebe, mas sente, nas conseqüências dos atos, nas omissões, insuficiências e erros do governo. Aquele gesto obsceno do assessor de Lula para Relações Internacionais, no próprio Palácio do Planalto, mostrou a melancólica pobreza de espírito de quem age no palácio, na postura e nos gestos, como se ali fosse sucursal de botequim. No exercício do poder, pessoas e lugares revestem-se de uma dimensão litúrgica, que é a expressão formal do mandato e da representação política. Na violência simbólica do gesto impróprio, desrespeitoso e descabido foi agredida a sociedade, que se expressa nas simbolizações e liturgias do mando político e do Estado.

O governo Lula é péssimo no trato do simbólico do poder, afogado que foi nas facilidades da publicidade bem paga e nas manipulações do imaginário que ela comporta. Justamente, nesse capítulo, os autores e promotores do Cansei põem as mãos, e o seu cansaço, imprudentemente, no espaço fortemente simbólico do local da tragédia, sacralizado pela imolação de vítimas inocentes da imprudência, da imprevidência, da incompetência e da irresponsabilidade. Verdadeiro sacrifício humano, mais grave ainda por ser aquele o lugar dos mortos não encontrados e o lugar dos que ali viveram, injustamente, seu último momento. Por justo que seja o cansaço e o protesto, convém lembrar, com essas coisas não se brinca impunemente.’

TV DIGITAL
Ethevaldo Siqueira

Já estou curtindo a TV digital até no celular

‘Vi as últimas competições do Pan 2007, com imagens de alta definição, nas transmissões de teste da Rede Globo, na Cidade de São Paulo, num monitor de 52 polegadas de cristal líquido da Samsung. Não tenho dúvida de que você, leitor, também irá se apaixonar pela TV digital brasileira. Ela é uma festa para os olhos.

Tive também uma experiência diferente, na semana passada, ao assistir a programas de TV digital recebidos em celulares de terceira geração (3G), no padrão High Speed Packet Access (HSPA). Os celulares são Sharp Acquos 912SH, importados do Japão pela Qualcomm, que permitem download de 3,2 megabits por segundo (Mbps), com câmera digital de 3 megapixels, capazes de receber TV digital no padrão nipo-brasileiro ISDB-T.

OPÇÕES DE APARELHOS

A partir de dezembro, haverá no mercado dezenas de opções e modelos de celulares 3G-HSPA, aptos a receber sinais de TV digital e, dependendo da regulamentação, o assinante não terá que pedir autorização nem à operadora nem à emissora de TV. E a recepção de TV digital é inteiramente gratuita.

Mesmo nas dimensões da tela do celular, a imagem é excelente, estável, com belas cores, contraste e nitidez. Nem os futurologistas mais ousados previam que o celular se transformasse, em tão pouco tempo, em receptor móvel de TV digital.

LEILÃO DE FREQÜÊNCIAS

Os telefones celulares 3G com recursos de HSPA que testei na semana passada já estão preparados para a TV digital brasileira. Assim que começarem as transmissões comerciais de TV digital, previstas para 2 de dezembro deste ano, haverá no mercado brasileiro dezenas de modelos de celulares 3G, de diversos fabricantes, com capacidade de recepção de TV digital. Vale lembrar também que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) já prepara as regras para o leilão nacional de freqüências destinadas aos serviços 3G.

‘Não tenho dúvida de que a TV móvel é o futuro’ – prevê Marco Aurélio de Almeida Rodrigues, presidente da Qualcomm do Brasil. ‘Em menos de 10 anos, ela será nosso modo principal de ver televisão, oferecendo-nos novas opções de acesso ao seu conteúdo a qualquer hora e em qualquer lugar, sejam filmes, novelas, partidas de futebol, jogos olímpicos ou telejornais.’

Por assegurar mobilidade total, o celular tem tudo para ser a forma principal de TV mobile. Poderemos acoplar o celular a laptops ou monitores especiais de maiores dimensões e assistir aos melhores programas no hotel, no avião, no aeroporto, no trem, no ônibus, na praia ou no campo.

RÁDIO DIGITAL: SONHO DISTANTE

Bem diferente do sucesso de qualidade da TV digital é a situação do rádio digital no Brasil. Os testes realizados pelas emissoras ao longo dos últimos dois anos com o padrão americano In Band on Channel (Iboc) ainda deixam muito a desejar quanto à qualidade.

O maior desafio, no entanto, está na produção de receptores a preços acessíveis no Brasil. Basta lembrar que, nos Estados Unidos, esses aparelhos com tecnologia Iboc são vendidos ao consumidor a US$ 150, mais impostos, o que equivaleria a cerca de R$ 300, sem incluir impostos.

Mesmo supondo que o Brasil venha a conseguir o milagre de fabricar produtos eletrônicos pelo mesmo custo da indústria norte-americana, o preço de R$ 300 ainda seria inacessível para a esmagadora maioria da população. E, levando-se em conta que o Brasil deverá optar por dois padrões – o Iboc para as faixas de AM e FM e o DRM europeu para ondas curtas – o preço final do receptor deverá ser ainda mais alto.

Uma pesquisa feita entre fabricantes mostra que apenas a lista de materiais e componentes de um receptor popular já custa de US$ 60 a 70, ou seja, de R$ 120 a 140, sem incluir as despesas de importação. Se somados todos os custos de produção, como impostos, transformação, distribuição, assistência técnica, margem da indústria e do varejo, o preço final do receptor poderá superar os R$ 450 – o que é um absurdo.

E nesse valor não estão incluídos os royalties de, no mínimo, US$ 6 por receptor a serem pagos à Ibiquity, empresa dona da tecnologia e única licenciadora. Embora o ministro das Comunicações antecipe que não haverá pagamento de royalties, nada está garantido. Por todas essas razões, a previsão do ministro Hélio Costa de receptores digitais a R$ 60 a R$ 70, no varejo, não passa de um sonho.

Além dessa questão, a introdução do rádio digital no Brasil enfrenta dois desafios. O primeiro refere-se ao consumo de bateria tão elevado, com a tecnologia Iboc, o que inviabiliza a produção de receptores portáteis. Os protótipos de rádios portáteis desenvolvidos até aqui consomem a energia da bateria em três ou quatro horas de uso. Por isso, só existem rádios fixos para uso doméstico e receptores para automóveis, com alimentação permanente.

Segundo desafio: diferentemente do que afirma o ministro, ainda não foi inventado nenhum chip ou conversor digital-analógico capaz de permitir a sintonia de emissoras de rádio digitais em receptores analógicos, no padrão Iboc ou outro, à semelhança dos set-top boxes para TV digital.’

MERCADO EDITORIAL
Livia Deodato

Poemas contemporâneos impressos em jornal

‘Preciosos poemas contemporâneos estão guardados n’O Casulo, jornal de literatura elaborado por alunos da graduação e do mestrado dos cursos de letras, direito e jornalismo da Universidade de São Paulo (USP). Na próxima sexta-feira, às 20 horas, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima (R. Henrique Schaumann, 777, tel. 3082-5023), está marcado para ocorrer o lançamento do 6º número do jornal, que traz poemas de Angélica de Freitas, Marcelo Montenegro e Ronald Polito, além de uma entrevista com o músico maranhense Zeca Baleiro. As ilustrações são de Luli Penna e de Francisco dos Santos.

Graças ao apoio do projeto de Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), da Secretaria da Cultura da Prefeitura de São Paulo, essa mais nova edição de O Casulo alcançou uma tiragem de 30 mil exemplares contra 2 mil do último número, publicado em março/abril. Eles serão distribuídos gratuitamente em 88 bibliotecas, 150 escolas de ensino médio, entre municipais e estaduais, e 23 Centros Educacionais Unificados (CEUs). ‘Com o apoio da Prefeitura, ainda iremos oferecer 20 oficinas de criação literária em setembro, com 2 horas de duração cada uma’, adianta um dos editores do jornal, Eduardo Lacerda. As oficinas buscam servir de base para formação de multiplicadores e o foco estará voltado para autores contemporâneos, ‘para a literatura de quem está produzindo hoje’, nas palavras de Lacerda, ‘que aproximam mais os jovens’.

‘Às vezes saio do cinema/E me ponho a andar/Cartografia pessoas/Apenas olhar/Ter a leve impressão/De que a cidade está grávida/De um outro lugar’, diz Matinê, um dos sete poemas do paulista de São Caetano do Sul Marcelo Montenegro, que colore a mais recente edição de O Casulo. Ou ainda ‘Esse tempo não é teu./Nem nenhum./Capitula teu pacto unilateral./A tua combustão espontânea acelera./Esta é a fronteira entre dois desertos’, do mineiro Ronald Polito, em Emblema.

Com o fomento de R$ 15 mil recebido através do projeto VAI será possível publicar também a próxima edição d’O Casulo, prevista para o fim do ano. E ainda promover o 1º Concurso Saia do Casulo, destinado a alunos do ensino médio da capital. ‘Selecionaremos de 3 a 20 poemas para publicarmos n’O Casulo, além de premiarmos os vencedores com livros doados pelas editoras Azougue, Escrituras e Lucerna, que já nos concederam 150 obras até o momento’, conta o editor e também poeta. Para mais informações, escreva para ocasulo@gmail.com ou ligue no (11) 6104-8873.

A idéia da publicação é abrir caminhos para autores talentosos, a exemplo da advogada e poeta Ana Rüsche, que publica seus textos desde a 1ª edição d’O Casulo e recebeu, no ano passado, uma bolsa de criação literária por meio do Programa de Apoio à Cultura (PAC), da Secretaria de Estado da Cultura. Ela deve publicar seu romance Acordados até o fim deste ano.

Em novembro, a associação de escritores Vaca Amarela, alguns dos quais responsáveis pela edição d’O Casulo, vai lançar uma antologia de poemas numa edição trilíngüe (espanhol, inglês e português).’

TELEVISÃO
Shaonny Takaiama

A TV que cresce de olho nos pequenos

‘A apresentadora Xuxa se ressente pelo fato de a Globo não ter mantido no ar o Xuxa no Mundo da Imaginação, voltado para crianças bem pequenas. O motivo seria a baixa audiência do programa. Xuxa rebate e diz que, se o Ibope medisse audiências abaixo dos quatro anos, uma larga faixa de seu público estaria contemplada e a audiência de seu programa seria maior.

A julgar pelo fenômeno Discovery Kids, a argumentação de Xuxa não se sustenta. Na TV paga também não há medição de audiência para telespectadores abaixo de 4 anos e, mesmo assim, o canal, cativo entre este target, tem forte audiência graças às mães que ali sintonizam. Na TV paga, ele é líder entre mulheres de 25 a 49 anos e entre crianças de 4 a 11 anos.

Isto é explicado porque mães têm o costume de monitorar ao que seus rebentos assistem. ‘Nossas pesquisas mostram que, em 95% dos casos, crianças e mães preferem os mesmos programas. Portanto, constatamos que as mães assistem ao que os filhos assistem’, explica Jessica Zwaiman, diretora de programação do Discovery Kids. ‘Nós somos muito populares entre as mães porque focamos na criação de programas que os filhos assistam junto com elas, o que chamamos de co-viewing (assistir junto)’, completa Zwaiman.

Para Maria de Fátima Guerra, PhD em Educação Infantil pela Universidade do Estado de Ohio (EUA) e professora da Universidade de Brasília (UnB), é saudável que as mães assistam aos programas infantis com seus filhos. ‘É altamente recomendável que a mãe assista junto com a criança pois se o bebê for deixado em frente ao programa sozinho,não vejo sentido. Televisão não é babá eletrônica’, ressalta.

Às mães, é preciso um bocado de paciência para assistir à programação altamente repetitiva do canal Discovery Kids. Mas tais repetições têm razão de ser, explica Jessica Zwaiman. ‘As crianças não se incomodam com a repetição, elas até gostam e aprendem com ela. Isso as ajuda a fixar a informação.’ Maria de Fátima Guerra concorda. ‘A repetição é necessária para a criança aprender sobre o mundo, pois ninguém aprende tudo de uma só vez. E a criança gosta de descobrir o que já sabe.’

Exemplo de programa repetitivo e respaldado pela psicologia, o musical Hi-5 ocupava o 1º lugar no ranking dos mais assistidos do Discovery Kids em junho. Em julho, pulou para o 4º lugar, dando espaço para Lazytown, que agora é o líder de audiência entre os pequenos. Hi-5 fascina os mais novos por sua repetição, enredo simples, cores vivas e interatividade. Os mesmos elementos que existiam em Teletubbies, precursor da categoria sorvete na testa.’

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Canal exibirá animação brasileira

‘Produzida pela TV Pingüim em parceria com a Vivavision, uma produtora do Canadá, Peixonauta é a primeira animação brasileira encomendada pelo Discovery Kids. Ela entrará na programação do canal em 2008 e foi criada pelos sócios Célia Catunda e Kiko Mistrorigo, da TV Pingüim.

Trata-se de uma série de 52 episódios de 11 minutos cada para crianças de 4 a 7 anos. A animação conta a história de Peixonauta, um peixe agente secreto que trabalha para a Organização Secreta para Total Recuperação Ambiental (OSTRA) e, graças a um escafandro cheio d’água, ele vive entre o ‘mundo molhado’ e o ‘mundo seco’, buscando soluções para proteger o meio ambiente.

A série explora o tema da sustentabilidade ambiental de maneira acessível às crianças. ‘A visão do Peixonauta é a visão da criança pequena. Ele não entende muita coisa porque não é desse mundo, e, por isso, tem os mesmos questionamentos da criança’, explica Célia Catunda.

Peixonauta está sendo criada para exportação e será transmitida em toda América Latina, mas alguns elementos tipicamente brasileiros também terão vez. ‘A gente procura colocar muito o jeito brasileiro, a cultura, a música. Por exemplo, quem vai fazer a trilha é o grupo Barbatuques, de percussão corporal’, conta Catunda.’

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Fox ensaia lançamento do canal Baby TV

‘Reservar faixas da programação ou canais inteiros para telespectadores de até 4 anos é uma tendência irreversível.

A Fox pretende lançar em breve o canal Baby TV, que antes ocupava um bloco de sua programação. Voltado aos bebês e com conteúdo elaborado por especialistas, os programas são curtos (têm cerca de 3 a 5 minutos, pois bebês são muito dispersos) e a velha e boa repetição também tem vez aqui.

Gustavo Leme, vice-presidente dos canais Fox, garante que a criação do Baby TV não foi impulsionada pelo sucesso do Discovery Kids. ‘A gente aposta nessa faixa de público porque não existe nenhum canal para essa faixa etária, os outros falam com crianças a partir dos 4 anos.’ Para Leme, o Discovery Kids é voltado para crianças em idade de alfabetização e não concorre com o canal.

O Baby TV aposta que as mães vão comparecer. ‘ O intuito do canal é promover a interação dos pais e dos bebês em frente à telinha’, diz Marcello Braga, diretor de marca.

Ainda sem operadora, o canal será à la carte, pois tem vida curta. ‘As pessoas vão comprar nesse certo período da vida, quando têm os bebês, e depois cancelar o pacote’, avalia Leme.’

Mário Viana

Os anões também amam. E choram…

‘Anda tudo politicamente correto demais nas novelas. Embora sempre tivéssemos atores negros talentosos, eles nunca haviam estrelado novelas – como Taís Araújo, que mostrou ser uma heroína muito bacana na deliciosa Da Cor do Pecado, atual reprise do Vale a Pena Ver de Novo. Casais homossexuais, que antes eram explodidos em shopping centers, agora até se abraçam, como os gays exageradamente legaizinhos de Paraíso Tropical. Mas ainda restam minorias a serem contempladas pelo universo da teledramaturgia – e delas, ninguém se ocupa (pelo menos, no Brasil).

Anões, por exemplo, são esquecidos pelas novelas. Muita gente deve ter rido ao ler a frase anterior, mas pare e pense. Há algum personagem anão nas novelas da sua infância? E quando eu falo personagem, quero dizer uma figura com nome, sobrenome, trama e conflito. Não vale ser o gnomo do show de Papai Noel. Anões existem e circulam pelas ruas. Podem até não ser muito numerosos (eu confesso, desconheço o percentual dessa faixa de pessoas no total da população brasileira), mas existem, pagam impostos e, com toda certeza do mundo, têm conflitos e histórias.

O mundo das novelas é cheio de pessoas bonitas, todas com dois braços e duas pernas, todos os dentes no lugar, tudo certo e nada fora da ordem. As manquinhas corrigem o defeito com uma cirurgia. As gordas emagrecem de uma hora pra outra e até um sujeito com cara de Jorge Dória vira Raul Cortez graças a uma cirurgia plástica (e, que se faça a justiça, foi a única vez em que um homem pagou para ficar careca, o que é um gesto bem inesperado).

Não seria nada mau assistir ao drama de um anão apaixonado ou às maquiavelices de um anão vilão. Se os gays já não precisam gritar feito sirenes de ambulância para mostrar que são gays e se os negros ganharam frases mais complexas do que ‘o almoço tá pronto, sinhazinha’, está na hora de retratarmos outros segmentos. Sigam o exemplo de seriados como o americano C.S.I., que montou uma trama inteira de mistério baseada no conflito de interesses de uma associação de anões.

Mudando rapidamente de assunto. Fábio Assunção disse a que veio esta semana, em Paraíso Tropical. Na cena em que Daniel descobre que foi enganado por Taís, seu olhar foi matador.’

Keila Jimenez

Histórias da TV sem retoques

‘O primeiro palavrão, gafes clássicas, as baixarias e dados curiosos recheiam o Almanaque na TV

Almanaques sobre a TV existem ao montes, mas qual deles traz foto de Silvio Santos vestido de Bozo e histórias bizarras como a do dia em que Roberto Marinho foi chamado de ‘traficante’ em Malhação? Aí é que está o mérito do Almanaque da TV, (Ed. Ediouro, R$ 49,90) de Bia Braune e Ricardo Xavier, o Rixa, ambos do Vídeo Show.

O lançamento reúne histórias e lendas captadas pela dupla por dois anos e, com muito humor, contadas em pílulas.

‘Adoro a lenda que dava conta de que Tancredo Neves morreu após ser baleado por militares, dando uma entrevista a Glória Maria e que, para ocultar a verdade, a Globo a enviou para a Lapônia para entrevistar Papai Noel’, conta Rixa. E apesar de ser funcionário Globo, ele fala da concorrência no livro – como de Casa dos Artistas (SBT) e Pânico na TV! (Rede TV!) – sem receio. ‘Esse é o diferencial de nosso almanaque: a liberdade.’

Pílulas, lendas e pérolas

Em Malhação, na época em que havia um bate-papo ao vivo no final da novelinha com os internautas, André Marques leu no ar o assunto do e-mail: ‘Roberto Marinho é um traficante’. Percebendo o ataque ao patrão, o ator reiniciou o computador.

Silvio Santos chegou a pensar em fazer ele mesmo o palhaço Bozo. Mudou de idéia aconselhado por amigos.

A censura suspendeu Flávio Cavalcanti por 60 dias por ele ter levado ao programa um marido impotente que emprestou a esposa ao melhor amigo. Pura TV trash.

O dia em que enforcaram Joana D’ Arc. Lenda 1: Foi em um teleteatro da Tupi, ao vivo. Como a garoa não permitia que uma fogueira permanecesse acesa, o inquisidor não pestanejou: ‘ Levem-na para a forca!’ Lenda 2: Nathália Timberg era Joana, e o bispo, vivido por Oscar Felipe, condenou a heroína sem pensar: ‘Levem-na para a forca!’. O autor Manoel Carlos, na época atuando como sentinela, consertou: ‘Monsenhor, não seria melhor queimá-la?’

Cid Moreira ficou anos no comando do JN, mas foi como narrador do Fantástico que soltou sua melhor pérola. Em passagem do Mágico Mister M pelo Brasil, o âncora indagou: ‘Mister M, o senhor é espada?’’

Roberto Godoy

Fox: desanimação

‘Na suposição de que Os Simpsons continuasse sendo uma série engraçada, a excessiva exibição programada pelo canal pago Fox seria o suficiente para fazê-la insuportável.

Em apenas 24 horas a desanimação é apresentada ao menos cinco vezes. E logo depois entra seu filho conceitual, Futurama, criada pelo mesmo Matt Groenning. A insistência vai seguindo mansa, avalizada pelo lançamento do filme, dia 17, com promessa de uma cena de nu frontal do personagem Bart. Será?

Em 1989, a família americana alternativa e incorreta fazia rir. Passados 18 anos, e depois de 21 Grammys, tendo de atender a expectativas da audiência em 60 países, o modelo está esgotado. Poderá manter a popularidade se conseguir recuperar a acidez do tempo do descompromisso.

Prospera a praga das repetições. Anunciado como ‘estreando na programação’ – adivinhem? – o campeão de reprises, Entrando numa fria. Pior que isso: o canal FX cortou na faca o episódio de quarta feira da série britânica Ultimate Force. Danou-se o cliente, que ficou sem saber como termina a (boa) história.’

Julia Contier

‘Humor pede leveza’

‘Adriana Esteves não é de dar muitas entrevistas. Diz que é reservada e prefere falar com a imprensa só quando tem algo importante a dizer. Prestes a estrear dois novos trabalhos – a sitcom Toma Lá, Dá Cá, na Globo, e a peça O Auto de Angicos – agora ela quer mesmo é falar.

Casada com Vladimir Brichta, Adriana me corrige quando me refiro aos seus ‘dois filhos’ – ‘dois não, três’, fala. Tem o caçula Vicente, do casamento com Brichta, Felipe, filho com Marco Ricca, e Agnes, do primeiro casamento de Brichta. Para mãe de três, ela bem que está feliz com a rotina de um programa semanal. Mas avisa: não é mulher maravilha.

Você já fez muita comédia, mas é sua primeira sitcom. Muda alguma coisa?

Muda bastante. O que eu já fiz em comédia foi dentro de novela. Em sitcom é toda uma linguagem diferente, ele junta o teatro com a televisão. Não só eu estou conhecendo, como é muito novo pra televisão também.

E se o programa ficar muitos anos no ar, teme que sua imagem fique vinculada à comédia?

Eu não tenho esse medo. Além da sitcom, tenho um outro tipo de trabalho que não abandono. Agora estou ensaiando uma peça de Amir Haddad, chamada Auto de Angico, que conta a história de Lampião e Maria Bonita.

É mais fácil fazer rir ou chorar?

As duas coisas são bem difíceis. O drama é difícil, mas humor exige muito também. O humor pede uma leveza, uma concentração, um texto bom, um ouvido aguçado pra entender o tempo do texto.

Existe uma expectativa que você seja engraçada em situações comuns?

Existe sim, isso é muito engraçado. Na primeira vez que eu fiz um papel cômico foi da Sandrinha em Torre de Babel e às vezes eu entrava em algum lugar e as pessoas caíam na gargalhada. Eu comecei a ficar ofendida, mas depois entendi que as pessoas associam a sua imagem com a do personagem.

Você se acha engraçada fora dos palcos?

Minha família é toda muito engraçada e eu sou muito parecida com eles. E eu acabei desenvolvendo uma família muito engraçada também. Sou casada com o Vladimir que tem um humor deslumbrante e as crianças já nasceram engraçadas. Às vezes a gente ri e fala: isso é uma família de comediantes.

A rotina de mãe fica mais fácil com um programa semanal?

Muito. Esse formato é deslumbrante, dá para conciliar teatro, programa e família. É claro que é muito trabalho, mas é o que eu pedi a Deus. E eu também não sou uma mulher maravilha, eu conto com uma equipe boa que trabalha comigo e, principalmente, com a minha família e com os bons amigos.’

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Toma Lá, Dá Cá

‘‘Toma Lá, Dá Cá’, a nova sitcom da Globo, estréia nesta terça-feira, logo após o ‘Casseta & Planeta Urgente!’ no lugar de ‘A Diarista’. O humorístico mostra os apuros das famílias formadas após a troca dos casais, que ocorreu de forma inesperada.

Os corretores de imóveis Mário Jorge (Miguel Falabella) e Rita (Marisa Orth) moravam num apartamento na Barra da Tijuca com os dois filhos adolescentes, Isadora (Fernanda Souza) e Tatalo (George Sauma). Após a separação, os dois conheceram o casal Celinha (Adriana Esteves) e Arnaldo (Diogo Vilela), que, com o filho Adônis (Daniel Torres), buscava um apartamento para comprar. Mário Jorge (Miguel Falabella) se apaixonou por Celinha (Adriana Esteves) e Rita (Marisa Orth), por Arnaldo (Diogo Vilela). Assim, foram formadas duas novas famílias que, coincidentemente, são separadas apenas por um corredor.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

O Globo

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