Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O Estado de S. Paulo

MÍDIA E POLÍTICA
Miguel Reale Júnior

‘Nós somos a opinião pública’

São repetidas as queixas de Lula de que as forças de oposição, compostas pelas elites, não admitem que um peão de fábrica tenha assumido a Presidência e alcançado sucesso. Essas queixas misturam ressentimento e vaidades. Basta lembrar, por exemplo, o que Lula disse, em maio de 2006, aos moradores de palafitas em Manaus: os adversários deviam ‘aprender’ que um metalúrgico, com o quarto ano primário e curso do Senai, é capaz de fazer ‘muito mais do que eles neste país’, pois a sabedoria do ser humano não está na quantidade de anos na escola, mas na ‘capacidade do sentimento’.

Em julho de 2007, em Cuiabá, Lula comparou seus opositores aos mesmos que levaram Getúlio Vargas ao suicídio, setores da ‘elite’ cuja raiva contra seu governo deriva da ação em favor dos pobres. Em fins de agosto de 2007, no Paraná, via a ‘campanha da imprensa’ que o atingia como fruto da soma de duas ‘doenças malignas’, a inveja e o preconceito.

Uma das espertezas da propaganda política está em colar à figura dos adversários a marca de inimigos do povo, que, para Lula, são os partidos de oposição e a imprensa reveladora dos podres do governo.

Há poucos dias, todavia, Lula extrapolou o plano das queixas e das acusações aos adversários, que de forma já imprudente vem qualificando como inimigos do povo, ao dizer: ‘O que eles não se conformam é o pobre estar conseguindo enxergar com os seus olhos, não precisa do tal do formador de opinião pública. Nós somos a opinião pública e nós mesmos nos formamos.’

Essa manifestação levou à imediata reação da OAB, por meio do seu presidente, Ophir Cavalcanti Filho, bem como de entidades de imprensa e de representantes da sociedade civil, que proclamaram a importância da liberdade de expressão, que compreende a de informar e a de criticar, para abertamente se formarem as convicções políticas.

Ao afirmar Lula que não são precisos os formadores de opinião, pois ‘nós somos a opinião pública’, desfaz-se o relevo do pluralismo de ideias, da diversidade de posições a serem suscitadas pelos chamados ‘formadores de opinião’, que só existem onde houver ampla discussão e multiplicidade de perspectivas, com exame das contraposições e reflexão. Contra o pluralismo característico dos formadores de opinião, apresenta-se então uma verdade monolítica, única, que brota espontaneamente do povo, como uma comunidade orgânica homogênea: ‘A opinião pública somos nós.’

Assim, para Lula, o povo forma-se a si mesmo e é o seu próprio porta-voz. Lula autoproclama-se o lídimo representante do sentimento deste povo, sentimento que sabe captar, pois já dissera, com razão, que a sabedoria se faz não só com estudo, mas com sentimento. Esquece, contudo, que sabedoria também não se alcança apenas com sentimento.

Agora, no calor da disputa eleitoral, almeja traduzir a forma de sentir desse povo de pobres que enxerga com os próprios olhos e torna dispensáveis os formadores de opinião. Para Lula, a opinião pública brota por obra de uma revelação natural do povo sobre o certo e o errado e acerca dos caminhos para a consecução do bem de todos. Com essa compreensão da via política construída de modo imanente a partir do próprio povo, cria-se uma perigosa estrada para um autoritarismo populista, que o século passado revelou de modo trágico.

No nazismo entendia-se que povo engendrava uma unidade incindível, na qual os indivíduos formam uma coletividade concreta, participando de um mesmo espírito objetivo que penetra e abraça a todos. O Führer, como o condutor da comunidade, encarna o espírito objetivo, o ‘são sentimento do povo’.

O historiador italiano Emilio Gentile descreve o fascismo como a mobilização popular por meio de um partido único e de um chefe carismático que faz do uso racional do irracional a forma de uma política de massas que visa a privar as pessoas de sua individualidade como elementos celulares de uma coletividade nacional. O fascismo, diz Michel Winock, professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris, detém a verdade, exclusiva, inconciliável com qualquer outra perspectiva e, portanto, hostil ao pluralismo.

Com certeza Lula, cujas inteligência e sensibilidade compensam a falta de estudo, sabe usar racionalmente o irracional, mas talvez não dimensione as consequências da guerra aberta deflagrada a partir da posição de presidente da República, com menosprezo ao pensamento, ao direito de crítica, ao jornalismo investigativo denunciante de graves irregularidades de seu governo, que transforma em golpismo, para legitimar uma verdade única a brotar como força viva de uma sociedade de pobres que se forma a si mesma e da qual é a encarnação como líder populista.

A consequência ficou patente na campanha. Os blogs pró-Dilma adotam desabrido maniqueísmo ao propagar que votar no PSDB/DEM é estar ‘contra o País’ e do lado dos inimigos que devem ser expurgados. Na mobilização contra a imprensa surgem ameaças a jornalistas e promessas de retaliação a revistas e jornais qualificados de golpistas por terem divulgado matérias contra o PT ou sua candidata. O clima é de ódio e violência.

Estão aí lançados os ingredientes de uma receita de autoritarismo populista que terá Lula como condutor e Dilma como coadjuvante, sem força para manobrar os radicalismos despertados.

Mas se Dilma, eleita, não quiser ser apenas coadjuvante? No jogo entre sentimento de inferioridade intelectual e orgulho de sua passagem pela Presidência, Lula já disse que a partir de janeiro vai estudar novamente ou ensinar a governar. Longe do Planalto, Lula poderá, talvez, confrontar-se com Dilma presidente ao pretender dar lições de como governar. Será um conflito entre presidentes: a que é e o que não deixou de ser por sua popularidade e gosto do poder. Assim, o risco de um autoritarismo populista remanesce duplicado.

ADVOGADO, PROFESSOR TITULAR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, FOI MINISTRO DA JUSTIÇA

 

Luiz Eduardo Rocha Paiva

Democracia é aspiração nacional?

Nas eleições presidenciais de 2002, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva e seu partido lançaram a Carta ao Povo Brasileiro, para convencer a Nação de que não imporiam a temida guinada para o socialismo radical, com ruptura do regime democrático, caso o PT chegasse ao poder. Hoje, as posições publicamente manifestadas e algumas iniciativas do presidente da República e da cúpula do PT revelam uma disposição bem diferente da apresentada naquela carta, como se conclui, também, pelas sucessivas propostas para cercear a liberdade de imprensa; pelo 3.º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), com propósitos totalitários enrustidos em ilusória defesa dos direitos humanos; e pelos balões de ensaio do programa partidário num eventual governo em 2011.

A reação de setores democráticos da sociedade obrigou o governo a repetidos recuos, demonstrando não ser fácil impor um regime autoritário ao País. Quanto ao PT, sempre foi claro ser um partido com distintas correntes de pensamento, todas à esquerda, estando a atual direção sob o controle da ala radical.

Mas qual é o pensamento político do presidente Lula? O revelado em 2002 ou o atual?

Uma vez constatada essa oscilação, é natural que parte da Nação considere o presidente um adepto da esquerda radical e que a Carta ao Povo Brasileiro teria sido uma estratégia para viabilizar a ascensão do PT ao poder. Da mesma forma, outra parte pode julgar que o presidente seja um político tradicional, cujas ações visam a manter o poder pessoal e não se norteiam por valores e interesses nacionais, ao contrário do verdadeiro estadista. Para essa parcela da Nação, o presidente estaria radicalizando para controlar a ala mais à esquerda do PT, pois esta já revelou a intenção de assumir a orientação política do próximo governo, o que comprometeria sua liderança e seu futuro político. Há, ainda, a corrente otimista, para a qual o presidente é um democrata, mas se veria obrigado a usar métodos sutis, a fim de controlar as diversas correntes do PT, evitando conflitos que comprometessem a paz social.

Num hipotético cenário em que a ala radical do PT viesse a controlar o governo, ela tentaria impor um regime, no mínimo, autoritário ao País. A Nação viveria momentos de tensão, em que as liberdades individuais e o regime democrático dependeriam do poder das instituições, o qual resulta de sua força política e da vontade e maturidade da Nação. A manobra da esquerda radical reuniria pressões de cúpula e de base, exercidas por organizações e atores aliados nos Poderes da União, amplamente mobiliados pelo partido; por meio de parcerias com parcela significativa do empresariado e do setor financeiro, fidelizada e controlada via benefícios concedidos no contexto da estratégia de implantação do capitalismo de Estado, adaptado do modelo chinês; e por movimentos revolucionários, eufemisticamente chamados sociais, com suas ligações externas.

A linha de frente para neutralizar tal manobra seria composta pelos setores democráticos do próprio Executivo, pelo Judiciário e pelo Legislativo. Este último, porém, está desgastado, não tem credibilidade e grande parte dos congressistas é aliada ao governo ou dá prioridade a interesses pessoais, às vezes inconfessáveis, sendo suscetível à cooptação. São as instâncias competentes para impedir a alteração do arcabouço legal e, assim, tornar inviável a manobra da esquerda radical.

Numa segunda linha se encontra a imprensa, setor com maior capacidade de projeção na sociedade para conscientizar e mobilizar as forças democráticas para a preservação do regime. Daí ser o alvo principal das manobras da esquerda radical nos campos político e financeiro visando a silenciá-la.

E as Forças Armadas? Elas se subordinam ao poder político do Estado, impropriamente chamado poder civil, e, como disse o presidente Castelo Branco, os meios militares nacionais e permanentes não são propriamente para defender programas de governo, muito menos sua propaganda, mas para garantir os Poderes constitucionais, o seu funcionamento e a aplicação da lei. Não estão instituídos para declarar solidariedade a este ou àquele Poder.

De fato, a Constituição da República prevê o emprego das Forças Armadas na garantia dos Poderes constitucionais, da lei e da ordem. O equilíbrio dos Poderes é um fator decisivo na democracia e se o Poder Executivo tentar rompê-lo e se impor aos demais, ao arrepio da lei, não cabe às Forças Armadas, e sim ao Legislativo e ao Judiciário – linha de frente já mencionada -, intervir, podendo haver até mesmo o impeachment do presidente. Neste caso, a linha sucessória seria seguida e, se necessário, as Forças Armadas seriam acionadas, sob o comando supremo do novo chefe da Nação, para fazer cumprir a Constituição.

Somente na hipótese de falência total dos Poderes da União, o caos institucional resultante obrigaria as Forças Armadas a exercê-los, temporariamente, para impedir a desintegração da Nação.

Nenhum cidadão é obrigado a fazer o que é ilegal ou lesivo ao País. Na hipótese em tela, oportunamente, altos chefes militares tomariam uma digna iniciativa pessoal – sem emprego de tropa nem quebra da hierarquia e disciplina: manifestar publicamente oposição à manobra da esquerda radical, com o risco de retaliações, conscientes de que a omissão seria respaldo, implícito, a ações lesivas à democracia, às instituições e ao Brasil e que a lealdade à Pátria é o maior atestado de disciplina militar. A problemática substituição desses chefes levaria a um impasse e reforçaria a reação democrática.

A sociedade é responsável pelo seu destino e deve organizar-se, como no Movimento Ficha Limpa, para pressionar vigorosamente as instituições, obrigando-as a defender a democracia, se esta for realmente uma aspiração nacional.

GENERAL DA RESERVA, É PROFESSOR EMÉRITO E EX-COMANDANTE DA ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO E MEMBRO DA ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO BRASIL

 

ELEIÇÕES
Moacir Assunção

Justiça rejeita pedido de candidato para censurar jornal

O candidato a deputado federal William Dib (PSDB) pediu à Justiça Eleitoral para impedir a circulação do jornal ABCD Maior, de São Bernardo do Campo, que publicou denúncias sobre sua gestão como prefeito (2003-2006). O atual prefeito, Luiz Marinho (PT), fez pedido semelhante à 9.ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça contra o Hoje Jornal. Ambos foram negados.

Dib pediu a busca e apreensão da edição 249 da publicação, cuja reportagem principal citava investigação do Ministério da Saúde que determinaria a devolução de R$ 160 milhões pelo ex-prefeito e dois ex-secretários de Saúde, por supostas fraudes. ‘São Bernardo virou Sucupira, onde um coronel chamado Dib quer decidir o que a imprensa deve publicar’, diz Walter Venturini, diretor de redação do ABCD Maior. Segundo ele, pessoas não identificadas passaram recolhendo ontem os exemplares do jornal.

O jornal procurou o comitê do candidato para obter a resposta para as denúncias e, no dia seguinte, recebeu uma ligação do delegado Victor Lutti, que disse representar o tucano. ‘Ele afirmou que encaminharia dois representantes do ex-prefeito. Apareceram a advogada Elizabeth Spolidoro e o assessor Euclides Garroti. Segundo eles, não foi o então prefeito, mas a Fundação do ABC que assinou o contrato com a Home Care Ltda, empresa citada nas denúncias.’

A advogada disse que não houve intenção de impedir a liberdade de expressão. ‘Queremos que a empresa fale de fatos concretos, não da forma distorcida como saiu.’

Marinho, por sua vez, quis evitar a citação de seu nome e da secretária de Educação, Cleusa Repulho, em reportagem sobre irregularidades em licitações. O desembargador Walter Piva Rodrigues alegou que ‘a censura não vigora mais no País’.

O diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, criticou o pedido do candidato William Dib. ‘Isso é um completo absurdo e faz lembrar os piores tempos do autoritarismo. Se houvesse algum problema com a publicação da reportagem, o candidato deveria entrar com uma ação a posteriori, que é o que a legislação prevê nestes casos, jamais tentar exercer a censura prévia.’

 

REDE SOCIAL
Kenneth Turan

Facebook enfrenta as telas de cinema

Seria possível que o indivíduo que criou o Facebook, que conectou tantas pessoas a ponto de ser difícil de acreditar (500 milhões e não para aí) alguém incapaz uma ligação pessoal mais próxima? É possível que o bilionário mais jovem do mundo, um garoto de 26 anos cuja criação permitiu às pessoas se unirem em 207 países, usando 70 línguas, seja o jovem mais solitário do planeta?

Se isso soa para você como uma lorota, você não conhece metade da história. Escrito por Aaron Sorkin, dirigido por David Fincher e ancorada pelo desempenho perfeitamente ajustado de Jesse Eisenberg, o filme A Rede Social, que chegou ontem aos cinemas americanos, conta uma história excelente.

Mas, embora hoje nada esteja mais em moda do que o fenômeno Facebook, A Rede Social é um filme bem sucedido porque sua história é o ingrediente de filmes dramáticos arquetípicos. Ele une a tradição de épicos como A Vida do Dr. Ehrlich, Madame Curie e Edison, o Mago da Luz, com a história familiar do poder corrupto da ambição e do sucesso, que permite que o público sinta que as vidas quotidianas dessas pessoas têm mais significado do que aquelas dos ricos e famosos. Em alguns aspectos, A Rede Social foge desses filmes biográficos citados e um deles é que, na interpretação de Jesse Eisenberg, o protagonista Mark Zuckerberg é retratado como um jovem estudante de Harvard, de 19 anos, extremamente antipático, não heroico, socialmente desajeitado e temivelmente inteligente.

Jesse está excelente no papel de uma pessoa cujo sucesso é alimentado por ressentimentos de todas as formas e tamanhos. O seu Mark Zuckerberg é tão consumido pelo ímpeto de conquistar cada vez mais status que ninguém é páreo para ele na combinação de um objetivo implacável e na frieza desinteressada que ele consegue expressar.

Embora o filme seja baseado no livro Bilionários por Acaso, de Ben Mezrich, o roteirista Aaron Sorkin realizou sua própria pesquisa da história e o tratamento que deu a ela não foi nada redundante. Mesmo que tenha se falado que A Rede Social teria alguns elementos de Rashomon (em que a história é mostrada a partir de vários pontos de vista), essa é uma pista falsa. Os personagens do filme naturalmente têm pontos de vista diferentes e os detalhes podem ser contestados, mas o impulso básico da história jamais balança, independente dos fatos narrados.

Rejeição. A Rede Social começa propondo que foi um ressentimento social muito específico que impeliu Zuckerberg na sua trajetória para os bilhões. O filme tem início num bar de universitários perto do campus de Harvard no outono de 2003, com Zuckerberg sendo passado para trás pela namorada.

Sair com ele, ela diz asperamente, é ‘como ter um encontro com um aparelho de musculação’. Furioso por ser rejeitado dessa maneira, ele entra pisoteando em seu dormitório e, com a ajuda do colega de quarto e seu melhor amigo, Eduardo Saverin (interpretado por Andrew Garfield), ele se vinga invadindo sistemas da universidade e criando o Facemasch, um site que permite aos estudantes votarem quais as garotas ‘mais quentes’ de Harvard.

Em duas horas ele consegue 22 mil respostas e derruba o sistema da universidade.

Uma proeza que chama a atenção de dois gêmeos remadores e pertencentes à elite da escola, Cameron e Tyler Winklevoss ( interpretados, com a ajuda do computador, por dois atores diferentes, Armie Hammer e Josh Pence).

Eles e o amigo Divya Narendra (Max Minghella) contratam Zuckerberg para trabalhar num serviço de marcação de encontros da universidade que eles criaram, chamado Harvard Connection. Quase simultaneamente, Zuckerberg, financiado pelo seu amigo Saverin, começa o seu thefacebook, que no final se transformou no que você já sabe.

Depois disso, A Rede Social salta alguns anos no futuro, focalizando processos judiciais acrimoniosos abertos contra Zuckerberg pelos irmãos Winklevoss e o seu amigo Saverin, e todos eles, embora por diferentes razões, são muito frustrantes para ele, ao ver seus antigos colegas e amigos processando-o.

Parte da energia do filme vem do vigor da eficiente edição de Angus Wall e Kirk Baxter, saltando das cenas em que ele presta depoimento para a descrição dos fatos que levaram à criação do Facebook, e Zuckerberg se tornando rico e famoso. E aí entra também a figura do cofundador do Napster, Sean Parker (Justin Timberlake), personalidade sedutora, mas que também provoca muitas dissensões.

Realidade. Uma outra pista falsa sobre A Rede Social é sobre como são reais os personagens e o filme. É falso porque filmes, mesmo os documentários bem intencionados, sempre distorcem a realidade.

O fundador do Facebook se recusou a cooperar com o filme, e Eisenberg, que o interpreta, não conhece Zuckerberg pessoalmente. ‘Boa parte do filme é ficção’, disse fundador do Facebook a Oprah Winfrey na semana passada. ‘Estamos falando de minha vida, portanto eu sei que ela não é tão dramática assim.’

Os partidários de Zuckerberg afirmam que o filme é injusto com ele, mas diante do que disse um cronista da New Yorker que o entrevistou, caracterizando o fundador do Facebook como ‘uma mistura estranha de timidez e petulância’ a interpretação de Eisenberg não parece estar equivocada. Tudo o que realmente importa em A Rede Social é que ele convence em termos de filme, e é isso que ele é. Zuckerberg, mesmo a contragosto, deve concordar com isso.

Alguém que doou US$ 100 milhões para as escolas públicas de Newark, Nova Jersey, no momento em que este filme foi apresentado no Festival de Cinema de Nova York, provavelmente está preocupado que, com todos os seus bilhões, ele pode ficar prisioneiro, e para sempre, desse retrato inclemente que o fil0me faz dele, da mesma maneira que a talentosa atriz Marion Davis foi prejudicada pela personagens sem talento baseada nela, no filme Cidadão Kane.

O Facebook pode ser poderoso, mas filmes convincentes têm uma força que não pode ser descartada. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

 

Gustavo Chacra

Zuckerberg teria passado para trás amigo brasileiro

O brasileiro Eduardo Saverin era o número dois do Facebook nos seus primórdios, em 2003. Mais jovem integrante da lista de bilionários da Forbes, com uma fortuna estimada em US$ 1,15 bilhão, e melhor amigo de Mark Zuckerberg na Universidade Harvard, ele chegou a ser dono de cerca de 30% do site de relacionamentos na época do seu lançamento, além de atuar como diretor financeiro.

Nos anos seguintes, o brasileiro teria sido passado para trás por Zuckerberg, segundo livros sobre a formação do Facebook e o filme de A Rede Social.

Sua participação na empresa se reduziu para menos de 1%. Depois de acordo em 2009, Saverin recebeu 5% das ações do site e tem o direito de usar o termo ‘cofundador’ do Facebook.

Os detalhes do acerto do brasileiro com o Zuckerberg não são claros. Os dois lados evitam dar declarações sobre o tema. Procurado pelo Estado para conceder entrevista, Saverin não respondeu.

Nascido em São Paulo, ele se mudou ainda criança para Miami, nos anos 1990. Aos 18 anos, foi estudar em Harvard, onde se formou quatro anos mais tarde em economia com distinção acadêmica.

Na universidade, considerada uma das mais tradicionais dos EUA, Saverin conheceu Zuckerberg, judeu como ele, e os dois rapidamente se transformaram em melhores amigos.

No filme, de acordo com crítica publicada nesta semana na revista New Yorker, Saverin aparece como ‘um rapaz decente, mas sem imaginação e um pouco tímido’.

O brasileiro, segundo o escritor Ben Mezrich, autor do livro Bilionários Acidentais, uma das principais fontes para o filme, afirma publicamente que ele foi relutante em dar informações sobre a história do Facebook.

Já alguns blogueiros especulam que Saverin é responsável por ter vazado uma série de histórias relacionadas a Zuckerberg.

Atualmente, Saverin vive em Nova York, de acordo com a sua página no Facebook. Segundo o site, o brasileiro trabalha com investimento em alta tecnologia e gosta de xadrez, futebol e ‘acompanhar furacões’.

Como quase ninguém sabe exatamente seu paradeiro, a não ser pela página no Facebook, sua vida passou a ser tema de uma série de teorias da conspiração.

 

TELEVISÃO
Cristina Padiglione

Band usa nas eleições link testado na Copa

Se você vir por aí um pessoal de mochila nas costas, com discretos cabos conectados, não se engane: o apetrecho está capacitado para transmitir imagens e áudio ao vivo em rede nacional. A Band vai usar amanhã, em São Paulo, durante a cobertura das eleições, três exemplares da mochila-link, equipamento testado com sucesso pela emissora durante as transmissões da Copa na África do Sul. Além de ser mais prática que o moto-link, a mochila-link usa tecnologia wi-fi de telefonia em 3G, o que agiliza muito as transmissões. A cobertura do voto, na Band, tomará a programação da emissora entre 17h e 1h. Globo, RedeTV! e Record também prometem se dedicar ao tema, amanhã.

Se rolar…

Ao anunciar seu DVD, Hebe falou a Teena, repórter impertinente do Legendários: ‘Ela disse que não fazia sexo há tempos e que se achasse um coroa arrumadinho, até se animava’. No próximo sábado, na Record.

41% dos televisores ligados na noite de quinta-feira sintonizaram o debate da Globo, na média final, na Grande São Paulo, onde 1,288 milhão de domicílios viram a cena

‘Os debates dessas eleições foram tão empolgantes quanto uma partida de golfe entre cadeirantes’, do CQC Rafinha Bastos, no Twitter, logo após debate da Globo

As mortes em Passione ainda estão para começar – excluindo Eugênio (Mauro Mendonça), claro – mas as gravações da próxima novela das 9 já estão em fase de pré-produção.

Ainda este mês, Dennis Carvalho começa a dirigir em Florianópolis as primeiras gravações de Insensato Coração (título provisório), novela que Gilberto Braga e Ricardo Linhares escrevem para estrear em janeiro, na faixa das 21h. Lá estarão, entre outros, Ana Paula Arósio, Fábio Assunção e Natália do Vale.

Na esteira do sucesso de High School Musical, o filme teen Camp Rock 2 rendeu ao Disney Channel brasileiro 70% de crescimento de ibope no horário de sua exibição (das 20 às 22 h em 7 de setembro) entre o público de 4 a 11. Entre a plateia de 12 a 17 anos, o aumento foi de 50%.

A aposta da Disney para 2011 fica por conta do filme televisivo de Phineas and Ferb, animação que também passa na TV Globinho.

Em sua nova temporada de estreias, a Sony vai reduzir o intervalo entre as exibições de séries nos Estados Unidos e no Brasil. O que for ao ar lá, segundo promete o canal, chegará aqui dentro de 10 a 12 dias.

Para cumprir o novo prazo, a Sony continua a apostar em empresas brasileiras de legendagem. Ainda bem.

Maria Cristina Poli assume segunda-feira a ancoragem do novo Jornal da Cultura, que promete tom mais analítico e novos comentaristas fixos.

Executivos de TV com agenda comprometida para a Mipcom, a mais importante feira de TV mundial do calendário anual, com início marcado para esta segunda-feira, em Cannes, terão de justificar o voto: boa parte dos televisivos já embarcou para o sul da França.

 

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O Estado de S. Paulo

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