Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O Globo


O CRUZEIRO
Ancelmo Gois


Velhos tempos


‘Veja que bacana. Boa parte das seis décadas de existência da revista ‘O
Cruzeiro’ foi digitalizada pelo site memoriaviva.digi.com.br/ocruzeiro.


Entre as curiosidades, o primeiro número (foto), de 1928, que traz uma
projeção sobre o ano 2000. O professor F. Lauboriu, que assinou o artigo, errou
por pouco: disse que a população brasileira seria de 200 milhões de habitantes.’


 


CRIME
Lilian Fernandes


‘C.S.I.: Miami’ em aventura no Rio


‘O agente Horatio Caine (David Caruso), de ‘C.S.I.: Miami’, vai viver uma
aventura no Brasil. Uma equipe da série policial, apresentada no Brasil pelo
AXN, desembarca no Rio esta semana para gravar cenas que serão usadas num
episódio da quinta temporada. Nos Estados Unidos, a estréia da nova leva de
inéditos está prevista para setembro. Por aqui, a exibição deve começar em
fevereiro.


A sinopse do episódio é um mistério: sabe-se apenas que Caine estará atrás de
um assassino que fugiu para o Brasil. Adam Rodriguez, intérprete do agente Eric,
também participaria das filmagens, mas sua vinda foi cancelada poucos dias antes
da viagem. O trabalho deverá durar quatro dias, e é possível que a equipe
prolongue sua estada no Rio até o fim de semana, para passear e descansar.


Haverá locações no Morro Dona Marta (em Botafogo), nos Arcos da Lapa, na
Cinelândia e em Santa Teresa. Também estão previstas tomadas aéreas em alguns
dos principais pontos turísticos da cidade. Como acontece sempre que um programa
filma no exterior, a equipe de de ‘C.S.I.: Miami’ terá apoio de uma equipe local
no set . Aqui, os técnicos da rede americana CBS trabalharão em conjunto com
produtores da Film Planet.


‘C.S.I.: Miami’, primeiro spin-of de ‘C.S.I.’ (ambientada em Las Vegas),
mostra o trabalho de um grupo de investigadores do sul da Flórida que recorre à
tecnologia de ponta e às mais recentes descobertas científicas para desvendar
crimes — quase sempre a partir da análise minuciosa do corpo da vítima ou de seu
algoz. A exibição pelo AXN é às quartas-feiras, às 21h.


Em 2001, um ano após o seu lançamento, uma equipe de ‘C.S.I.’ visitou Rio e
São Paulo, como parte de um tour pela América Latina programado para divulgar a
série. Em 2004, estreou mais um spin-of : ‘C.S.I.: New York’.’


 


NOVELA NOVA
O Globo


As novas páginas do Maneco


‘Dia desses, na fila do caixa de um supermercado, no Rio, duas donas de casa
conversavam: — Semana que vem começa a nova novela ‘das oito’ — lembrou uma.


— E vai ser do Maneco — continuou a outra.


Não, elas não conhecem Manoel Carlos pessoalmente, mas sentem-se tão
‘familiares’ do autor que referem-se a ele da mesma forma que os amigos o
tratam. Quase 30 anos escrevendo novelas, que traduzem cenas do cotidiano e
personagens que se confundem com quem está em casa sentado diante da televisão,
criaram essa intimidade. Com ‘Páginas da vida’, que estréia amanhã, às 21h, na
Rede Globo, não será diferente.


O cenário principal é o Leblon. A heroína, claro, chama-se Helena e, pela
terceira vez, será vivida por Regina Duarte. Os ingredientes, o próprio Maneco
dá:


— Há casamentos começando e terminando, relações entre pais e filhos,
paixões, traições, fatos que fazem parte do dia-a-dia de todos nós. Mas a
espinha dorsal será a síndrome de Down.


Tudo começa quando Nanda (Fernanda Vasconcellos), que estuda em Amsterdã,
descobre que está grávida do namorado, Leo (Thiago Rodrigues). O rapaz não quer
ter o filho e ela volta para o Brasil, onde dá à luz um casal de gêmeos:
Francisco (ator a ser escalado) — que ficará com a avó materna, Marta (Lilia
Cabral) — e Clara (Joana Mocarzel), que tem Down e será criada por Helena
(Regina Duarte), a médica que faz o parto. A partir daí, o foco será a discussão
sobre a inclusão e a exclusão na sociedade de pessoas portadoras de deficiência.
Haverá ainda um personagem soropositivo, para mostrar a situação da Aids no
Brasil e, através de uma jovem bailarina clássica, será abordada a questão da
bulimia.


‘Páginas da vida’ traz também algumas estréias, como as da presença do
diretor de núcleo Jayme Monjardim e dos atores Tarcísio Meira, Glória Menezes,
Ana Paula Arósio, Sonia Braga e a bailarina Ana Botafogo, entre outros, pela
primeira vez fazendo uma novela de Manoel Carlos.


— Ele tem um texto muito forte, de palavras marcantes — elogia Tarcísio
Meira, que desde ‘Torre de Babel’ (1999) não formava par com a mulher, Glória.


José Mayer e Regina Duarte são sócios de carteirinha de Maneco. A atriz,
aliás, esperava ficar mais um tempinho longe das novelas. Mas diz que não
recusaria fazer sua terceira Helena:


— Veio tudo junto. Vou ter que dar conta da novela, da minha filha (Gabriela
Duarte) , que vai ser mãe pela primeira vez, e da neta (Manoela) , que vai
nascer em agosto.


Em sua quinta novela de Maneco, Zé Mayer brinca com o fato de viver o seu
quinto garanhão. Gregório trairá a mulher, Helena, com Carmem (Natália do Vale).


— Mas o Greg vai ser um doce canalha — defende o ator.


Para Ana Paula Arósio, fazer uma trama contemporânea depois de nove trabalhos
de época é outra novidade.


— Estou adorando essa modernidade. Agora o celular toca em cena, viajamos de
avião!!! — diverte-se a atriz.


Aliás, sua personagem, Olívia, que se casará com Sílvio (Edson Celulari),
promete revolucionar em termos de liberalidade.


— Ela vai querer ter experiências fora do casamento. Talvez uma relação
aberta… — insinua a atriz, sem revelar detalhes.


Edson Celulari, por sua vez, não dá pistas sobre os motivos que levarão o
casal a se separar:


— Digamos que ele é um militar e ela é… Humm, bem moderninha (risos) .


Agora é conferir as novidades que estarão contidas em cada página dessa
história.’


 


Elizabete Antunes


Histórias de quem soube dar a volta por cima


‘Se Manoel Carlos gosta de rechear suas novelas com histórias reais, ‘Páginas
da vida’ será mais um capítulo dessa marca registrada do autor. Durante a trama,
que estréia amanhã, pessoas — e não personagens — contarão em cerca de um minuto
alguma particularidade de suas vidas. Momentos que, de tão especiais ou
trágicos, poderiam estar na sinopse de um folhetim. Até agora a equipe de
produção selecionou mais de 500 depoimentos. Os relatos serão exibidos ao final
de cada capítulo, enquanto sobem os créditos.


Um dos testemunhos será o da empresária carioca Suzana Leal, de 50 anos,
encontrada pela produção justamente por sua experiência de vida.


E ela tem história para contar. Há um ano dona de uma sex shop em Ipanema,
Suzana já deu várias voltas por cima. A primeira aconteceu quando ela tinha 27
anos e descobriu que seu marido, com quem se casara aos 17, a traía com sua
melhor amiga.


— Ele parecia ser um cara maravilhoso, a antítese do meu pai, mas não era —
diz.


O pai, já falecido, também tinha o hábito de pular a cerca.


— Ele era deputado federal e vivia em Brasília. Vi minha mãe sofrer muito com
as traições dele. Mas ela era uma mulher forte, determinada.


Mas e a traição que aconteceu com ela?


— Pois é, eu e essa minha amiga éramos confidentes, inseparáveis. Fui
apresentada a ela pelo meu marido. Nunca desconfiei de nada. Cheguei a
arrumar-lhe um emprego. Depois comecei a perceber que até as roupas que eu
usava, ela imitava. E ela era casada com o melhor amigo do meu marido — conta
Suzana, com muito bom humor. — Quando comecei a desconfiar, ele passou a dizer
que eu estava maluca, que eu era doente. Sempre negou. Até o dia que botei um
detetive atrás deles.


Bingo. Suzana estava com a razão. Com o baque, sofreu de anorexia por alguns
meses. Até o dia que teve de representar a firma em que trabalhava num velório,
onde conheceu seu segundo marido.


— Parece coisa de filme de Hollywood, mas é verdade — afirma. — Como eu
chorava muito, meu chefe falou para eu ir nesse enterro representá-lo. Foi lá
que eu conheci o Zé Carlos. Ficamos paquerando até a última pá de cal. E eu
estava magérrima, podendo!


Seis meses depois, Suzana estava casada novamente. E muito feliz. Com o
advogado José Carlos, hoje com 60 anos, Suzana teve Guilherme, que está com 21
anos. Do primeiro casamento nasceu Bruno, de 31 anos. Os irmãos seguem a mesma
profissão: administração de empresas.


E como, de relações-públicas, ela passou a dona de um sex shop ? Mais uma
virada e tanto na vida de Suzana. Quando achava que estava velha para recomeçar,
depois de ter saído da empresa onde trabalhava, veio a idéia de abrir o que ela
chama de sex club .


— Não vendo só lingerie ou vibradores, dou conselhos às minhas clientes —
orgulha-se. — Mas antes fui estudar. Fiz um MBA em marketing. Depois, numa
pesquisa, descobri, por exemplo, que quando uma mulher não está bem com ela,
está ruim de cabeça, a última coisa que ela compra é calcinha ou sutiã. Ela
prefere comer e ficar gorda. Acho que ela pensa: por que vou ficar em forma?
Para transar com homens chatos? Isso aqui é um confessionário. Acho que
levantamos a auto-estima da mulherada. É quase um clube de auto-ajuda.


Com a alegria de quem parece ter acertado na loteria sozinha, Suzana fala
pelos cotovelos. E tem sempre mais um ‘causo’ na ponta da língua. O nome que deu
à sua loja, Pselda, veio à mente enquanto ela sonhava.


— Significa o psique feminino, o sensual, a emoção e a liberdade de
preconceitos — conta ela, que diariamente acorda às 3h para rezar um terço. —
Faço isso há oito anos e sempre cedo assim. Depois volto a dormir na boa.


Irrequieta, ela planeja escrever um livro sobre sua vida, passada, claro, no
Leblon (bairro da Zona Sul do Rio que o autor sempre usa para ambientar suas
tramas). E, no fim deste mês, abrirá um espaço para cursos e palestras para o
público feminino.



  • Eu e meu marido temos uma vida sexual intensa porque estamos sempre
    inventando brincadeiras novas, nos reciclando na cama. A mulher tem que ser
    sensual e poderosa, mesmo com celulite — ensina Suzana.’

 


CONSUMERS INTERNATIONAL
Nadja Sampaio


Federação global de consumidores lança site para AL


‘Maior federação de organizações de consumidores em nível mundial, a
Consumers International lançou um site em espanhol, concebido especificamente
para a América Latina e o Caribe. A Consumers International representa
atualmente 230 organizações em 113 países.


‘Este lançamento permitirá o acesso às informações da Consumers International
a todas as organizações membros de língua espanhola no mundo’, desde as que
atuam na América Latina e no Caribe hispânico até as da Espanha, ‘incluindo até
os consumidores individuais ou grupos que formam grandes comunidades em diversas
partes do mundo’, escreveu Richard Lloyd, diretor-geral da Consumers
International, em seu artigo de abertura no novo site, o
www.consumidoresint.org.


Lloyd enfatiza ainda que os visitantes terão acesso a uma visão global das
principais preocupações, sucessos e propostas do movimento internacional de
consumidores. A nova página se somará ao endereço em inglês
(www.consumersinternational.org) e divulgará as últimas publicações e campanhas
da Consumers International, assim como a posição da entidade em diferentes
assuntos, além de notícias sobre os trabalhos desenvolvidos pelos 230 membros da
organização.’


 


ARTE
Suzana Velasco


Tarsila do Amaral terá obra catalogada e digitalizada


‘Depois de Candido Portinari, chegou a vez de outro mestre da arte moderna
brasileira ganhar um catálogo com toda a sua produção. Com patrocínio da
Petrobras, a obra de Tarsila do Amaral será digitalizada e terá três mil CD-ROMs
distribuídos em bibliotecas e instituições culturais, 70% deles gratuitamente. O
projeto está em fase inicial, de mapeamento das obras em coleções públicas e
particulares, e deve estar pronto em julho do ano que vem. O investimento de R$
1,5 milhão não inclui a impressão do catálogo, que ainda está em fase de
captação de recursos.


— Tarsila é a mais representativa artista da primeira fase do movimento
modernista brasileiro e este ano se comemoram os 120 anos de seu nascimento.
Entre os trabalhos já feitos sobre ela, um dos precursores foi o realizado nos
anos 70 pela historiadora Aracy Amaral, que está dando consultoria para a
catalogação — afirma a museóloga Maria Eugenia Saturni, da produtora cultural
Base7.


Projeto tem parceria com a Pinacoteca de São Paulo


Além de imagens de cerca de mil obras de arte de Tarsila, o CD-ROM terá
fichas técnicas de todos os trabalhos, uma cronologia de participação em
exposições para as obras referenciais da artista, uma biografia e referências
bibliográficas. O projeto tem parceria com a Pinacoteca do Estado de São Paulo,
cuja curadora, Regina Teixeira de Barros, participa como pesquisadora do
catálogo. A instituição será ainda o local que receberá as obras de Tarsila para
serem analisadas.


— Já começamos a visitar diversas instituições e estamos fazendo uma base de
dados que pode ser acionada em qualquer parte do país. Em seguida as obras serão
fotografadas para que haja a digitalização — conta Maria Eugenia.’


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O Globo


Sábado, 8 de julho de 2006


ARTE CONTEMPORÂNEA
Eduardo Fradkin


Em cartaz, cinco eleitos da Funarte


‘O que são um sujeito que passeia desenhando o que observa, outro que ergue
um tapume de construção e um terceiro que sai por aí com uma caixa de papelão na
cabeça? Um turista, um engenheiro e um jogador da seleção brasileira, certo?
Nada disso. Na verdade, são três dos 24 vencedores, em todo o Brasil, do 1
Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea, concedido pela Funarte. Até 22 de
agosto, ficarão expostas nas Galerias da Funarte, no mezanino do Palácio Gustavo
Capanema, no Centro do Rio, as obras desses três e de mais dois escolhidos.


Os trabalhos não são simples como parecem. Para começar, um artista não
passeia, simplesmente. Ele ‘desenvolve um procedimento, de caráter investigativo
e artístico, durante e a respeito de deslocamentos rotineiros pelo território
urbano, no caso, a cidade de São Paulo’, como explica Diogo de Moraes em sua
sinopse para a Funarte. Depois, ele não desenha a caneta coisas que viu durante
o percurso. Ele ‘provoca uma reflexão acerca de alguns traços característicos
das condições de vida na metrópole contemporânea’.


Da observação do cotidiano, 2.500 pequenos desenhos


Fazendo isso, o paulistano Moraes — que tem 23 anos e nunca havia ganho um
prêmio de arte — já produziu 2.500 pequenos desenhos em papel. Na Funarte, estão
46 deles, além de oito fotos dele próprio se preparando para o trabalho.


— Comprei cinco camisas, cortei as mangas compridas e usei o tecido para
fazer bolsos onde guardei passe de metrô, caneta, lenço de assoar nariz e bloco
de desenho. As fotos mostram essa preparação. Depois, saí de ônibus e metrô, e
desenhei figuras que vi e outras fictícias — conta o artista, que, assim como os
outros 23 premiados, recebeu R$ 6.250 para realizar o projeto.


O júri da Funarte condecorou iniciantes e veteranos, de diferentes estilos.
Assim, numa vertente totalmente diferente da de Moraes, o pintor paulista
Henrique Oliveira, de 32 anos, usou o prêmio para construir uma nova instalação
de uma série iniciada em 2003, chamada ‘Tapumes’. A obra é isso mesmo: um tapume
feito com madeira compensada, com 25 metros lineares de área.


— O tapume começa fora da galeria, em formato plano, e segue para dentro
dela, onde adquire formas orgânicas, cheias de ondulações, que remetem à
natureza. Trabalho com as mesmas questões que orientam a pintura, que são
texturas, formas e cores. Sou pintor há oito anos — diz Oliveira.


Tannuri dá continuidade à série de instalações


Uma das três outras obras que completam a exposição é do carioca José
Tannuri. Também é a continuação de uma série. A proposta de ‘Vazio transitório’
é semelhante à de ‘Vazio provisório’, exposta ano passado no Paço Imperial.
Tannuri fez uma instalação com 120 caixas de papelão. Sobre elas, é projetado um
filme que mostra uma pessoa andando pelas ruas do Rio com uma caixa sobre a
cabeça.


— O espectador entra na obra, caminhando no meio das caixas, e é integrado à
projeção. O filme se confunde com o real — descreve Tannuri.


Esta é a terceira edição do Projéteis, mas a primeira em que os artistas
receberam previamente o dinheiro do prêmio para realizar as obras propostas.
Foram 400 inscritos. Da mesma forma funcionará a segunda edição do Prêmio
Marcantonio Vilaça, cujo edital será lançado pela Funarte no dia 28.



  • Os artistas entregarão propostas, e cinco deles ganharão R$ 30 mil, cada,
    para realizá-las. Haverá ainda um premiado no quesito conjunto da obra e outro
    para a edição de uma monografia — diz Xico Chaves, diretor do Centro de Artes
    Visuais da Funarte.’

 


COMÉDIA
Alessandra Duarte


Riso retrô


‘Se o diretor Zé Celso Martinez Corrêa fosse o técnico da seleção brasileira,
o país estaria amanhã na final da Copa do Mundo.


— E seria capaz de os jogadores entrarem em campo nus! — brinca Aderbal
Freire-Filho. — O diretor de um grupo é que faz o resultado desse grupo ficar
datado ou não. É como acontece no teatro, quando um diretor contemporâneo pega
para remontar uma peça com texto antigo.


A analogia veio no clima — e no humor — de um dos projetos atuais de Aderbal.
E de Paulo de Moraes, diretor da Cia. Armazém, e do ator Otávio Müller:
convidados pelo produtor Eduardo Barata, eles vão remontar ‘Fala baixo senão eu
grito’, ‘Doce deleite’ e ‘Brincando em cima daquilo’ (respectivamente), três das
comédias que aconteceram, no melhor sentido de acontecer, nos anos 60 e 80. A
partir de novembro, as remontagens começam a estrear pelo país.


A escolha das peças veio da memória afetiva. Foi um Eduardo Barata com 16
anos que assistiu a ‘Doce deleite’, em 1982.


— Foi um dos primeiros espetáculos adultos que eu vi. Era com a Marília Pêra
e o Marco Nanini, e fiquei impressionado com eles e com aquele mundo. Ele me
dava a sensação de que eu estava fazendo alguma coisa errada — conta. — Depois,
vi ‘Brincando’ em 1984, também com a Marília, e a presença de palco dela de novo
ficou na minha cabeça. E ‘Fala baixo’, de 1969, foi uma sugestão da Ana Beatriz
Nogueira, com quem eu queria trabalhar em alguma coisa há muito tempo, e que
está no elenco da peça.


Se o humor é o primeiro denominador comum entre as três produções — projeto
pessoal de Barata, que comprou os direitos dos textos e foi atrás, além do
patrocínio, também de diretores e elenco — Marília Pêra é o segundo. Uma das
responsáveis pelo sucesso das três montagens originais foi a atuação da atriz,
presente em todas, e que, por elas, ganhou algumas de suas melhores críticas em
teatro. Com ‘Brincando’, por exemplo, ela levou seu terceiro Molière. O próprio
produtor reconhece no projeto uma homenagem a Marília.


— Eu tinha 26 anos quando vivi a solteirona do ‘Fala baixo’, e foi a primeira
produção que fiz na vida, porque sabia que ninguém ia me convidar para fazer a
Mariazinha. Então, peguei meus parcos recursos, endividei-me no banco e fiz —
conta a atriz. — Tenho lembranças muito queridas dessa peça, que ainda quero
fazer no cinema algum dia. Foi com ela a primeira vez que ganhei um monte de
prêmios. As três montagens, aliás, estão entre as maiores da minha carreira até
hoje.


Marília deve receber uma ligação de Aderbal Freire-Filho em breve.


— Quero conversar com ela sobre a Mariazinha do ‘Fala baixo’ — diz o diretor,
que remontará o primeiro texto encenado da autora Leilah Assumpção, com Ana
Beatriz Nogueira como Mariazinha, uma solteirona virgem, e Thiago Lacerda como o
ladrão que entra em seu quarto e em seu mundo. — Eu ainda não pensei em nada. Só
sei que não tem como ser parecido com a peça original, porque é outro tempo,
outro perfil de trabalho dos atores. Vai ser uma homenagem a ela.


Os ensaios para ‘Fala baixo’, a mais dramática das três comédias, começam
entre março e abril, e a peça estréia em maio em Curitiba, onde ficará por um
mês.


— É um tipo de trabalho que quero começar a fazer: estréias, e também
minitemporadas, fora do eixo Rio-São Paulo. Nas estréias, os espetáculos ainda
não estão prontos — destaca Barata. — ‘Brincando’, que começaremos a ensaiar em
28 de agosto, também será assim: estréia em Niterói em novembro e fica lá por
três semanas, no Teatro da UFF. Depois, fica mais duas semanas nos arredores do
Rio, talvez Campos ou Petropólis. Em janeiro, vai para o Sérgio Porto. ‘Doce
deleite’ ainda não tem previsão para estréia, porque ainda estamos confirmando
elenco.


A dificuldade em fechar o elenco de ‘Doce deleite’, além de ser devido às
agendas dos atores, tem a ver com a peculiaridade da peça, que cria uma
exigência para a dupla de protagonistas: apesar de não viverem um casal
romântico, eles têm que ter química.


— ‘Doce deleite’ é uma reunião de histórias, de Alcione Araújo, Vicente
Pereira, Mauro Rasi e José Márcio Penido. Na montagem original, Marília e Nanini
faziam oito quadros, com mais de dez personagens, e tinha sintonia entre eles. A
peça precisa dessa interação — diz o produtor, presidente da Associação de
Produtores Teatrais do Rio.


O diretor Paulo de Moraes conta que, na remontagem, será usada uma segunda
versão dos textos originais.


— Foi uma versão feita anos mais tarde pelo Alcione, que até guarda as
melhores cenas da montagem original. Ela acaba tendo uma estrutura que faz uma
homenagem ao teatro e ao ato de representar, com textos sobre o contra-regra, a
bilheteira, a platéia… — diz Paulo de Moraes, convidado por Eduardo Barata por
não ser um nome tão diretamente ligado a comédias. — Isso é o mais divertido.
Vai ser um bom exercício de estilo para mim.


‘Doce deleite’ é ‘o mais brincalhão’, diz Marília Pêra


Marília Pêra conta que a peça, produzida por ela e Nanini originalmente,
nasceu da vontade dos dois de montar um espetáculo musical e de humor.


— A gente se juntou ao Alcione, e começamos a organizar as histórias. Foi o
Alcione quem inventou o título. No início, fazíamos só às segundas e
terças-feiras no Vanucci, só que depois foi tanto o sucesso que precisamos mudar
a apresentação para o fim de semana — acrescenta ela. — ‘Doce deleite’ é o mais
brincalhão dos três espetáculos. ‘Fala baixo’ é engraçadíssimo, mas fala de uma
situação pungente, da solidão daquela mulher. E ‘Brincando em cima daquilo’
também tem humor, mas ao mesmo tempo tem cenas que chegam a ser quase trágicas,
como uma de estupro.


‘Brincando’ (que deve ganhar outro nome) foi um título dado por Marília para
uma série de monólogos curtos de Dario Fo e sua mulher, Franca Rame (que havia
dado como título o nome de uma das peças, ‘Um orgasmo adulto foge do
zoológico’). Todos tratam da mulher.



  • A montagem original usava quatro dessas peças. Mas acabamos de descobrir que
    o Dario Fo tem uns 30 monólogos que falam da mulher. Então, ainda estamos
    pesquisando para ver o que vamos usar, além dos quatro textos da primeira
    montagem — adianta Otávio Müller, estreante em direção com ‘Brincando’, que será
    com Débora Bloch.’

 


COPA 2006
João Ubaldo Ribeiro


Lá vou eu de novo


‘Em meados do século passado (meu Deus do céu, jamais pensei que iria
escrever isto referindo-me a mim mesmo, esta vida é cruel), não havia televisão
na Bahia, onde eu morava. Quando chegou, por volta do fim da década de 50,
também não existia videoteipe. Esse avanço foi mais tarde comemorado pelo único
canal que tínhamos, com a visita de estrelas do Rio e de São Paulo e outras
maravilhas. Entre estas, a possibilidade de ver jogos de futebol inteiros, com
uma qualidade de imagem deslumbrante para a época.


Desenvolveu-se então um tipo de torcedor muito peculiar. Pelo rádio e pelo
noticiário da própria TV, a baianada já podia saber dos resultados dos jogos
realizados à tarde no Sul do país (lá, Rio e São Paulo são Sul do país) e
mostrados à noite em Salvador. Mas havia gente, como meu pai, por exemplo,
torcedor do América, depois flamenguista e simpatizante fervoroso de qualquer
time que estivesse bem no Campeonato Paulista, que se isolava do mundo nos dias
de jogo. Recusava-se terminantemente a saber dos resultados dos jogos e torcia
assistindo aos teipes, como se estivesse no que hoje se chama de tempo real.
Quando alguém se atrevia a tentar contar-lhe o placar já sacramentado, ele dava
um esbregue, tapava os ouvidos e se retirava do recinto.


Acho que ele acreditava mesmo que o resultado pudesse mudar durante a
exibição do teipe e eu mesmo, vascaíno e corintiano, cheguei a de vez em quando
adotar essa prática. Neste mundo cada vez mais prenhe de incertezas, não estou
tão seguro assim de que nossa torcida não funcionasse, pelo menos volta e meia.
Suspeito que pelo menos uns dois ou três grandes jogos tiveram resultados
diferentes por causa de nossa torcida eletrônica. De qualquer forma, tinha lá
sua emoção assistir ao teipe sem conhecer o placar.


Não vão passar aqui teipe nenhum de Portugal contra a Alemanha, mas me vieram
saudades dos velhos tempos baianos. Como já me disseram, a maioria dos
brasileiros estará torcendo por Portugal. E eu, neto de português, sobrinho de
português, pai de português e primo de portugueses, não podia ser exceção. Até
porque, entre as minhas não tão corretas previsões, estava a de que tungariam
Portugal, o que de fato aconteceu. O pênalti a favor da França foi altamente
duvidoso. E o outro, não marcado, a favor de Portugal, foi mais do que óbvio. Um
francês empurrou claramente pelas costas o atacante português que ia cabecear
para o gol, em ótimas condições de marcar. Vi com estes olhos que a terra há de
comer e ninguém me fará mudar de idéia. Meu coração estará com Chico, orgulho de
Portugal e proprietário do boteco onde eu estaria, se me encontrasse no Rio.
Posso quebrar a cara novamente, mas que tal uns 2 a 1 para Portugal, valoroso
time, com futebol e amor à camisa? Acho que vou pedir a um amigo alemão que
grave o jogo, para eu resolver tudo no teipe.’


 


QUEM MANDA
Paula Autran, Maiá Menezes, Cláudia Lamego e Ludmilla
Lima


Tráfico proíbe imprensa de entrar com Crivella em favela


‘O tráfico voltou a fazer ameaças ontem, no segundo dia de campanha nas ruas
dos candidatos ao governo do estado. Os traficantes impuseram ‘sua lei’ durante
visita do senador Marcelo Crivella (PRB) à Favela do Jacarezinho: os repórteres
que pretendiam acompanhá-lo foram proibidos de entrar na comunidade pelos
criminosos, como informou a assessoria de Crivella, depois de receber um recado
enviado por eles a um militante do partido que mora na favela.


— Vocês sabem que não podem entrar na comunidade, né? — disse o candidato, ao
chegar ao ponto de encontro com a imprensa, na entrada do Jacarezinho, na
Avenida Dom Hélder Câmara. — Isso é antidemocrático. Costumo pedir a eles que
permitam que a imprensa faça a cobertura, mas a liderança da comunidade sempre
criou restrições, e é preciso respeitar. Afinal de contas, a comunidade já tem
tanta violência. Eu não quero criar mais um ponto de tensão.


Candidato não agendou visita com comunidade


A visita não foi agendada com representantes da comunidade com antecedência,
como costumam fazer os candidatos. Crivella resolveu ir ao Jacarezinho naquela
manhã. Antes de entrar com seus militantes na favela, onde permaneceu por uma
hora, posou para fotos. Ele — que na campanha a prefeito disse ter passado por
situações semelhantes — contou que não anda com seguranças e que chega a orar
pelos bandidos:


— Nunca tive qualquer problema entrando na favela. Às vezes acontece de as
pessoas me reconhecerem como bispo e me pedirem uma oração. Inclusive pessoas
ligadas ao tráfico. E eu nunca neguei. Aconselho-os a procurar um caminho
melhor.


O episódio ocorrido com Crivella expõe uma situação a que os 11 candidatos ao
governo do Rio estão sujeitos. Diante da possibilidade de serem confrontados com
as ameaças do tráfico em futuros compromissos de campanha, outros candidatos
reagiram. Para Sérgio Cabral (PMDB), não há tolerância para a marginalidade:


— É um absurdo que a festa da democracia não aconteça por intolerância da
criminalidade. O tráfico não vai me impedir de entrar em qualquer canto — disse
Cabral, que não quis informar o que faria caso recebesse algum recado de
traficantes.


O candidato do PSDB, Eduardo Paes — que em 1996 contou ter sido cercado por
traficantes na Favela da Maré ao visitar a comunidade ao lado do então
governador Luiz Paulo Conde — afirmou que recorreria à polícia para ter acesso a
qualquer comunidade:


— Não digo que é algo que não aconteça (ser ameaçado pelo tráfico). Em 96, na
enchente em Jacarepaguá, eu e Conde passamos por isso na Maré. Foi um caso
público. Levamos o pessoal desabrigado para ver as casas na Maré, o cara chegou,
um sujeito vestido de Rambo, e disse que queria as casas.


O candidato do PDT, Carlos Lupi, disse que não subiria caso a imprensa fosse
impedida de entrar pelo tráfico:


— Onde a imprensa não pode subir, o candidato também não deveria subir. Eu
não subiria.


Milton Temer, candidato do PSOL, afirmou:


— Evidente que isso (a proibição da entrada da imprensa) é um sinal trágico.
Ou ele subia com todo mundo ou não subia. Não tenho medo de favela. Se for
convidado, eu vou. Tenho medo é de entrar em certos escritórios e apartamentos.


Já Vladimir Palmeira, do PT, diz não saber como será quando tiver que entrar
em alguma comunidade onde haja tráfico.


— Como não faço campanha há muito tempo, vou entrar como sempre fiz. Vou
pegar o endereço e seguir para o lugar — disse o candidato, que culpou o estado
pelo episódio. — É uma prova de que o banditismo manda no Rio.


Para Denise Frossard, do PPS, envolvida em polêmica por ter afirmado que
tinha medo de entrar em favelas, o que aconteceu não é novidade.


— Disse isso porque sei. Quem determina quem entra ou não é o crime. As
comunidades são reféns — afirmou ela, que anteontem iniciou sua campanha com um
corpo-a-corpo no Morro da Providência com a presença do coronel Venâncio Moura,
ex-comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e seu guarda-costas
quando ela condenou dez bicheiros em 1993.


Em nota, o presidente do TRE, desembargador Marlan de Moraes Marinho, não
quis fazer comentários sobre o assunto, sob a alegação de que não deve analisar
o comportamento dos candidatos ou fatos que os envolvem. De acordo com a nota,
cada candidato deve se comportar da maneira que julgar conveniente. O TRE agirá
se for acionado, afirmou.’


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