Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O Globo

INTERNET

Ludmilla de Lima

No Twitter, um novo canal por um Rio melhor

Carros estacionados em calçadas, flanelinhas, ocupações irregulares, camelôs, favelização…

O combate a essas e outras ilegalidades, frutos da desordem urbana no Rio de Janeiro, terá vez a partir de amanhã no Twitter. Inspirado na série de reportagens do GLOBO de mesmo nome, o perfil ‘Ilegal. E daí?’ aportará no microblog com a proposta de contribuir para um Rio melhor. A ideia é amplificar as queixas da população em relação à violação sistemática de leis, normas e posturas, buscar soluções e ajudar o poder público na fiscalização.

Quem quiser colaborar basta enviar para o @ILEGALeDAI tweets e fotos sobre irregularidades que atrapalham o dia a dia de cariocas e fluminenses.

Reclamações serão levadas ao poder público Uma equipe do GLOBO, formada por jornalistas das editorias Rio e Jornal de Bairros, vai monitorar diariamente o perfil.

A função dos repórteres será organizar as reclamações, retweetar as mais relevantes, repassá-las aos órgãos responsáveis, cobrar e divulgar respostas, estimular a fiscalização pelos seguidores e ainda produzir reportagens para o site do GLOBO e para o impresso sobre os temas mais discutidos.

— O ‘Ilegal. E daí?’ traduz tudo o que O GLOBO pensa sobre jornalismo: proximidade com o leitor, independência editorial, serviço à comunidade e pressão nas autoridades.

A série já trouxe enormes benefícios ao Rio de Janeiro — explica o diretor de Redação do GLOBO, Rodolfo Fernandes.

Outros jornalistas das duas editorias — as maiores da redação — também twittarão para o ‘Ilegal. E Daí?’, marca que virou bordão entre leitores do GLOBO. Até mesmo o prefeito Eduardo Paes adotou a expressão, prometendo durante a campanha de 2008 acabar com o ‘Ilegal, E daí?’.

Para não fugir ao conceito da série, os assuntos enviados pelos seguidores só serão retweetados se envolverem o descumprimento de alguma lei, norma ou postura.

Para o editor da Editoria Rio, Paulo Motta, o @ILEGALeDAI promete ser um aliado da população e do poder público para resolver problemas do Rio.

— O Twitter do ‘Ilegal. E daí?’ pretende ser uma ferra-prefeito Eduardo Paes adotou a expressão, prometendo durante a campanha de 2008 acabar com o ‘Ilegal, E daí?’.

Para não fugir ao conceito da série, os assuntos enviados pelos seguidores só serão retweetados se envolverem o descumprimento de alguma lei, norma ou postura.

Para o editor da Editoria Rio, Paulo Motta, o @ILEGALeDAI promete ser um aliado da população e do poder público para resolver problemas do Rio.

— O Twitter do ‘Ilegal. E daí?’ pretende ser uma ferra-menta para juntar as reclamações das pessoas que querem um Rio melhor. A democracia é o império das leis, o que pressupõe direitos e deveres.

Não quer dizer que todas as leis sejam boas; elas podem ser mudadas. Mas não desrespeitadas.

É isso que faz a boa convivência entre as pessoas — explica o editor.

A colaboração dos jornalistas da Rio e do Jornal de Bairros, que circulam diariamente por todo o estado, também será fundamental para a ampliação da cobertura sobre práticas enraizadas no cotidiano do Rio que atormentam a população.

— As equipes do Bairros e da Rio cobrem toda a cidade e o estado, e isso será importante para o Twitter. As duas editorias, as maiores da redação do GLOBO, juntas, poderão fazer uma cobertura grande de todo o Rio de Janeiro — adianta o editor da Editoria Jornal de Bairros, Mário Toledo.

Editora de Mídias Sociais e Interatividade do GLOBO, Nivia Carvalho acredita que o canal no Twitter vai melhorar a qualidade do trabalho jornalístico sobre os assuntos que envolvem o tema.

— As redes sociais têm contribuído para a difusão rápida de informações e, a cada dia, vemos que a participação das pessoas tem impactado muito positivamente o noticiário. O perfil ‘Ilegal. E daí?’, além de incentivar ainda mais a colaboração dos usuários, será mais um canal de conexão entre jornalistas do GLOBO e a audiência, o que sempre melhora o jornalismo que fazemos — diz Nivia Carvalho.

 

Rodrigo Fonseca

‘Hoje, as pessoas moram no Google’

Matéria-prima para ‘ A r e d e s o c i a l ‘ ( ‘ T h e s o c i a l network’), o filme mais popular do momento nos Estados Unidos, com uma bilhteria de US$ 50,8 milhões, o livro ‘Bilionários por acaso — A criação do Facebook’, de Ben Mezrich, chega às livrarias brasileiras no dia 22, via editora Intrínseca, propondo uma investigação sobre a juventude alfabetizada (e conectada) pela internet. Autor de ‘Bringing down the house’, romancereportagem que inspirou o longa-metragem de sucesso ‘Quebrando a banca’, com Kevin Spacey, em 2008, Mezrich reuniu em sua nova publicação cada passo dado pelo americano Mark Zuckerberg e pelo brasileiro Eduardo Saverin, estudantes de Harvard, para desenvolver um site de relacionamento. Da noite para o dia, o site que Zuckerberg montou, financiado por Saverin, rendeu bilhões, mas gerou um racha entre eles que acabou nos tribunais. Segundo Mezrich, as divergências e decepções entre eles serviram de mote para traições dignas de uma tragédia shakespeariana.

Daí o interesse do diretor David Fincher, de ‘O curioso caso de Benjamin Button’, em verter o livro às telas. Dirigida por Fincher, a adaptação das pesquisas de Mezrich só estreia no Brasil no dia 3 de dezembro.

Mas, nesta entrevista, o escritor antecipa alguns detalhes do longa ao GLOBO e perfila a geração de cordão umbilical digital.

Fotos de divulgação O LONGA de David Fincher (à esquerda), o escritor Ben Mezrich (acima) e o livro: sucesso

‘Bilionários por acaso’ parte da criação do Facebook para construir um perfil da geração que cresceu conectada na web.

Que cara essa geração tem? BEN MEZRICH: Quando cursei a universidade, se um garoto quisesse sair com uma menina ele precisava engolir sua timidez e mandar uma cantada esperta.

Agora, ficou mais fácil. Você abre uma conta no Facebook e estabelece uma relação, que pode até se limitar ao plano virtual. Na minha juventude, a geografia era física. Falávamos de casas, de quintais. Hoje, as pessoas moram no Google. A geração de hoje é menos solitária quando está no computador, tuitando, mas isolada quando fica fora dele.

Você defende a tese de que o Facebook vai superar o Google e demais sites…

O Facebook propiciou uma integração generalizada, como nenhum outro site conseguiu. Ele tem uma agilidade e uma funcionalidade com índices de resultado superiores aos demais. A eficiência pesou na adesão. E a maneira como essa adesão pode interferir no curso da História é o que me interessou na feitura do livro, para além das frustrações de seus criadores. Percebi que o Facebook poderia gerar um comportamento similar ao que a televisão gerou no passado: unindo todo mundo em torno da mesma mídia ao mesmo tempo.

Mas para entender esse ensaio de mudança histórica a rixa entre Mark Zuckerberg, que criou o Facebook, e o brasileiro Eduardo Saverin, que financiou, parece essencial. De que modo essa rixa retrata a instabilidade das relações dessa geração? Comecei a escrever o livro ao receber um e-mail de um sujeito de Harvard que dizia: ‘Sou o melhor amigo do cara que criou o Facebook.’ Ali, notei que havia uma nova aristocracia, formada por jovens brilhantes, mas capazes de se esfaquear para alcançar uma afirmação individual.

Quando pesquisei os processos, percebi a ironia que era construir um império bilionário às custas de uma amizade.

Como a quebra da amizade entre Zuckerberg e Saverin foi transposta para as telas? A principal diferença entre o filme e o livro está na pesquisa que o diretor fez do processo contra Zuckerberg. Ele se ateve mais a documentos do que eu. Mas, de modo geral, há uma fidelidade surpreendente para um cineasta tão autoral como Fincher, o que mostra seu respeito ao livro e à história do Facebook. E ele passa por um aspecto com o qual concordo: Zuckerberg e Saverin não devem voltar às pazes, pois Eduardo se sentiu traído por não receber o crédito.

O filme vem sendo associado ao Oscar, em especial pela atuação de Jesse Eisenberg como Zuckerberg.

A escalação dele te agradou? Muito. Toda a escalação, aliás.

O sucesso do livro se deu enquanto teóricos de Comunicação investigavam a simbologia política que o Facebook carrega.

O que há de político num site que conecta bilhões? O Facebook oferece a milhões de pessoas a possibilidade de se expressar de modo democrático, sem censura. Mas ele já começa a criar uma forma de exclusão em relação a quem que não é usuário. Se é libertador como veículo de expressão, é um meio de extremo isolamento.

Você preferiu dar esta entrevista por telefone a recorrer a email ou Twitter…

Fico muito on-line, mas não como os jovens que cresceram tendo o computador como o principal veio de comunicação.

 

TELEVISÃO

Fernanda Godoy

A era de ouro da televisão americana

Quando o piloto de um novo seriado de TV custa US$ 18 milhões e é dirigido pelo mestre do cinema Martin Scorsese, fica difícil argumentar contra os que veem na última década a era de ouro da televisão, um período de apogeu criativo. O seriado em questão é ‘Boardwalk empire — O império do contrabando’, que estreia hoje para os brasileiros, às 22h, na HBO, e já tem a segunda temporada assegurada.

O criador de ‘Boardwalk empire’, uma saga sobre o surgimento da máfia na Atlantic City dos anos 20, é o roteirista Terence Winter, autor de ‘Família Soprano’, a série que é considerada por muitos críticos o maior êxito dos anos 2000 na televisão, com sete temporadas de sucesso, também na HBO.

— Espero nunca ter que trabalhar em outro lugar. A HBO tem um enorme respeito pelos artistas que emprega, ela os contrata e deixa que façam seu trabalho.

Não é que os executivos não tenham ideias ou opiniões, mas eles não se deixam levar pela covardia nem pelo medo de que o público não vá entender algo — disse Winter a jornalistas estrangeiros, em entrevista que antecedeu o lançamento de ‘Boardwalk empire’ nos Estados Unidos, em setembro.

Contemplando as elites culturais A disseminação da TV a cabo, o avanço da tecnologia de alta definição e o uso da internet para baixar programas e para criar comunidades de discussão estão entre os fatores que fizeram a TV decolar como uma forma de produção cultural de prestígio.

Para a pesquisadora de História da Cultura Karen Hornick, da New York University (NYU), com seriados como ‘Família Soprano’ a TV ganhou estatura, e passou a ocupar um espaço deixado pelo cinema.

— As mudanças na tecnologia e na economia da cultura de massa favoreceram a televisão, em detrimento do cinema. Hollywood tem que produzir blockbusters que tenham apelo a uma certa demografia, mas nos EUA hoje a maioria das casas tem TV a cabo, com pacotes que incluem desde a HBO até os pequenos canais, e eles podem realmente focar em plateias bem específicas, fazer programas dirigidos às elites culturais de Los Angeles e Nova York — diz a professora da NYU.

No fim do ano passado, recapitulando a década, a crítica de TV da revista ‘New York’, Emily Nussbaum, escreveu que os anos 2000 foram ‘a primeira década em que a televisão se tornou reconhecida como arte, como grande arte’. Foi também a década dos reality shows, sem dúvida. Mas, entre as produções de ficção de maior destaque, são citadas pelos especialistas ‘Família Soprano’, ‘Mad men’ — que, em sua quarta temporada nos EUA, continua arrebatando público e crítica com seu retrato minucioso do mundo da publicidade americana nos anos 60 —, ‘Breaking bad’, ‘The wire’, ‘The West Wing’, ‘Sex and the city’, ‘Lost’ e ‘24 horas’.

Para Alan Sepinwall, respeitado crítico e blogueiro de TV, a década de 2000 deixou os anos 90 (de ‘Friends’, ‘Seinfeld’, ‘ER’ e ‘NYPD Blue’) na poeira. O curioso, observa ele, é que muito desse sucesso veio da TV a cabo, que trouxe ‘uma divisão de público que muitos temiam que fosse destruir a TV’: — Como hoje são poucos os programas dos quais se esperam sucessos de massa, ninguém precisa tentar ser tudo para todos os espectadores, e essa capacidade de fazer o melhor programa possível, em vez de o programa com a maior apelo de audiência, levou ao que deve ter sido a década mais criativa da História da TV.

Segundo Karen Hornick, a pesquisadora da NYU, a TV vive sua terceira e mais importante idade de ouro nos EUA. A primeira foi na passagem dos anos 50 para os 60, mas a linguagem ainda era mais como a de um teatro filmado.

Nos anos 80, os seriados começaram a ter arcos narrativos mais longos, lembra ela, que se interessou por TV a partir da comparação com a publicação de romances europeus em capítulos no século XIX, como ‘Madame Bovary’, de Gustave Flaubert.

Na fase atual, a TV teria chegado à sua maturidade.

— A TV está atingindo pessoas com um nível cultural e educacional muito alto. A ideia de que a TV era algo desprezível, que estava abaixo do nível dessas pessoas, desapareceu.

Por muitos anos, diretores de cinema de grande prestígio ganhavam dinheiro fazendo comerciais para a TV anonimamente.

Mas agora eles estão assinando seus trabalhos, não há mais estigma — afirma Karen.

A atriz escocesa Kelly MacDonald (de ‘Onde os fracos não têm vez’ e ‘Gosford Park’), que encarna um dos principais papéis femininos de ‘Boardwalk empire’, concorda: — É uma época fantástica para estar na TV americana: há grandes oportunidades, muitos talentos estão sendo atraídos.

Ao mesmo tempo o cinema está mais preocupado com dinheiro do que costumava estar, fazendo continuações, essas coisas.

Gustavo Grossmann, vice-presidente e gerente geral da HBO Latin America, diz que a HBO conseguiu não apenas destruir este estigma completamente, como também criar um cenário novo. Ele cita séries como ‘The Pacific’, ‘Família Soprano’, ‘True blood’, ‘The prisoner’ e ‘Boardwalk empire’, e filmes como ‘You don’t know Jack’ e ‘Grey Gardens’, que levaram à TV nomes como Tom Hanks, Steven Spielberg, Martin Scorsese, Al Pacino, Susan Sarandon, Claire Danes, Anna Paquin, Jim Caviezel e Ian McKellen.

— Hoje, a TV se transformou no ambiente ideal para que produtores, atores, diretores e roteiristas criem e trabalhem em grandes produções. Um diretor que trabalha com a HBO tem em média 12 horas para contar uma história, no caso de uma série, por exemplo. Isso permite que toda a equipe trabalhe de modo mais cuidadoso e detalhista, o que resulta em produções mais intensas e verdadeiras — diz Grossman.

Crise econômica é ameaça A grave crise econômica em que os Estados Unidos estão mergulhados é, no entanto, uma ameaça, e os especialistas já apontam os primeiros sinais de que a festa pode estar chegando ao fim, com problemas nas grandes redes de TV. Nenhum lançamento do porte de ‘Lost’ e ‘24 horas’ foi feito pelas grandes redes americanas em 2010.

— É possível que já tenhamos atingido o apogeu — admite Karen Hornick.

A resposta, com os produtores,diretores e atores de TV.

 

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