Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Paulo Sotero


‘Um júri composto por 21 cidadãos reuniu-se ontem pela manhã no prédio da corte federal do Distrito de Colúmbia para ouvir as conclusões do promotor Patrick Fitzgerald sobre as investigações que conduziu nos últimos 22 meses. Isso aconteceu em meio a sinais de que altos funcionários da Casa Branca serão indiciados criminalmente por terem vazado a identidade de uma agente da CIA ou por terem tentado acobertar esse fato de investigadores durante um inquérito federal.


Até ontem à noite, advogados e agentes do FBI destacados para trabalhar com Fitzgerald continuavam a entrevistar pessoas sobre o caso. Paralelamente, fontes próximas às investigações indicavam que os documentos contendo as acusações poderão ser mantidos em segredo até fim do mandato do júri de instrução, amanhã, para pressionar testemunhas ou suspeitos recalcitrantes a colaborar.


Assessores presidenciais esforçaram-se ontem para manter uma aparência de normalidade. ‘Todos estamos focalizados nas prioridades do povo americano, nas tarefas à mão, e é isso que continuaremos a fazer’, disse assessor de Imprensa da Casa Branca, Scott McClellan. ‘Certamente estamos acompanhando as notícias, mas todo mundo aqui tem muito que fazer.’


As tentativas oficiais de chamar atenção para os temas de interesse do governo, como a aprovação da nova Constituição do Iraque, não dissiparam, contudo, a enorme ansiedade gerada nos meios políticos e, obviamente, na mansão presidencial, pela aproximação do prazo para o término da investigação, que se esgota hoje.


Os dois alvos mais prováveis de acusação são o chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney, I. Lewis Scooter Libby, e o vice-chefe do gabinete presidencial e principal estrategista político da Casa Branca, Karl Rove. É sabido que eles conversaram com jornalistas sobre a agente da CIA, Valery Plame, e a viagem que o marido dela, o ex-embaixador Joseph Wilson , fez ao Níger em 2002 para checar se Saddam Hussein tentara comprar urânio do país. O nome da agente foi vazado à imprensa por dois funcionários de alto escalão depois que Wilson, um crítico da guerra no Iraque, publicou um artigo no New York Times acusando a administração de distorcer dados de inteligência e inventar uma ameaça para justificar a guerra.


As especulações sobre a quantidade e alcance dos indiciamentos intensificaram-se na terça-feira, depois que o Times revelou novas informações que puseram Cheney no centro da controvérsia.


De acordo com o jornal, ele foi informado sobre Plame no primeiro semestre de 2003 pelo então diretor da CIA, George Tenet. Meses depois, Tenet pediu ao Departamento de Justiça para investigar quem passou a identidade da agente para a imprensa – crime federal desde 1982. Na época, o pai de Bush, o ex-presidente George H. Bush, que dirigiu a CIA nos anos 70, classificou o vazamento de traição à pátria.


Fitzgerald saiu do encontro com o júri de instrução em silêncio, sem esclarecer se anunciará os nomes hoje. Pelo ritual dos processos de investigação criminal, os alvos das acusações serão informados entre hoje e amanhã. Fontes oficiais disseram que a Casa Branca está preparada para enfrentar o indiciamento de altos funcionários.’



The Guardian / O Estado de S. Paulo


‘Caso começou com busca de razões para a guerra contra o Iraque ‘, copyright The Guardian / O Estado de S. Paulo, 27/10/05


‘Em fevereiro de 2002, a CIA enviou Joseph Wilson, um ex-embaixador dos EUA, ao Níger para verificar a veracidade das alegações de que Saddam Hussein estava comprando material nuclear no país. Ele concluiu que não. Quase um ano depois, Wilson ficou alarmado ao ouvir George Bush e outros repetirem as afirmações sobre o Níger como se fossem verdadeiras. O ex-diplomata escreveu um artigo no New York Times com o título O que não Encontrei na África. Disse que seu veredicto fora ignorado porque não se encaixava em determinadas pré-concepções sobre o Iraque e os EUA haviam ido à guerra sob falsos pretextos.


A Casa Branca ficou furiosa.Foi publicada uma coluna mencionando que a mulher de Wilson, Valerie Plame, era agente da CIA e dando a entender que ela havia arranjado a missão dele na África. A indicação de Wilson se devera mais a nepotismo que a capacidade e experiência.


Isso deixou as pessoas intrigadas. Expor propositadamente um agente secreto da CIA é violar a lei. O colunista disse que tivera duas fontes no governo Bush. A Casa Branca negou firmemente o envolvimento de qualquer de seus funcionários.


Assim, teve início uma investigação que agora deve gerar frutos. O promotor especial Patrick Fitzgerald poderá indiciar Karl Rove, conhecido como o ‘cérebro de Bush’, e Scooter Libby, chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney. Na terça-feira, o New York Times noticiou que Libby fora informado sobre Plame por ninguém menos que o próprio vice-presidente, em junho de 2003. Isso é problemático porque Libby afirmou sob juramento que foi um jornalista quem primeiro o informou sobre a agente da CIA.Na pior das hipóteses, agora há provas de que a tentativa para pegar Wilson chegou até o vice-presidente, se não mais longe.


Portanto, essa é a história, com o espetáculo secundário sobre a conduta da repórter do New York Times Judith Miller, que simplesmente pode ter chegado perto demais de suas fontes na Casa Branca, o que pegou Washington na febre de escândalos que se tornou um traço eterno de todos os segundos mandatos de um presidente. Foi Watergate, no caso de Rechard Nixon, Irã-Contras, no caso de Ronald Reagan, Monica Lewinsky, para Bill Clinton, e agora Valerie Plame, para George W. Bush.’


INTERNET


O Estado de S. Paulo


‘Microsoft e Yahoo se unem em digitalização de livros ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 27/10/05


‘Microsoft e Yahoo vão se unir em um projeto de digitalização de livros, que tenta criar menos controvérsia que a biblioteca digital anunciada pelo rival Google. O projeto do Google é alvo de processos judiciais de associações de editoras e autores, por considerarem que ele atenta contra as leis de propriedade intelectual. Para evitar isso, o projeto do Yahoo e da Microsoft pretende digitalizar somente textos de domínio público e aqueles em que houver permissão legal. Também será possível acessar o serviço de qualquer buscador, enquanto o do rival só permite acessos por meio do próprio Google.’