Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Ossada do jornalista Ivandel Godinho é confirmada

Leia abaixo os textos desta sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 7 de julho de 2006


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


75% da América do Sul


‘Enfim, alguém defende o Mercosul. Lá na Espanha. Para o editorial ‘Reforçar o Mercosul’, do ‘El País’, ‘a América Latina precisa de instituições regionais’ e ‘o Mercosul segue sendo a instituição mais promissora’ -agora que ‘representa 75% do PIB da América do Sul e 250 milhões de pessoas’:


– A adesão da Venezuela deve ser uma ocasião para reforçar este marco regional, ao qual agora aspira também ingressar a Bolívia.


Mas, atenção, ‘a integração não deve ser ideológica’ e sim tratar de ‘fomentar o comércio e a competição’.


MAIS UMA CHANCE


No editorial ‘Cambaleando a caminho do desastre’, a nova ‘Economist’ toca o alarme de que a rodada Doha de liberalização comercial ‘está morrendo de apatia’ e ‘só George Bush poderá salvá-la’. A ‘melhor e provavelmente última chance’ é a reunião do G8 no fim de semana, quando o americano talvez, quem sabe, faça um anúncio ‘claro’ de maior corte nos subsídios.


Para registro, a revista observa que ‘algumas grandes potências comerciais, notadamente o Brasil, finalmente parecem prontas para um acordo’.


AOS TRIBUNAIS!


Na Folha Online, ‘Calderón vence eleição mexicana; Obrador recorrerá à Justiça’.


Foi assim por toda parte, do canal BBC ao NYT.com, com o resultado e o recurso lado a lado. O efeito foi, novamente, confusão e pouco espaço de cobertura. Do título do blog do WP.com, ‘To the courts!’.


COISAS POSITIVAS


Editoriais do pessimista ‘Financial Times’ à otimista ‘Economist’ já abordavam ontem ‘o fantasma da fraude eleitoral’ ou então ‘as várias coisas positivas da eleição’.


Para o jornal, ‘o resultado questionado seria a conclusão pior possível da campanha rancorosa’; aliás, ‘qualquer que seja, número substancial de mexicanos vai pensar que houve fraude’. Para a revista, porém, ‘há todos os motivos para crer que a contagem foi honesta e que o recurso aos tribunais terá trato justo’.


EM RESPEITO


Ontem no ‘Miami Herald’, artigo de Marifeli Stable, do Inter-American Dialogue, que ecoa o establisment em Washington, foi pessimista:


– Só após Obrador acusar o sumiço das urnas se admitiu a sua existência. As autoridades eleitorais agora precisam atentar para sua credibilidade com atenção, em respeito aos 40 milhões que foram votar.


AMADURECENDO


Para registro, em sua edição toda otimista com a América Latina, a ‘Economist’ avaliou ontem que ‘o tumulto não perdurou’, na recente onda que atingiu os emergentes:


– Os investidores podem enfim estar amadurecendo. Após o pânico inicial, eles se tornaram mais seletivos. Por exemplo, a moeda brasileira se recuperou rapidamente. Nos dias contagiosos, dos efeitos tequila, o Brasil teria enfrentado venda em turba.


PELAS COSTAS


Foi primeira manchete do ‘Jornal Nacional’, ‘Agentes penitenciários voltam a ser alvo’. No ‘SPTV’:


– Ângelo Martins, de 28 anos, levou oito tiros quando chegava à casa dele, na Liberdade. Estava a poucos metros e, apesar de ferido, conseguiu pedir ajuda.


Segundo a Jovem Pan, ‘ele foi baleado nas costas por desconhecidos’. Segundo a rádio Bandeirantes, ‘a polícia não tem pistas dos criminosos’.’


 


LONDRES, 7/7
Marco Aurélio Canônico


TV Al Jazira divulga vídeo de terrorista


‘Um vídeo com o último depoimento de Shehzad Tanweer, 22, um dos quatro terroristas que explodiram quatro bombas e mataram 52 pessoas em Londres há um ano, foi divulgado ontem pela rede de TV árabe Al Jazira.


‘O que vocês testemunharam agora foi apenas o começo de uma seqüência de ataques que continuará e ficará mais intensa até que vocês retirem suas tropas do Afeganistão e do Iraque’, disse o terrorista que se explodiu no metrô da estação de Aldgate.


Para a polícia britânica, a divulgação do vídeo na véspera do aniversário dos ataques teve o objetivo de causar ‘o máximo de dor às famílias das vítimas e aos sobreviventes’.


Além de Tanweer, o vídeo também traz o depoimento do egípcio Ayman al Zawahiri, o número dois da Al Qaeda, que elogia a humildade do suicida: ‘Apesar de ser de família rica, suas roupas e aparência não mostravam isso’.


A gravação é similar à de outro homem-bomba que agiu nos ataques em Londres, Mohammad Sidique Khan, cujo vídeo foi divulgado em setembro passado. O porta-voz do premiê Tony Blair disse que o líder britânico não daria uma resposta ao vídeo.


‘Acho que devemos nos concentrar na reflexão silenciosa que a nação vai fazer amanhã [hoje], e nada deve atrapalhar isso’, disse o porta-voz.’


 


BOM NEGÓCIO
Adriana Mattos


Com Copa e crédito, venda de TV explode


‘Fabricantes de eletrônicos calculam que pouco mais de 2,9 milhões de televisores foram vendidos para as lojas de abril a junho, apurou a Folha.


Foram as melhores vendas em época de Copa do Mundo: em 2002, ficaram em 1,5 milhão no mesmos três meses; em 1998, em 2 milhões.


Turbinadas pelo favoritismo da seleção de Parreira, inovações tecnológicas e expansão do crédito, a previsão é que as vendas de TV atinjam 11,2 milhões neste ano, batendo o recorde histórico de 9,5 milhões de 2005. Os resultados estão sendo fechados pelas seis maiores marcas do mercado, e a conta foi baseada em previsões de redes varejistas e fabricantes de aparelhos de TV.


Redes varejistas estão com estoques baixos do aparelho, o que indica que a venda ocorreu na ponta da cadeia.


Nas últimas três Copas, a venda do aparelho nos três meses variou de 30% a 33% dos negócios do ano todo. A previsão da Eletros é que, de janeiro a junho, 5 milhões de aparelhos devam ter sido vendidos.


Alta de 50%


A Philips cresceu 50% no período de janeiro a maio, quando vendeu 1 milhão de unidades. A Semp Toshiba entregou 1,3 milhão de aparelhos em igual período -em todo o ano de 2005, foram 2,1 milhões de unidades vendidas. ‘A demanda não pára’, diz Rui Penna, diretor comercial da Panasonic. ‘Houve migração de sazonalidade. Quem pensava em comprar só no segundo semestre antecipou a compra, o que elevou os resultados dos últimos meses’, explica Paulo Saab, presidente da Eletros (Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos).


Só a Casas Bahia comercializou até o mês de junho 1,1 milhão de aparelhos -a média anual gira em 1,5 milhão de TVs. A cadeia Extra registrou elevação de 200% nas vendas de TVs no mês passado em relação às mesmas lojas que a empresa tinha em junho de 2005.


Pelos dados da Eletros, no primeiro quadrimestre, as vendas de televisores de plasma e LCD cresceram 18,39%, segundo balanço preliminar, totalizando cerca de 80 mil unidades – 58 mil unidades foram vendidas durante 2005.


Por conta desse aumento, a projeção atual da entidade é de vendas entre 185 mil e 230 mil unidades dessas TVs de ponta em 2006. Se chegar aos 230 mil, equivalerá a 2% do total de TVs vendidos. Em 2005, a participação foi de 0,6%.


Na avaliação do setor, a expansão do crédito, que ocorre fortemente desde 2005, somada à maior confiança do consumidor -reflexo em parte da queda nos juros e melhora na renda-, tem efeito direto nessa maior demanda pelo produto.


‘O avanço da tecnologia em aparelhos de TV, além desse movimento de renovação de frota, ajuda a explicar o desempenho também, mas fatores como crédito e confiança têm maior peso nos resultados’, diz José Fuentes, vice-presidente da divisão de eletroeletrônicos da Philips.’


 


IVANDEL GODINHO
Luísa Brito


Exame de DNA confirma que ossada é de jornalista


‘A polícia confirmou ontem que o jornalista Ivandel Godinho Júnior, seqüestrado em 22 de outubro de 2003, está morto. É dele uma ossada encontrada em 30 de maio no Capão Redondo (zona sul de São Paulo), atestou um exame de DNA.


Segundo o médico legista Mário Jorge Tsuchiya, a condição dos ossos da perna coincidia com radiografias feitas por Ivandel e entregues pela família à polícia.


Parte dos ossos apresentava sinais de carbonização, pois o corpo teria sido queimado antes de ser enterrado.


O exame na ossada indicou que a vítima tinha entre 40 e 60 anos e 1,85 m. Ivandel tinha 57 anos e media 1,86 m. ‘Tenho certeza científica que é ele’, afirmou o legista.


Dos seis acusados de terem cometido o crime, cinco estão presos. Dois já foram julgados e condenados pelo seqüestro. Agora, devem ser indiciados também pela morte do jornalista.


A família disse que vai realizar outro exame na ossada para confirmar se é mesmo do jornalista. Em janeiro de 2004, a família pagou o resgate de US$ 45 mil. Ivandel era casado, tinha quatro filhos e era dono de uma empresa de comunicação.’


 


COPA 2006
Juca Kfouri


Futebol de popstars


‘O FUTEBOL mudou.


Se foi para melhor ou para pior, é o que menos importa. Importa que mudou, e é com esta nova realidade que teremos de conviver. Quem joga futebol de primeira linha não é mais simplesmente um atleta.


É celebridade, popstar. Os Ronaldos, por exemplo, além de um bom nome para um conjunto de rock, estão para o futebol assim como Michael Jackson está para o showbiz.


Antes de mais nada, a cabeça de cada um está voltada para o seu próprio umbigo. O coletivo vem depois, quando vem. Interessa, em primeiro lugar, o patrocinador, o anunciante, porque, por maior que seja o salário pago pelos clubes, a maior fonte de renda vem dos anúncios.


O melhor exemplo é o Real Madrid, cada vez menos um clube esportivo, cada vez mais uma agência que põe suas estrelas a serviço da economia globalizada. Perder um campeonato é ruim muito menos pela tristeza da derrota do que pelos prejuízos à imagem dos garotos-propaganda, que não têm pudor de emprestá-la nem mesmo para fazer campanhas de bebidas alcoólicas.


A seleção brasileira nesta Copa foi claramente atingida por este novo estado de coisas. Uma espécie de sucursal do Real Madrid (Roberto Carlos, Ronaldo, Robinho, Cicinho), a CBF virou grife menor, e como sabia que o hexa não era mesmo para o seu bico (não foram poucos os jogadores e membros da comissão técnica que, em particular, reconheciam tal impossibilidade) em gramados europeus -onde a Nike manda menos e está fora da decisão-, tratou de incentivar recordes pessoais, como os de Cafu e Ronaldo.


Razão pela qual até faz sentido a entrega apática diante dos franceses. Que, é claro, também tem seus popstars, além de, como disse Henry, terem melhor formação cultural e, certamente, vínculos mais estreitos com seus países e seus torcedores, pela proximidade, impossível aos nossos, da convivência.


Assim como Luxemburgo sucumbiu diante desta nova realidade no Real Madrid, Parreira não a entendeu como líder de celebridades milionárias.’


 


TELINHA
Daniel Castro


SBT entra no ramo de telecartões de crédito


‘O SBT anunciará nas próximas semanas sua entrada em um novo negócio, o de telecartões de crédito, em que usuários de celulares poderão fazer compras e pagar contas pelo telefone, substituindo o cartão de crédito tradicional, de plástico.


A Folha apurou que o negócio terá ramificações em vários países da América Latina. O SBT já fechou parceria com a Telefé e a Movistar, respectivamente rede de TV e operadora de celular, para lançar o produto na Argentina. Depois, o serviço chegará ao Uruguai, Chile e Brasil (em novembro).


O SBT licenciou a tecnologia usada no negócio de uma empresa chamada G Part. Além de sócia, a emissora funcionará como divulgadora. O banco Panamericano (Grupo Silvio Santos) administrará os cartões virtuais e emitirá as faturas.


O serviço funcionará da seguinte forma: o usuário compra determinado produto e fornece o número de seu celular ao estabelecimento; logo depois, o usuário receberá uma mensagem sobre o valor e o local do gasto; para confirmar, terá que digitar uma senha.


Neste ano, o serviço estará disponível apenas em determinadas redes (como Carrefour ou Extra), que terão exclusividade temporária. Inicialmente, só clientes da operadora Tim terão acesso ao cartão virtual, que não cobrará anuidades, mas terá limite de crédito pré-aprovado pelo Panamericano e também fará parcelamentos.


SEM HOLOFOTE O autor Silvio de Abreu não imitará seu mestre Alfred Hitchcock, que costumava fazer breves aparições em seus filmes. Abreu, que deu as caras em ‘Cambalacho’ (1986), não fará ponta no último capítulo de ‘Belíssima’. ‘Não estou precisando aparecer’, brinca.


MORNO OU QUENTE No site Dictionary.com, ‘razzle-dazzle’ é definida como gíria para ‘plano para derrotar oponente’. Abreu diz que o nome da agência de Rebeca (Carolina Ferraz) em ‘Belíssima’ vem de uma música da banda Chicago, em que a expressão tem o sentido de ‘ofuscar’. Faz sentido.


DESESPERADAS ‘Desperate Housewives’ estréia na Rede TV! em setembro em versão dublada pela Disney.


A ARTE IMITA O CRIME 1 Embora se passe no Rio, a novela ‘Prova de Amor’, da Record, fará referências explícitas aos ataques da facção criminosa PCC ocorridos em maio.


A ARTE IMITA O CRIME 2 No penúltimo capítulo de ‘Prova de Amor’, bandidos atearão fogo em ônibus e atacarão delegacias e postos da Polícia Militar em represália à prisão de Miro (Perfeito Fortuna), fictício chefe do tráfico de vários morros do Rio.


FÉRIAS ANTECIPADAS Fátima Bernardes torceu muito para o Brasil no jogo contra a França, mas a eliminação da seleção de Carlos Alberto Parreira lhe rendeu uma semana a mais de descanso. Inicialmente, ela só sairia de férias na semana que vem _mas já está de folga desde o início desta.’


 


TV AMERICANA
Folha de S. Paulo


Sai a lista de indicados aos Prêmios Emmy


‘As indicações ao Emmy Awards 2006, maior premiação da TV americana, foram anunciadas ontem, em Los Angeles.


A surpresa foi a ausência de ‘Desperate Housewives’ e ‘Lost’ na disputa por melhor comédia e drama. Em 2005, as séries levaram os troféus.


‘Arrested Development’, ‘Segura a Onda’, ‘The Office’, ‘Scrubs’ e ‘Two and a Half Men’ disputam o prêmio de comédia. Os dramas lembrados foram ‘Grey’s Anatomy’, ‘House’, ‘A Família Soprano’, ‘24 Horas’ e ‘The West Wing’. A cerimônia acontece em 27 de agosto.’


 


LUTO
Denise Mota


Diretor Juan Pablo Rebella morre aos 32 anos no Uruguai


‘Morreu na madrugada de ontem o cineasta e roteirista uruguaio Juan Pablo Rebella, 32. Co-diretor dos longas-metragens ‘Whisky’ (2004) e ‘25 Watts’ (2001), Rebella preparava o roteiro de uma nova produção e trabalhava em documentários para a Unicef.


O cineasta foi encontrado às 4h da manhã, em Montevidéu. Ainda não estão claras as circunstâncias de sua morte. Acredita-se que ele tenha cometido suicídio.


Ao lado de Pablo Stoll, levou o prêmio da crítica na mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes, por ‘Whisky’. Em Gramado, a produção recebeu os Kikitos da competição latina de melhor filme (segundo o júri oficial e o popular) e atriz.


O longa narra o reencontro de dois irmãos e as manobras do mais velho (um fabricante de meias solitário) para fazer parecer que leva uma vida mais interessante do que a que verdadeiramente tem.


A programação do 1º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo prevê a exibição do filme no dia 13, às 19h, na Sala Cinemateca (lgo. Sen. Raul Cardoso, 207, tel 0/xx/11/5084-2177).


Já ‘25 Watts’ passa no dia 12, às 21h, no Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, tel 0/xx/11/3823-4600).’


 


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O Globo


Sexta-feira, 7 de julho de 2006


IVANDEL GODINHO
Luis Kawaguti


Ossada atesta morte de jornalista seqüestrado


‘SÃO PAULO. A ossada encontrada em maio num terreno no Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo, é do jornalista Ivandel Godinho Júnior, seqüestrado em 22 de outubro de 2003. O laudo dos exames comparativos e de DNA foi divulgado ontem pela polícia.


Segundo o perito Mário Jorge Tsuchiya, do Instituto de Criminalística (IC), exames de raio-x e ressonância magnética realizados entre 1998 e 2003 foram fornecidos pela família e comparados com a ossada.


— Os exames constatavam problemas de artrose nos joelhos. A ossada reproduz a presença de todos os acidentes das estruturas do joelho e exibe as mesmas doenças e degenerações registradas nos exames radiológicos — disse o perito.


Foi constatado ainda que os ossos eram de uma pessoa de 1,86 metro de altura; Ivandel media 1,85m, segundo a família.


Tecidos do fêmur foram submetidos a exame de DNA e comparados ao sangue dos filhos e da mãe do jornalista. O resultado apontou que os ossos são de um membro da família.


— Eu tenho uma certeza científica de que é ele. Mesmo que se faça novamente a perícia esse resultado vai ser reproduzido, qualquer que seja o perito — afirmou Tsuchiya.


O laudo da perícia levou um mês para ser elaborado. A família quer submeter a ossada a exames numa clínica particular.


— A polícia respeita a família por tudo o que aconteceu — disse o delegado Godofredo Bittencourt, diretor do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic).


Segundo ele, o crime está esclarecido e o caso será encerrado com a prisão de Wellington Ricardo da Silva, de 26 anos, o Neneco, o último integrante da quadrilha que seqüestrou Ivandel. O bandido ainda está foragido.


(*) Do Diário de S.Paulo’


 


CINEMA
Bruno Porto


A espera hiperativa de Sylvio Back


‘Último longa-metragem de Sylvio Back, ‘Lost Zweig’ começou a ser filmado em outubro de 2001. Três anos depois, em 2004, o cineasta deu os toques finais na produção. Passados dois anos, o filme sobre a vida do escritor austríaco Stefan Zweig continua inédito em circuito comercial. Essa demora já teria acabado com a tranquilidade de muita gente. Back, porém, garante que não está sofrendo com a espera.


— Estamos na iminência de ter uma data para ele. Possivelmente, agosto — diz ele. — Eu estou nas mãos do melhor distribuidor de filmes brasileiros, que é a Europa ( Filmes ). Isso é um luxo, sem dúvida. Eu acredito que a gente vai ter um lançamento bacana.


A calma do diretor pode ser atribuída ao fato de ele estar se ocupando e muito nos últimos tempos. No momento, Back está às voltas com dois novos longas-metragens. Um é um documentário chamado ‘O Contestado — Restos mortais’ e o outro é uma adaptação do livro ‘Angústia’, que está completando 70 anos e foi escrito por Graciliano Ramos.


Obcecado com a idéia mais do que saudável de investigar o que há por trás da História oficial brasileira, Back jogou luz sobre a Guerra do Contestados no filme ‘A Guerra dos Pelados’, de 1971. Durante o conflito, que começou em 1912 em Santa Catarina e deixou dezenas de milhares de mortos, posseiros enfrentaram o Exército brasileiro. Com ‘O Contestado — Restos mortais’, Back volta ao tema.


— Apesar da sua importância, o Contestado não recebe atenção. Pensando nisso, me dei conta de que era preciso fazer um documentário sobre ele. Eu quero resgatar a importância desse conflito — diz ele. — É o maior movimento armado pela posse da terra do século XX e estamos conversados. Em quatro anos, morreram milhares de pessoas


O cineasta diz que, segundo os estudiosos, a Guerra do Contestado é pouco conhecida devido a dois motivos.


— A falta de um Euclides da Cunha ( que relatou a Guerra de Canudos no clássico ‘Os sertões’ ) seria um deles. O outro diz respeito ao fato de a Primeira Guerra ter estourado logo depois, o que fez com que o noticiário sobre o Contestado fosse ficando fraco — diz.


Documentário começa aser filmado este mês


O dinheiro para fazer ‘O Contestado — Restos mortais’, conta Back, já está quase todo captado. As filmagens devem começar este mês. Back frisa que o documentário não será uma continuação de ‘A guerra dos pelados’.


— Os dois filmes não estão relacionados. De lá para cá, o Contestado foi visto de outros ângulos. A história é um bichinho que não pára e eu estou permeável a isso — diz o cineasta. — O meu olhar sobre o Contestado é diferente daquele. Esse ( filme ) vai mais para a frente. Lá eu estava tratando do imaginário do Contestado. Agora, além do imaginário, tem muitos fatos que não eram conhecidos.


Paralelamente, Back vem investigando a angústia de Luís da Silva, protagonista do livro homônimo de Graciliano Ramos que o cineasta adaptará.


— Eu já terminei um primeiro tratamento do roteiro, que ganhou um edital da Ancine — conta. — A idéia é começar a filmar no ano que vem. No momento, estamos na fase de captação de recursos.


O longa-metragem, que se chamará ‘A angústia’, será filmado quase todo em Maceió. Back diz que tem uma grande responsabilidade pela frente, pois considera Graciliano Ramos o maior escritor brasileiro do século 20.


— Um sujeito que escreve ‘São Bernardo’, ‘Angústia’, ‘Vidas secas’ e ‘Memórias do cárcere’? Isso é um Machado de Assis do século XX — elogia o catarinense.


Back diz que leu o livro pela primeira vez na década de 60. Ele vê semelhanças entre o seu cinema e a obra de Graciliano Ramos.


— A minha linguagem cinematográfica é substantiva, eu não adjetivo muito. Não tenho uma vocação barroca. Graciliano também é adepto dessa linguagem — diz ele, que respeitará o livro sem ‘perder autonomia de vôo’. — Quanto menos você for reverente à obra, melhor.


Recentemente, desembarcaram nas lojas uma caixa de DVDs com ‘A Guerra dos Pelados’, ‘Aleluia, Gretchen’, ‘Rádio Auriverde’, ‘Guerra do Brasil’, ‘Cruz e Sousa’ e ‘Yndio do Brasil’. Back diz que não sabe se os DVDs vão ajudar ou não a renovar o seu público.


— O DVD tem essa mágica. Você não sabe quem é o público e isso é fascinante. Eu só sei que são filmes cuja pegada você não encontra na prateleira dos DVDs — afirma.’


 


GLOBAIS EM APUROS
Leo Dias, Sabrina Wurm e Ronaldo Braga


Ação policial interrompe gravação da novela ‘Páginas da vida’ na Rocinha


‘Uma gravação de ‘Páginas da vida’, nova novela das oito da Rede Globo, foi interrompida ontem de manhã, na Favela da Rocinha, por causa de uma operação da Polinter. Os atores Viviane Pasmanter e Caco Ciocler, que participariam da cena, e a equipe de produção ficaram assustados com a ação dos policiais civis e com os fogos de artifício disparados pelos traficantes. A equipe ficou na favela até receber autorização da polícia para descer do morro com segurança.


— Assim que o diretor falou ‘gravando’, surgiram vários policiais armados até os dentes. Foi uma correria — disse um funcionário da produção da novela.


Caco Ciocler vive o repórter fotográfico Renato na novela. Na cena, a também fotógrafa Isabel (Viviane Pasmanter) dá uma carona ao colega. A TV Globo ainda não decidiu onde a gravação será feita.


— Nós não ouvimos tiros durante a preparação para a gravação. Ouvimos fogos e logo vários carros de polícia subindo, apontando armas e fuzis em nossa direção. Demorei um tempo até entender o que estava realmente acontecendo. A única reação possível numa situação como essa é se abaixar — disse Viviane Pasmanter.


O diretor da Polinter, delegado Alcides Iantorno, disse que 60 homens participaram da operação. Segundo ele não houve troca de tiros entre traficantes e policiais. O delegado esclareceu que a incursão era para cumprir 20 mandados de prisão.


— Não tem investigação específica sobre a Rocinha. Fomos tentar cumprir alguns mandados de prisão de traficantes — disse.


A operação durou cerca de quatro horas, de acordo com Alcides Iantorno. Ninguém foi preso e não houve apreensão de armas ou drogas pelos policiais. As equipes se dividiram na favela e checaram todos os endereços, sem sucesso.’


 


NO DICIONÁRIO
O Globo


Eu google, tu googlas: verbete novo


‘SÃO FRANCISCO. O Google será imortalizado como verbete do novo dicionário Merriam-Webster, que sairá no fim do ano. Entrará como verbo, significando ‘usar a ferramenta de busca Google para obter informações sobre algum assunto na World Wide Web’. Serão incluídos ‘Google’ e ‘Googling’ (substantivo). No desafio de evitar que a marca vire lugar-comum, a Google se junta à Xerox e à Coca-Cola.’


 


SEM BLOG
Cesar Tartaglia e Maiá Menezes


No começo da campanha, Cesar é ‘tirado do ar’


‘No primeiro dia da campanha no Rio para o governo do estado, a fiscalização do Tribunal Regional Eleitoral alcançou um personagem que não é candidato: o TRE concedeu liminar a uma representação do candidato do PMDB, Sérgio Cabral, contra o prefeito Cesar Maia e o Google, determinando que seja retirado do ar a partir de hoje o blog ‘Pero Vaz de Caminha’, supostamente escrito por Cesar com críticas ao peemedebista. O prefeito também recebeu duas multas por ter usado fora das normas o horário eleitoral destinado ao PFL, em junho.


A notificação para tirar o blog do ar foi feita ao Google, mas o TRE estabeleceu que, em caso de desobediência, o provedor e o prefeito pagarão multa diária de 10 mil Ufirs enquanto a página ficar na internet. A liminar foi concedida pelo desembargador Rudge Lowenkron. O prefeito alega que o blog é uma criação de ‘jovens do Orkut’ e que apenas divulgou a iniciativa.


— Do ponto de vista político, fico torcendo para que a liminar seja atendida pelo Google/Blogster, para que os jovens transformem as críticas em rede — disse Cesar.


Por sua vez, o candidato do PMDB acusou o prefeito de fazer pirataria na internet e adiantou que vai processá-lo:


— O assunto do Cesar Maia tem que ser tratado pelos meus advogados.


As duas multas aplicadas ao prefeito devem-se às críticas contra a governadora Rosinha Garotinho no programa eleitoral do PFL, dia 18 de junho, e a uma inserção no tempo destinado ao partido na TV, no dia seguinte, na qual Cesar apresentou Denise Frossard, que ele apóia, como ‘a melhor candidata’. O TRE considerou que as críticas e o elogio fugiram ao propósito da propaganda gratuita, destinada à divulgação do programa dos partidos.’


 


VENEZUELA
O Globo


Jornalista ameaçado


‘A organização de defesa da liberdade de imprensa Repórteres sem Fronteiras se disse ‘muito preocupada’ com as ameaças de morte que o apresentador Miguel Angel Rodríguez, do canal de TV privado RCTV, vem recebendo na Venezuela. Os RSF pediram uma investigação sobre as ameaças ao procurador-geral da Venezuela.’


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 7 de julho de 2006


FOTOGRAFIA
O Estado de S. Paulo


Brasileiros participam de mostra na França


‘Dez instituições nacionais levam à França as melhores imagens do País para a Noite do Ano, mostra que integra o tradicional Rencontres Internationales de la Photographie d’Arles, considerado o Cannes da Fotografia. O evento ocorre hoje, a partir das 22 horas. O Grupo Estado, Folha de S.Paulo, Veja e Trip, as produtoras Cia da Foto e Fotosite, a Pinacoteca do Estado, a Fnac e o Coletivo da Fotografia Paraense participam da mostra, uma convergência de imagem, som e vídeo.’


 


LONDRES, 7/7
O Estado de S. Paulo


‘Atentados em Londres foram apenas o começo’


‘Um vídeo com imagens de um dos terroristas suicidas que atacaram o sistema de transporte de Londres há exatamente um ano foi divulgado ontem pela TV Al-Jazira, do Catar. Na gravação, o terrorista diz que os atentados eram ‘apenas o começo’.


Divulgado na véspera do aniversário dos ataques que mataram 52 pessoas, além dos 4 suicidas, o vídeo mostra Shehzad Tanwir usando um quefié xadrez vermelho e branco e apontando o dedo para a câmera. ‘O que vocês testemunharam agora é apenas o começo de uma série de ataques que continuarão e aumentarão de intensidade até vocês tirarem seus soldados do Afeganistão e Iraque, até vocês (o governo britânico) pararem de financiar e apoiar militarmente a América e Israel’, disse Tanwir, que morreu aos 22 anos.


Tanwir, nascido na cidade de Leeds, matou seis pessoas ao se explodir em um trem de metrô na estação de Aldgate em um dos ataques de 7 de julho de 2005. Ao contrário dos terroristas do 11 de Setembro nos EUA, Tanwir e os outros três amigos eram britânicos e, por isso, chocaram a opinião pública. Todos estudaram e viveram boa parte de suas vidas na Europa, eram parte da sociedade multicultural, que predomina em várias partes do país. Contra atacantes como eles, reforços nos postos de imigração não fazem o menor efeito.


O vídeo incluiu uma declaração de Ayman al-Zawahiri, o número 2 da Al-Qaeda, e do americano Adam Gadahn, também conhecido como Azzam al-Amriki, que seria responsável pela propaganda da rede terrorista. Zawahiri, que não apareceu com Tanwir no vídeo, elogiou o suicida. A gravação também mostra homens mascarados e armados preparando explosivos, e um deles marcando alguns pontos em um mapa de Londres. O conteúdo do vídeo é muito parecido ao de outro suicida de Londres, Mohammed Sidique Khan, divulgado em setembro.


Ahmed al-Sheikh, editor da Al-Jazira, não disse como ou quando a TV árabe obteve o vídeo. Ele acrescentou que a gravação era longa e a emissora divulgou apenas uma parte.


Na casa da família de Tanwir em Beeston, West Yorkshire, cerca de 320 quilômetros de Londres, um cartaz foi colocado na janela dizendo à imprensa para ficar longe. Irshad Hussain, um amigo da família, disse que os parentes ficarão devastados ao ver o vídeo de Tanwir. ‘Vai ser realmente muito duro para eles. Eles ainda estão tentando entender o que aconteceu e ver o filho na TV será uma tortura’, disse.


EXTREMISMO


Uma pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Pew indicou que 42% dos britânicos estão preocupados com o aumento do extremismo islâmico no país, um aumento de 8 pontos porcentuais com relação a maio de 2005. Entre os muçulmanos britânicos, 43% disseram estar preocupados com o extremismo. A mesma pesquisa também revelou que os muçulmanos europeus preocupam-se mais com seu bem-estar econômico do que com discriminação.’


 


SOFTWARE GRATUITO
O Estado de S. Paulo


Microsoft faz concessão a rivais


‘A Microsoft anunciou que vai oferecer um software gratuito para permitir que os programas Word, Excel e PowerPoint possam ser usados com documentos em formatos de outras empresas. A iniciativa da empresa é uma resposta a uma demanda do governo americano. As ferramentas serão desenvolvidas como um software de código aberto, e poderão ser baixadas para serem acrescentadas a várias versões antigas do sistema Office.’


 


MUNDO DAS MARCAS
Marina Faleiros


Rixa familiar na final da Copa


‘Itália ou França? No mundo dos negócios, a final da Copa do Mundo não será entre seleções. Será entre duas marcas esportivas do mesmo país, ou melhor, da mesma cidade e da mesma família. As alemãs Puma e Adidas (fundadas pelos irmãos Adolf e Rudolf Dassler) deixaram para trás a americana Nike e entram em campo como patrocinadoras oficiais das seleções da Itália e da França.


A final da Copa do Mundo atrai mais espectadores do que as Olimpíadas e é considerada o título máximo para as empresas de material esportivo. Espera-se que mais de um bilhão de torcedores assista à partida e veja as duas marcas estampadas nas camisetas das seleções e nas chuteiras dos jogadores.


No caso da Adidas, patrocinadora oficial da Copa, sua marca de três listas também está presente no uniforme dos juízes, na bola e em outdoors ao redor do estádio de Berlim. A Adidas patrocinou seis seleções, incluindo a da Alemanha, e já se considera uma vencedora na Copa, mesmo se a França não levar o título.


As vendas superaram as expectativas feitas antes da Copa. A Adidas já vendeu 15 milhões de bolas oficiais – mais do que o dobro do que na última Copa -, 3 milhões de camisas de seleções e um milhão de par das chuteiras do modelo Predator.


Sua participação no mercado mundial de artigos para futebol subiu entre 1 e 2 pontos percentuais e chegou a 35%. ‘A empresa espera passar de US$ 1,2 bilhão em vendas este ano’, diz Thaya Marcondes, gerente de Marketing da Adidas no País.


Segundo seus cálculos, ter a marca na final do campeonato pode significar mais de 10 milhões, se considerados o tempo de exposições e o preço médio cobrados por inserções comerciais nos canais de TV. ‘Chegar à disputa da taça gera uma enorme mídia espontânea’, diz ela.


A Puma chegou à Copa com pretensões mais modestas e deu sorte. Sua estratégia foi atacar em várias frentes e marcar presença em muitos jogos. Foi a patrocinadora do maior número de seleções – 12 dos 32 times -, mas a maioria tinha poucas chances, como Costa do Marfim, Togo e Irã. A empresa assumiu o patrocínio da Itália há pouco tempo, e agora comemora.


‘Estar na final da Copa é ter 300% a mais de exposição de imagem’, diz José Couto, diretor de marketing da Puma no Brasil. Mais ligada à moda do que à disputa pela liderança de mercado, a Puma conseguiu mostrar sua marca em mais da metade dos jogos da Copa.


‘A Puma investe em moda e qualidade de produtos. Não pretendemos massificar as vendas, mas nos estabelecermos como uma marca de futebol. Não queremos chegar ao ponto de influenciar na escalação de jogadores, como outras fazem’, alfineta Couto.


Já a Nike acredita não ter perdido tanto, apesar de ser patrocinadora de seleções que eram consideradas favoritas, como o Brasil. A empresa adota também como estratégia o patrocínio a jogadores como Ronaldinho e Ronaldo. ‘Com os atletas, conseguimos criar três modelos de chuteiras para diferentes tipos de jogador’, diz Katia Gianone, gerente de Comunicação Corporativa da Nike do Brasil. A Nike é líder mundial em artigos esportivos, pouco à frente da Adidas.’


 


ARTE EM CRISE
Jotabê Medeiros


Masp ameaça tirar poder de Neves


‘Aparentemente, nada muda no Museu de Arte de São Paulo (Masp): após uma reunião de mais de três horas no prédio da Avenida Paulista, os conselheiros do museu decidiram ontem que darão um ‘voto de confiança’ à atual diretoria, que vem gerindo o museu nos últimos 12 anos. Mas há uma brisa de mudança no ar: os integrantes do conselho anunciaram a intenção de, em um mês, discutirem a adoção de um plano cultural para o Masp e a contratação de um curador profissional, tirando das mãos do atual presidente, Júlio Neves, a responsabilidade direta pela parte artística.


O Conselho Deliberativo do Masp começou a reunião na Paulista às 17 horas. Na pauta, a crise recente da instituição, que levou ao corte de luz pela AES Eletropaulo, em maio, e as dívidas do museu, que se avolumam – deve cerca de R$ 4 milhões para o INSS, motivo pelo qual foi obrigado a penhorar uma obra avaliada em R$ 4,2 milhões. Havia também uma expectativa de mudança administrativa – haverá eleição para presidente este ano.


‘Acho que não vai mudar nada, porque ninguém vai querer pegar esse abacaxi’, disse, ao chegar ao museu, a conselheira Graziella Matarazzo Leonetti di Santo Janni. ‘Tenho andado afastado. Hoje é que vamos saber o que está acontecendo’, disse Alex Periscinoto. ‘Vamos ver’, disse Andrea Calabi. ‘O que precisa é uma certa compreensão maior do papel desse museu, do envolvimento da sociedade, dos governos municipal, estadual, federal, para que esse museu seja o que de fato é’, ponderou José Aristodemo Pinotti.


Mas a pauta incluía também outros problemas. Como, por exemplo, a posição inflexível do patrimônio histórico municipal de não permitir o projeto de construção de uma torre turística no prédio vizinho ao museu. O edifício foi comprado pela companhia telefônica Vivo e doado ao Masp, com a condição de fazer o mirante.


O Masp se encontra na iminência de perder o presente da Vivo, que custou R$ 15 milhões (outros R$ 7 milhões seriam destinados à reforma). Ontem, o museu informou que briga na Justiça contra o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp). Caso não seja possível fazer o mirante, o museu informou que é possível devolver o prédio sem ônus.


‘O único empecilho é o Conpresp. O Condephaat e o Iphan aprovaram. Nós estamos tentando reverter na Justiça. Se vamos conseguir ou não, depende da Justiça’, disse Adib Jatene, presidente do Conselho Deliberativo do Masp. ‘Em várias grandes cidades do mundo você tem torres e mirantes.’


A questão é mais complicada do ponto de vista da legitimidade do projeto. Ele não foi submetido à população de São Paulo para que ela opinasse, e o plano arquitetônico não é fruto de um concurso ou debate. É de autoria do próprio presidente do Masp, que alega que a sua ‘gratuidade’ é o motivo do seu acolhimento.


Segundo informaram os conselheiros, a torre foi pensada como um atrativo turístico importante que resolveria o problema financeiro do museu. ‘Quando se propôs construir a Torre Eiffel em Paris, foi uma coisa louca, diziam que ia conspurcar a pureza da cultura francesa. E fizeram críticas horríveis à Torre Eiffel. Se tivesse na época um organismo como o Conpresp, com poder de veto, seguramente ela não teria sido feita’, disse Jatene. ‘E hoje ela é o símbolo da França.’


De acordo com o cirurgião, há muita gente contra mas também muitos a favor, como a Associação Paulista Viva e organismos de turismo. ‘Nós pretendemos continuar insistindo na torre. Se vamos conseguir ou não, é secundário. Mas estamos discutindo dentro de uma idéia de que não há destruição da ambiência, não vai ser uma coisa que vai ter mais visibilidade que o museu, será do museu.’


As informações sobre o que foi discutido na reunião permite pressupor que haverá uma ingerência maior do Conselho Deliberativo nas ações da diretoria do Masp. ‘Tem de ouvir as pessoas, tem de ouvir o conselho. Não pode a diretoria fazer de sua autodeterminação, tomar decisões sem que o conselho convalide’, disse Jatene.’


 


CAPÍTULO FINAL
Patrícia Villalba


Apostas fervem sobre final de Belíssima


‘A gente já sabe quem vai casar, quem vai ser preso por racismo e quem vai se assumir lésbica. Mas falta saber o principal: quem armou o diabólico plano contra a fábrica de lingeries Belíssima e, supostamente, sua dona, Júlia Assumpção (Glória Pires), na novela das 9 da TV Globo. Diz-se ‘supostamente’ porque na trama escrita por Silvio de Abreu e que termina hoje até mesmo a heroína é suspeita de ser a vilã.


Para quem andou meio desligado nos últimos sete meses: Júlia comandava o império de peças íntimas montado por sua avó Bia Falcão (Fernanda Montenegro) em cima da imagem de sua mãe Stella (que é só um fantasma, até agora sem intérprete). Stella foi uma modelo, a tal belíssima, que morreu num acidente deixando os filhos pequenos – além de Júlia, Pedro (Henri Castelli) – para serem criados pela avó. Bia passou a vida toda fazendo pouco caso da neta, culpando-a por não ter herdado o brilho da mãe. Com a auto-estima a míngua, Júlia conhece o belíssimo André (Marcello Antony) que, agora se sabe, tentou e conseguiu dar um golpe do baú.


O caso é que não foi um golpe do baú qualquer, mas um golpe do baú montado por Silvio de Abreu. Teve tiros com destinatário errado, carros explodindo, gente voltando do além. Só não se sabe por quê. André, agora em fase de recuperação da canalhice e com a possibilidade de terminar a novela como bom moço, falava ao telefone com um personagem misterioso, que dava as ordens na execução do plano contra Júlia. Quem é?


Para 37,2% dos internautas que visitaram o portal do Estado nos últimos dias e responderam à enquete sobre a novela, é o querido tio Gigi (Pedro Paulo Rangel). Tem contra si a cena em que foi flagrado desligando o telefone ao mesmo tempo que André, que deu a impressão de que os dois estariam conversando. Mas será que Gigi teve mesmo tempo de armar planos sofisticados enquanto administrava a vaidade das tresloucadas vedetes para quem escreveu um show?


Na brincadeira de suposição, o segundo lugar não por acaso é a opção ‘tudo pode acontecer’, que teve 24,06% dos votos. Ornela (Vera Holtz) levou 16,17% e o ‘escroque’ Medeiros, 9,17%. De sexta-feira, dia 30, até a noite de terça-feira, 6.311 pessoas votaram.


E para a maioria dos internautas, o filho rejeitado da malévola Bia Falcão é mesmo o açougueiro Fladson (Marcelo Médici), que teve 34,86% dos votos. Ele é seguido pelo borracheiro Pascoal (Reynaldo Gianecchini), com 21,37%, e André, que ficou com 13,79%. É um pouco fantasioso pensar que seria André, uma vez que o moço andou freqüentando os lençóis não só de Júlia, mas também da filha dela, Érica (Letícia Birkheuer) – o que configuraria incesto, a não ser que o autor tivesse alguma carta extra na manga. É o mesmo caso da hipótese de que seja Vitória (Cláudia Abreu), porque ela foi casada com Pedro, neto de Bia.


Pascoal é cotado porque andou lamentando com Jamanta (Cacá Carvalho) o fato de ser órfão. Pode ser uma pista. À boca miúda, Jamanta também é apontado como filho da megera, mas Silvio descarta: ‘Ele já foi filho da Cleyde Yáconis em Torre de Babel, lembra?’


Fladson é mesmo a solução mais coerente, porque poderia ter sido criado como filho da própria funcionária que o recebeu no orfanato, Tosca (Jussara Freire). Mas será que assim não fica fácil demais? Outra pista assumidamente lançada pelo autor que, claro, só não diz se ela é verdadeira ou falsa. Silvio, aliás, tem sentido um certo incômodo com a força da especulação que se montou em torno do final da novela nesta semana. Diz que não acha justo com o telespectador, que deveria ter resguardado o seu direito de surpresa.’


 


André Laurentino


Noveleiro


‘Quando Ronaldo só acertou o primeiro chute na direção do gol aos 40 do segundo tempo, procurei um consolo: tudo bem, hoje à noite tem Belíssima.


Seria capítulo de sábado, ainda por cima. Quando o autor prepara um final mais dramático capaz de atravessar o hiato deserto do domingo. Quando os atores fazem uma cara de nada, demorando para reagir à surpresa final. E, naquele silêncio dos olhares cobertos de música e paradoxo, o capítulo acaba. Geralmente, alguém na sala comenta – meio segundo antes de os créditos avisarem: ih, acabou. É aí onde você conhece um legítimo noveleiro, nesse comentário.


Em primeiro lugar, o comentário é óbvio. Ponto para nós. Sentir um sórdido prazer com a obviedade é um de nossos lemas. Depois, repare no uso correto do verbo: ih, acabou. Em terminologia de novela, o capítulo acaba. Quem termina é a novela. O que faz a seguinte frase aparentemente ilógica ter todo o sentido do mundo: uma novela só acaba quando termina.


Um bom noveleiro – e aqui vai mais uma obviedade – não perdeu um só capítulo de Belíssima. Ele lia nos jornais o que iria acontecer durante a semana e depois assistia a tudo como se nada soubesse.


Ele não se importava com o fato de todos os personagens se relacionarem entre si, como se a população de São Paulo coubesse numa Kombi.


Ele não reclamava das palavras ditas em grego seguidas logo depois da tradução. Nem enjoava de Nikos nunca saber como dizer algo em português, para logo se lembrar em seguida.


Ele não questionava que uma presidente de empresa passasse jantares inteiros encontrando assunto com um pescador.


Porque o noveleiro sabe que ser presidente de empresa é fácil: basta passar o dia falando sobre casos amorosos diante do laptop.


Ele não ligava se as cenas externas de personagens guiando enquanto falam ao celular eram todas ao redor do Obelisco do Ibirapuera.


Ele esperava as aparições do núcleo japonês para poder ir pegar um refrigerante na cozinha.


Ele fazia tudo isso porque tinha uma certeza. No fundo de sua alma ele sabia que, ao contrário do Parreira, a novela cumpriria a missão de ir até o fim.


E hoje, meus amigos (e principalmente minhas amigas), hoje é o único dia em que um capítulo não acaba: termina. Depois dele, a noite ficará mais vazia, e sem enigmas. Saberemos tudo sobre Bia Falcão. E nossas vidas perderão parte do mistério.


Noite sem enigma, vida sem mistério. Para o noveleiro, não existe final feliz.


André Laurentino é paulistano de Olinda.


Blog: www.andrelaurentino.blogspot.com


 


TELINHA
Keila Jimenez


Record adia reality


‘A Record adiou para o próximo ano a produção da versão brasileira de The Simple Life, reality show em que duas patricinhas passam uma temporada em uma fazenda longe de cartão de crédito, compras, festas e roupas de grife. Detalhe: e cheia de tarefas rurais a cumprir.


Com o formato original da Fox, a emissora pretendia estrear a versão local de The Simple Life em setembro. Já vinha até selecionando as possíveis candidatas, incluindo modelos famosas.


Na versão original, o reality show é protagonizado pela milionária e celebrity de plantão Paris Hilton e sua ex-amiga, também rica, Nicole Richie, filha do cantor Lionel Richie. ‘Ex’ porque as duas brigaram, causando até o cancelamento de uma nova temporada da atração.


Os planos da Record foram adiados por causa de três estréias de peso da emissora no segundo semestre: a novela Bicho do Mato e os realities O Aprendiz 3 e Troca de Família. As três produções consumirão tempo e dinheiro. A nova novela estréia no dia 17, a terceira edição do show de Roberto Justus, em agosto, e Troca de Família (versão do Troca de Esposas) estréia em outubro.’


 


COPA 2006
Luis Fernando Veríssimo


O cabelo de Beckham


‘‘Purtugal, Purtugal, Purtugal’. A torcida portuguesa não parou de gritar no fim do jogo. Aplaudiu seu time derrotado, que foi saudá-la e agradecer o apoio. O time alemão também fez, não uma volta olímpica, mas uma caminhada compungida pelo campo depois da sua derrota. Para agradecer ao público, que o ovacionou. Nos jornais, depois, apareceria a foto do Ballack com lágrimas nos olhos, durante a volta melancólica.


Saber perder não significa apenas cumprimentar elegantemente o adversário vencedor. Significa também participar deste teatro de contrição e solidariedade. A torcida brasileira, apalermada pela derrota, não teve nem essa concessão do seu time. Não sei se são verdadeiras as histórias da insensibilidade de alguns jogadores com a eliminação. É claro que a maioria sentiu. Mas ficou faltando o gesto, na hora. O reconhecimento, a comunhão com a torcida, o consolo mútuo.


Lágrimas eram opcionais, mas o Brasil que não soube ganhar também não soube perder.


Contam que depois de um vexame do David Beckham num jogo da Copa de 1998 sua mulher Victoria teria ligado para seu celular e dito algo como ‘Anime-se, baby. Seu cabelo estava ótimo.’ Uma frase exemplar e cheia de sentidos. Significa que futebol é apenas futebol e que nada é tão trágico que não tenha suas compensações. Significa que ninguém deve se abater com um tropeço passageiro porque a vida continua e pode ser bela, ainda mais se você tem o cabelo do David Beckham. Mas pressupondo uma dose de cinismo no comentário da Victoria, que era uma das ‘Spice Girls’, ou garotas apimentadas, nos seus tempos de artista, a frase era para lembrar o marido das suas prioridades: tudo pela Inglaterra, certo, mas acima de tudo a sua imagem. A seleção não era tão importante quanto o corte do seu cabelo. Uma crítica que se faz a alguns jogadores brasileiros é que estariam mais preocupados com suas imagens pessoais do que com o sucesso do grupo. Cada um teria o seu cabelo do Beckham para cuidar. Não sei.


Minha seleção da Copa? Seria estranha. Para começar, não teria goleiro. Três zagueiros: Lúcio, Juan e o italiano Cannavaro, certamente o craque da Copa. Sorín numa lateral e na outra também, para equilibrar. Zidane, Patrick Vieira, Riquelme e Ballack no meio. Cristiano Ronaldo, Klose ou Podolski, que é bom mas não tão bom quanto pensam os alemães, na frente.


Lembra quando a gente dizia que o Brasil tinha um grande time mas uma defesa fraca? Finalmente temos uma boa dupla de área – e o resto do time desapareceu!’


 


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