Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Olavo de Carvalho

‘A notícia que assinala menor mortalidade infantil em Cuba do que nos EUA, lançando a culpa da diferença no governo Bush, prova novamente a validade do preceito leninista segundo o qual duas mentiras articuladas funcionam melhor que uma isolada.

Há anos os conservadores vêm denunciando o descalabro do sistema de saúde americano, efeito do gigantismo estatista fomentado pela esquerda. E a baixa mortalidade infantil em Cuba já data do tempo de Batista, quando o país era a terceira economia da América Latina. Basta inverter as seqüências temporais e, cruzando-as, produzir uma comparação falsa cujas conclusões o leitor tirará automaticamente, persuadindo-se de que chegou a isso por conta própria e sem nenhuma indução externa. É a técnica de superpor duas imagens na tela para produzir uma terceira na mente do espectador, como fazia Eisenstein nos seus filmes de propaganda stalinista.

Funciona mais ainda com um público estrangeiro, distante das fontes diretas. Organizada mundialmente, em contraste com as direitas avulsas e inconexas, a esquerda sempre tira proveito dos erros e dos crimes que comete num país, usando-os em outro país como material para denúncias antidireitistas, confiante em que ali ninguém vai tentar rastrear os fatos na origem.

A manobra já se incorporou de tal modo aos hábitos do jornalismo que pode ser praticada sem nenhuma intenção consciente. É a mentira rotinizada, insensível, asséptica.

Às vezes não é preciso mentiras cruzadas. Basta uma só, construída pelo método simples da supressão de palavras. Nossos canais de TV alardearam o confronto entre Donald Rumsfeld e um grupo de soldados americanos no Iraque, a propósito da escassez de carros de combate. O secretário teria recebido uma cobrança insolente e, constrangido, deu uma resposta ríspida: ‘A gente faz a guerra com o exército que tem, não com aquele que sonha.’ Só agora, lendo a transcrição integral da declaração, entendi que não foi nada disso. Não houve cobrança insolente, constrangimento ou rispidez. Recolocada em seu devido lugar, a frase se referia ao próprio Rumsfeld, não aos soldados. Ele não mandou que eles se arranjassem com o que tinham, mas descreveu a reação com que ele mesmo se defrontara ao tentar apressar a produção do material bélico. Confira em http://www.humaneventsonline.com/article.php?id=6069.

Há também o método ainda mais simples: falsear as proporções. Todo mundo leu que um prisioneiro de Abu-Ghraib, forçado pelos americanos a masturbar-se em público e empilhar-se numa pirâmide humana com seus companheiros de infortúnio, afirmou que o próprio Saddam Hussein jamais o submeteria a tais humilhações. É claro: Saddam lhe cortaria logo meia dúzia de dedos ou a mão inteira, como fez na mesma prisão com milhares de prisioneiros que a mídia chique, imbuída do dever de exibir a um estupefato mundo a superior maldade americana, ignora solenemente. Que o leitor tire a dúvida por conta própria, se tem estômago para isso. As imagens estão em http://www.aei.org/events/eventID.844,filter.all/event_detail.asp e http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=2186. A vida é assim: se você faz uma maldade pequena, as pessoas o acusam indignadas; se o mal é grande demais para que a consciência do homem médio suporte conhecê-lo, todo mundo faz de conta que não viu. O colaboracionismo da mídia ocidental ajuda as ditaduras islâmicas e comunistas a tirar proveito dessa fraqueza congênita da alma humana.

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Normando Hernandez, um dos 22 jornalistas que continuam presos em Cuba por delito de consciência, foi tão bem tratado na cadeia que pegou tuberculose. Está condenado a 25 anos de prisão, mas corre o risco de sair antes – para o cemitério.

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O imbróglio do Fórum Social Mundial, onde a arrogância pomposa das promessas utópicas parece harmonizar-se muito bem com as práticas financeiras mais sórdidas e mesquinhas deste baixo mundo, traz a prova cabal de que o slogan do empreendimento ‘Um outro mundo é possível’ pode ser substituído com vantagem pelo verso do poeta, aliás comunista, Paul Eluard: ‘Há outros mundos, mas estão neste.’’



PIRÂMIDE INVERTIDA
José Paulo Lanyi

‘Nas costas do xerife’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 13/1/05

‘Importante, mas, ainda assim, surreal, a discussão dos acadêmicos ibero-americanos sobre a aplicação da pirâmide invertida nos textos da Internet. Uns são contra o ‘monopólio’, outros a favor, em tom altissonante. O site Observatório da Imprensa destacou o tema em sua última edição. Carlos Castilho, em ‘Para que serve a pirâmide invertida?’, narra as dissensões no Congresso sobre Novos Meios de Comunicação, realizado em novembro, em Santiago de Compostela, na Espanha.

De acordo com o jornalista, referindo-se à estrutura, a professora Maria Cantalapiedra, da Universidade dos Países Bascos, ‘fez uma apaixonada apologia do seu uso como fórmula obrigatória para qualquer texto jornalístico’. Ramón Salaverria, da Universidade de Navarra, refutou-lhe o pensamento, chamou-o de anacrônico.

No relato do professor, Cantalapiedra defende o uso incondicional da pirâmide porque um jornalista ‘deve ter a capacidade de contar num parágrafo tudo o que está acontecendo’. Salaverria rejeita esse raciocínio e bate direto no queixo: ‘Pretender que este formato deve ser o ÚNICO formato jornalístico válido nos meios cibernéticos equivale a mostrar uma absoluta ignorância e desprezo pela variedade de formatos textuais oferecidos atualmente pelos meios digitais (reportagens, crônicas simultâneas, relatos cronológicos, informações em formato de blogs, infográficos não-lineares). Curiosamente todos estes formatos ‘transgressores’ são os que se encontram na vanguarda do desenvolvimento de uma nova narrativa hipertextual’.

O Observatório da Imprensa também publicou uma entrevista com Rosental Calmon Alves, da Universidade do Texas. O brasileiro realça a eficácia da velha pirâmide, embora admita o uso de outras fórmulas narrativas. ‘Ir direto ao ponto, numa redação de estilo conciso, só ajuda a comunicação num meio nervoso e interativo como a web, especialmente ao se tratar de hard news, das notícias de última hora que são o forte do jornalismo online na fase atual’.

Peço licença aos macacos velhos para explicar que a pirâmide invertida busca responder, logo nos primeiros parágrafos, às perguntas-chave do assunto em foco: o quê, quem, quando, como, onde e por quê. O essencial, no início, os detalhes (alguns são mesmo dispensáveis), no fim.

Iniciativa preciosa, sobretudo nos tempos em que as notícias eram transmitidas pelo telégrafo. Sempre havia o risco de uma interrupção, mas o principal já estava na mão. Na outra ponta, essa opção veio a calhar em uma sociedade pressionada pela falta de tempo. O leitor dos grandes centros urbanos tem pressa. O professor Rosental diz que o fenômeno persiste, também na web. ‘As pesquisas mostram que o horário nobre do jornalismo online é justamente durante o expediente de trabalho e que as pessoas consultam os sites jornalísticos muitas vezes ao dia’.

Nas minhas experiências de sala de aula, alguns alunos reagiam ao artifício. Perguntavam, com razão, se não havia como escrever diferente. ‘Por que tem que ser desse jeito?’. ‘Na verdade, não tem’, eu respondia. ‘Mas, como a maioria das redações trabalha assim, você tem que saber como elas trabalham’. Em outras palavras: é preciso fazer e conhecer bem para depois transgredir.

Ainda penso que, em qualquer mídia, a opção pelo roteiro deve levar o público em conta. Aqui mesmo, no Comunique-se, temos alguns idiotas da objetividade, expressão muito feliz cunhada pelo Nelson Rodrigues. Esses podem ter tempo de sobra, mas cintura de menos. Lembro-me, no passado, de reações despropositadas. Havia quem chegasse e cobrasse a tal pirâmide em um artigo de opinião que beirava a crônica.

Na Internet, mais do que o conjunto de novas ferramentas e, conseqüentemente, da abertura de possibilidades (como descreve o professor Salaverria, lá no terceiro parágrafo), o relevo é a maravilhosa atmosfera de faroeste. Aqui o xerife é recebido a bala, pelas costas. Estou com os bandoleiros. Nada de algemas.’



BATALHA RELIGIOSA
Milton Coelho da Graça

‘Jornal pode entrar na batalha religiosa’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 12/1/05

‘Ninguém mais discute que o medo de uma vitória de Marcelo Crivella – misto de senador e líder da Igreja Universal – carreou milhares de votos de católicos e ateus para dar a vitória a César Maia no primeiro turno na eleição municipal do Rio de Janeiro.

Mas pouca gente sabe que esse ‘efeito manada’ talvez tenha ocorrido espontaneamente na área da esquerda, mas foi bem planejado e executado tanto por César Maia como pela Igreja. E, possivelmente, pelas Organizações Globo.

Havia um candidato católico militante e carismático – André Correia, do PPS – mas só o pároco da igreja que ele freqüenta, no Leblon, ofereceu-lhe apoio aberto. Outros 700 outros sacerdotes cuidaram de alertar seus paroquianos para o perigo da candidatura Crivella. César Maia, me assegura uma boa fonte na Arquidiocese, enviava todas as pesquisas ao palácio São Joaquim (onde reside e trabalha o cardeal do Rio de Janeiro) e também à direção das Organizações Globo, insistindo com esses dois interlocutores que, no segundo turno, seria lógico o apoio do casal Garotinho a Crivella e isso poderia tornar imprevisível o resultado.

O senador Crivella facilitou essa mobilização católica com a publicidade apresentada pelo PL na televisão, antes mesmo de começado o período eleitoral. O filme do partido apresentava imagens da cidade do Rio, com o senador cantando uma música de sua autoria, exaltando as belezas cariocas mas com um estranho detalhe: o Cristo Redentor não aparecia em nenhuma das cenas, respeitando o princípio evangélico de não venerar imagens.

Mas tudo isso é passado e talvez mereçam maior atenção alguns fatos que ocorrem no presente. A Igreja Universal imprimia a ‘Folha Universal’ em Belo Horizonte, mas agora montou um bom parque gráfico no Rio – o jornal, como se sabe, tem uma tiragem de um milhão e meio de exemplares, sem encalhe. É todo distribuído (e pago) entre os fiéis. Há um boato insistente de que a Universal continua interessada em comprar o jornal O DIA, embora as duas irmãs controladoras – Dadá e Gigi – sempre afirmem que não estão interessadas em vender.

Um recente dado serviu para incrementar o zum-zum sobre possível venda: o advogado Marcos Cruz, ex-marido de Dadá de Carvalho, é o executivo mais forte do jornal, mas no Palácio da Justiça fala-se em seu nome como possível novo membro do Tribunal Regional do Trabalho, para o qual seria indicado como representante dos advogados. Certamente nunca houve na história do jornalismo um diretor de grande jornal disposto a trocar essa função pelo Poder Judiciário.

De outro lado, a Igreja Católica está claramente empenhada em enfrentar eletronicamente os evangélicos. A Rádio Catedral já recebeu equipamentos moderníssimos, o diálogo com César Maia continua e um dos itens da agenda seria a criação de um jornal, com várias hipóteses em discussão – desde um destinado a distribuição em templos católicos até outros projetos mais ambiciosos.’



INDENIZAÇÕES MILIONÁRIAS
Evandro Éboli

‘Ministro chama indenização dada a Cony de estelionato’, copyright O Globo, 14/1/05

‘Ao reconhecer o direito de Odete Maranhão, viúva do ex-militante político Luiz Ignácio Maranhão Filho, de receber indenização pelo desaparecimento de seu marido em 1974, durante o regime militar, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez um duro ataque a pensões milionárias aprovadas pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Mendes, que votou contra recurso impetrado pela União, citou os casos do jornalista Carlos Heitor Cony, que teve aprovada indenização de R$ 1,5 milhão, e do ex-piloto da Varig José Caetano Alves, que recebeu R$ 2,5 milhões. E classificou os dois casos de estelionato contra os cofres públicos.

‘A indenização assegurada à recorrida (Odete Maranhão) não se afigura desarrazoada. É verdade que, nos dois casos (do jornalista e do piloto), tem-se exemplo de verdadeira distorção ou patologia, que muito se aproxima de um estelionato pela via administrativa’, afirmou Mendes em seu voto, aprovado por unanimidade pelo plenário.

Luiz Maranhão tinha 53 anos quando desapareceu

Em outro trecho, Mendes afirma que o pagamento de indenizações milionárias representa uma ‘inversão absoluta entre o interesse público e o privilégio privado’. Para o ministro, as características do desaparecimento da vítima não permitem afastar a responsabilidade da União. Maranhão era advogado e tinha 53 anos quando sumiu.

O ministro Joaquim Barbosa também já havia relatado o caso e votado contra o recurso da União, no fim do ano passado. O caso foi parar nas mãos de Mendes, que foi advogado-geral da União no governo Fernando Henrique, após um pedido de vista. Barbosa sustentou em seu voto que Maranhão era advogado, com rendimento razoável para o sustento da família, tinha 53 anos ao desaparecer e restavam-lhe, no mínimo, 17 anos de vida economicamente ativa.

No recurso da União, impetrado em agosto de 2001, a AGU alegou que o governo não tinha condição de pagar os R$ 485 mil a Odete Maranhão. ‘A situação do Estado brasileiro está mais para a Índia do que para os Estados Unidos’, sustentou a AGU no recurso.

O argumento não foi aceito e o STF manteve decisão de instância inferior do Judiciário que mandara pagar a indenização à viúva do advogado.’



MOVIMENTO ESTUDANTIL
O Globo

‘Campanha pela memória do movimento estudantil’, copyright O Globo, 13/1/05

‘Começou ontem a campanha de arrecadação de documentos do projeto Memória do Movimento Estudantil, uma iniciativa da Fundação Roberto Marinho, União Nacional dos Estudantes, Museu da República e TV Globo. O objetivo é tentar reconstruir a história das mobilizações de jovens no país, criando um acervo que, no futuro, ficará abrigado no Centro de Memória do Movimento Estudantil, a ser criado na sede da UNE, no Rio.

Numa primeira etapa, porém, o material doado – documentos, fotos, filmes, cartas – ficará no Museu da República e servirá de base para uma exposição. O projeto recolherá material de qualquer época.

Presidente da UNE de 1961 a 1962, Aldo Arantes já separou fotos para doar. Uma delas mostra o presidente João Goulart e seu gabinete visitando à sede da entidade – logo após a Campanha da Legalidade, na qual a UNE teve participação ativa. Outra registra a visita do astronauta Yuri Gagarin aos estudantes.

– A ditadura militar fez de tudo para destruir a história do movimento estudantil. Tanto perseguindo e matando líderes estudantis quanto incendiando a sede da UNE. Refazer esses arquivos é importantíssimo para a democracia – diz Aldo.

Material doado será examinado por historiadores

Quem tiver documentos ou objetivos para doar, deve enviá-los para a Caixa Postal 35304, no Rio de Janeiro. O CEP é 21.073-970. Além do material a ser doado, deve ser enviado também um termo de cessão de direito de uso, que está disponível no site www.mme.org.br , onde também é possível conferir o regulamento da campanha. O material passará por uma triagem feita por historiadores e pesquisadores.’



Caio Túlio Costa

‘Desnorteados?’, copyright O Globo, 16/1/05

‘A abertura de arquivos está na ordem do dia, mesmo a contragosto dos mais fervorosos cumpridores de ordens do dia. Ao largo dessa discussão trabalha-se pela recuperação de um outro tipo de arquivo, aquele que não ficou escondido nem por razões de Estado nem por birra de militares, arquivos capazes de compor a memória do movimento estudantil brasileiro.

Projeto encabeçado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela Fundação Roberto Marinho (quem apostaria que estas instituições acabariam dando as mãos, hein?) pretende recolher toda a documentação esquecida, escondida ou bem guardada – fruto da militância e vivência naquela idade em que tudo é possível.

Um forte apelo de mídia solicita a todos os detentores de documentos relativos ao movimento estudantil – fotos, panfletos, faixas, cartas, bilhetes, relatórios, relatos de assembléias, bonés, camisetas – que os enviem ao Museu da República, no Rio, para depois formarem o acervo permanente na UNE. Em paralelo, continua mofando nos arquivos federais a documentação das estripulias estudantis que escapou à destruição covarde dos arapongas e dos militares.

A rigor, já se encontra aberta parte da documentação oficial, a dos arquivos da polícia política paulista e da carioca. As autoridades estaduais não tiveram os pruridos das autoridades federais. Nada mais tranqüilo, portanto, do que liberar todos os arquivos federais. Todos.

Esse projeto de memória do movimento estudantil fez mais. Primeiro, procurou os líderes históricos e colheu seus depoimentos. Segundo, reuniu historiadores, sociólogos e ex-militantes em workshop no Rio de Janeiro e depois num seminário no Tuca, o histórico teatro da PUC de São Paulo, palco de grandes manifestações e de pancadarias–– como no congresso de reconstrução da UNE, em 1977, quando foi invadido pela polícia.

Pancadaria não é o que falta nessa história. Organizados sob a bandeira da UNE (nascida em agosto de 1937), os estudantes brasileiros têm tido participações legítimas na construção da democracia. Apanharam, mas realizaram.

E qual seria a relevância do movimento estudantil? É um movimento social ou apenas um mito que acabou ‘sacralizado’? Tem história própria? Para a professora Maria Aparecida de Aquino, que esteve à frente da indexação dos arquivos do Dops, essa história pode ser dividida em três fases:

Primeiro a fase Nacionalista, do início do século XX até 1968. Basta lembrar a força estudantil no mote ‘O petróleo é nosso’, de 1947, no apoio à posse de João Goulart ou então nos enfrentamentos contra a ditadura militar cujo auge se deu em 1968 com a passeata dos Cem Mil – e parece que não havia cem mil em passeata…

A segunda vai de 1968 a 1979, considerada por Aquino a fase Revolucionária, quando a aspiração dos líderes é a de criar um governo socialista. Muitos estudantes – os que não estavam no exílio nem tinham sido assassinados pela ditadura – participaram da guerrilha urbana ou rural. Período brutal finalizado com a anistia – campanha também impulsionada pelos estudantes.

A terceira parte começou em 1974 e pode ser demarcada até a campanha pelas eleições diretas, em 1984, ou até a derrubada do governo Collor, em 1991. É fase Democratizante. Voto direto para presidente. Caras-pintadas.

E de lá para cá? Desnorteados? Ou seja, sem norte?

Uma UNE que volta a falar em Projeto Rondon (joinha dos militares durante a ditadura, o programa remetia universitários para ajudar em áreas carentes – movimento vigorosamente boicotado pelos líderes estudantis da época) e engole essa denominação carimbada pelo regime de exceção, mesmo que seja um projeto ‘irado’, tem norte?

Mais: no que este material histórico e analítico pode ajudar o estudantado de agora? Quais seriam as perspectivas para a pequenina juventude engajada, que vive uma realidade multifacetada, polifônica, poliárquica, dominada pela assimetria na informação e, ainda por cima (e por sorte), sem um inimigo claro e comum?

Com os estudantes, a palavra, ou melhor, a ação. (Caio Túlio Costa é jornalista)’