Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Preso afirma que o PT
mandou comprar o dossiê


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 18 de setembro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Sônia Filgueiras, Vannildo Mendes e Ana Paula Scinocca


Preso diz à PF nome de petista que mandou comprar dossiê de Vedoin


‘O advogado Gedimar Passos deu, em depoimento à Polícia Federal (PF) de São Paulo, o nome da pessoa do PT que teria sido a responsável pela operação de compra do dossiê contra os candidatos do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, e à Presidência, Geraldo Alckmin, e o ex-ministro da Saúde, Barjas Negri, também tucano. Gedimar declarou que foi a mando de um homem chamado ‘Froude’ ou ‘Freud’ que recebeu a missão de pagar R$ 1,75 milhão por documentos e informações sobre o suposto envolvimento dos políticos no esquema de venda de ambulâncias superfaturadas.


Segundo ele, consta que o mandante da operação seria dono de uma empresa de segurança ‘no (eixo) Rio de Janeiro/SP’. Ele também afirmou que não sabe dizer se ‘Froude’ ou ‘Freud’ tem influência no PT, mas a polícia já trabalha na identificação do responsável. Há pistas que apontam para Freud Godoy, atual assessor do Gabinete da Presidência e ex-coordenador de segurança das quatro campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. É uma espécie de fiel escudeiro do presidente desde a década de 80. Segundo informações de funcionários do Diretório Nacional do PT de São Paulo, Freud é sócio de uma empresa de segurança que presta serviços ao partido. Ele foi procurado, mas não foi localizado ontem pelo Estado (leia ao lado).


Gedimar e o empresário petista Valdebran Padilha foram presos na sexta em São Paulo com R$ 1,75 milhão, em notas de real e dólar. Eles estavam em um hotel da zona sul e tinham agendado encontro com Luiz Antônio Vedoin e o tio dele, Paulo Roberto Trevisan, que teriam dossiê supostamente capaz de relacionar Serra e Alckmin com a venda superfaturada de ambulâncias para prefeituras. Vedoin é dono da Planam, empresa que vendia os veículos e era o pivô do chamado esquema dos sanguessugas.


Os dois deveriam verificar a autenticidade do material. Num depoimento prestado anteontem, eles contaram que o dinheiro para adquirir o dossiê veio de um representante do PT de São Paulo. Gedimar também descreve os dois emissários do PT que teriam entregado o dinheiro destinado ao pagamento pelo dossiê. Segundo o advogado, o primeiro R$ 1 milhão ele recebeu de um desconhecido no estacionamento do hotel onde estava hospedado na véspera de ser preso. O restante, de uma pessoa que se identificou como ‘André’.


Ainda conforme o depoimento do advogado, o PT teria tido dificuldades de levantar o dinheiro. Assim, teria trazido para a operação um órgão de imprensa que teria exclusividade na divulgação do material. O mesmo dossiê também seria entregue por Vedoin à Justiça Federal de Mato Grosso. No dia 14, o advogado do empresário protocolou na Justiça do Estado todos os documentos relacionados ao suposto envolvimento de um empresário ligado a Barjas, hoje prefeito de Piracicaba (SP), no esquema.


Gedimar disse não saber exatamente qual o órgão que participaria da operação de compra, se uma revista ou um grande jornal paulista. A reportagem com o dossiê envolvendo Serra e Negri foi publicada pela IstoÉ desta semana. A revista nega envolvimento.


O advogado contou que, originalmente, os Vedoin pediram R$ 20 milhões pelo material, mas, com o avanço das negociações, a soma caiu para R$ 10 milhões, depois para R$ 2 milhões e acabou sendo fechada por R$ 1,75 milhão. O processo de entrega dos documentos teve percalços. Segundo ele, os Vedoin entregaram informações velhas e um CD vazio aos jornalistas que foram para Cuiabá para a entrevista.


Gedimar contou que o pagamento de parte do dinheiro estaria condicionado ao recebimento da documentação pelos jornalistas. Já Luiz Antônio Vedoin só queria liberar a papelada após receber o dinheiro.


Os Vedoin teriam procurado o PT para vender os dados porque estariam com os bens indisponíveis. A documentação a ser oferecida seria volumosa: milhares de páginas e documentos que comprometeriam gravemente políticos de outros partidos e do próprio PT. O conteúdo envolveria não só sanguessugas, mas outros esquemas de corrupção. No entanto, Paulo Trevisan, tio de Vedoin, preso na operação , tinha em seu poder só uma pasta com fotos e registros em vídeo da cerimônia de entrega de ambulâncias da Planam com a participação de Serra.’


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Freud Godoy é próximo de Lula e da cúpula do PT


‘O segurança Freud Godoy, hoje assessor do gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, foi procurado, e não localizado, ontem pela reportagem do Estado. Próximo a Lula, Freud trabalhou como seu segurança na campanha presidencial de 2002. Antes disso já atuava como segurança para Lula, de quem era amigo em seus tempos de sindicalista.


Com a vitória de Lula, em janeiro de 2003, Freud foi nomeado para um cargo no gabinete pessoal do presidente na função de assessor especial, em 12 de março de 2003. Oficialmente, ele cuida da segurança da primeira-dama, Marisa Letícia, mas já foi visto cumprindo outras tarefas para o Planalto. No final de dezembro de 2002, ele acompanhava Lula em caminhadas na Granja do Torto, dias antes de sua posse.


Uma das tarefas do segurança é o controle de manifestações em atos de que Lula participa. Freud consta da relação de 974 militantes do PT com cargos na administração federal que descontam contribuição em folha para o partido. No PT, é tido como discreto e com circulação direta não só junto a Lula, mas também com dirigentes partidários.’


Vannildo Mendes


Nota nega declaração em jantar


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ontem, por meio de nota oficial, a notícia de que pretenda fechar o Congresso para implantar reformas que acelerem o crescimento econômico do País, caso seja reeleito. ‘Ao longo desses 44 meses de mandato, o presidente não só demonstrou absoluto respeito pela liberdade e soberania do Congresso como fez questão de prestigiá-lo e valorizá-lo com repetidos gestos de apreço’, afirma a nota, assinada por seu porta-voz, André Singer.


Segundo reportagem da jornalista Sônia Racy, publicada na edição de ontem do Estado, Lula teria mencionado essa hipótese durante jantar com um grupo de 35 empresários, na quinta-feira passada, em Brasília. O encontro foi organizado pelo ministro da Indústria, Comércio e Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e dele participaram, entre outros, representantes do Grupo Ultra, Paulo Cunha, da Gradiente, Eugênio Staub, da IBM, Rogério Oliveira, e do Unibanco, Pedro Moreira Salles.


Em dado momento, alguém perguntou a Lula por que o Brasil não conseguia crescer no ritmo da China. ‘Aqui é mais complicado’, respondeu o presidente. ‘A China é uma ditadura. Para fazer isso, só se eu fechasse o Congresso.’


Segundo a nota presidencial, é falso que Lula tenha feito, em qualquer momento, ‘afirmação que pudesse ser entendida como ameaça ou hipótese de restrição ao livre, pleno e soberano funcionamento do Congresso’. A nota ressalta ainda que a história de luta do presidente está comprometida com a democracia e, ‘por conseqüência, com a soberania e a independência dos poderes que constituem o regime democrático’.


‘Só o contexto eleitoral’, conclui a nota, ‘com reiteradas tentativas de causar confusão e dificuldades para a expressão informada da vontade popular, explica a divulgação de pseudonotícias como as que apareceram hoje’.


No encontro, segundo Sonia Racy, o presidente também fez – e ouviu – críticas ao atual Congresso e a avaliação de que o próximo pode ser pior. Ele teria comentado, ainda, sua disposição de baixar os juros em 10%, ainda antes das eleições – mas avisou que, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ele estava sendo ‘muito agressivo’ na questão.’


PROPAGANDA
Marili Ribeiro


Jogos para celular viram alternativa de publicidade


‘Empresas e agências de publicidade estão investindo numa forma de fazer propaganda pelo celular de uma maneira não tão direta: usando jogos. Desde o início do ano, a AlmapBBDO já tem quatro jogos associados a grandes marcas para downloads para o celular sem custo. ‘É um presente para o consumidor da marca’, diz Sergio Mugnaini, diretor de criação para internet da agência. Dois dos jogos foram desenvolvidos para a Pepsi em cima do personagem ‘Twistão’, um limão que representa o refrigerante também chamado Twistão.


Foram mais de 30 mil downloads desses jogos em três meses. Satisfeita com o resultado, segundo Mugnaini, a companhia repetiu a dose na época da Copa do Mundo, investindo no game ‘Limão na Copa’. ‘Mesmo com um tempo limitado para acessos, o game obteve 25 mil downloads junto ao público-alvo, os jovens consumidores.’


A operadora de telefonia Claro e a montadora Volkswagen foram outras empresas que embarcaram na possibilidade. ‘A mistura de ações em plataformas diferentes é uma tendência irreversível na propaganda’, diz Paulo Stephan, diretor da agência Talent. ‘No Festival de Cannes deste ano, de cada dez casos apresentados, nove tinham ações que incluíam o celular no trabalho de difundir marcas.’


O uso de jogos em celulares, na verdade, é uma tentativa ainda incipiente de publicidade via telefone. Para alguns publicitários, essa pode não ser a solução mais adequada. Pedro Cabral, diretor da AgênciaClick, que nasceu justamente para explorar o potencial da era digital, avalia que o momento ainda é muito experimental.


‘Jogar não está implícito na personalidade do telefone celular, mas sim em equipamentos como os videogames’, diz Cabral. No Brasil enfrenta-se ainda a barreira tecnológica: dos cerca de 92 milhões de celulares em uso no País, apenas 12 milhões podem baixar jogos.


O gamemaníaco, como se autodefine, e também diretor de criação da agência de propaganda interativa OneDigital, Cazou Vilela, lamenta que o potencial dos games em celular ainda não seja explorado como poderia, embora reconheça que não se trata de um problema do Brasil, mas global.


‘Há dois anos houve uma bolha com o surgimento de aparelhos próprios para baixar games, mas esse mercado não respondeu com a velocidade imaginada e a Nokia, por exemplo, tirou o celular NGame de linha’, conta ele, até hoje proprietário de um modelo NGame.’


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Além de ligar, assista à TV a cabo


‘Até o fim do ano chega ao mercado mundial, inclusive ao Brasil, um modelo da Sony Ericsson que avança mais um passo na convergência de mídias. Com capacidade de 4 gigabytes de armazenamento, o celular permitirá aos seus usuários, entre outras possibilidades, a de fazer downloads da programação de televisão paga. O produto é um desenvolvimento da linha Walkman, que já toca música digital e que a empresa fabrica no País.


O potencial apontado pelo mercado para aparelhos como esse está na possibilidade de ofertas casadas para o consumidor, ampliando ainda mais o uso do celular como meio de mídia. A empresa não confirma, mas especula-se que o novo aparelho poderia até liberar o acesso sem custo à programação da Sony Entertainment Television, empresa do conglomerado Sony.


Na Europa, existem modelos de celulares que recebem e transmitem a programação da televisão aberta. No Brasil, esse produto atenderia ao sonho de consumo dos noveleiros fanáticos, que, presos nos congestionamentos das grandes cidades, não correriam o risco de perder o capítulo em cartaz.’


MEMÓRIA / THÉLIO DE MAGALHÃES
Eduardo Muylaert


O cronista forense


‘Em memória de Thélio de Magalhães e homenagem a todos os cronistas forenses


Nem sempre o cronista forense é levado a sério. Ainda assim, a imagem que a maioria tem da Justiça é reflexo do trabalho desse intérprete privilegiado, que traduz para as ruas o que pode observar no interior dos tribunais.


Para surpresa de muitos na Academia Francesa, a revista Les Annales de setembro de 1955 abriu espaço para o gênero, entre um ensaio de André Maurois sobre Alexandre Dumas e outro de René Lalou sobre Benjamin Constant.


Sob o singelo título Le chroniqueur judiciaire, Pierre Scize faz um balanço da profissão que exerceu durante 35 anos. Trata-se de quase um testamento, pois o cronista do Figaro morreria pouco depois, em dezembro de 1956, quando cobria os Jogos Olímpicos de Melbourne.


Entre lembranças de julgamentos famosos e retratos de seus colegas de profissão, o cronista faz algumas reflexões que continuam atuais e ajudam a compreender esse verdadeiro ramo do jornalismo.


A história começa com o julgamento, em Versalhes, de Henri Désiré Landru, sedutor e assassino de mulheres, levado à guilhotina em 1922. Pierre Scize conta como então descobriu os usos e cerimônias do Tribunal do Júri e também a profissão que abraçaria e que consiste em narrar a emoção dos rituais e o desenrolar dos dramas, sem desprezar as pequenas histórias e anedotas que dão sabor e amplificam a dimensão humana dos personagens: ‘Havia primeiro o júri, que para mim era uma coisa extremamente emocionante. Eu me dizia que um poder misterioso residia nessas pessoas que tinham sido designadas pela sorte e sobre quem recaía uma magnífica autoridade que as colocava acima dos juízes profissionais e de sua experiência, o que é, quando se pensa nisso, uma coisa bem extraordinária, uma espécie de mistério parecido com o Mistério de Pentecostes. Por que um pequeno agricultor tem precedência em relação a um juiz nomeado por sua cultura e sua inteligência? É uma coisa que necessita de um ato de fé, mais do que de um ato de razão.’


Depois do cenário pomposo, o repórter mostra também o lado patético. Num desses momentos em que todos se felicitam na Corte, era cumprimentada uma dama que milagrosamente havia escapado de ser morta por Landru. O acusado se levanta e diz: ‘Permita, senhor presidente, que me associe à homenagem da Corte à senhorita Segret…’ Foram necessários 30 segundos para que o juiz se desse conta do absurdo e mandasse o réu ficar calado.


Apesar de ter executado várias vítimas, Landru nunca abandonou a polidez. No próprio dia da execução, ao ser acordado na cela pelo promotor de Justiça, atirou-se sobre a calça, vestiu-a, perfilou-se e indagou solenemente: ‘A quem tenho a honra de falar?’


Para o cronista forense não bastam a informação precisa, os detalhes. Esse é o primeiro dever do jornalista. Mas a pura informação deixava Scize indiferente. Importante, dizia ele, é a atualidade vista por meio de um temperamento. Prenuncia e aplaude, nos anos 1950, o desenvolvimento da informação pela fotografia, pelo rádio, pela televisão e até projetada na parede dos quartos e conclui: ‘Quando tivermos visto as imagens, restar-nos-á o prazer incomparável de comentá-las… As imagens darão talvez o aspecto do real, mas não explicam o real. Então virão os jornalistas, cuja tarefa magnífica é a de dizer por que tais e tais coisas aconteceram…’


Scize reconhece que a crônica forense é, para o jornalista, uma rubrica ingrata, sofrida e dura, mas observa que, ao mesmo tempo, é uma das mais lidas. Os ‘faits divers’, na França, e as páginas policiais, no Brasil, mantêm grande número de leitores fiéis. O crime é tão antigo como a humanidade e, desde a Bíblia, existe permanente curiosidade sobre as figuras de vítima, criminoso e juiz. Há verdadeiro fascínio pelos julgamentos, que atraem multidões, como os torneios esportivos. Nosso cronista se diz convencido de que não se trata de sadismo. Na imaginação do espectador, a aventura do acusado poderia ter sido a sua própria, ou de seus próximos, e felizmente não o foi.


Alguns erros judiciários ocorridos na França haviam sido denunciados com veemência pela crônica forense. Quando o jornalista contesta uma opinião que parece unânime, aí é que seu papel surge em toda a sua dimensão, mesmo que tenha de enfrentar a ira dos juízes ou do público.


Quando os fiéis se ajoelham na missa, afirma Scize, não é o padre que reverenciam, mas a hóstia consagrada. Assim a Corte, quando abre os trabalhos. Todos se levantam, é um momento solene. A reverência, entretanto, não é para os homens de toga, por mais excelentes e imparciais que sejam, mas para a importante função que estão desempenhando.


Também a crítica não é voltada para os juízes, mas para as instituições. A expressão veemente, para o cronista, é uma questão de temperamento. Ela só prova sinceridade e nada mais.


Pierre Scize conclui suas memórias com um apelo e uma profissão de fé na reforma da Justiça. Ele se dizia certo de que ela viria, e rápido. No entanto, lá e cá, a Justiça ainda não conseguiu equacionar muitos de seus problemas. Não vencemos a grande chaga da impunidade, nem conseguimos assegurar julgamento rápido e eficaz para todos.


Levando a sério nossos cronistas forenses, talvez possamos chegar mais perto da realidade judiciária e desvendar a imagem por ela projetada. Importa aplaudir as virtudes. Festejar os avanços. Mas, principalmente, descobrir e apontar as mazelas, para enfrentá-las de peito aberto. A história mostra que a atitude de fechar os olhos pode ser uma verdadeira bomba-relógio.


Eduardo Muylaert, advogado criminal e juiz efetivo do TRE-SP, foi secretário de Justiça e de Segurança Pública no governo Montoro e presidiu o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária’


PCC NO OBSERVER
O Estado de S. Paulo


Guerra do PCC é tema de 8 páginas do inglês ‘The Observer’


‘Jornal dominical britânico descreve São Paulo como uma cidade tomada pelo medo


A onda de violência desencadeada pelo Primeiro Comando da Capital foi destaque na edição de ontem do jornal britânico dominical The Observer. Em oito páginas do suplemento Observer Magazine, o repórter Tom Phillips escreve que São Paulo se transformou em uma ‘cidade do medo’, tomada ‘por um clima de guerra’. O governador Cláudio Lembo (PFL) contestou a reportagem (leia ao lado).


Sob o título Blood Simple – expressão usada pelo escritor americano Dashiell Hammett para descrever o estado emocional de pessoas submetidas a situações prolongadas de violência e nome do filme de estréia dos irmãos Joel e Ethan Cohen, traduzido como Gosto de Sangue -, o texto descreve as ações do PCC em três ondas de atentados, além de crimes como o seqüestro dos funcionários da TV Globo Guilherme Portanova e Alexandre Calado.


Para justificar a analogia com guerras, Phillips compara o número de vítimas de armas de fogo nos primeiros ataques com o de conflitos no Oriente Médio. Segundo o Observer, 492 pessoas morreram em São Paulo na semana mais violenta de maio. Nos 34 dias de conflito entre Israel e o Hezbollah, o número de civis mortos passou de mil. Desde a invasão do Iraque, em 2003, 117 soldados britânicos morreram naquele país. No Afeganistão, foram mortos 23 ingleses desde agosto.


Phillips começa o texto descrevendo uma ida ao Jardim Santo André, na periferia da zona leste da capital, onde entrevistou a viúva de um dos mortos em maio. Ele cita a tensão do motorista de táxi em dirigir naquela região, paralelamente ao relato da falta de condições mínimas de moradia. ‘Levamos duas horas para chegar aqui saindo do sofisticado centro de São Paulo, mas o contraste é tamanho que parece uma viagem de Liverpool Street (no centro financeiro de Londres) até a Cisjordânia’, escreve.


O inglês conta o encontro com um agente prisional, dias após os ataques de maio. ‘Vocês, jornalistas, só querem saber de defender os vagabundos’, disse o funcionário do presídio. Phillips manteve em português outra frase do agente: ‘Tem que matar mesmo, meu!’


GUERRA CIVIL


O repórter ouviu o promotor Márcio Christino e o presidente da ONG Nova Ordem, Ivan Raymondi Barbosa, chamado de responsável pela ‘campanha de marketing’ do PCC. Ao inglês, Barbosa disse que a associação ‘defende toda a população carcerária’, mas o promotor rebate. Diz que, ‘em mais de 30 mil horas de escutas telefônicas, não há um minuto nem 30 segundos de conversas sobre as condições dos presídios’. ‘Eles falam sobre quatro coisas: cocaína (quanto entrou, quanto saiu), morte, dinheiro e sexo’, afirmou Christino.


Phillips encerra a reportagem perguntando a Barbosa se e quando São Paulo verá novos ataques. ‘Hoje, amanhã, em meia hora. É incontrolável’, diz o presidente da Nova Ordem. ‘Qual será o próximo passo do PCC? Eu não sei. Eu temo uma guerra civil.’’


TELEVISÃO
Flávia Guerra


Por uma política efetiva para a televisão brasileira


‘Uma política pública efetiva, que regulamente e crie um plano de desenvolvimento para a TV pública brasileira. Este tema não foi o único a ser debatido durante o 1º Seminário Internacional de Televisão Pública, realizado na semana passada em São Paulo, na sede da TV Cultura, mas certamente foi a tônica de discussão crucial que permeia também o futuro de todo o setor de TV no País. ‘Já está na hora de a TV pública brasileira merecer mais atenção. É preciso tirar um retrato do setor, que me parece até hoje um mosaico, formado por vários segmentos, que trabalham muito bem isoladamente, mas que podem se unir cada vez mais’, declarou o ministro da Cultura, Gilberto Gil, que esteve presente na abertura do evento. Para debater e criar as diretrizes desta tão aguardada política, não há palco mais ideal que 1º Fórum Nacional de TVs Públicas, no fim deste ano, conforme também anunciou Gil.


O Fórum será realizado no fim do ano e é fruto de uma parceria da Secretaria do Audiovisual, da Casa Civil e da Presidência. ‘Neste encontro, vamos discutir, formular e levantar questões que permearão um plano de desenvolvimento oficial para a TV pública brasileira’, disse o ministro, que defende a necessidade de se rediscutir a lei que fundamenta a TV pública, datada de 1967, no auge da ditadura militar no Brasil. A legislação da época previa que não houvesse nenhuma aproximação da TV pública com a publicidade. O setor ficaria totalmente dependente da verba estatal. E as TVs privadas ficariam totalmente livres para operar como bem entendessem. Está mais do que na hora de revermos esse conceito’, declarou Marcos Mendonça, presidente da TV Cultura. Gil, ao ser questionado sobre o assunto, concordou. ‘De fato. Esta pode ser considerada a primeira vez em que se debate realmente o assunto no Brasil. É preciso que haja uma política pública e oficial para a televisão brasileira. Tanto a pública, educativa e estatal, quanto a chamada TV comercial. Esse é papel do Estado’, concluiu o ministro, que ganhou o apoio da platéia formada por profissionais da área.


‘É um momento importante para se discutir a política oficial. Temos uma legislação superada e anacrônica. O setor necessita deste debate para criar mecanismos de ordem legal, de sustentabilidade, de relacionamento com o público’, declarou Mendonça. As questões estratégicas incluem também o tema da sustentabilidade da TV pública não só no Brasil quanto no mundo. E esta discussão passa, obviamente, pelo espinhoso assunto da ‘Publicidade na TV pública. Sim ou não?’ ‘De todas as TVs internacionais que se apresentaram aqui, nenhuma tem como única fonte de financiamento o poder público, disse Mendonça. ‘Encontraram outras alternativas através de parcerias, taxações, como a RTP de Portugal, que, conta com a publicidade e recebe uma parte da taxa que cada residência do país servida pela eletricidade paga. São exemplos para nos mirarmos’, declarou Mendonça ao fim do último dia de debates, que contou com a participação preciosa de emissoras públicas internacionais, como a BBC, a RTP de Portugal e a francesa TV5.


Casos de sucesso como a Cl@ase, TV privada que está presente na maioria dos países da América Latina e que é exclusivamente destinada à educação, com várias linhas de assuntos como Telecurso, Matemática, Artes, Ciências e até programas ‘Para Pais’. Com programas que mesclam educação e um visual moderno e atraente, a Cl@ase contraria a regra de que TV privada é única e exclusivamente destinada à obtenção de lucros e publicidade e apenas entretém o espectador.


Por falar em lucro e publicidade, é crucial citar a exposição do presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci. Em sua linha de pensamento, Bucci complicou para explicar. ‘A TV aberta tem méritos imensos. Ajudou a confirmar uma identidade nacional em lugares tão distantes do Brasil que não se sentiriam mais brasileiros se não fosse a presença de uma TV. No entanto, estes méritos não garantem que funções necessárias do espaço público sejam preenchidas pela TV comercial. Estas TVs primam pelo entretenimento. E este é um campo extremamente importante. O negócio é capturar a audiência cativa – repare bem neste termo: cativa – para, então, vendê-la. O principal produto da TV privada não é o conteúdo que ela produz, mas sim sua audiência’, continuou. ‘A utopia da TV pública prevê que ela pode trabalhar um conteúdo que a TV comercial não pode trabalhar. A TV pública pode, em vez de vender e de tornar o público cativo, emancipar este público. A TV pública não pode ficar presa ao trinômio ‘adesão, obediência e coesão’. Em lugar de vender, pode tornar o público livre’, concluiu.


Desafio proposto. Meta a ser perseguida. Mark Young, que representou a BBC, tem muito o que contribuir com o assunto. ‘Antes, nossa meta era informar, educar e entreter. E achávamos que não era possível fazer as duas coisas juntas. Hoje, aprendemos que não podemos nos distanciar do nosso público e aprendemos a entreter e, ao mesmo tempo, educar e informar.’ Por fim, o Seminário se encerra semeando uma discussão que alerta para a importância estratégica e o papel que uma TV pública deve ter. Que o I Fórum possa ser palco do esclarecimento de várias destas questões.’


Keila Jimenez


Record estica novela


‘Virou mania na Record esticar novelas. Depois de Prova de Amor, que parecia não ter fim, Bicho do Mato deve ganhar um estica-e-puxa. A trama das 8 da Record pode passar a marca dos 200 capítulos. Tudo porque a rede precisa de tempo para produzir a sucessora no horário, folhetim que marca a estréia da autora Ana Maria Moretzsohn (ex-Globo e ex-Band) no canal.


Com o título provisório de A Estranha, o folhetim será dirigido por Ivan Zettel e deve começar a ser gravado em janeiro. A história é atual, se passa no Rio de Janeiro, em condomínios da Barra da Tijuca, e tem estréia prevista para março de 2007. Por isso, Bicho do Mato deve ser esticada até lá.


Entre os atores cotados para o elenco estão Lucélia Santos, Paloma Duarte, Mônica Carvalho, Maytê Piragibe e Leonardo Brício, todos atualmente no ar em Cidadão Brasileiro.


A Estranha vem para tumultuar mais o RecNov, complexo de estúdios da Record no Rio, que já sofre com o overbooking de produções. Além de Bicho do Mato, o local abrigará nos próximos meses as gravações de Alta Estação e Vidas Opostas, futuras novelas do canal.


Entre-linhas


Agora é para valer. Luana Piovanni fechou na semana passada contrato com a Globo para atuar em Pé na Jaca, próxima novela das 7 da casa. O acordo vale só por esse folhetim.


Glória Maria já tem data para voltar ao ar no Fantástico: 1.º de outubro.


Na geladeira da Band há tempos, Márcia Goldschmidt não deve retornar ao ar tão cedo. Há quem aposte que a rede só está esperando o seu contrato acabar.


Vai demorar para o passado da irmã Lavínia (Letícia Sabatella) vir à tona em Páginas da Vida. Com a chegada de seu grande amor do passado, Diogo (Marcos Paulo), a freirinha não vai conseguir sustentar suas mentiras por muito tempo.


Além de barbas e apliques de longas madeixas na caracterização do elenco, o visual de uma atriz chama a atenção pela magreza na minissérie Amazônia: Vera Fischer. A atriz perdeu mais de 10 quilos.


Na lista dos acessórios mais procurados pelo público na Central de Atendimento da Globo estão: as botas pretas de Leona (Carolina Dieckmann), uma bolsa com estampa de cobra de Milu (Marília Pêra) – ambas de Cobras & Lagartos -, e um colar de estrelas de Carmen (Natália do Vale), em Páginas da Vida.


Para não perder a tradição, a turma da MTV já se vê sob pressão dos quase famosos e anônimos em busca de convites para a festa do VMB, o Vídeo Music Brasil, dia 28, no Credicard Hall.’


INTERNET
Kátia Arima


São Paulo entra no mapa de cidades Wi-Fi


São Paulo já tem uma boa estrutura que permite a quem tem um notebook ou computador de mão adequado acessar a internet sem conectar nenhum fio: há mais de 600 pontos de acesso Wi-Fi, também chamados ‘hotspots’, na cidade.


Já existem pontos de conexão sem fio nos aeroportos, no Terminal Rodoviário Tietê e em diversos bares, restaurantes, shopping centers, hotéis, livrarias, academias e universidades. Até lojas de pneus oferecem Wi-Fi para os clientes. O objetivo é atrair clientes.


Para verificar a qualidade dos serviços de Wi-Fi, o Link visitou 45 pontos de acesso sem fio à internet em SP. Um deles foi o aeroporto de Congonhas. Pelo menos cinco pessoas estavam usando o serviço ao mesmo tempo na praça de alimentação, na manhã de segunda-feira. O consultor de TI Renato Mota Lázaro, perdeu o vôo, mas aproveitou para trabalhar. ‘Já chequei e-mails e conversei com o pessoal do escritório pelo mensageiro.’


A maioria dos hotspots está conectado às redes de duas empresas concorrentes: a Telefônica, que oferece o Speedy Wi-Fi, e a Vex, responsável pela estrutura utilizada por vários provedores que vendem conexão Wi-Fi, como a Claro e o UOL.


Para usar a rede Wi-Fi nos hotspots, é preciso pagar pelo Speedy Wi-Fi ou pelos serviços de parceiros da Vex. Há vários tipos de planos, que podem ser contratados online.


Mas atenção: se você assinou o Speedy Wi-Fi, não conseguirá se conectar em um hotspot da Vex. Antes de decidir qual serviço utilizará, verifique qual é utilizado nos locais Wi-Fi que costuma freqüentar.


O teste do Link concluiu que, quando funciona, o serviço Wi-Fi é prático e rápido. Porém, se existe algum problema, respire fundo: o suporte técnico tanto da Telefônica quanto dos serviços ligados à Vex pode levar muito tempo para fazer o diagnóstico. Não vale a pena esperar: se possível, procure outro ponto de acesso.’


***


As aventuras de um usuário de Wi-Fi


‘Enquanto os mecânicos trocavam os pneus dos carros, na Della Via Pneus, no Itaim, eu tentava conectar meu notebook à internet sem fio, usando a tecnologia Wi-Fi.


A experiência fazia parte do teste que propus ao Link: verificar como funcionava parte dos diversos pontos de acesso (hotspots) espalhados pela cidade de São Paulo.


A intenção era checar a qualidade do serviço, oferecido pela Telefônica ou por provedores Wi-Fi associados à Vex.


Na peregrinação a 45 hotspots (três deles tinham duas redes), foi possível se conectar à internet e navegar perfeitamente em 30 pontos. Nada mais prático do que abrir o notebook e, com poucos cliques, ter acesso à internet.


Tudo é maravilhoso quando a rede está perfeita. O drama surge quando algum problema impede a conexão ou a autenticação. Em 6 pontos de acesso, não foi possível navegar inicialmente, somente após contato com o suporte técnico.


O mais frustante é não conseguir navegar, ligar para o suporte pelo telefone celular, perder um tempão e, no final, não ter sucesso. Em 11 locais visitados, o teste não deu certo.


Uma das decepções aconteceu justamente na Della Via Pneus. A loja oferece uma sala agradável, com ar-condicionado, TV de plasma e rede Wi-Fi, para os clientes aguardarem a realização do serviço no carro.


Sem conseguir me conectar, entrei em contato com o suporte técnico da Telefônica. Após cerca de meia hora no celular, o técnico concluiu que havia algum problema com um equipamento do estabelecimento e que não seria possível usar o serviço. A ligação foi gratuita, mas a canseira custou caro.


Tanto o suporte técnico da Vex como da Telefônica geralmente levam bastante tempo para diagnosticar problemas. Primeiramente, eles costumam verificar se há algum problema no seu computador. Depois, checam remotamente se a antena Wi-Fi do local está funcionando. Aí fazem contato com o funcionário do estabelecimento e checam detalhes. Todo esse processo não leva menos de 20 minutos.


A conclusão é que, infelizmente, quando está difícil de se conectar, pode ser mais rápido simplesmente procurar outro hotspot próximo. Por isso, alguns dos melhores locais para usar o Wi-Fi são os shopping centers, onde em geral há mais de um ponto de acesso e, às vezes, um está funcionando e outro não.


O analista de TI Ivan Siqueira costuma usar hotspots no Morumbi Shopping e no Market Place. ‘Às vezes é necessário andar um pouco dentro do shopping até encontrar um sinal bom’, diz. Usuário da tecnologia há mais de dois anos, ele acha que houve uma evolução na qualidade do serviço. ‘Hoje as lentidões são menos freqüentes’, avalia.


Nem todos os hotspots são abertos ao público em geral. É o caso, por exemplo, de escolas, em geral restritas aos alunos.


A rede Fran’s Café é uma boa opção para quem precisa se conectar à internet no meio da correria do dia a dia. Segundo o gerente financeiro da empresa, Vagner Dezan, 80% dos cafés já têm Wi-Fi (oferecido pelos provedores associados à Vex).


No teste do Link, foi possível acessar a internet sem dificuldades no Fran’s Café do Cambuci. Já na cafeteria que fica dentro da Fnac da Avenida Paulista houve problemas, mas o suporte técnico da Vex identificou que eles estavam na antena e, após cerca de 30 minutos, o serviço funcionou. No Fran’s Café da Aclimação, não foi possível usar o serviço.


Já no Fran’s Café do Shopping Pátio Higienópolis, a atendente barrou o acesso quando eu disse que só iria checar uns e-mails. Por isso, não se esqueça de considerar os gastos do cafezinho ou da refeição, pois os funcionários nem sempre aceitam que você fique no local sem consumir alguma coisa.


Na maioria das vezes, os funcionários dos estabelecimentos nem sabem dizer se há Wi-Fi no local. Às vezes os equipamentos são esquecidos: na sala de embarque da Viação Cometa, no Terminal Rodoviário Tietê, onde há acesso da Telefônica, não era possível usar o serviço. Depois de mais de 20 minutos de conversa com o suporte, o técnico descobriu que o equipamento simplesmente estava desligado.


O notebook utilizado no teste foi emprestado pela HP e as senhas para acesso foram fornecidas pela Vex e Telefônica’


Ricardo Anderáos


Perdoa-me por me traíres


‘Paulo estava comodamente em sua casa, numa noite de domingo, curtindo um DVD que pegou na locadora do bairro. No momento de maior tensão do filme, tocou a campainha. Era Carlos, um amigo que ele não via há algum tempo. Ele estranhou a visita inesperada, Parou o filme praguejando e foi abrir a porta.


Eles começaram a conversar ali mesmo, mas logo em seguida chegaram homens armados. A casa foi invadida e os dois foram amarrados no banheiro, enquanto os ladrões limparam a residência. O prejuízo foi total.


No dia seguinte, no trabalho, Paulo contou o caso para os colegas e resolveu mostrar uma foto do amigo que lhe trouxe todo aquele azar. Acessou a página de Carlos no Orkut e, quando começou a olhar as imagens que estavam lá, teve um choque: um dos ladrões aparecia abraçado ao amigo da onça! Tinha sido tudo uma armação. A foto foi impressa e levada para a polícia. Carlos está respondendo a um processo por cumplicidade.


Rosa trabalha no departamento de marketing de uma grande empresa e estava selecionando candidatos para um novo cargo na área de atendimento ao cliente. Depois de diversas entrevistas, finalmente encontrou um rapaz promissor. Educado, bom currículo, motivado, parecia talhado para a função.


Rosa já tinha encaminhado sua ficha para o departamento de recursos humanos concretizar a contratação quando, depois de atualizar sua própria página no site de relacionamentos, resolveu ver se o futuro funcionário tinha uma página por lá. Ficou pasma com o que encontrou.


Na foto que ele escolheu para seu perfil o gentil rapaz fazia um gesto obsceno. Pior: ele integrava várias comunidades racistas. Numa delas, Rosa leu barbaridades que o rapaz escreveu sobre o holocausto nazista. Desnecessário dizer que a contratação foi cancelada no minuto seguinte.


Marcela está vivendo um inferno com sua separação. Apesar de ter uma filha pequena, decidiu abandonar o marido depois de inúmeras traições e promessas quebradas. O caso, é claro, foi parar nos tribunais. E uma das peças centrais em sua luta para não perder a guarda da criança são exatamente as páginas do ex-marido em sites na internet, de onde se depreende que o sujeito era um pervertido.


Fiquei sabendo dessas histórias através de amigos comuns que tenho com essas pessoas. Os nomes são fictícios, para preservar os envolvidos, mas os relatos são, na medida do possível, fiéis. O fio condutor, o que realmente interessa em cada uma delas, é a cegueira aparente dos envolvidos. Será que não sabiam das conseqüências de revelar facetas nefastas de suas personalidades na praça pública de nossos tempos, que são os sites de relacionamentos?


Navegando pelo Orkut, pelo MySpace ou por nossa comunidade no site do Link fico com a impressão de que o inconsciente individual borbulha nesses espaços coletivos. Será que essas pessoas não imaginavam que os textos e fotos que colocaram online seriam vistos por conhecidos? Ou será que, intimamente, sabiam do contrário, mas tinham um desejo inconsciente de afirmar suas mazelas em público?


Nos contos de fadas, o mal está encarnado em um personagem que prejudica os outros. Nas tragédias gregas, nos romances clássicos e na ficção de qualidade, os protagonistas muitas vezes sofrem as conseqüências do mal e da violência que reside dentro de cada um de nós e que, ao ser denegado, irrompe incontrolavelmente. Ah, se Nelson Rodrigues pudesse ver o Brasil virado do avesso no Orkut. É possível que mesmo ele ficasse encabulado.’


Pedro Doria


Conectado no campo de trigo


‘Ao longo do último mês, atravessei a Espanha a pé pelo norte do país, começando o trajeto no alto dos Pirineus e terminando na Galícia, em território celta.


É o Caminho de Santiago, uma das rotas de peregrinação mais antigas do mundo: utilizada por druidas nos tempos bárbaros, por católicos na Alta Idade Média, soldados no período da expulsão dos mouros, místicos, turistas, cristãos diversos e repórteres que nada têm com isso nos tempos correntes.


A grande promessa da tecnologia é a da conectividade: não importa onde você está, terá acesso a todo o mundo. Saí do Brasil com notebook, câmera digital e telefone celular na mochila de peregrino e a incumbência de escrever diariamente um blog que documentasse a caminhada para um portal. Foi a oportunidade perfeita de testar a promessa.


Uma coisa é a total conectividade com a rede de comunicação e informação que podemos ter, desde que paguemos o preço, dentro de casa ou no escritório. Outra distinta é a conectividade móvel: não importa onde estejamos, com o equipamento certo teremos acesso ao que quisermos.


A conectividade móvel total virá. A questão, basicamente, é quanto tempo demora. Nesse sentido, a Espanha é um bom cenário para testes. É de lá uma das principais empresas de telecomunicação do mundo – a Telefónica – e o país está na Europa Ocidental, um dos cantões mais endinheirados e com melhor infra-estrutura do mundo. Por outro lado, o norte da Espanha é mais pobre que o centro e o sul, é mais agrícola que industrial.


Uma boa conexão é impossível. Não que ela precisasse estar no ar, sem fio – de forma alguma. Acesso serve, também, se há um cybercafé que permita ao sujeito ligar seu computador por cabo.


Para a boa conectividade, é importante ter acesso à internet pelo seu computador. Não serve um terminal com banda larga com navegador e nada mais. Isto é quebra galho. Pelo seguinte: o computador pessoal é o centro da vida digital de cada cidadão. É onde ficam nossas fotos, as músicas em nossos players de MP3, nosso correio eletrônico, é onde gravamos a informação que colhemos em pesquisas várias para acesso futuro.


Então, se estamos em férias e queremos enviar a versão moderna do cartão postal – uma foto nossa tirada há pouco – é preciso acesso decente, preferencialmente à nossa máquina. Se nos encantamos com um grupo de rock local e compramos uma pilha de discos, para passar para o iPod é preciso novamente internet, a não ser que alguém queira gastar tempo digitando o nome de cada música.


Mas isto fica para o futuro: mesmo num dos países de maior PIB da Europa e sede de uma das maiores empresas de telecomunicações do mundo, acesso não é assim, não. Não no interior. Não há pontos de WI-FI, cyber cafés que permitam acesso a qualquer máquina simplesmente não existem. E não importa quão recheada pode estar a carteira do freguês.


Tudo verdade se pensamos naquilo que temos em casa e na capacidade tecnológica com a qual estamos acostumados. Porque há uma exceção: o celular. Celular digital GSM funciona no campo de trigo mais remoto, no meio de uma finca vinícola entre parreiras ou de qualquer aldeia medieval com 15 casas e uma igreja.


E se o celular funciona, acesso (caro) à Internet é possível – o celular faz o papel de modem para o computador. Só que não adianta querer fazer transferências de um punhado de megabytes. O acesso via telefone móvel é lento. Por outro lado, as mensagens SMS funcionam às maravilhas e possibilitam estar em contato com gente distante a qualquer momento sem gastar a fortuna de uma chamada internacional via celular.


As grandes surpresas ficam por conta do envio de fotomensagens – ou mesmo de videomensagens (conhecidas como MMS). As fotografias são de baixa qualidade e não se prestam lá muito bem à impressão. Mas não servem para isso. Servem para dividir com alguém querido algo de inusitado que acabou de se ver – e não importa se há um Oceano Atlântico separando. Em menos de cinco minutos, o aparelho apita com uma resposta carinhosa.


Isto é tecnologia, é para o que serve: para manter contato. E é curioso que sejam os celulares, a não os computadores, que estejam cumprindo a promessa da conectividade total não importa onde.’


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 18 de setembro de 2006


ELEIÇÕS 2006
Plínio Fraga


Videntes, jornalistas, vigaristas


‘Videntes e jornalistas são sucessores do profeta. Videntes e jornalistas são figuras complementares, numa sociedade em que o tempo também se tornou mercadoria -nem o futuro comporta mais a grande pergunta do destino do homem, nem o passado desfruta do mesmo prestígio como consolidação da experiência.


A correlação acima, estranha, mas perspicaz, está em ‘O Último Jornalista – Imagens de Cinema’ (Estação Liberdade, 1997), da ensaísta Stella Senra. É um achado que surge na análise do filme ‘O Tempo é uma Ilusão’, dirigido em 1944, por René Clair.


O filme de Clair é sobre um jornalista que obtém sucesso mediante uma vigarice temporal. Ele recebe o jornal do dia seguinte na véspera, o que o permite estar no local onde ocorrerão as notícias. O momento de conflito surge quando decide usar o jornal do dia seguinte para ganhar dinheiro nas corridas de cavalo. Esse exemplar traz também o relato da sua morte em um assalto. Como o filme é uma comédia, descobre-se que o redator do obituário havia errado -o ladrão, com os documentos do jornalista, foi quem tinha sido morto.


‘Os videntes e jornalistas são profissionais de uma mesma espécie, que recorrem à intuição para sondar o tempo em busca dos acontecimentos. Sob a forma da previsão ou da notícia ambos comerciam com o tempo’, explica Senra.


Parte do R$ 1,7 milhão encontrado com um petista para a compra de dossiê contra Serra veio de uma revista. Não é o viés mais importante dessa história que une mensalão e sanguessuga, como numa comédia burlesca inverossímil, mas seria de todo útil que viesse à luz essa negociata. É quando videntes e jornalistas, mesmo que não todos, complementar-se-iam na vigarice remunerada.’


Renata Lo Prete


Entrevista contra Serra foi paga pelo PT, afirma preso


‘O advogado e ex-policial federal Gedimar Pereira Passos, preso sexta-feira em São Paulo, afirmou à PF que foi ‘contratado pela Executiva Nacional do PT’ para negociar com a família Vedoin a compra de um dossiê contra os tucanos, e que do pacote fez parte entrevista acusando José Serra de envolvimento na máfia sanguessuga.


Em seu depoimento, ao qual a Folha teve acesso, Gedimar declarou ter entregue R$ 1 milhão do total que seria pago aos donos da Planam (cerca de R$ 1,7 milhão) a Valdebran Padilha da Silva, intermediário da família no negócio, ‘no momento em que foi iniciada a entrevista entre os Vedoin e a imprensa’ em Cuiabá (MT).


Os Vedoin, de acordo com Gedimar, pediram inicialmente R$ 20 milhões por ‘informações graves’ que envolveriam ‘não só políticos de outros partidos, mas também do próprio PT’, e referentes ‘não apenas ao caso sanguessuga’. O valor, entretanto, ‘estava fora do alcance do partido’.


A negociação teria prosseguido até baixar a R$ 2 milhões. Como mesmo essa quantia foi considerada elevada, o PT, segundo Gedimar, ofereceu ‘a uma importante revista de circulação nacional sociedade na compra das informações’.


Ele disse não saber se a revista seria ‘IstoÉ’ -que na sexta-feira chegou às bancas com entrevista exclusiva em que Luiz Antonio Vedoin acusa Serra-, ‘Época’ ‘ou mesmo um grande jornal de São Paulo’.


Gedimar contou à PF que ‘houve um acordo entre o PT e o órgão de imprensa’ e que chegaram a reunir ‘pouco menos de R$ 2 milhões’.


Segundo o depoimento, ‘ficou acertado que uma equipe de jornalistas se deslocaria até Cuiabá para realizar entrevista exclusiva com os Vedoin’, que na ocasião apresentariam ‘um arsenal de documentos’.


Os papéis, diz Gedimar, foram mostrados aos jornalistas, mas ficaram com Vedoin, pois ‘só seriam entregues mediante pagamento’. As informações, no entanto, se revelaram decepcionantes. Resumiam-se ‘a fatos já de conhecimento da sociedade em geral, de pouca importância para o PT e para o órgão de imprensa’.


Interessado em receber o restante do dinheiro, Vedoin teria entregue aos jornalistas um CD-ROM que supostamente conteria as informações prometidas. Mas ‘os jornalistas, ao chegarem à sua base, verificaram que o CD nada continha’.


Gedimar disse acreditar que, nesse momento, houve uma ‘troca de informações’ entre o PT e o órgão de imprensa ‘no sentido de de reverem a situação’, uma vez que R$ 1 milhão já havia sido entregue ao representante dos Vedoin.


O depoimento de Valdebran, também lido pela Folha, indica que a decepção dos ‘compradores’, aliada às manobras de Vedoin para satisfazê-los, foi a responsável pela permanência prolongada de Gedimar e Valdebran no hotel paulistano onde acabaram presos pela PF na madrugada de sexta-feira.


Valdebran, que já havia recebido R$ 1 milhão, ficou de apresentar na quinta-feira os documentos, mas estes não chegaram de Cuiabá. Gedimar o questionou ‘sobre o CD vazio’. Na quinta, ‘por volta das 23h’, Valdebran telefonou para Luiz Antonio Vedoin, pois ‘estava preocupado’ por permanecer com todo o dinheiro no hotel.


Segundo Valdebran, a negociação dos Vedoin com o PT já havia começado quando ele entrou na história, como uma espécie de facilitador, dada sua ‘credibilidade’ perante a família. Ele disse que não procurou, e sim foi procurado, por ‘pessoas ligadas ao PT’, as quais, à exceção de Gedimar, não são nomeadas no depoimento. Valdebran declarou ter vindo a São Paulo porque na cidade ‘estavam os recursos’ para concluir o negócio.


Gedimar não identificou que integrantes da Executiva Nacional o teriam ‘contratado’. Sobre o pagamento propriamente dito, afirmou ter sido feito ‘a mando de uma pessoa de nome Froude ou Freud’, que teria ‘uma empresa de segurança’ no Rio de Janeiro e/ ou em São Paulo.


Do total que seria entregue a Valdebran caso tudo tivesse dado certo, Gedimar disse ter recebido R$ 1 milhão na manhã de quinta, ‘por volta das 6h, no interior do estacionamento do hotel Ibis, de uma pessoa branca, com aproximadamente 45 anos, cabelos negros carapinha, que não declinou o nome e que estava no interior de um táxi’. A segunda parte, na noite do mesmo dia, ‘por volta das 23h30, de uma pessoa de nome André, de cor branca, com aproximadamente 45 anos’.


A leitura dos dois depoimentos à Polícia Federal desfaz a impressão inicial de que Gedimar e Valdebran -o primeiro simpatizante do PT e autodeclarado advogado do partido, o segundo filiado à sigla, ambos baseados em Cuiabá- formariam uma dupla, até porque foram presos juntos.


Na verdade, Gedimar era o pagador, e Valdebran, hospedado no quarto ao lado, o recebedor pelos Vedoin.’


***


Na ‘IstoÉ’, os Vedoin citam Serra


‘Na entrevista à ‘IstoÉ’, os empresários Darci e seu filho Luiz Antonio Vedoin procuraram vincular o nome do ex-ministro da Saúde e candidato tucano ao governo de SP, José Serra, a máfia das sanguessugas.


Indagado se Serra -então à frente da pasta da Saúde- sabia que, nos bastidores de atos de entrega de ambulâncias, havia esquema de propina, Luiz diz: ‘Era nítido a todos’. Ambos sustentam que a eficiência do esquema era maior com FHC.


‘Entre 2000 e 2002. Quando o Serra era ministro, foi o melhor período. As coisas saíam muito rápido’, diz Darci. Luiz afirma: ‘No melhor período, quando o Serra e o Barjas eram os ministros, a bancada do PSDB conseguia agir com maior rapidez.’’


Mauro Paulino


2º turno: a missão


‘SETE MILHÕES de votos. É o que a oposição precisa tomar de Lula, nos próximos 13 dias, para sonhar com o segundo turno. Isto se os sem-candidato permanecerem próximos dos 10% como em 2002. Se crescerem, favorecem Lula.


Por diferentes métodos os institutos chegam a um mesmo resultado em suas últimas pesquisas: metade dos brasileiros pretende reeleger Lula já no primeiro turno. Retratam as opiniões até o meio da semana passada e não contemplam, portanto, o horário eleitoral de quinta e sábado nem as notícias do final de semana. A convergência em um mesmo número reforça a certeza estatística dessa proporção.


Como as pesquisas não apuram os votos concretizados e sim as intenções dos eleitores antes de votar e não podem prever quantos se ausentarão das urnas, alguns fatores têm sido lembrados para elevar a esperança de segundo turno. O alerta mais repetido lembra que a abstenção é mais concentrada no Nordeste e está relacionada à baixa renda e escolaridade dos eleitores.


Coincide com o perfil do eleitor de Lula e, por isso, ele perderia cerca de sete pontos nas urnas. É um exagero partidário.


A estatística Renata Nunes, do Datafolha, apurou a média das abstenções e dos votos brancos e nulos em cada Estado nas duas últimas eleições presidenciais e, como exercício, recalculou os percentuais da última pesquisa a partir da média histórica de votos válidos. Constatou que Lula perderia apenas um ponto, insuficiente para viabilizar o segundo turno.


Lembra também que grande parte das abstenções refere-se a eleitores que mudaram de cidade, não transferiram o título e preferem justificar o voto a viajar para votar.


Mais provável, e pouco lembrada, é a possibilidade de parte dos eleitores não conseguir traduzir sua intenção em voto. Em 98, estudo feito por Alessandro Janoni, diretor de pesquisas do Datafolha, mostrou que pelo menos 14% dos que votaram para presidente erraram ao digitar o número na urna eletrônica. A seqüência de votação não segue a ordem lógica de ir do cargo mais importante para o menos importante, começando pelos deputados. Assim, alguns eleitores se confundem e votam para deputado achando que estão votando para presidente.


Como 56% dos eleitores de Lula têm baixa escolaridade, esse é um fator a ser considerado. Por outro lado, conhecer o número do candidato é fundamental para concretizar o voto.


Até a semana passada, 53% dos eleitores de Lula acertavam seu número contra apenas 37% entre os de Alckmin.


Para não depender de fatores extra-campo os tucanos devem concentrar-se em mudar opiniões dos 83% de brasileiros cuja soma das rendas no domicílio fica abaixo de R$ 1.750. Sem o apoio deles, ninguém se elege presidente.


MAURO PAULINO é diretor-geral do instituto Datafolha’


Mônica Bergamo


Lula se diz frustrado por falta de apoio entre os mais ricos


‘O presidente Lula diz que a ‘única’ frustração que enfrenta hoje é a falta de votos entre as camadas mais ricas da população. De acordo com ele, os ricos ‘ganharam dinheiro como ninguém’ em seu governo e por isso não deveriam ter uma resistência tão forte a ele, como revelam as pesquisas. Na sexta-feira, o presidente embarcou para uma série de comícios eleitorais no Nordeste e no Norte do país. Ele permitiu que a Folha acompanhasse a viagem com outros três jornalistas, do jornal ‘Valor Econômico’, do ‘Terra Magazine’ e do SBT. Num dos trechos da viagem, ele conversou com os repórteres na área reservada do avião que o levava a Feira de Santana, na Bahia. Mais tarde, rumo a Belém (PA), comentou a frase que teria dito num jantar com empresários, de que gostaria de ‘fechar o Congresso’: ‘Isso não tem cabimento’. Leia trechos da entrevista:


Fechamento do Congresso


‘Isso não tem cabimento. Isso eu não disse. Eu tenho falado muitas vezes sobre a China, que lá é mais fácil, não tem Congresso, não tem estudante, não tem greve, não tem sindicato, como na democracia brasileira. Mas o Congresso já está fechado. Ele não funciona, ele se autofecha. Tem cabimento o Congresso não funcionar em época de eleição?’


Apoio dos mais pobres


‘Se você não tomar cuidado ao fazer a pergunta, alguém pode interpretar que precisamos mudar de povo. Eu perdi três eleições porque o povo pobre tinha medo de mim. Não acreditava em um igual a ele. E agora eu estou ganhando porque o povo descobriu que um igual pode fazer por ele o que um diferente não conseguiu fazer. Sempre tive muito voto nos setores da sociedade organizada, de mais de cinco salários mínimos. Isso [o patamar histórico de votos nesses setores] está se mantendo.’


Ricos


‘Agora, a única frustração que eu tenho é que os ricos não estejam votando em mim. Porque eles ganharam dinheiro como ninguém no meu governo. No meu governo, as empresas ganharam mais que os bancos. Teve mais crédito que nunca. Depois de vinte anos a construção civil começou a se recuperar fortemente. Então essa é minha única frustração.’


Efeito do mensalão


‘Não é isso o que determina o voto no Brasil. Se isso determinasse o voto no Brasil, essa gente escolheria melhor quem ajudar nas campanhas. Porque cada deputado eleito teve alguns patrocinadores. Perguntem aos que financiam campanhas se têm coragem de dizer para quem deram o dinheiro.’


Paulo Betti


‘Eu não concordo [com a frase ‘é impossível fazer política sem colocar a mão na merda’]. O que eu acho é que a política brasileira tem uma tradição secular, de dependência econômica dos candidatos, de financiamento, de cobrança depois. Sempre foi assim e, se não mudar o sistema, vai continuar sendo assim. Qualquer brasileiro sabe. É só pegar a história da política brasileira, desde a proclamação da República, gente! Ninguém está inventando nada. A política brasileira é isso. Na história política do Brasil recente, muitos corruptos eram tratados como espertos. Fulano de tal é velhaco, malandro. A imprensa tratava o bandido como o esperto da política, profissional competente.’


Classe média


‘Eu nunca achei que a classe média puxava o povo. Isso é coisa da classe média para se autovalorizar.’


Formador de opinião


‘De repente inventaram o tal de formador de opinião. O cara escreve artigo de jornal e forma opinião. E o cara da CUT não forma opinião? E o cara da colônia de pescadores não é formador de opinião? Muitas coisas no Brasil vão passar por uma reflexão. A imprensa é uma delas. Muita coisa vai melhorar. O que não vai melhorar é a política. Se acontecer o que está parecendo, vai piorar. O Paulo Maluf se eleger deputado, o Fernando Collor se eleger, o Clodovil se eleger…’


FHC


‘Forma negativamente [opinião]. Porque, quem tem a rejeição que ele tem, era melhor não dar opinião. Veja, eu não tenho nada contra o Fernando Henrique Cardoso. Absolutamente nada. A única coisa que eu lamento é que ele não tenha sabido se comportar como ex-presidente da República. Um ex-presidente não dá palpite, um ex-presidente fica quieto. Um ex-presidente, antes de julgar os outros, olha o que fez. Sabe, no Brasil, o único cara que sabe se portar é o presidente Sarney. Ele foi achincalhado pelo Collor e nunca fez julgamento do Collor.’


Aécio Neves


‘É meu amigo, um companheiro que conheço desde a Constituinte. É uma figura extremamente civilizada, que sabe ser companheiro, que sabe até na divergência política ser cordato. Eu tenho muitos amigos. Muitos. Só não é meu amigo quem não quer. Se quiser, eu estou de braços abertos.’


José Serra


‘Eu tenho ótima relação com o José Serra. Aquilo que eu disse hoje de manhã para a imprensa [Lula defendeu o tucano da acusação de envolvimento com sanguessugas] é absolutamente verdadeiro. Ah, mas saiu uma manchete contra o Serra. E daí? Sair uma manchete contrária não prova nada. Eu quero saber é se essa manchete pode ser desmentida amanhã. Eu tenho boa relação com o Serra. Em 2002, fizemos uma campanha de nível muito elevado. Não houve agressão, nos tratamos como companheiros.’


Geraldo Alckmin


‘Eu não tenho nada contra o Alckmin, gente! Eu não tive amizade com o Alckmin. Eu tive amizade com o Mário Covas, com o Serra, com o Fernando Henrique. Mas com o Alckmin eu tive uma relação institucional muito civilizada. Então eu quero preservar isso. Se ele não quer, o problema é dele. Não fica bem para ele [fazer ataques na campanha eleitoral]. Médico não pode ser agressivo. Senão, como fica o paciente?’


Pacto com oposição


‘O que eu quero é propor um pacto de responsabilidade com o país. Estabelecer quais são os principais projetos que interessam a todos os brasileiros, como o Fundeb, a lei das micro e pequenas empresas. É um pacto de bom senso. É todo mundo tomar remédio contra azia de manhã e se encontrar no Congresso para discutir.’


Debate


‘Veja, eu acho engraçada a inquietação que as pessoas têm. Em 1998, ninguém perguntou para o Fernando Henrique Cardoso [o motivo de ele não ir aos debates]. É um direito democrático alguém convidar [para um debate] e é tão democrático quanto a recusa. A democracia não é uma moeda que só tem uma face. Ela tem duas faces. Não sei [se vai ao debate da TV Globo com outros candidatos]. Eu quero saber o que eu ganho, o que eu perco. Sou presidente da República independentemente de estar candidato. Eu não posso expor a instituição da Presidência. Não é um problema de estar na frente [nas pesquisas]. Em 2002 eu estive sempre na frente e fui a todos os debates. Sou fissurado em debates.’


Reeleição


‘Eu hoje sou um homem convicto de que a reeleição é um retrocesso político para o Brasil. O mandato de cinco anos sem reeleição seria a melhor coisa. Aliás o meu amigo Fernando Henrique Cardoso vai carregar pelo resto da vida o gesto irresponsável de ter aprovado a reeleição. A única explicação para a reeleição chama-se vaidade pessoal, personalismo. Eu fui obrigado [a disputar a reeleição]. Porque eu era o único candidato que poderia derrotá-los. Agora, a reeleição é perniciosa para o Brasil.’


Henrique Meirelles


Olha, a priori, todos ficam.


Renegociação das dívidas


Não podemos esquecer que esses governadores todos fizeram festa quando foi feito o acordo [da dívida]. Porque o acordo foi feito permitindo que eles vendessem patrimônio público. Agora acabou o patrimônio e eles se deram conta de que entraram numa gelada. Então vamos ter que encontrar uma negociação sem burlar a lei de responsabilidade fiscal.


Bolívia


Sabe o que eu fico com pena? É que as pessoas tentam tirar proveito da crise da Bolívia para dizer ‘o Lula tem que ser macho’. Tem dois motivos para você demonstrar força: um é quando você está fraco e precisa fazer barulho, gargantear, fazer bravata. Agora, quando está forte, você não tem que demonstrar. Eu tenho a nítida noção da supremacia brasileira diante da Bolívia. Então por que tenho que fazer bravata? Olha, se a Petrobras deixar de explorar gás, vai faltar gás de cozinha e gasolina na Bolívia. Quando conversei com o Evo Morales [presidente da Bolívia], eu peguei o mapa da América do Sul e mostrei a situação da Bolívia, onde estava a Venezuela. Eu disse ‘não adianta colocar a espada na minha cabeça, se eu não quiser o gás de vocês, vocês vão sofrer mais que nós’. É como relação de marido e mulher. Dá uma olhada [estende a mão]: Eu tô nervoso? Vocês acham que se estivesse nervoso eu estava aqui?’’


***


Heloísa compara PT a facção criminosa por elo com dossiê


‘A candidata do PSOL à Presidência Heloísa Helena classificou o PT como ‘organização criminosa’ ao comentar, ontem, a participação de membros do partido na compra de dossiê contra tucanos.


‘Sei que existem militantes, dirigentes e parlamentares do PT que são honestos, mas infelizmente a cúpula palaciana do partido, em conluio com o governo Lula, está virando uma organização criminosa capaz de qualquer coisa.’


Em Brasília, Heloísa disse estar triste por ver o partido onde militou na juventude envolvido em irregularidades, mas disse não estar surpresa. Antes, em Goiânia, dissera que o ‘dinheiro sem origem’ de escândalos envolvendo o PT pode ter relação com ‘narcotráfico e o crime organizado’. E atacou Lula.


‘Se o presidente não estivesse envolvido diretamente em toda essa bandalheira (…), teria investigado primeiro os dólares nas peças íntimas do vestuário masculino de um dirigente petista’, disse ela, em alusão à prisão de assessor do deputado José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão de José Genoino. Questionada se acusava Lula de ter elo com o crime organizado, respondeu: ‘É preciso investigar. Se não, fica sob suspeita’.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Vírus e antivírus


‘O domingo na web foi mais um dia de ações de efeito viral e antiviral, como descrevem os publicitários.


Na madrugada, o blog de Josias de Souza postou o link para o tal vídeo com a cerimônia de entrega das ambulâncias, num site de Mato Grosso, Olhar Direto. Daí para as manchetes de Folha Online e UOL, depois o site de ‘O Estado de S. Paulo’, iG e outros blogs.


Fim de tarde e a manchete da Folha Online e demais se voltou para ‘Polícia quer identificar comprador de dossiê’, depois para a entrada da CPI na história etc.


Paralelamente, outro personagem entrava em cena, aos poucos. No blog do site Consultor Jurídico, início da tarde, ‘o PSDB quer que o TSE assuma o comando do inquérito para bloquear a ‘agência de propaganda eleitoral’ do Ministério da Justiça: a Polícia Federal’.


Depois, nomesmo site, ‘para os advogados, há fatos suficientes para a cassação da candidatura de Lula’. Consultado, o presidente do TSE declarou então, em tom cuidadoso, ‘vamos aguardar que as instituições funcionem com a eqüidistância que todos esperam’.


O mesmo site Consultor Jurídico noticiou que até sexta, ‘no TSE, Alckmin ganha de Lula por 64 a 17’.


Daí Lula programar, segundo Kennedy Alencar na Folha Online, o envio de ‘uma comissão ao TSE para se queixar do que julga ‘rigor excessivo’. Os objetivos são evitar perder mais tempo de propaganda e ‘atuar preventivamente contra […] os sinais de que poderia tomar decisões contrárias, consumada a reeleição’.


Início da noite e, de volta ao blog de Josias de Souza, ‘telefones de ministros do TSE foram grampeados’.


ESPIRAL DE TERROR


O correspondente do jornal ‘The Observer’ descreve na reportagem de oito páginas, ontem na revista do jornal britânico, como o carro em que estava foi parado ‘sob a mira dos revólveres Taurus’ da polícia; como ele foi então revistado com os dois braços no capô; como respondeu a ‘dez minutos de interrogatório’. Conclusão da passagem:


– Welcome to the periferia of São Paulo.


Foi um longo texto sobre a ‘guerra aberta’ entre polícia e o PCC em São Paulo, ‘cidade presa em uma espiral de terror’. O texto fecha com citação do diretor de uma ONG acusada de relação com a facção: ‘O que será que o PCC vai fazer agora? Não sei. Eu tenho medo de guerra civil’.


MAIS TÉCNICO


O serviço de monitoramento de mídia da BBC fechou a semana de olho nos jornais bolivianos, do ‘La Razón’ de La Paz ao ‘El Nuevo Día’ de Santa Cruz de la Sierra. No enunciado, ‘Lula endurece e obriga Evo a retroceder’.


E ontem, segundo a AFP, ‘a imprensa boliviana acredita que o novo ministro dos Hidrocarbonetos pode dar novo rumo à nacionalização, adotando perfil mais técnico’.


ÀS ARMAS


O colunista Andres Oppenheimer, do americano ‘Miami Herald’, do argentino ‘La Nación’ e outros, lamentou o início de uma ‘nova corrida armamentista’ na América Latina, citada pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias.


Envolveria Venezuela, Chile, Colômbia ‘e outros’. Até o Brasil, supostamente, pela compra de helicópteros dos EUA e mísseis sul-africanos.


Arias defende e o colunista concorda que a região deveria se dedicar antes à educação.


ESPERTOS


Textos diversos, a começar do parisiense ‘International Herald Tribune’, seguiram no final da semana com o bate-estaca dos biocombustíveis.


Mas o impacto maior foi de Thomas Friedman, do ‘New York Times’, sob o título ‘A colheita de energia’. Escreveu de São Paulo sobre o etanol, que ‘não só é para valer, como nós ainda nem começamos a entender seu potencial’. A frase que encerra a coluna:


– Se pelo menos fôssemos espertos como o Brasil…’


ÍNDIA
Jo Johnson


Estado indiano quer banir a Microsoft


‘O governo do Estado indiano de Kerala, controlado pelos comunistas, lançou uma campanha para transformar a região, no sul do país, em área de exclusão para os produtos da Microsoft, menos de uma quinzena depois de proibir a venda e a produção dos dois refrigerantes norte-americanos mais simbólicos, a Coca-Cola e a Pepsi-Cola.


Eleita para o governo de Kerala em maio, a coalizão (marxista) liderada pelo Partido Comunista da Índia anunciou um plano trienal para combater o que define como poder monopolista do gigante norte-americana do software comandado por Bill Gates, promovendo a rápida adoção de sistemas operacionais de fonte aberta nas escolas e faculdades bancadas pelo Estado.


‘Pode ser que existam alguns indivíduos em situações marginais que continuem a optar pelo uso da Microsoft, mas a maioria das pessoas deve ser libertada desse fardo’, afirmou M. A. Baby, ministro estadual da Educação.


‘Não proibimos o uso de produtos Microsoft, mas nos opomos a monopólios em qualquer ramo, e encorajaremos vigorosamente o uso do software de fonte aberta’.


Refrigerante sob suspeita


No começo do mês, o governo de Kerala alarmou os investidores estrangeiros ao impor proibição à venda e fabricação dos refrigerantes Coca-Cola e Pepsi, depois que um grupo ambiental de Nova Déli alegou que continham nível elevado de pesticidas.


Seis outros Estados indianos também proibiram a venda de produtos de ambas as empresas.


Sob o plano de transição proposto, as crianças em 12,5 mil escolas de segundo grau do Estado aprenderão a usar o Linux em lugar do Windows, o que prejudicará as ambições da Microsoft no Estado mais avançado da Índia em termos educacionais.


O índice de alfabetização em Kerala superou os 90% em 2001, ante 55% em 1961 e diante dos 65% de média registrados na Índia como um todo.


‘Kerala pode ser um Estado pequeno, mas é um mercado importante para nós, como o é para qualquer outra empresa operando na Índia’, disse Rohit Kumar, gerente nacional de relações com o setor público na Microsoft India.


‘Respeitamos as escolhas de nossos clientes, mas acreditamos oferecer produtos a preços bastante acessíveis para as instituições educacionais’.


Escassez de verbas


Sanjiv Kataria, um consultor do setor de tecnologia da informação na Índia, disse que a promoção do software de fonte aberta em Kerala era movida tanto pela escassez de verbas quanto pela antipatia ideológica com relação à Microsoft. ‘O Estado não tem dinheiro, e a alternativa seria adiar a campanha por uma educação assistida por computadores’.


Os executivos da Microsoft, que vem tentando combater a pirataria que grassa sem controle na Índia, disseram que no presente ‘não existe diferença significativa’ de preços entre os produtos que o grupo vende para escolas e faculdades e o software de fonte aberta. O Windows XP Pro é vendido para instituições educacionais por preço de US$ 25 a US$ 30 por máquina, e acordo com Kumar.


A educação é um mercado vital para a Microsoft India, em um país que adotou como meta educar 200 mil professores e 10 milhões de estudantes nos próximos cinco anos.


Ravi Venkatesan, presidente do conselho da Microsoft India, diz que existe ‘grande oportunidade para empresários que decifrem o código sobre como obter uma pequena parcela’ do montante investido em educação na Índia.


Tradução de PAULO MIGLIACCI’


TELEVISÃO
Daniel Castro


‘Páginas da Vida’ terá casal gay ‘normal’


‘‘Páginas da Vida’, para não ser diferente das últimas três novelas das oito da Globo, também terá personagens homossexuais. Desta vez, no entanto, serão gays bem resolvidos.


O casal será formado pelo médico dermatologista Rubinho (Fernando Eiras) e pelo professor de música Marcelo (Thiago Picchi). Picchi ainda não começou a gravar a novela.


‘O casal, segundo o meu projeto que espero não mudar por qualquer influência externa, vai levar vida comum, normal, como se fosse um casal composto de um homem e uma mulher. Vão receber a família e os amigos, como qualquer casal. Os pais de ambos verão os filhos com total naturalidade’, adianta o autor, Manoel Carlos.


Marcelo e Rubinho serão tão ‘normais’ que poderão até adotar uma criança nos últimos capítulos, segundo Manoel Carlos. E terão um momento de heróis: cuidarão da menina Clara (Joana Morcazel) quando Helena (Regina Duarte) tiver que escondê-la para protegê-la da perseguição de sua avó, a vilã Marta (Lilia Cabral).


Marcelo, que vai trabalhar na casa de cultura da novela, não será vítima de preconceito. Já Rubinho, que trabalha em um hospital dirigido por freiras, sofrerá alguma pressão. ‘Veremos aí o comportamento de dois grupos sociais diferentes’, afirma Manoel Carlos, que ainda não revela se arriscará escrever cena de beijo para os dois, quebrando um tabu na Globo.


LAÇOS DE FAMÍLIA 1Rafael Almeida, o Luciano de ‘Páginas da Vida’, não está na novela só porque sabe tocar piano. Ele é irmão da cantora Tânia Mara, intérprete do tema (breguérrimo) de Caco Ciocler e Viviane Pasmanter.


LAÇOS DE FAMÍLIA 2Tânia é namorada de Jayme Monjardim, diretor-geral de ‘Páginas’. Quando era casado com Daniela Escobar, Monjardim escalava a atriz até para personagens muito mais jovens do que ela, como a Perpétua de ‘A Casa das Sete Mulheres’.


LAÇOS DE FAMÍLIA 3Nos próximos capítulos de ‘Páginas da Vida’, a Globo lançará um nova atriz, Júlia Fajardo, que a princípio será apenas uma estudante de teatro. Na vida real, Júlia é filha de José Mayer, ‘galã maduro’ da novela.


ARRASA-QUARTEIRÃOO SBT exibirá nas noites de domingo, de outubro a dezembro, uma série de 12 filmes que fizeram grande sucesso de bilheteria e que custaram à emissora, cada um, cerca de US$ 1 milhão. Entre os títulos, estão ‘Matrix Reloaded’, ‘O Senhor dos Anéis – As Duas Torres’, ‘Lara Croft 2’, ‘O Último Samurai’ e’ O Pianista’.


FAIXA JOVEM 1A Band fechou um acordo com o canal Nickelodeon e passa a exibir, a partir de outubro, no horário em que apresentava a novela ‘Floribella’ (20h10/ 21h), a série ‘Normal Demais’, que faz sucesso entre adolescentes e tem a sobrinha de Julia Roberts como protagonista.


FAIXA JOVEM 2 O pacote inclui desenhos (‘Ei! Arnold’ e ‘Catdog’).’


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