Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Polêmica em interrogatório
de jornalistas


Leia abaixo os textos desta quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 01 de novembro de 2006


LIBERDADE AMEAÇADA
Folha de S. Paulo – editorial


Volta a truculência


‘CONFIRMA-SE o ceticismo a respeito da brandura que marcou a atitude da campanha de Lula para com a imprensa no segundo turno. Um verniz de humildade substituíra a arrogância, o desapego à prestação de contas e a truculência do petismo governista enquanto interessava ao cálculo eleitoral. Fechadas as urnas, setores da militância do PT puseram em marcha uma campanha que tenta intimidar meios de comunicação independentes.


Na segunda-feira, um grupo de petistas -muitos dos quais gozando de prebendas no funcionalismo federal- se arrogou o direito de fazer uma ‘triagem’ dos jornalistas que cobriam o primeiro retorno de Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio da Alvorada como presidente reeleito. Um repórter foi agredido.


Particularmente grave foi o episódio de ontem em que um delegado federal usou um inquérito interno como pretexto para intimidar jornalistas da revista ‘Veja’. Mandou às favas o direito de uma repórter de consultar seu advogado. A intenção do policial era a de, ao feitio das ditaduras, enviar um ‘recado’ aos responsáveis pelo semanário.


Não surpreende a hostilidade. Durante mais de um ano, lideranças e ‘intelectuais’ do PT, para não mencionar o próprio presidente Lula, acalentaram a farsa de que os flagrantes de corrupção sistêmica em seu governo teriam sido fruto de uma conspiração da mídia.


Nos incautos que esperavam uma mudança agora, após a refrega do dossiegate, Marco Aurélio Garcia desferiu um choque de realidade. O presidente do PT repudiou a violência de militantes em Brasília, mas não se esqueceu de dar um ‘conselho’ à imprensa. Sugeriu ‘auto-reflexão’ à mídia, afirmando que ela deve ao país a informação de que o mensalão não existiu.


Às páginas 11 e 12 de denúncia assinada em 30 de março pelo procurador-geral da República, lê-se que uma quadrilha, integrada por membros da cúpula do governo e do PT, agia em plano federal com o objetivo de ‘garantir a continuidade do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores mediante a compra de suporte político de outros partidos’.


‘Auto-reflexão’ deveriam ter feito o PT e o governo. As cúpulas de ambos desmoronaram, mas a necessária depuração dos métodos e dos quadros não ocorreu. Sobreveio, como filho da impunidade, o escândalo do dossiê. Mais uma série de cabeças petistas rolou, mas a lição ainda não foi assimilada.


Lideranças do PT continuam a alimentar a ira de correntes partidárias descompromissadas com a soberania das leis. Envereda pelo mesmo caminho o governador Roberto Requião, conhecido pela boçalidade, que inventou um complô de veículos de comunicação para explicar sua reeleição apertadíssima no Paraná.


O que essas manifestações de hostilidade ameaçam é muito mais do que a imprensa: é o direito da sociedade de ter livre acesso à informação e à opinião. A pretexto da vitória legítima de Lula, tentam silenciar o jornalismo crítico. As urnas não outorgaram nenhum tipo de anistia para os crimes cometidos pelos companheiros do presidente.


Ainda há muito a esclarecer.’



Lilian Christofoletti


PF intimidou jornalistas, diz revista ‘Veja’


‘Após o presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva ter afirmado que pretende mudar seu relacionamento com a imprensa, três repórteres da revista ‘Veja’ afirmaram ontem terem sido intimidados, pressionados e constrangidos pelo delegado da PF paulista Moysés Eduardo Ferreira.


Chamados a depor na condição de testemunhas, como autores de uma reportagem sobre supostas ilegalidades cometidas por policiais federais, tiveram de responder sobre o posicionamento político da revista e supostas filiações partidárias.


Os depoimentos ocorreram um dia depois de jornalistas terem sido hostilizados por militantes petistas em Brasília, na chegada do presidente ao Palácio da Alvorada. O presidente nacional do PT, Marco Aurélio Garcia, ao comentar o episódio, disse que a imprensa deveria fazer uma ‘auto-reflexão’ sobre a forma com que havia noticiado o escândalo do mensalão.


Após o segundo turno, Lula falou mais de uma vez que pretende melhorar seu relacionamento com os jornalistas.


O depoimento


A investigação da PF partiu de uma reportagem publicada pela revista ‘Veja’, no dia 18 de outubro, que relatava uma operação montada pela cúpula da PF para tentar abafar o caso do dossiê, que envolvia membros do comitê eleitoral de Lula e de Aloizio Mercadante, então candidato do PT ao governo paulista, na compra de documentos contra candidatos tucanos. A reportagem, apurada por cinco repórteres, informava que Freud Godoy, ex-assessor especial de Lula, manteve um encontro sigiloso nas dependências da PF com Gedimar Passos, ex-policial federal preso com R$ 1,7 milhão. Os jornalistas Marcelo Carneiro, Júlia Duailibi e Camila Pereira foram intimados pela PF para falar sobre o texto. Durante os depoimentos, no entanto, o delegado manifestou sua contrariedade com a reportagem, que chamou de ‘falácia’ e ‘absurda’. ‘Como vocês têm a coragem de escrever isso contra o dr. Severino?’, perguntou, segundo a Folha apurou. Severino Alexandre é o diretor-executivo da PF paulista, o segundo homem do órgão no Estado. Foi citado pela ‘Veja’ como o intermediário da reunião entre Freud e Gedimar. O delegado Ferreira, segundo os repórteres, insistiu para saber se a revista tinha algum vínculo político, se o editor era filiado a partido político e o motivo de a revista ‘fabricar’ notícias contra a PF. Apesar de o procedimento tratar especificamente da suposta ‘operação abafa’, o policial quis saber também sobre outras reportagens, como a divulgação das fotos do dinheiro do caso do dossiê. Perguntou se havia alguma ligação entre a publicação e a proximidade da do primeiro turno da eleição. ‘Para surpresa dos repórteres sua inquirição se deu não na qualidade de testemunhas, mas de suspeitos. As perguntas giraram em torno da própria revista que, por sua vez, pareceu aos repórteres ser ela, sim, o objeto da investigação’, diz a revista e nota.


Polícia


O superintendente da PF de São Paulo, Geraldo Araújo, disse que não houve intimidação nem pressão sobre os jornalistas. ‘O delegado Moysés [Ferreira] nem é de São Paulo, é de Piracicaba, foi chamado justamente para fazer uma investigação isenta, distanciada.’ O delegado Ferreira enviou carta ao diretor-executivo Severino Alexandre afirmando que agiu com ‘toda cortesia e urbanidade possíveis’ e que as perguntas foram somente sobre fatos ligados à reportagem. Como prova de ‘normalidade’, disse que os depoimentos foram acompanhados pela procuradora da República Elizabeth Mitiko Kobayashi. Procurada, Kobayashi informou que não iria se manifestar. Segundo a assessoria do Ministério Público Federal paulista, uma declaração dela, no ‘calor dos fatos’, poderia atrapalhar a investigação, que busca identificar a ação de policiais. Em nota, a PF disse que, em nenhum momento, os repórteres manifestaram ‘contrariedade ou discordância com a condução do depoimento, causando surpresa […] a conotação de suposta arbitrariedade’.’


 


Luiz Francisco


Bastos diz que revista pode fazer representação para apurar abuso


‘Depois de participar da abertura do 50º Congresso da União Internacional dos Advogados, o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) disse ontem à noite, em Salvador, que a revista ‘Veja’ pode fazer uma representação ao ministério para apurar se houve abuso de autoridade cometido por um delegado da Polícia Federal contra jornalistas da Editora Abril.


‘Ainda bem que nós temos liberdade de imprensa no Brasil. Eu falei com o editor-chefe da ‘Veja’, disse a ele que, se houvesse qualquer abuso, que o delegado nega, bastava que fizesse uma representação ao próprio ministro da Justiça que a gente iria apurar isso com o máximo cuidado’, afirmou.


Segundo o ministro, a liberdade de imprensa ‘é um valor muito alto e prezado por este governo’. ‘O presidente Lula é um produto da imprensa livre.’


Márcio Thomaz Bastos disse que conversou duas vezes com o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati, sobre o tema. ‘Não pode haver quebra de sigilo de fonte. O sigilo de fonte é um sigilo forte, é como o sigilo do advogado, do padre, e nem foi questionado se se quebrava ou se se não quebrava. O que a


PF está fazendo é investigar uma acusação da própria revista ‘Veja’, não contra os repórteres’, disse o ministro, que negou sua eventual permanência no segundo mandato do governo do presidente Lula. ‘Não existe hipótese’, disse.’




Folha de S. Paulo


Presidente da OAB diz considerar ‘inaceitável’ atitude de delegado


‘O presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Roberto Busato, disse ontem considerar ‘inaceitável’ o comportamento do delegado da Polícia Federal Moysés Ferreira durante depoimento dos jornalistas da revista ‘Veja’.


‘O comportamento do delegado, pelo relato dos jornalistas, foi inaceitável dentro de um Estado democrático e quando estamos saindo de uma eleição. Nós, da OAB, temos denunciado constantemente esses meios truculentos utilizados às vezes pela Polícia Federal contra jornalistas e também contra advogados, enfim, contra os cidadãos brasileiros’, disse Busato por meio de nota.


Busato disse esperar que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, apure os fatos denunciados pelos jornalistas.


‘A liberdade de imprensa deve ser preservada, pois esse é um ícone do estado democrático de direito e não pode de forma nenhuma ser arranhado’, diz trecho da nota, que finaliza.


O presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, Sérgio Murillo de Andrade, disse que a assessoria da PF informou à entidade que o depoimento de jornalistas da ‘Veja’ foi ‘um procedimento de rotina em investigação sobre a ‘operação-abafa’.


‘Segundo a Polícia Federal, não houve nenhum abuso de autoridade, os jornalistas foram acompanhados por advogados da revista e pela OAB’, disse o presidente da Fenaj.’



Revista, delegado e Polícia Federal divulgam notas sobre depoimentos


‘Leia as íntegras das notas da revista ‘Veja’, do delegado Moysés Ferreira e da PF.


Nota da revista ‘Veja’


A pretexto de obter informações para investigação interna da corregedoria sobre delitos funcionais de seus agentes e delegados, a Polícia Federal intimou cinco jornalistas de ‘Veja’ a prestar depoimentos.


Eles foram os profissionais responsáveis pela apuração de reportagens que relataram o envolvimento de policiais em atos descritos pela revista como ‘uma operação abafa’ destinada a afastar Freud Godoy, assessor da Presidência da República, da tentativa de compra do dossiê falso que seria usado para incriminar políticos adversários do governo.


Três dos cinco jornalistas intimados Júlia Duailibi, Camila Pereira e Marcelo Carneiro foram ouvidos na tarde de terça pelo delegado Moysés Eduardo Ferreira.


Para surpresa dos repórteres, sua inquirição se deu não na qualidade de testemunhas, mas de suspeitos. As perguntas giraram em torno da própria revista que, por sua vez, pareceu aos repórteres ser ela, sim, o objeto da investigação policial. Não houve violência física. O relato dos repórteres e da advogada que os acompanhou deixa claro, no entanto, que foram cometidos abusos, constrangimentos e ameaças em um claro e inaceitável ataque à liberdade de expressão garantida na Constituição.


Ao tomar o depoimento da repórter Julia Duailibi, o delegado Moysés Eduardo Ferreira indagou os motivos pelos quais ela escrevera ‘essa falácia’. A repórter de ‘Veja’, então, perguntou ao delegado Moysés qual era o sentido de seu depoimento, uma vez que ele já chegara à conclusão antecipada de que as informações publicadas pela revista eram ‘falácias’. Ao ditar esse trecho do depoimento para o escrivão, o delegado atribuiu a palavra à repórter, no que foi logo advertido pela representante do Ministério Público Federal, a procuradora Elizabeth Kobayashi. A procuradora pediu ao delegado que retirasse tal palavra do depoimento porque tratava-se de um juízo de valor dele próprio e que a repórter nunca admitira que escrevera falácias.


Embora a jornalista de ‘Veja’ estivesse depondo na condição de testemunha num inquérito sem nenhuma relação com a divulgação das fotos do dinheiro do dossiê, o delegado Moysés Eduardo Ferreira a questionou sobre reportagem anterior, assinada por ela, que tratava do tema. O delegado exigiu, então, da repórter que revelasse quem lhe dera um CD com as fotos. A repórter se recusou a revelar sua fonte.


Durante todo o depoimento da repórter Julia Duailibi, o delegado Moysés Eduardo Ferreira a questionou a sobre o que ele dizia ser uma operação de ‘Veja’ para ‘fabricar’ notícias contra a Polícia Federal. Disse que a matéria fora pré-concebida pelos editores da revista e quis saber quem fora o editor responsável pela expressão ‘operação abafa’. O delegado disse que as acusações contra o diretor-executivo da Superintendência da PF, Severino Alexandre, eram muito graves. E perguntou: ‘Foi você quem as fez? Como vieram parar aqui?’ Referindo-se à duração do depoimento, o delegado Moysés Eduardo Ferreira disse: ‘Se você ficou duas horas, seu chefe vai ficar quatro’.


Indagada sobre sua participação na matéria, a repórter Camila Pereira disse ter-se limitado a redigir uma arte explicativa, a partir de entrevistas com advogados, sobre como a revelação da origem do dinheiro poderia ameaçar a candidatura e/ou um eventual segundo mandato do presidente Lula. O delegado perguntou quais advogados foram ouvidos. A repórter respondeu que seus nomes haviam sido publicados no próprio quadro. O delegado, então, perguntou se ‘Veja’ pagara pela colaboração dos advogados. Diante da resposta negativa, o delegado ditou para o escrevente que a repórter respondera que ‘normalmente a revista não paga por esse tipo de colaboração’. A repórter, então, o corrigiu, dizendo que a revista nunca paga para fontes.


Embora os repórteres de ‘Veja’ tenham sido convocados como testemunhas, o delegado Moysés Eduardo Ferreira impediu que eles se consultassem com a advogada que os acompanhava, Ana Dutra. Todo e qualquer aparte de Ana Dutra era considerado pelo delegado Ferreira como uma intervenção indevida. Em determinado momento, Ferreira ameaçou transformar a advogada em depoente. Ele também negou aos jornalistas de ‘Veja’ o direito a cópias de suas próprias declarações, alegando que tais depoimentos eram sigilosos. A repórter Júlia Duailibi foi impedida de conversar com o repórter Marcelo Carneiro.


A estranheza dos fatos é potencializada pela crescente hostilidade ideológica aos meios de comunicação independentes, pelas agressões de militantes pagos pelo governo contra jornalistas em exercício de suas funções e, em especial, pela leniência com que esses fatos foram tratados pelas autoridades. Quando a imprensa torna-se alvo de uma força política no exercício do poder deve-se acender o sinal de alerta de modo que a faísca seja apagada antes que se torne um incêndio. Nunca é demais lembrar: ‘Pior do que estar submetido à ditadura de uma minoria é estar submetido a uma ditadura da maioria’.


Nota do delegado Moysés Ferreira


‘Senhor delegado chefe,


Com a finalidade de instruir os autos do IPL (inquérito policial) acima referenciado, informo a Vossa Senhoria que iniciei os trabalhos de oitivas de repórteres da revista ‘Veja’ no dia de hoje, na sala 906, do 9º andar, no prédio da SR/DPF/ SP, por volta das 10h, tendo procedido à oitiva em declarações dos repórteres Júlia Duailibi de Mello Santos e Camila Cardoso Pereira, acompanhadas das dras. Ana Rita de Elizabeth Mitiko Kobayshi, procuradora da República, e quando iniciava a oitiva em declarações do repórter Marcelo Theodoro Carneiro, também acompanhado da advogada e da procuradora acima mencionadas, fui procurado nesta sala por Vossa Senhoria, que indagou se havia acontecido algum problema com alguma das repórteres ouvidas, tendo em vista que havia notícias em Brasília de que esta autoridade havia tratado com grosseria a repórter.


No que esta autoridade tem a informar que os três repórteres ouvidos nesta manhã foram tratados com toda a cortesia e urbanidade possíveis sendo indagados somente sobre suas participações na reportagem da revista ‘Veja’, edição nº 1.978, ano 39, nº 41, de 18/10/ 2006, páginas 44 a 51, tendo cada um dos ouvidos declarado o trabalho realizado na reportagem mencionada. Inclusive esta autoridade, quando retornou para a sala indagou à advogada drª Ana Rita e à Procuradora da República drª Elizabeth se havia acontecido algo estranho, as mesmas responderam que não, e que todo o trabalho estava transcorrendo dentro da normalidade, tendo esta autoridade dado seqüência aos seus trabalhos.


Acrescento ainda que estavam presentes na sala de audiência os escrivães que auxiliam esta autoridade, Carlos Henrique Santos Rosa, mat. 2.431-065, e Ralph Gomes, mat. 10.102, que também assinam a presente informação.


Nota da Polícia Federal


Em virtude de notícias veiculadas a partir de discurso proferido na tribuna do Senado Federal, o Departamento de Polícia Federal informa:


1. Com o objetivo de investigar possíveis crimes praticados no âmbito da Superintendência Regional da Polícia Federal em São Paulo, denunciados pela revista ‘Veja’ na edição nº 1.978, ano 39, nº 41, a Polícia Federal instaurou o inquérito nº 2-4672-Delefaz/SR/DPF/SP e ouviu hoje, 31 de outubro, em São Paulo, os jornalistas Marcelo Theodoro Carneiro, Julia Dualibi de Mello Santos e Camila Cardoso Pereira;


2. Os depoimentos foram tomados com o acompanhamento da procuradora da República Elizabeth Mitiko Kobayshi e da advogada da revista ‘Veja’, Ana Rita de Souza Dutra. Estavam presentes ainda o delegado de Polícia Federal que preside o inquérito e dois escrivães de Polícia Federal;


3. Os questionamentos às testemunhas foram feitos normalmente pelo delegado e em seguida pela procuradora da República e versaram exclusivamente sobre os fatos constantes da matéria da ‘Veja’, como seria cabível em semelhante apuração;


4. Em nenhum momento os repórteres, ou sua advogada, manifestaram às referidas autoridades contrariedade ou discordância com a condução do depoimento, causando surpresa a este órgão a conotação de suposta arbitrariedade que vem sendo dada ao procedimento em questão;


5. É objetivo do Departamento de PF o rápido e total esclarecimento dos fatos relacionados à operação sanguessuga e seus desdobramentos;


6. A PF aguarda manifestação formal dos jornalistas para tomar as providências apuratórias cabíveis.’



Para oposição, ação da PF ‘é só o começo’


‘A polêmica sobre o depoimento de repórteres da revista ‘Veja’ à Polícia Federal gerou ontem protestos de líderes da oposição.


‘Manifesto preocupação com os estranhos e lamentáveis constrangimentos a que foram submetidos os repórteres da revista ‘Veja’. Quando alguém se sente injustiçado pela imprensa, pode e deve recorrer aos instrumentos que nos faculta a democracia, jamais à intimidação. A imprensa não existe para apoiar ou discordar, mas para ser livre’, disse o governador eleito de São Paulo, José Serra.


O episódio foi levado ao plenário do Senado pelo senador Heráclito Fortes (PFL-PI), a pedido do presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE). Informado do caso, o tucano telefonou para o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) cobrando explicações sobre o ocorrido.


‘Não é aceitável que um partido cujos integrantes tenham passado por vexames e constrangimentos na caminhada desta nação em busca de trilhas para a liberdade de imprensa esqueça tudo isso e justifique atitudes arbitrárias’, disse Heráclito. ‘É apenas o início do que, pelo que se prevê, vem por aí’, completou.


A fala de Heráclito abriu uma onda de reclamações. ‘Será que esta é a postura nova que Lula diz que vai ter com a mídia? É constranger a mídia? Se é esta, vai nos encontrar pela frente. Recebeu essa enxurrada de votos, perdeu a humildade e está calçando salto alto demais’, disse o líder do PFL na Casa, José Agripino Maia (RN).


‘Conheço o ministro Thomaz Bastos e dele sou amigo, mas não posso admitir que silencie diante de tal violência’, disse Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), antes do Bastos se manifestar sobre o caso.


Após reclamar de ‘muita controvérsia’ na reportagem da revista que tratava de uma suposta operação-abafa da Polícia Federal no caso do dossiê contra tucanos, a líder do PT, Ideli Salvatti (SC), saiu em defesa do governo. Disse que trazia um relato do diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, negando a postura hostil de delegados no depoimento.


Segundo Ideli, a primeira repórter a ser ouvida ‘respondeu o que quis, não sofrendo qualquer tipo de constrangimento’. Na seqüência, ainda conforme a petista, a repórter tentou conversar no corredor com o segundo jornalista que iria para depor, mas isso ‘não é permitido até para não haja contaminação ou combinação do que será apresentado no depoimento’. ‘Como não tenho nenhum motivo para duvidar da palavra do dr. Paulo Lacerda, faço questão de apresentar [as explicações] aqui no plenário’, disse a petista.’



Para presidente, vitimizar parte da imprensa é erro


‘Em conversas reservadas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que acha um erro ‘vitimizar’ setores da imprensa que julga terem sido injustos com ele, o PT e o governo na cobertura dos escândalos de corrupção e na campanha.


Lula fez essa observação depois de ter sido informado de que jornalistas da revista ‘Veja’ teriam sido hostilizados verbalmente em depoimento ontem na Polícia Federal.


O presidente também disse que achou um equívoco o presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, ter cobrado da imprensa uma ‘auto-reflexão’ sobre a sua atuação na eleição. O presidente do PT chegou a dizer que a mídia deveria ao país a informação de que não teria acontecido o mensalão.


Lula concorda com Garcia no diagnóstico de que supostamente teria sido prejudicado pela cobertura da mídia. No entanto, avalia que externar tal opinião é um erro político, pois acirra ânimos com a imprensa e vitimiza alguns setores.


Garcia fez a cobrança anteontem, dia em que militantes do PT agrediram verbalmente jornalistas que acompanharam Lula do aeroporto de Brasília para o Palácio da Alvorada. Os principais alvos dos protestos foram a Rede Globo, a revista ‘Veja’ e a Folha.


Em conversas reservadas, Lula e auxiliares avaliaram que a cobertura da TV Globo nos dias anteriores ao primeiro turno contribuiu para a ocorrência da segunda fase. O presidente se queixou de severidade e exagero da Globo ao noticiar a sua ausência do debate no primeiro turno e a divulgação das fotos do dinheiro usado para tentar comprar o dossiê.’


 


Mari Tortato


Jornalistas criticam truculência de Requião


‘O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná divulgou nota classificando de ‘desrespeitosa, truculenta e deselegante’ a atitude como o governador reeleito do Paraná, Roberto Requião (PMDB), atendeu aos jornalistas na sua primeira coletiva de imprensa depois da vitória de domingo.


Também em nota, a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) disse ‘repudiar veementemente’, a forma com que Requião tratou os jornalistas e os veículos de comunicação do Paraná e do Brasil durante a coletiva.


Para a entidade, o comportamento do chefe do Poder Executivo do Paraná foi ‘inaceitável e representa uma afronta direta à liberdade de imprensa e dos pilares do Estado Democrático e de Direito’. A Abert considerou que Requião ‘foi ‘agressivo e desrespeitoso’.


Anteontem, em entrevista coletiva no Palácio Iguaçu, Requião acusou a imprensa de ‘fazer campanha’ para eleger seu adversário, o senador Osmar Dias (PDT). Acompanhado de militantes do PMDB e do PT e de parte de sua equipe, o peemedebista hostilizou e constrangeu jornalistas que lhe faziam perguntas com comentários sobre o que considerou ter sido o comportamento dos veículos para os quais trabalham.


A RPC (Rede Paranaense de Comunicação), o jornal ‘Gazeta do Povo’, do mesmo grupo, e a rádio CBN local foram os veículos mais atacados. A Folha e a TV Globo, por intermédio de três profissionais, também foram alvo das acusações de ‘facciosismo’ na cobertura. Os jornalistas eram submetidos a constrangimento quando se identificavam e ao veículo que representavam, quando lhe faziam perguntas: ‘Tivemos na ‘Gazeta do Povo’ uma espécie de diário oficial da oposição’, disse Requião antes de responder à repórter do jornal.


‘Eu não fui a uma entrevista na ‘Gazeta do Povo’ e a ‘Gazeta do Povo’ publicou as perguntas, sórdidas. Foi a utilização sem escrúpulos da ‘Gazeta do Povo’ e da RPC na campanha que, em determinado momento, nos derrubou uma liderança de mais de 20 pontos’, disse o governador noutro momento.


Segundo Requião, apesar de seu governo ser aprovado em pesquisas por 75% da população, ‘o que houve [na campanha] foi um bombardeio contra a imagem pessoal do governador, com a colaboração da RPC, dos jornalões, da ‘Gazeta do Povo’, da CBN, que quase nos derrotou’. O peemedebista emendou depois: ‘As teses valeram, resistimos a essa mídia toda e tivemos uma monumental vitória política no Paraná’.


Requião atribuiu à repórter da Folha a notícia de um suposto apartamento de sua família em Paris -que o jornal não publicou-, após uma resposta sobre a relação com a segunda gestão do governo Lula. Em 28 de outubro, a Folha publicou reportagem sobre o debate entre Requião e Osmar Dias, no qual Dias mencionou uma suposta mansão da família do peemedebista em Miami, e a contestação do governador.


‘Eu faria uma observação também sobre a Folha de S.Paulo, que reproduziu, na sua coluna, jornalista, a história de um apartamento meu em Paris sem sequer ter me consultado’, disse. E prosseguiu: ‘Os jornalões do Brasil reproduziram as canalhices locais com a pior ética possível, mostrando um facciosismo absolutamente insuportável para um regime democrático’.


‘Eu queria cumprimentar a CBN pela excelente boca-de-urna que fez pelo meu adversário desde as 8h da manhã’, disse à repórter da rádio antes de responder a uma pergunta.


Requião usou de ironia ao dizer que convidaria o proprietário da RPC para seu secretário da Comunicação e que também destinaria o cargo a outro repórter presente. Enquanto ele dava entrevista, cerca de 40 militantes do PMDB comandados por seu irmão e ex-secretário da Educação Maurício Requião faziam um protesto em frente à ‘Gazeta do Povo’. Um carro de som tocava a música ‘Apesar de Você’, de Chico Buarque.


Nota da assessoria de imprensa do governo atacou a posição do Sindicato dos Jornalistas, ao qual acusou de ‘reação equivocada’ e de defender ‘não a liberdade de imprensa’, mas ‘a liberdade das empresas de manifestarem suas opiniões’, e diz que ‘nunca se viu cobertura de eleição no Paraná tão tendenciosa’ como a deste ano nem ‘tanta parcialidade em uma cobertura de entrevista coletiva com o governador quanto a que a mídia divulgou nesta terça-feira [anteontem]’.’


 


GOVERNO LULA – PARTE 2
Fábio Zanini


Plano do PT quer ‘desconcentrar’ a mídia


‘O PT divulgou ontem, dois dias após a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, o programa do presidente para ‘democratizar os meios de comunicação’, que inclui mudanças legais para dar mais ‘equilíbrio e proporção’ a eles.


O texto final, discretamente publicado na página da campanha de Lula na internet, promete medidas ‘vigorosas’ para regulamentar e descentralizar a mídia. A versão preliminar do documento, que a Folha divulgou em 28 de agosto, era algo mais dura.


Desapareceram algumas idéias polêmicas, que causaram incômodo dentro da campanha do presidente pelo radicalismo, de acordo com o que a Folha apurou.


Exemplos do que ficou de fora são a exigência de que outorgas e renovações de concessões de rádio e televisão passem pelo crivo de ‘conselhos populares’ e a proposta de criação de uma Secretaria de Democratização das Comunicações, vinculada à Presidência da República.


Também foi excluído do texto trecho que pedia mudanças no sistema de contratação de agências de publicidade pelo governo, que geralmente fica concentrado nas mãos de poucos marqueteiros.


Democratização


O documento, intitulado ‘Comunicação e Democracia’, com 13 páginas, mantém a defesa de um ‘plano vigoroso e específico de democratização da comunicação social no Brasil’. Para o PT, ‘a democratização dos meios de comunicação deve ser entendida como ponto fundamental para o aprofundamento da democracia’.


Um dos colaboradores é o professor da USP (Universidade de São Paulo) Bernardo Kucinski, que há anos escreve uma crítica diária da imprensa para o consumo interno do presidente Lula.


O texto é genérico e não entra em detalhes sobre as mudanças, mas dá pistas do que pode ocorrer nos próximos quatro anos.


O presidente se compromete a elaborar uma Lei Geral de Comunicação Eletrônica, com ‘mecanismos que coíbam a concentração de propriedade [de emissoras de rádio e TV] e de produção de conteúdos e o desequilíbrio concorrencial garantindo, por outro lado, a competitividade, a pluralidade, a diversidade e a concorrência por qualidade dos serviços’.


Haveria o recadastramento das concessões de rádio e televisão no país, com o cancelamento das que não estejam ‘em conformidade com a lei’.


Quanto à mídia impressa, o presidente Lula deve criar um ‘programa de incentivos legais e econômicos para o desenvolvimento de jornais e revistas independentes’.


Foi retirada, no entanto, uma expressão da versão preliminar do texto que determinava que esses jornais ‘não seriam vinculados aos grandes grupos de comunicação’.


Os incentivos à mídia independente seriam bancados por bancos oficiais e agências de fomento, que deverão orientar suas políticas para ‘a expansão, a regionalização e a democratização da comunicação’.


Relação problemática


Durante o primeiro mandato, o presidente teve relação tensa com os meios de comunicação. Deu poucas entrevistas e tomou atitudes como a tentativa de expulsão do país do jornalista Larry Rohter, do ‘New York Times’ -que escreveu uma reportagem sobre um suposto abuso de bebida alcoólica pelo presidente- e de criar um Conselho Federal de Jornalismo, para regulamentar e fiscalizar o exercício da profissão.


Na campanha à reeleição, o contencioso se agravou.


Petistas reclamaram da cobertura da imprensa sobre o escândalo do dossiê, enxergando uma conspiração para derrotar Lula.


Anteontem, jornalistas foram hostilizados por militantes petistas em frente ao Palácio do Alvorada. O presidente interino do PT e coordenador da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, condenou a agressão, mas pediu que a mídia faça uma ‘auto-reflexão’ sobre seu desempenho.


O texto final também retirou uma parte em que o PT fazia uma autocrítica sobre sua política de comunicação no primeiro mandato e reconhecia fracassos como o CFJ e a tentativa de criar a Ancinav (Agência Nacional do Audiovisual), para regular a produção de cinema e vídeo.’



Denis Lerrer Rosenfield


A indignação


‘Os que defendem os ‘erros’ cometidos pelo governo Lula e pelo PT estão, de fato, abandonando o próprio exercício do pensamento


UM PAÍS que perde a capacidade de indignar-se arrisca a sua própria existência política. A moral não é um utensílio qualquer que possa ser utilizado segundo as conveniências partidárias. Ela é uma finalidade em si mesma que, instrumentalizada, perde seu próprio significado. A política se mostra como uma forma superior de sociabilidade humana se tiver um comprometimento com princípios morais e com a verdade, sem os quais as relações humanas abandonam sua própria dimensão cívica, a que se realiza pelo exercício dos mais diferentes tipos de direito.


O país cresceu nas últimas décadas pelo desenvolvimento e pelo aperfeiçoamento da cena pública. A liberdade de imprensa e dos meios de comunicação em geral propiciou uma nova configuração da opinião pública, atenta ao comportamento de seus dirigentes. Líderes partidários e governantes tiveram de responder por suas ações e de se responsabilizar pelo que faziam. Políticos que baseavam suas ações em máximas do tipo ‘é dando que se recebe’ ou ‘rouba, mas faz’ perderam progressivamente credibilidade e foram sendo abandonados pelos eleitores.


Parecia que o país tinha ingressado em um distinto e superior patamar político. Um presidente da República chegou a ser afastado do seu cargo por corrupção e por infrações à moralidade pública em manifestações que tomavam conta das ruas deste país.


Nos escândalos que dominaram a cena do governo Lula, as ruas permaneceram vazias. As vozes, dificilmente audíveis, começaram a se calar, como se a perplexidade tivesse tomado o lugar da indignação. É como se as seguintes perguntas martelassem as cabeças: ‘O que fez com que o partido da ética a infringisse tão duramente?’; ‘Era tudo uma mera encenação de um partido oposicionista?’.


A única resposta a essas perguntas veio sob a forma do ‘errar é humano’ para justificar a corrupção e a falta de ética na política. É como se uma ‘nova teoria’ estivesse nascendo das cinzas da moralidade, a de que ‘erros’ justificam todo tipo de ação.


Ora, uma ‘teoria dos erros’, cuja finalidade consistia apenas em acobertar a verdade, só podia se traduzir por uma valorização da ‘mentira’ como forma de governo. O seu rebento é o ‘direito de mentir’. Triste fim dos que se diziam defensores da moralidade, embora tenham com isso aferido ‘belos’ resultados eleitorais.


Acontece que a beleza e a eticidade desapareceram em proveito de uma grande enganação pública. Criticar, porém, é preciso. Uma cena pública que perde seus parâmetros começa a se desestruturar. Entra-se no lugar do vale-tudo em que a verdade e a moralidade são as primeiras vítimas.


O mundo do vale-tudo é o mundo dos heróis sem caráter, que aproveitam as mínimas circunstâncias em proveito próprio. O tesouro público se torna privado ou privado-partidário, como se a República, a coisa pública, a coisa de todos nós e os recursos dos contribuintes pudessem ser dilapidados à vontade. Sempre explicações e justificativas serão apresentadas, algumas adornadas de belas expressões, como se um novo mundo estivesse sendo construído, um novo mundo possível, só que este surge sob a forma da usurpação e da perversão.


O exemplo que está agora sendo vendido ao país é o de que o crime compensa, toda regra e toda norma podendo ser transgredidas.


Tudo depende da ‘teoria do erro’, chave mestra que procura colocar aquele que o cometeu na posição de vítima, de agente involuntário, injustamente acusado pelos malfeitores da imprensa, uma imprensa que não saberia investigar corretamente, porque não segue os ditames do partido no poder. De reveladora de fatos, ela se torna ré de um mau exercício da liberdade. De pequenos passos se constitui uma mentalidade e um uso autoritário do poder.


Quem defende a imoralidade, quem a justifica, a trai. Defende, na verdade, a asfixia da cena pública, a asfixia lenta e gradual das liberdades democráticas. O comprometimento do pensamento é com a faculdade de julgar, de emitir juízos sobre fatos e comportamentos que atentam contra princípios morais, contra a verdade e contra tudo aquilo que baliza as instituições republicanas.


Os que defendem os ‘erros’ cometidos pelo governo Lula e pelo PT estão, de fato, abandonando o próprio exercício do pensamento, que não pode se tornar refém da servidão política -aqui, uma espécie de servidão voluntária. Se a ‘causa’ toma o lugar da verdade e da liberdade, muito pouco se pode esperar da reflexão, da crítica. Lula ganhou, a ética e a verdade perderam.


DENIS LERRER ROSENFIELD, 55, doutor pela Universidade de Paris 1, é professor titular de filosofia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e editor da revista ‘Filosofia Política’. É autor de ‘Política e Liberdade em Hegel’ (Ática, 1995), entre outros livros.’


 


Eduardo Scolese e Pedro Dias Leite


Lula pede entendimento e diz ter ‘plena legitimidade’


‘No momento em que setores da oposição descartam um entendimento com o governo, o presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em pronunciamento em cadeia de rádio e TV, que a votação que obteve nas urnas no domingo lhe dá ‘plena legitimidade ao exercício do poder’. O petista admitiu porém que há ‘questões éticas a discutir e superar’.


‘Uma votação maciça, como a que tivemos, eu e o meu companheiro José Alencar, dá plena legitimidade ao exercício do poder, mas não resolve, num passe de mágica, os problemas nacionais. Volto a afirmar que o nome do meu segundo mandato será desenvolvimento (…). E é em torno desta proposta, capaz de unir todos os brasileiros e brasileiras, que venho pedir o esforço e o entendimento nacionais.’ Lula disse que alguns afirmavam que a disputa presidencial ‘iria dividir o Brasil em dois, e isso não ocorre’. ‘A exposição franca dos problemas mostrou, para toda a sociedade, que ainda existem Brasis profundamente desiguais. E o quanto é urgente e necessário que as desigualdades sociais e regionais diminuam’, disse.


No pronunciamento de seis minutos, gravado no início da tarde de ontem, o presidente disse que entre os desafios que o Brasil tem a vencer está o ‘atraso político’. Na mesma linha, sem mencionar diretamente crises que abalaram seu governo, como a crise do dossiê e o mensalão, citou as questões ‘éticas’ a serem superadas. ‘O Brasil tem ainda uma enorme dívida social a resgatar, um grande atraso político a vencer e questões éticas a discutir e superar. No que depender de mim, vou acelerar a solução de todas as pendências e estimular democraticamente os outros Poderes a fazerem o mesmo’.


E completou: ‘Continuarei empenhado em que os órgãos de investigação e da Justiça apurem todas as denúncias de corrupção e que os culpados sejam exemplarmente punidos’.


O presidente falou sobre a importância do ‘diálogo’ com todos os setores nacionais, num tom mais direto do que o adotado na entrevista concedida no domingo. ‘Como homem de diálogo que sempre fui, estendo mais uma vez as mãos para o entendimento e a concórdia. Conclamo toda a sociedade, a começar pelas lideranças políticas e movimentos sociais, a unirmos o Brasil em torno de uma agenda comum de temas de interesse geral.’


A seguir, Lula falou sobre o apoio que terá da maioria dos governadores eleitos, um quadro mais favorável do que encontrou no início de seu primeiro mandato, em 2003. O petista terá o apoio de pelo menos 16 dos 27 governadores.


‘É um chamamento maduro e sincero feito por um presidente que está saindo de uma vitória expressiva nas urnas, que conta com o apoio majoritário dos governadores eleitos e que terá uma base sólida no Congresso Nacional’, afirmou.’





JORNALISTA
Carlos Heitor Cony


O homem da imprensa


‘A profissão de jornalista cria situações estranhíssimas, que me surpreendem ainda. Trago nos ombros alguma vivência no ofício, e já não era para me entregar às vãs perplexidades do mister que escolhi, ou melhor, que a vida me obrigou a escolher.


Este intróito é para reclamar de mim mesmo. O exercício do jornalismo tem me obrigado a dar pulos no tempo e no espaço. Anos atrás, amanheci com os gerânios vermelhos arrebentando nos peitoris da Piazza Navona.


No dia seguinte, amanheci na praça Tiradentes catando dois travestis que haviam brigado por causa de um concurso de fantasia. Pouco mais tarde, saí da comitiva que acompanhou Sua Santidade aos pagos brasílicos e fiquei trancafiado um dia e uma noite na cela sombria da Delegacia dos Entorpecentes, a fim de entrevistar um tal de Tonelada, que traficava drogas. O papa fazia outro tipo de tráfico, o sobrenatural. As diferenças entre os dois eram muitas. Mas o jornalista era o mesmo.


Na viagem que trouxe João Paulo 2º ao Brasil, quando o DC-10 da Alitalia penetrou no espaço brasileiro, pensei em minha mãe e senti pena de que ela não saboreasse o orgulho de ter um filho ali no céu -no céu mesmo, ao lado de um papa. Por analogia, senti o mesmo quando a porta do xadrez se fechou e me vi cercado de criminosos de vários tamanhos e feitios. Visualmente, eu não era diferente deles. Espiritualmente, talvez fosse até o pior deles. E voltei a pensar em minha mãe: se ela me visse aqui!


Isso tudo não teria importância se não houvesse um fato relevante para minha biografia. Casada com um jornalista, ela me aconselhava a ser tudo na vida, padre, baleiro de cinema, doutor, ascensorista, bandeirinha de futebol: ‘Qualquer coisa serve, meu filho, desde que não seja jornalista’.’


 


TV
Daniel Castro


Band aposta em sexo para levantar novela


‘A novela ‘Paixões Proibidas’, que a Band estréia dia 14, promete dar o que falar. Para conquistar o noveleiro das 22h, horário em que será exibida, o principal atrativo será sexo. A produção, que consumirá R$ 26 milhões com a missão de dar sete pontos no Ibope, tentará ocupar o vácuo deixado pelas novelas da extinta Manchete.


Em um clipe de apenas cinco minutos, exibido anteontem para jornalistas, foram apresentadas quatro cenas de relações sexuais diferentes que colocam no chinelo o striptease de Ana Paula Arósio em ‘Páginas da Vida’. As cenas não economizam posições sexuais.


O material, aliado ao conteúdo violento (tortura de escravos negros), impressionou jornalistas portugueses, preocupados com o horário de exibição em Portugal, pela RTP, sócia da Band na produção.


Na história, inspirada em três livros de Camilo Castelo Branco, há um padre que ama uma mulher e é amado por outra e um atleta sexual que trai até o melhor amigo.


Aimar Labaki, autor da novela, diz que ‘Paixões Proibidas’ terá sexo sempre que necessário. ‘O público das dez é adulto e pede sexo’, afirma.


Diretor de programação da RTP, Nuno Santos tentou amenizar. ‘Essa não é a imagem central da novela’, disse. Para Juca Silveira, diretor da Band, não há nada de mau gosto ou que ‘não seja apropriado para o horário de exibição’.


ENQUADRADO 1


O canal infantil Cartoon Network terá que exibir, a cada meia hora durante o bloco de desenhos ‘Adult Swim’ (23h), vinheta alertando que o material é impróprio para menores de 18 anos. A Net, por sua vez, terá que fazer a advertência em seu guia de programação.


ENQUADRADO 2


A medida foi imposta pelo Ministério Público Federal, em acordo fechado anteontem.


VISITA ILUSTRE


Contratada da Globo, Christiane Torloni era a celebridade mais assediada pela imprensa no lançamento de ‘Paixões da Vida’, antoentem no Rio. Ela foi dar uma força para o marido, Ignácio Coqueiro, diretor-geral da novela da Band, e para o filho, Leonardo Carvalho, o atleta sexual da história.


SEM ACORDO 1


O jornalista Boris Casoy vai recorrer de sentença judicial que condenou a Record a lhe pagar os salários dos 11 meses que restavam para o término de seu contrato quando fora rescindido, em dezembro. Casoy quer receber multa do contrato integral (48 meses).


SEM ACORDO 2


A Record tentou fazer um acordo para que Casoy não recorresse. Sem sucesso. ‘A Record é uma página virada de minha Bíblia’, diz o jornalista.


VIDA NOVA


Vencedor de ‘O Aprendiz 3’, o advogado Anselmo Martini começa hoje a trabalhar em Nova York _seu prêmio. Fará parte do departamento de planejamento estratégico da agência Wunderman, atendendo ao cliente Citibank.’






FUTEBOL
Toni Assis


‘Lei do silêncio’ faz titulares se esquivarem de entrevista


‘O São Paulo é líder do Brasileiro, com sete pontos de vantagem sobre seu mais próximo perseguidor, e apontado como virtual campeão a sete rodadas para o fim. Mas entrevistar um dos titulares da equipe tem sido tão difícil quanto derrotá-la.


Ontem, só o treinador Muricy Ramalho falou com os jornalistas. Quando consultados pela assessoria do clube, os jogadores se esquivaram das entrevistas.


Anteontem, a situação foi mais caótica. O zagueiro André Dias veio às pressas tapar o buraco na entrevista após negativa dos colegas -só Júnior foi falar com a imprensa. O problema é que Dias tem remotas chances de enfrentar a Ponte Preta amanhã.


A estratégia de se calar vem da comissão técnica, que tenta assim evitar polêmica. Ontem, o meia Souza foi repreendido quando solicitado. ‘Tomei uma dura.’


Diante da chiadeira dos jornalistas, hoje, no Morumbi, onde será o treino, pelo menos dois titulares serão obrigados a falar. Para amenizar a situação, Souza vai ser um dos escalados.’


 


INTERNET
Folha de S. Paulo


Reino Unido discute legalização de download


‘DO ‘INDEPENDENT’ – Para milhões de pessoas, essa é a única maneira de desfrutar de sua dose diária da música dos Arctic Monkeys, Razorlight ou até mesmo Girls Aloud. Colocar um CD no computador, copiar o conteúdo e transferi-lo para execução em um iPod. O método é ilegal, e supostamente custou centenas de milhões de libras à indústria da música. Agora, os ministros do governo britânico estão sendo instados a relaxar as leis de proteção aos direitos autorais, para que os fãs de música não possam ser processados por uma prática que se tornou comum. O Institute for Public Policy Research (IPPR), uma organização de pesquisa e análise, recomendou que a legislação do país seja reformulada para autorizar o ‘direito de cópia privada’ de conteúdo musical, e assim impedir que os usuários domésticos desse processo sofram ações judiciais sob acusações semelhantes às movidas contra os piratas de música em larga escala. A maioria dos britânicos admite ter copiado CDs em seus computadores para execução em outros aparelhos, como iPods e outros players de MP3, e uma pesquisa do Conselho Nacional do Consumidor britânico recentemente constatou que 60% dos adultos do país acreditam que fazê-lo seja perfeitamente legal. O IPPR afirmou que a revisão das leis de propriedade intelectual, que será iniciada em breve por uma comissão, deve atualizar as leis dos direitos autorais para levar em conta as maneiras pelas quais as pessoas ouvem música e assistem a filmes. Ian Kearns, diretor assistente do instituto disse que ‘a lei britânica de proteção aos direitos autorais está obsoleta. O setor de música vem enfatizando o combate à distribuição ilegal, e não os processos por cópias pessoais, o que representa o caminho certo. Mas não cabe ao setor decidir que direitos cabem aos consumidores. Isso é trabalho do governo.’


Tradução de PAULO MIGLIACCI’



Pai do Skype lançará serviço de TV on-line


‘Alguém que já inventou dois sucessos mundiais da internet ainda pode surpreender? Janus Friis, uma das mentes por trás do Kazaa e do Skype, acha que sim. Em entrevista a um jornal dinamarquês, o empreendedor afirmou que lançará um canal de TV pela internet.


O projeto, chamado Venice, promete oferecer conteúdo de qualidade sem cobrar nada dos usuários -os gastos com a manutenção do site seriam cobertos por anunciantes. ‘Apresentaremos o serviço ao público quando sentirmos que ele já está funcionando bem o suficiente. E isso vai demorar um ou dois meses’, disse Friis.


Um dos trunfos do Venice, segundo seu criador, é o conteúdo totalmente legal. Friis diz que já negocia a compra de direitos autorais com ‘um monte de gente’ e que, depois da experiência com o Kazaa, não quer mais confusão.


Se depender do poderio econômico da iniciativa, o canal de TV on-line tem boas chances de dar certo. No ano passado, o Skype foi vendido para o grupo que controla o site de leilões eBay por cerca de US$ 4,1 bilhões. Como comparação, vale lembrar que a Google comprou o YouTube por US$ 1,65 bilhão, no mês passado.


Friis ressalta, porém, que o mais importante é lançar o serviço no momento certo. ‘O ‘timing’ precisa ser perfeito. Do contrário, não vai funcionar. Nós tivemos sorte com o Kazaa e com o Skype. Agora esperamos que isso se repita com o novo projeto’.’


 


ADOÇÃO
Folha de S. Paulo


Entrevista de Madonna vai ao ar no Brasil


‘O canal a cabo GNT irá exibir na quarta-feira, dia 8/11, a entrevista em que Madonna fala à apresentadora Oprah Winfrey sobre a adoção do bebê africano David Banda. Exibido na semana passada na TV americana, o programa ‘The Oprah Winfrey show’ traz Madonna dizendo que a culpa do alarde sobre a adoção é de toda a mídia e que ela e seu marido, o cineasta Guy Ritchie, queriam adotar uma criança havia dois anos.’





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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 01 de novembro de 2006


GOVERNO LULA – PARTE 2
João Domingos


Na TV, Lula pede união nacional


‘Em pronunciamento em cadeia de TV ontem à noite, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conclamou os partidos de oposição e a sociedade a unir o Brasil em torno de uma agenda comum de temas de interesse geral. ‘É um chamamento maduro e sincero feito por um presidente que está saindo de uma vitória expressiva nas urnas, que conta com o apoio majoritário dos governadores eleitos e que terá uma base sólida no Congresso.’


O presidente disse que já tem experiência suficiente para saber que para fazer as coisas com a velocidade que o Brasil necessita é preciso contar com o empenho e a boa vontade de amplos setores da vida nacional, entre eles a oposição. ‘Nada vai mudar meus ideais e minhas convicções. Sei que o mesmo ocorre com os meus opositores. É esta diversidade de posições que enriquece a democracia. Mas isso não pode impedir que avancemos nos grandes temas de interesse coletivo.’


Em seguida, citou um exemplo de algo que precisa ser feito pelos dois lados. ‘É preciso agilizar a votação de matérias importantes que já estão no Congresso, como o Fundo Nacional de Educação Básica (Fundeb), a lei geral da micro e pequena empresa e a reforma tributária que vai tornar mais justa a cobrança de tributos e reforçar o equilíbrio federativo.’


O presidente disse ainda que é necessário, igualmente, criar um clima de profunda responsabilidade republicana para a discussão e votação de reformas importantes, a começar pela reforma política. ‘É preciso, também, a união das forças regionais em favor de projetos de desenvolvimento já em curso e que trarão progresso para todos os Estados do País.’


Lula disse que as eleições de domingo foram as mais transparentes e democráticas da história. ‘E isso não se deu por acaso. Ocorreu por causa do amadurecimento de nossas instituições, da postura dos candidatos e, muito especialmente, da ação e vigilância do nosso povo.’ O presidente lembrou que algumas pessoas afirmavam que a disputa presidencial iria dividir o Brasil – ‘e isso não ocorreu’. Para ele, a exposição franca dos problemas mostrou que ainda existem brasis profundamente desiguais. ‘E o quanto é urgente e necessário que as desigualdades sociais e regionais diminuam’, continuou.


No pronunciamento de 6 minutos e 10 segundos, Lula disse ainda que o Brasil tem uma enorme dívida social a resgatar, um grande atraso político a vencer e questões éticas a discutir e superar. ‘No que depender de mim, continuarei empenhado em que os órgãos de investigação e da Justiça apurem todas as denúncias de corrupção e que os verdadeiros culpados sejam punidos’.


Disse que pretende continuar fazendo um governo que conjugue uma política econômica correta e uma forte sensibilidade social. E afirmou que o Brasil tem todas as condições para crescer mais rápido.’



Gabriel Manzano Filho


Faltam reformas , diz ‘Economist’


‘A necessidade de um consenso, ainda não muito explicitado, mas necessário, entre governo e oposição foi o tema principal das análises feitas ontem por importantes publicações européias. O diário francês Le Monde, por exemplo, ressalta que a iniciativa, já proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ‘se mostra indispensável para que o Congresso, paralisado desde 2005, consiga votar a reforma política’.


Na mesma direção, o site da revista britânica The Economist diz que Lula ‘promete governar para os pobres, mas terá de buscar o consenso e as reformas’. E o jornal londrino Financial Times observa que ‘a retórica antiliberal do PT durante o segundo turno deixou preocupados muitos economistas, mas é provável que no segundo mandato ela apareça bem menos que no primeiro’.


É a revista alemã Der Spiegel, no entanto, que traz o retrato mais criativo e provocador do presidente. A começar pelo título – ‘Lula: herói da classe trabalhadora e queridinho de Wall Street’ -, a reportagem do Spiegel avalia que Lula ‘está colhendo as recompensas de sua política econômica ortodoxa’. Diz também que a inflação ‘está sob controle e a moeda nunca esteve tão forte’ e o rival Geraldo Alckmin ‘pareceu não oferecer alternativas convincentes’ ao eleitorado.


‘Até Wall Street torcia pela vitória de Lula’, prossegue seu autor, Jens Glüsing. Os bancos, ‘que o viam como uma espécie de Belzebu comunista’, agora o elogiam. ‘Sua promoção a queridinho dos mercados financeiros é uma ironia da história. Entre todos os críticos, foi exatamente Lula, o bicho-papão que metia medo no FMI, que pagou a dívida do Brasil.’ Para completar o quadro, a revista diz que as relações de Lula com o presidente americano, George W. Bush ‘estão melhores do que nunca’.


ALIANÇAS


No Le Monde, a importância do consenso é estampada no título – ‘Lula aposta numa coalizão com os social-democratas’. Uma frase do presidente a reforça: ‘Vamos fazer todas as alianças necessárias para trabalhar com tranqüilidade e votar os grandes projetos de que o Brasil precisa.’. O diário destaca ainda afirmação do ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro: ‘Nossa proximidade programática é maior com o PSDB do que com o Partido Liberal do vice José Alencar (que hoje está no PRB).’


Mas, pergunta o jornal, ‘até onde pode ir essa coalizão entre os dois partidos’ reformistas? ‘No mínimo, trata-se de evitar um ‘terceiro turno’ no Judiciário’.


O FT deu destaque aos investimentos e ao bate-boca sobre privatização. Relata que no segundo turno Lula ‘retomou a vantagem rapidamente ao acusar o PSDB como adversário de qualquer envolvimento do Estado na economia’. O jornal lembrou que vários setores foram privatizados nos anos 90 ‘e, embora o padrão de serviços públicos, como a telefonia, tenha melhorado muito, as tarifas aumentaram e a privatização continua impopular’.


A Economist afirma que essa questão ‘deixou mais azeda uma campanha já entediante’, marcada pelas acusações de que ‘uma pequena elite (o PSDB) estaria tentando tomar o poder através de um golpe’. É difícil, prossegue a revista, ‘curar o Brasil do síndrome de Estocolmo, um amor por um Estado que mantém a economia refém’. Lula, avalia, ‘terá de agir rápido para aplicar um bálsamo nas feridas que abriu. Se não o fizer, terá apenas a si próprio para culpar’.’





VEJA & POLÍCIA FEDERAL
Ana Paula Scinocca, Cida Fontes e Clarissa Oliveira


‘Veja’ acusa delegado de intimidar jornalistas


‘A revista Veja acusou ontem a Polícia Federal de intimidar três de seus jornalistas, no momento em que prestavam depoimento no inquérito que apura o vazamento, para a imprensa, de informações sobre investigações conduzidas pela corporação. Convocados para depor, como testemunhas, sobre reportagens feitas com base nos vazamentos, os repórteres Júlia Duailibi, Camila Pereira e Marcelo Carneiro foram tratados como suspeitos, segundo nota divulgada pelo Grupo Abril, que edita a revista. A PF negou intimidação ou coação aos jornalistas.


‘O relato dos repórteres e da advogada que os acompanhou deixa claro, no entanto, que foram cometidos abusos, constrangimentos e ameaças em um claro e inaceitável ataque à liberdade de expressão garantida na Constituição’, diz a nota divulgada no início da noite.


Os três jornalistas integram um grupo de cinco profissionais da Veja intimados a depor. Eles são autores de uma reportagem publicada na edição do último dia 18, apontando a existência de uma ‘operação abafa’ para desvincular o ex-assessor da Presidência Freud Godoy do episódio da compra do dossiê Vedoin por petistas.


Segundo a revista, o delegado Moysés Eduardo Ferreira teria impedido os jornalistas de consultar a advogada Ana Rita Dutra, que acompanhou os depoimentos em São Paulo. ‘Todo e qualquer aparte de Ana Dutra era considerado pelo delegado Ferreira como uma intervenção indevida’, diz a nota, acrescentando que o delegado teria, inclusive, ameaçado transformar a advogada em depoente. Ferreira também teria, segundo a Veja, negado que os jornalistas levassem cópias de suas declarações.


‘A estranheza dos fatos é potencializada pela crescente hostilidade ideológica aos meios de comunicação independentes’, afirma a revista. Em outro trecho da nota, a Veja acrescenta: ‘Quando a imprensa torna-se alvo de uma força política no exercício do poder deve-se acender o sinal de alerta, de modo que a faísca seja apagada antes que se torne um incêndio.’


Por meio de assessores, o delegado Ferreira disse que todos os procedimentos referentes aos três depoimentos transcorreram ‘dentro da normalidade’.


REPERCUSSÃO


O episódio acabou mobilizando parlamentares em Brasília – o caso virou inclusive tema de discursos na tribuna do Senado. A repercussão política também envolveu o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati, que disse ter entrado em contato com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, pedindo providências contra o ‘tratamento intimidador e grave’ dado aos jornalistas.


Tasso estava em São Paulo no momento do depoimento e ameaçou ir à sede da PF para acompanhar pessoalmente o que ocorria. Ele disse ainda ter avisado Bastos de que os jornalistas estariam sendo tratados de ‘maneira dura, num processo de intimidação clara’. Pouco depois, Bastos retornou o telefonema dizendo ao tucano que ficasse tranqüilo e prometendo contatar também a Veja. Tasso contou que telefonou ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para relatar o episódio.


Diante da mobilização dos políticos no Senado, a PF optou por divulgar também uma nota oficial sobre o caso. No documento, a polícia reiterou que os depoimentos foram devidamente acompanhados pela advogada do Grupo Abril e insistiu em que os questionamentos foram feitos ‘normalmente’ pelo delegado , tratando exclusivamente de temas relacionados à reportagem publicada pela Veja.


Ainda segundo o texto, os repórteres e sua advogada em momento nenhum ‘manifestaram contrariedade ou discordância com a condução do depoimento’.


A Polícia Federal disse ainda aguardar uma manifestação formal dos repórteres para tomar as providências cabíveis.’





INTERNET
O Estado de S. Paulo


O apetite sem fim do Google


‘O Google anunciou ontem a compra da JotSpot, empresa que desenvolve ferramentas conhecidas como ‘wiki’, que permitem aos usuários da internet modificar o conteúdo de alguns sites. A enciclopédia online Wikipedia é o maior exemplo de uso da ferramenta. A JotSpot também desenvolveu uma série de serviços, como planilhas de cálculo e editores de texto oferecidos pela internet. A compra, portanto, pode ajudar o Google em sua disputa para roubar usuários do pacote de aplicativos Office, da Microsoft.


O valor da compra não foi revelado, mas o negócio mostra mais uma vez a agressividade do Google na internet. A empresa comprou nos últimos dois anos cerca de 20 empresas, a maior parte delas tão pequena que a aquisição passou praticamente despercebida. Pelo menos quatro dessas empresas são especializadas em programas para usuários de telefone celular, o que mostra um dos caminhos que a companhia pretende seguir no futuro.


O site de compartilhamento de vídeos YouTube, comprado em outubro por US$ 1,65 bilhão, foi a mais cara e mais rumorosa aquisição do Google. Com a compra, o Google garantiu uma posição privilegiada no mercado nascente de anúncios de vídeo pela internet, onde ele tinha uma participação pequena comparada ao Yahoo e a novos concorrentes.


Antes, o Google já tinha anunciado a compra do Upstartle, o fabricante do programa de processamento de texto Writely. Depois, o Google juntou o Writely com uma planilha online desenvolvida internamente.


Com essa estratégia de aquisições, a empresa presidida por Eric Schmidt está conseguindo convencer os investidores que irá manter seu ritmo de crescimento. Hoje, o valor de mercado da empresa está por volta de US$ 145 bilhões. Suas ações estão cotadas a US$ 473, mas segundo analistas financeiros podem ultrapassar a barreira de US$ 600.


Parte dessa confiança vem da estratégia de expansão em seu negócio tradicional e na diversificação de fontes de receita. Seu negócio principal é a publicidade online, que vai gerar US$ 16 bilhões em 2006. Os analistas acreditam que a participação do Google deve crescer neste mercado, mas que a empresa também deve se expandir em operações de comércio eletrônico, que deve movimentar mais de US$ 105 bilhões nos Estados Unidos em 2006.


JOTSPOT


O anúncio da compra da JotSpot ocorreu na terça-feira por meio de duas postagens nos periódicos na web do Google e da JotSpot Inc., mas os termos da compra não foram divulgados. O diretor-presidente da JotSpot, Joe Kraus, disse que a empresa será capaz de penetrar na grande base de usuários da líder de busca na internet e nos robustos centros de dados capazes de comportarem qualquer crescimento.


‘Nossa intenção sempre foi tirar os wikis do território dos nerds e levá-los para o maior público possível’, disse Kraus numa entrevista. ‘Não existe público maior a ser alcançado do que aquele que você consegue atingir por meio do Google’.


As ferramentas wiki, popularizadas pela enciclopédia online Wikipedia, permitem que os usuários criem, modifiquem e até mesmo apaguem informações nas quais outras pessoas de um grupo trabalharam. Em julho, a JotSpot lançou uma nova versão para fazer páginas compartilhadas semelhantes a planilhas, álbuns de fotografias e outros softwares que as pessoas já usam. No passado, as ferramentas wiki geralmente imitavam páginas básicas da web ou documentos em processamento de texto – fotografias, por exemplo, podiam aparecer numa lista de anexos sem layouts em miniatura da página a ser impressa que antecipam a imagem antes de se fazer o download.


Kraus disse que o Google comungou do sonho de sua empresa de ajudar grupos a compartilharem informações e trabalharem juntos online. As empresas mantiveram conversações durante os últimos nove meses e ‘um completava o pensamento do outro’, disse ele.


COMPRAS DO GOOGLE


YouTube: Maior site de compartilhamento de vídeos da internet, foi comprado por US$ 1,65 bilhão, o maior valor gasto pelo Google em uma aquisição


Dodgeball: Fornecedora de serviços de relacionamento para usuários de telefone celular


Zipdash: Fornecedora de informações sobre tráfego para usuários de celular


Reqwireless: Desenvolve softwares que permitem navegar na web e usar o e-mail pelo telefone celular


dMarc Broadcasting: Empresa criou a plataforma que conecta automaticamente anunciantes às emissoras de rádio que veiculam seus anúncios


Upstartle: Criadora do processador de textos Writely, comprada para complementar o pacote ‘Office’ do Google


Android: Desenvolvedora de softwares para celulares


JotSpot: Desenvolve softwares que permitem às pessoas modificar conteúdos de páginas na internet (como a enciclopédia online Wikipedia)’





FUSÕES E AQUISIÇÕES
Nilson Brandão Junior


Civita rebate críticas da Net à TVA


‘O presidente do Grupo Abril, Roberto Civita, rebateu ontem as críticas do presidente da Net, Francisco Valim, à compra da TVA pela Telefônica. Ele negou que o acordo vá gerar concentração de mercado e disse que o negócio respeita a legislação e as regras do setor. ‘Isso é conversa de concorrente irritado, que prefere que o negócio fique só para ele’, afirmou Civita, em entrevista ao Estado.


O executivo participou, ontem, no Rio, do lançamento do Instituto Coca-Cola. Civita é um dos membros do conselho consultivo do instituto e foi entrevistado na saída do evento. Anteontem, o presidente da Net havia qualificado o negócio entre a TVA, do grupo Abril, e a Telefônica como ‘um ato de concentração que chega a ser ofensivo’, principalmente em São Paulo. O executivo da Net havia dito ainda que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) deve barrar o negócio.


‘Não vejo por que não (aprovar). Tenho a absoluta certeza que a montagem da operação e da associação está rigorosamente dentro não apenas da lei, mas de toda a regulamentação’, declarou Civita. O negócio, anunciado no domingo passado, foi visto no setor como reação à presença da mexicana Telmex, dona da Embratel, no controle da Net, que também tem as Organizações Globo no capital. No continente, Telmex e Telefônica disputam o mercado de telecomunicações.


Pelo acordo firmado, a Telefônica ficará com 100% das operações de MMDS (TV paga via microondas) em São Paulo, Rio, Curitiba e Porto Alegre e 19,9% da empresa de TV a cabo na capital paulista – o contrato de concessão impede que a operadora controle empresas de cabo na sua área de atuação. O negócio depende de aprovação da Anatel. Segundo Civita, o pagamento será feito ‘se e quando isso tudo for sacramentado’.


R$ 1 BILHÃO


A Telefônica não divulgou o valor da transação. O mercado estima que envolva perto de R$ 1 bilhão, incluindo negociação de dívidas em torno de R$ 800 milhões. A assessoria da operadora informou que a divulgação depende de anuência prévia da Anatel sobre o negócio. Embora pequeno comparado ao setor de telefonia fixa (faturou R$ 34,5 bilhões no semestre), o mercado de TV a cabo (R$ 2,6 bilhões) é relevante: permite o que os especialistas chamam de ‘triple play’, que é a oferta integrada de serviços de voz, dados e vídeo (telefone, internet de banda larga e TV a cabo).


‘Acho estranho que o pessoal da Net, que está associado à Telmex com tanta profundidade, com ligações tão íntimas e extensas, esteja se preocupando agora com um movimento perfeitamente legal, compreensivo e até necessário de associação entre a TVA e a Telefônica’, afirmou o presidente da Abril. Civita disse que o grupo está se posicionando como ‘provedor de conteúdo, em todas as frentes’.


O empresário disse que a idéia não é ‘investir maciçamente nos sistemas de distribuição’, o que é mais indicado para o que chama de ‘empresas globais e multibilionárias’. ‘Aquilo que nós sabemos fazer é criar, organizar e produzir conteúdo de alta qualidade. Não precisa só de palavras e texto. Palavras e imagens, impressas, também pode ser, em todas as outras plataformas. É isso que nós vamos fazer’, explicou.


O mercado de TV paga passa por uma consolidação e dificilmente a TVA, com 7% de participação, conseguiria se manter isolada. No mês passado, a Net anunciou a compra da Vivax, que, se aprovada, levará a empresa a ter 75% do mercado de TV a cabo e 45% do de TV paga. A Sky, que se uniu à DirecTV, tem 31% de participação.’





ME CONTE A SUA HISTÓRIA
Ana Paula Lacerda


Programa resgata memórias


‘Quando criança, dona Alvina Alvez era muito travessa. Pulava sobre as melancias da horta do pai e afundava os pés no geladinho da fruta só por pirraça. Mas a menina não era malvada, era apenas travessa; quando seus vizinhos ficavam em apuros com as chuvas que assolavam o interior do rio Grande do Sul, onde morava, ela remava e ia resgatá-los de bote.


A vida agitada de dona Alvina deu lugar à calma do asilo Spaan em Canoas (RS), onde mora há 13 anos. Aos 89 anos de idade, contou suas molecagens para um jovem estudante e sua vida se tornou a história que abre o novo volume da coleção Me Conte a Sua História.


A coleção – cujo terceiro livro chega este mês às livrarias – foi organizado pela Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica. ‘Quando começamos a pensar em neste projeto, procuramos saber quais as pessoas que recebiam menos auxílio dos projetos sociais. Vimos que havia muito poucos que trabalhavam com idosos’, conta Jorge Dias, diretor executivo de administração da Febrafarma.


Escolhido o público-alvo do projeto, ele resolveu incluir mais uma categoria: os estudantes. ‘Chamamos estudantes de jornalismo para visitarem os asilos e ouvirem a história destes idosos. Depois, eles escrevem seus textos, que são revisados e publicados no livro’, explica Dias. ‘Ao mesmo tempo que recuperamos a auto-estima do idoso, auxiliamos o estudante a colocar uma publicação no mercado. Muitos se tornam voluntários dos asilos.’


Todo o dinheiro arrecadado com a venda dos livros é doado aos 97 asilos apoiados pelo projeto. ‘O dinheiro e a questão material , como remédios e infra-estrutura, são importantes. Doamos remédio, mas o que os idosos mais pedem é companhia, não remédio’, diz Dias. ‘Por isso optamos por trabalhar com a auto-estima deles.’


Uma pesquisa realizada no Rio de Janeiro, durante a Campanha de Vacinação contra a Gripe, mostrou que a solidão, a perda do cônjuge ou de parentes e a falta de interação social fazem com que 24,6% das pessoas com mais de 60 anos sofram de depressão. Apesar de 76% dos quase 4 mil entrevistados considerarem ter saúde ‘boa’ ou ‘muito boa’, 62,7% apresentam hipertensão e 47,3%, artrite ou reumatismo. A contradição se dá porque ser saudável, para os entrevistados, não dependia da ausência de doenças. O que importava era ter companhia e independência; ou seja, não precisar de ajuda para se vestir, comer, ir ao médico, fazer compras.


‘Programas que valorizem os idosos são muito importantes, pois quanto mais se dá atenção àcontribuição que essas pessoas podem dar à comunidade, mais elas tentam ajudar’, diz Fernando Rosseti, secretário-geral do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), órgão que reúne instituições que praticam investimento social privado. Ele cita como outro exemplo de programa n nesta linha o prêmio Talentos da Maturidade, promovido pelo Banco Real. ‘Esse prêmio nasceu em 1999 como um estímulo à participação artística de pessoas com mais de 60 anos, e também para promover uma maior reflexão sobre o tema na sociedade.’ Os vencedores de cada categoria recebem um prêmio em dinheiro e um troféu.


‘A questão da auto-estima é central não só nas ações com idosos, mas também ao se trabalhar com comunidades muito carentes’, diz Rosseti. ‘Você deve trabalhar com eles e não para eles ou essas pessoas se sentirão ainda mais inferiorizados por terem de depender de outros.’


VISÃO


Segundo dados do do Gife, as faixas etárias mais atendidas por programas sociais são os jovens de 15 a 19 anos. Em seguida, aparecem os jovens de 20 a 24 anos, as crianças em fase escolar, as crianças em fase pré-escolar e só então os idosos.


‘Ainda existe uma falta de visão das empresas em relação aos idosos,’ diz Rosseti. ‘Primeiro, porque é uma faixa etária nova no mundo. Até pouco tempo as pessoas não viviam até os 80 ou 90 anos. Segundo, porque eles normalmente não são potenciais consumidores das empresas.’ Nos países onde a pirâmide etária é mais equilibrada, a porcentagem de projetos para idosos é maior.


Segundo uma pesquisa com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 39% dos projetos sociais de empresas brasileiras auxilia idosos. Porém, este número não aponta os projetos exclusivamente voltados para pessoas acima de 60 anos, e sim todos os projetos cujos idosos estão entre as pessoas auxiliadas (como projetos que atendem comunidades inteiras, por exemplo).


NÚMEROS


97


asilos em 23 estados brasileiros são atendidos pelo programa Me Conte a Sua História


76%


dos idosos vacinados contra gripe afirmaram ter boa saúde, apesar de a maioria apresentar também hipertensão e reumatismo. Porém, essas pessoas se consideravam saudáveis por terem independência e companhia


5° lugar


na lista de faixas etárias mais atendidas pelas empresas é ocupado pelos idosos.’






SBT
Keila Jimenez


O ‘ataque’ naufraga


‘O prometido ‘ataque’ de Silvio Santos, nova programação do SBT que estreou na segunda-feira, surtiu algum resultado em audiência, mas ainda está longe de resgatar, para a emissora, o segundo lugar no ibope do horário. O pacote do ‘ataque’, que reúne sitcoms da Warner, obteve em sua estréia 8 pontos de média, ante 11 da Record. A emissora de SS exibiu a série Casal Gay (It’s All Relatives), das 21h30 às 22h50.


Na segunda-feira anterior, o SBT havia registrado 5 pontos no horário. Os dados são de São Paulo, onde cada ponto corresponde a 54,4 mil domicílios.


A iniciativa da emissora, que tenta retomar os pontos perdidos especialmente para a Record, não parece ter impressionado o público.


Com as mudanças, o SBT Brasil obteve míseros 4 pontos de média. O jornalístico foi ao ar pouco antes de Casal Gay, às 21h10. Já Hebe se deu melhor. O programa, que vinha registrando média de 6 pontos, atingiu agora 8 pontos.


Até o resistente Chaves ficou aquém de seu potencial. A eterna reprise do seriado, que ganhou a faixa das 18 h às 19 h, registrou média de 7 pontos. Na hora do almoço, ele chega a render 11.’


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