Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Ombudsman prega o fim
do jornalismo na TV Cultura


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 3 de abril de 2006


CASO NOSSA CAIXA
Frederico Vasconcellos


Nossa Caixa diz que fornos foram para escolas e hospitais


‘A diretoria do banco Nossa Caixa informou, por intermédio da assessoria de comunicação, que havia deliberado participar do Programa de Padarias Artesanais do Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo, autorizando a doação de 500 fornos. ‘Adquiridos os bens por processo licitatório, verificaram-se problemas na especificação do produto’, informou a assessoria.


A Nossa Caixa informou que os 500 fornos não atendiam ‘às necessidades definidas como padrão para a capacitação em panificação artesanal’, segundo testes realizados pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria da Agricultura.


‘Por essa razão, o banco destinou os referidos fornos, como instrumento de relacionamento no segmento de grande interesse do banco, a prefeituras, escolas municipais, creches, hospitais, associações e entidades beneficentes do Estado de São Paulo, com retorno de imagem altamente positivo’. ‘Em seguida, para atender ao programa das padarias, aprovou novo processo licitatório para aquisição do produto.’


O banco não comentou a afirmação do ex-diretor Jaime de Castro de Júnior de que o presidente Carlos Eduardo Monteiro determinara ao Departamento de Marketing assumir, ‘sem alardes’, as despesas feitas pelo Departamento de Compras, dando um destino ao fornos recusados.


O banco explica sua participação no programa das padarias artesanais: ‘São parceiras do programa em torno de 150 empresas, inclusive instituições financeiras concorrentes, que fizeram doações em volume maior’.


Sobre as notas fiscais irregulares para a impressão do jornal do banco, a Nossa Caixa informa que a ‘gráfica citada [Editora Giga] não era fornecedora direta, e sim da agência de publicidade [não especificou qual a agência]’.


‘Todos os serviços contratados foram prestados, e o preço para impressão e distribuição foi inferior aos demais orçamentos (três), inclusive inferior ao cobrado pela Imesp (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo) apenas para impressão. Ou seja, R$ 0,33 versus R$ 0,66.’ ‘O objetivo foi atingir grande parte do público-alvo do banco, pela amplitude da base alcançada pelo veículo.’


Sobre os contratos de informática, a Nossa Caixa explica que a contratação da Asbace foi ‘para a prestação de serviços de transações de auto-atendimento e de transações em correspondentes bancários, pagos mediante tarifação de utilização de transações’.


‘Não houve e não há interesse do banco na aquisição de ativo fixo [máquinas], altamente sujeito à obsolescência, nem na contratação de mão-de-obra para abastecimento, segurança e manutenção do parque instalado em lugares dispersos do Estado’.


‘O contrato [da Asbace], se utilizado no valor máximo, como se espera com o crescimento do banco, atingirá, ao final de cinco anos, o valor de R$ 729 milhões.’


Sobre a contratação de escritórios terceirizados de advocacia, o banco informa que, ‘salvo nas questões mais complexas ou com grande impacto financeiro, onde a contratação é feita por notória especialização, com pagamentos nas fases processuais e com previsão de ‘cláusula ad exitum’, todo o serviço terceirizado é feito por cadastramento e processo público, com editais no site do banco’.


Hoje, são 53 escritórios de advocacia no Estado de São Paulo e 4 escritórios fora do Estado.


A assessoria de Comunicação do Palácio dos Bandeirantes e o Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo, consultados pela Folha, não se manifestaram.


A direção do ‘Correio Popular’, em Campinas, foi procurada pela Folha, por telefone, nos últimos dias, tendo sido informada do teor da reportagem. A empresa não se manifestou. Igualmente, a Asbace não respondeu ao questionário enviado pelo jornal.


Procurado, o ex-gerente de marketing da Nossa Caixa, Jaime de Castro Júnior, não quis fazer comentários.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


São muitas emoções


‘De 31 de março para 1º de abril, William Bonner entrevistou o astronauta Marcos Pontes, para edição no ‘Jornal Nacional’.


Rendeu manchete interminável, sábado:


No espaço, a nave Soyuz se move para se acoplar à estação espacial. A centenas de quilômetros de altitude, o primeiro astronauta brasileiro recebe as boas-vindas. Na madrugada de 1º de abril, uma imagem de Marcos Pontes conquista lugar na história. Ele fala com exclusividade ao ‘JN’, a primeira entrevista desde que partiu para o espaço.


Pontes defende a importância de sua viagem, comenta as críticas na comunidade científica ao projeto de US$ 10 milhões, a emoção de ver o planeta girando no espaço e a esperança no futuro do programa espacial do Brasil.


O apresentador tornado entrevistador começou falando ao ‘coronel’ de seu ‘prazer em vê-lo’, depois da ‘missão histórica’, das ‘críticas de alguns setores da comunidade científica’, dos ‘experimentos’.


Por fim, Bonner saiu-se com esta pergunta: O senhor sabe que muitos astronautas que tiveram uma experiência como a sua, de enxergar o nosso planeta girando devagar, aí do alto, tiveram uma modificação na forma de enxergar a vida, uma mudança na sua espiritualidade. De alguma forma o senhor já sentiu algo neste sentido?


Marcos Pontes não deixou por menos:


Olha, são muitas emoções, são muitos momentos muito marcantes em pouco tempo, então existe um supercarregamento de emoções.


Desperdício de dinheiro ou não, lá estava Pontes, ‘o primeiro brasileiro no espaço’, fechando a semana na homepage da Wikipedia original. Mas com a bandeira americana ao fundo.


Mudança geral


Aproximam-se as eleições nos EUA e, diz o ‘New York Times’ no alto da primeira página, a ‘Internet injeta mudança geral na política dos EUA’.


– Estão sendo reescritas as regras de marketing, arrecadação, mobilização e divulgação de informação negativa.


Para os estrategistas republicanos e democratas, a rede ‘é muito mais eficiente e mais barata do que os instrumentos tradicionais’. E tudo começou, co mo se sabe, na campanha derrotada do democrata Howard Dean, há dois anos.


Visões do futuro


Uma das estrelas da reportagem é o blogueiro Markos Moulitsas, do Daily Kos.


Ele lançou ‘Crashing the Gate’, que se pretende um guia para tirar George W. Bush do poder. Sua versão republicana, Glenn Reynolds, do Instapundit, lançou ‘An Army of Davids’, que se pretende um retrato do poder da blogosfera.


Para Scott Rosenberg, da Salon.com, os blogs de ambos, mais do que os livros, retratam suas ‘visões do futuro como campo de batalha populista ou paraíso libertário’.


BRANDINDO


Guido Mantega no ‘FT’


Guido Mantega não é Antonio Palocci, ao menos na versão do novo correspondente do ‘Financial Times’, Jonathan Wheatley, que também não é Raymond Collit, o anterior. Abrindo a entrevista, na edição do fim-de-semana:


Se as coisas tivessem corrido como planejado, Guido Mantega teria iniciado a entrevista ao ‘FT’ (sua primeira exclusiva desde que virou ministro) com uma piada sobre a convocação inesperada a Brasília, recebida com prazo tão curto que ele e seus assessores tiveram de comprar ternos a caminho do palácio. Em vez disso, entra na sala brandindo uma reportagem do ‘FT’ sobre assassinato e corrupção na política brasileira e acusando o jornal de ter caído na manipulação de adversários do governo de esquerda do presidente Lula. Mantega está na defensiva. Sua indicação abalou os mercados.


Na capa da edição americana, o enunciado foi ‘Não há necessidade’ de reforma fiscal no Brasil’. No ft.com, ‘Respostas podem desanimar investidores’.’


POLÍTICA CULTURAL
João Batista de Andrade


Cultura e democracia


‘Li e reli o artigo ‘O mostro e o poeta’, de Antonio Negri e Giuseppe Cocco, publicado nesta página no último dia 3 de março. Tarefa difícil, entender. Não onde os autores queriam chegar, coisa fácil -defender o Ministério da Cultura. E tudo, claro, ainda sob o impacto da troca de opiniões entre o secretário de Políticas Públicas do MinC e o poeta Ferreira Gullar. Defender o MinC, tudo bem. Mas o artigo revela problemas graves de visão do que é política cultural num país como o nosso, em nosso tempo.


A começar do primeiro parágrafo, onde a questão é o presidente Lula. O personagem é ungido a alguma categoria próxima do divino, centralidade da questão cultural e democrática no Brasil de hoje. ‘Sua singularidade se mantém e se reproduz na multiplicidade’. E arredonda não se tratar, Lula, de projeto, ‘mas de forma de vida’. O culto é mais do que evidente -e nem sequer se tentou ocultá-lo.


Se há uma coisa perigosa para a sociedade é a submissão ao carisma do líder que se torna a centralidade: ele é a cultura, o resto são expressões diversificadas de sua divindade. Ele, entendido aqui a figura, com seu sorriso, sua barba, sua sabedoria, seu português, sua malandragem, sua bondade, sua liderança, sua história. Assim, a política cultural fica marcada por uma delimitação -a pergunta: ‘De que lado você está?’.


Mesmo com a ressalva de que Lula é, evidentemente, um democrata, não posso deixar de lembrar do filme ‘Hanussen’, do húngaro Istvan Szabo, que conta a trajetória de um mágico em plena ascensão do nazismo. O mágico é extremamente carismático e popular, de tal modo que acha que pode seguir sua trajetória independente da política, sem aderir a Hitler. É o que os fascistas não aceitam: para eles, só havia um líder carismático na Alemanha -Hitler. Nenhum espaço para ninguém mais.


Essa é a lógica desse tipo de liderança divinizada, típica das ditaduras (imposição de líder), mas também é o risco que correm os regimes democráticos conduzidos pelo carisma de seus líderes. A cultura se torna vassala dessa expressão dominante. Seus adeptos devem usar viseiras para não enxergar nada que possa colocar em xeque a divindade do líder. Ao líder aderem-se suas virtudes e defeitos. Os cantos dos olhos servem para vigiar: descoberto, o crítico é rapidamente classificado como inimigo e denunciado com todo rigor.


É preciso escapar dessa armadilha. Os governos nem sempre estão errados, mas críticos não são obrigatoriamente inimigos. E também nem sempre a expressão cultural da ‘elite’ é elitista e excludente. O mundo da cultura precisa dessa convivência entre tudo -entre consagrados e novos, entre capital e interior, entre gêneros, entre tendências, entre o rico e o pobre-, mesmo que ela se apresente carregada de conflitos. Erra quem faz a transposição mecânica do social para o cultural, como se na expressão cultural dos indivíduos se reproduzisse mecanicamente a luta de classes que se dá na sociedade.


O mundo da cultura é como um rio generoso, que se enriquece de novas águas de todas as fontes possíveis. É fundamental que existam as diferenças, que os fatos tenham interpretações múltiplas, que a imaginação de cada um recrie o mundo à sua imagem e semelhança e que nenhuma matriz, política ou social, seja imposta a essa criação.


É preciso também cuidado com expressões aparentemente generosas, como ‘a cultura do povo’. Como se o povo não fosse constituído por indivíduos.


Por trás dessa aparente ‘generosidade’ intelectual, celebra-se a acomodação de uma certa cultura que se reproduz sem crítica, fácil de adotar e de manipular. Os indivíduos populares, sem o poder dos indivíduos da elite, apresentam-se, muitas vezes, incapazes da crítica e da criatividade e exercitam a repetição de valores auto-afirmativos, como uma espécie de defesa. Dependendo dos governos, recebem mais ou menos apoio da sociedade e do Estado. Costumam ter tratamento marginal, mas podem ser usados pelo poder contra as elites, quando estas se tornam incômodas.


É sabido que os regimes autoritários ou populistas preferem, por isso mesmo, as expressões populares da cultura, enquanto trabalham como podem para impedir o estreitamento das relações da ‘elite’ cultural com seu povo.


Como? Censurando (nas ditaduras) ou perseguindo e desmoralizando (nas democracias desavisadas).


É preciso mais atenção à multiplicidade e pluralidade da cultura. E mais paciência, mais tolerância e mais sabedoria quando estamos numa democracia, depois de tantos anos de ditadura. A política cultural, para avançar nessa diversidade, é a política plural, da inclusão, conduzida com espírito público, transparência e respeito às liberdades de opinião e criação. Inclusão implica alargar políticas já existentes e também a criação de novas políticas, com a expansão dos recursos (expansão real!) e equipamentos de nossos órgãos de política cultural, incluindo as secretarias e o MinC.


João Batista de Andrade, 66, cineasta e escritor, doutor em comunicação pela USP, é secretário de Cultura do Estado de São Paulo. Foi presidente da Cinemateca Brasileira e, por duas vezes, da Associação de Cineastas de São Paulo.’


TV CULTURA
Daniel Castro


Ombudsman prega fim de jornal na Cultura


‘Em artigo publicado no site da TV Cultura, o ombudsman Osvaldo Martins defende a extinção dos telejornais da emissora, que consomem anualmente quase R$ 100 milhões de recursos públicos.


Dirigentes e conselheiros da Cultura, diz Martins, ‘deveriam discutir seriamente a necessidade, ou a conveniência, de manter ou extinguir o jornalismo’. Ombudsman da Cultura desde 2004, Martins é um ferrenho crítico do jornalismo da emissora, que, para ele, está no ‘fundo do poço’.


‘A Cultura poderia ser uma boa TV pública, melhor que a atual, sem jornalismo. Refiro-me ao jornalismo do dia-a-dia, dos telejornais’, defende. ‘A Cultura poderia destinar todo o orçamento dos telejornais à produção de documentários e programas de conteúdo jornalístico, sem a obrigação de correr atrás da notícia do dia.’ E sentencia: ‘Do jeito que está, o que se vê é um gigantesco desperdício de dinheiro. Com o agravante de se tratar, em boa medida, de dinheiro público’.


Martins considera também a ‘hipótese’ de manter os telejornais. ‘Nesse caso, tem que mudar quase tudo. Jornalismo não combina com marasmo, acomodação e preguiça’, diagnostica.


O texto (em www.tvcultura.com.br/ombudsman) surtiu efeito. Na última sexta, Pola Galé, diretor de jornalismo da emissora, colocou o cargo à disposição. Será substituído, no próximo dia 10, por Albino Castro (ex-SBT).


OUTRO CANAL


Omelete 1 ‘Sinhá Moça’, atual novela das seis da Globo, tem texto e imagem muito superiores aos de sua antecessora, ‘Alma Gêmea’. Mas o público nem sempre quer qualidade.


Omelete 2 Comparada com as duas últimas semanas de ‘Alma Gêmea’, ‘Sinhá Moça’ derrubou a audiência da Globo no horário em um terço, ou 16 pontos, para 30. Em relação à primeira quinzena de ‘Alma Gêmea’, ‘Sinhá’ está cinco pontos abaixo.


Mercosul Em alta no Ibope e líder absoluto de audiência desde 2002, o ‘Caldeirão do Huck’ completa seis anos no ar no próximo sábado. Comemora com novos quadros e cenário -inspirado no estádio argentino La Bombonera, com arquibancadas quase verticais.


Alfinete A novela ‘Prova de Amor’, da Record, voltou a dar médias acima de 20 pontos na semana passada, um feito para a emissora. Voltou também a encostar no ‘Jornal Nacional’ -na terça, durante um minuto, ficou apenas dois pontos atrás, segundo dados consolidados do Ibope.


Cartório O comentarista de futebol Walter Casagrande Jr. pediu à Globo licença por tempo indeterminado. Segundo a emissora, seu afastamento não tem nada a ver com doença nem com uma entrevista em que criticou Galvão Bueno. Casagrande pediu tempo, diz a Globo, para resolver problemas pessoais.’


HQ
Marco Aurélio Canônico


Tirinhas do Gato Felix ganham compilação


‘No início, era o gato. Antes que um certo camundongo viesse a reinar absoluto no cinema e nos quadrinhos, Felix, o gato, foi a primeira grande estrela da animação, na década de 1920.


No livro ‘Gato Felix Classic’, que a Opera Graphica está lançando, a história da estrela felina é contada em uma boa introdução assinada pelo cartunista Otacílio d