Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Professor de jornalismo é
agredido em Santa Catarina


Leia abaixo os textos desta sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Globo


Sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006


VIOLÊNCIA CONTRA JORNALISTA
Giuliano Ventura


Jornalista acusa PMs de agressão em SC


‘O professor universitário Nilson Lage, de 69 anos, um dos principais pesquisadores brasileiros de jornalismo, acusa a Polícia Militar catarinense de tê-lo agredido no sábado. Ele contou que voltava para casa à noite quando se sentiu mal e encostou o carro numa rodovia do bairro Campeche, no sul da Ilha de Santa Catarina. Dois policiais se aproximaram e, depois de uma discussão, ele foi algemado violentamente, jogado em um camburão e levado para uma delegacia, de onde saiu sob fiança de R$ 900.


– Estou fazendo um tratamento para depressão, tomando medicamentos. Fui jantar, bebi uma taça de vinho e não me senti bem. Parei o carro no caminho e apaguei. A partir daí, não me recordo bem do que aconteceu. Só sei que não bati em ninguém, porque nem teria condições físicas para isso – contou Lage.


Lesões nos pulsos, nos ombros e no rosto


Ele sofreu lesões nos pulsos por causa das algemas e também diz ter estar com escoriações nos ombros e no rosto.


– Na hora apaguei e não lembro de nada. Mas depois recordo que os policiais queriam que eu fizesse o teste do bafômetro, mas não aceitei porque não havia qualquer outra autoridade como testemunha – disse o jornalista, detido por dirigir embriagado e por desacato a autoridade.


Ele só foi liberado horas depois de pagar fiança de R$ 900. Para a PM, houve uma discussão entre o professor e os dois policiais que o abordaram:


-A PM recebeu uma ligação dizendo que existia um cidadão alcoolizado dirigindo um carro. Os policiais o abordaram e foram ofendidos com palavrões. Deram voz de prisão e, diante da recusa a cooperar, usaram os meios necessários para efetuar a detenção – diz o coronel Mário César de Oliveira, chefe da comunicação da PM catarinense.


A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) chamou a ação policial de ‘violenta, inexplicável e bárbara’. O protesto foi apoiado por outras entidades ligadas ao jornalismo e à pesquisa acadêmica, como o Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo, a Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo, o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro e o Departamento de Jornalismo da UFSC. ‘As marcas em seu corpo – principalmente nos punhos e nos ombros – comprovam a inexplicável violência contra um senhor que neste 2006 completa 70 anos de idade’, diz a nota.


O secretário de Segurança de Santa Catarina, Ronaldo Benedet, determinou a abertura de sindicância para apurar o caso. Será feito exame de corpo de delito no jornalista.


Nilson Lage começou no jornalismo há mais de 50 anos e passou por vários veículos do Rio de Janeiro, como o ‘Diário Carioca’, o ‘Jornal do Brasil’, a ‘Última Hora’ e O GLOBO. Como teórico da comunicação, escreveu obras como ‘Ideologia e Técnica da Notícia e Estrutura da Notícia’, adotadas nos cursos de jornalismo no Brasil. Lage lecionou na UFRJ e atualmente é professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina.’


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006


TV DIGITAL
Luís Nassif


Audiência pública para a TV


‘Recebi e-mail de Fernando Bittencourt, diretor de Engenharia da Rede Globo, a propósito da coluna ‘Celulares versus emissoras’. Do ponto de vista técnico, ele discorda da afirmação da Acel (associação das operadoras de celulares) de que a transmissão para receptor móvel exigirá uma rede de antenas muito maior do que a necessária para a transmissão para receptor fixo.


Hoje, as TVs móveis recebem mal o sinal por serem analógicas, diz ele. Com o digital, não haverá nenhum problema de recepção. Prova disso seria um canal experimental instalado pelo Instituto Mackenzie na torre do Sumaré. Se correta a informação, as operadoras de celular não teriam o que oferecer nesse item específico.


Sua defesa do padrão japonês é por ele permitir transmitir a mesma imagem para televisores fixos e móveis em um mesmo espectro, enquanto o sistema europeu tem baixo desempenho de transmissão simultânea para receptores fixos e portáteis em um mesmo canal.


A posição da Acel é que a programação para móvel tem de, necessariamente, ser diferente da programação para fixo, devido ao fato de, por definição, o telespectador do móvel não ter o mesmo tempo continuado disponível do que o fixo.


No e-mail, Bittencourt não aborda o ponto central da proposta da Acel: a de que a transmissão aberta continuaria livre e sob controle das emissoras. E haveria uma convergência de esforços -entre emissoras abertas, produtores independentes e operadores de celulares- para oferecer conteúdo sob demanda. Nesse caso, as operadoras teriam a oferecer seu sistema de cobrança, atendimento ao consumidor e investimento para ajudar a popularizar os receptores móveis. Algo que poderia ser inviabilizado pelo modelo japonês -segundo as operadoras, embora a Vivo aceite qualquer sistema.


Bittencourt diz que a discussão é apenas sobre TV aberta e não sobre programas sob demanda, o que, de certo modo, contradiz sua própria posição sobre a inevitabilidade da convergência digital.


O ponto central da questão é outra. Em 2001, a Anatel colocou a questão da TV digital em audiência pública. Depois, houve um atropelo. O ministro Miro Teixeira houve por bem montar uma estrutura de consórcios para ganhar competência técnica para a discussão e, posteriormente, para a participação no desenvolvimento. Criou-se um conselho com representantes da sociedade civil, mas sem o menor poder de vocalização de suas demandas.


O caminho é a consulta pública, mesmo que atrase em alguns meses a inauguração. Afinal, é um projeto com profundas repercussões sobre praticamente todos os aspectos da vida nacional.


No site www.projetobr.com.br há um apanhado de todas essas posições.


Escravo da Microsoft


Atenção organizações de defesa do consumidor. Quem instalou no seu computador o programa Windows Desktop Search -feito para competir com o Google Desktop- e pretender desinstalá-lo recebe o seguinte aviso: ‘Se o Windows Desktop Search for removido, esses programas não serão executados adequadamente’.


No meu notebook são 13 programas prejudicados. Tornei-me um escravo do Windows Desktop Search.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


À vontade


‘Na manchete do portal iG, à tarde:


– Já é Carnaval! Pelo menos no Congresso, às moscas…


Ao lado da manchete, a foto de Bono Vox com Ivete Sangalo em alguma festa.


Já é Carnaval nas manchetes do ‘JN’ também:


– O som do Carnaval invade as ruas de Salvador.


A Globo foi entrevistar Bono -de novo- e ouviu elogios ao encontro de ‘ricos e pobres’ nas ruas etc.


Gilberto Gil, que levou Bono, corria a rede num boato que vai acabar na quarta-feira: ele seria o vice de Lula. Gil desmentiu e jogou a culpa no cineasta Luiz Carlos Barreto.


Mas basta de U2.


O Carnaval chegou até para o ‘Wall Street Journal’, que trazia ontem, no título da reportagem sobre os mercados financeiros das Américas:


– O Brasil está cauteloso às vésperas do Carnaval.


Nada acontecia na Bovespa, apesar do anúncio, dado pelo ‘WSJ’ como importante, do resgate dos títulos ‘Brady’ da dívida brasileira.


Desde a manhã, no UOL, o blog de Fernando Rodrigues já anunciava um cenário político ‘quase parando’.


– Alala-Ô! Como é bom ser deputado ou senador. Trabalho em plenário? Só depois de 7 de março… ACM vai para os EUA. Delcídio, para a Europa. Brasília às moscas.


E não é só Congresso:


– Pois é, que coincidência. O número final do PIB de 2005 só será divulgado pelo IBGE na sexta, véspera do Carnaval. Quem vai dar bola?


Para quem não vai à Europa, o Diário de um Velho Caudilho, um blog com ‘reflexões e apontamentos do comandante máximo do trabalhismo (agora do outro lado)’, saudou o mais novo bloco do Rio de Janeiro, Órfãos de Brizola.


Escrevendo ‘agora do outro lado’, o velho caudilho orientou os foliões:


– Esculhambem à vontade os neo-pastores do Guanabara, os neo-corruptos barbudinhos e a velha tucanagem de sempre.


O PROBLEMA


Geraldo Alckmin, nos intervalos do horário nobre


O presidente tucano, Tasso Jereissati, fechou a semana no blog de Jorge Moreno no Globo Online, dizendo que ‘o acordo é necessário’ entre Geraldo Alckmin e José Serra. E qual é o prazo?


– Tem que ser o Carnaval. Depois do Carnaval, se não houver entendimento, Fernando Henrique, Aécio e eu devemos devolver o problema para o partido.


Em campanha pré-carnavalesca, lá estava Alckmin no intervalo da novela das oito, supostamente vistoriando ‘obras contra enchentes, as melhores estradas do Brasil, novas linhas do metrô’. E um monte de marcas, ‘Dose Certa, remédio de graça para quem não pode pagar, Ação Jovem, dinheiro para manter o jovem na escola, Bom Prato, comida boa a R$ 1’.


Depois de enfrentar um trator e um prato de comida, falou o governador/candidato:


– Emprego e desenvolvimento. Esse é o caminho para fazer do Brasil uma nação forte e independente.


José Serra, que usou os seus comerciais uma semana antes, soltou o verbo -contra o presidente/candidato. Segundo o blog de Josias de Souza, na Folha Online, ‘o prefeito se esquivou das perguntas sobre Alckmin’ e, ‘falando como candidato, se esmerou no ataque a Lula’. Nos sites e rádios, ele atacou do Fome Zero ao biodiesel, declarando que ‘o que o governo faz bem é marketing, dá nó em pingo d’água’.


Truque


Segundo o blog de Josias de Souza, ‘deputados alinhados a Geraldo Alckmin manuseiam no Congresso as cópias de um termo que José Serra assinou, comprometendo-se a cumprir seu mandato na Prefeitura de São Paulo’.


É o jogo pesado.


Por outro lado, o professor de ética Roberto Romano atacava no portal Imprensa, no UOL, quem levou o candidato a se comprometer:


– Foi um truque sujo. Serra caiu em uma armadilha.


Choro


A exasperação tucana fez sua primeira vítima.


Sem suportar mais os ataques de outros blogueiros tucanos aos líderes do próprio PSDB no blog coletivo E-Agora, Eduardo Graeff, ex-secretário de FHC e criador do site, anunciou que vai dar um ‘tempo’.


Saiu questionando ‘o coro do já-perdemos’ dos demais como uma ‘choradeira analiticamente inconsistente e politicamente prejudicial’.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Record fará ‘Malhação’ com universitários


‘A Record conclui até junho mais uma etapa de seu projeto de ‘clonagem’ da grade da Globo. Até lá, a emissora pretende colocar no ar sua versão de ‘Malhação’, o seriado adolescente que a Globo exibe desde 1995.


A ‘Malhação’ da Record tem o título provisório de ‘E, Aí?’. Mas não entrará no ar às 17h30, como a da Globo. Será exibida às 18h, no lugar do ‘Tudo a Ver’.


Na grade da Record, ‘E, Aí’ será sucedida pelo telejornal local ‘SP Record’, que dará lugar à sua novela das sete (‘Prova de Amor’ e, depois, ‘Bicho do Mato’), que passará o bastão para o telejornal nacional ‘Jornal da Record’, que entregará para a novela das oito, ‘Cidadão Brasileiro’ (estréia em março). Ou seja, da novela das seis até a das oito, a grade da Record será igualzinha à da Globo.


A ‘Malhação’ da Record será um pouco menos jovem do que a da Globo. Seus personagens principais já estarão cursando faculdade. E haverá maior peso para suas famílias. O texto será de Margareth Boury (ex-roteirista da Globo) e a direção, de Edson Spinello (ex-diretor de ‘Malhação’).


A novelinha, assim como a da Globo, será ambientada no Rio de Janeiro (mas não em um cenário fixo). Executivos da Record correm contra o tempo. Tentam arrancar atores jovens da Globo e procuram estúdios para alugar no Rio. Seu complexo de estúdios na cidade, em construção, ainda não comporta a produção jovem.


OUTRO CANAL


Batuque A Band vai exportar o Carnaval da Bahia. Vendeu para o canal Uno, do Equador, e para o Voyage, da França, os direitos de retransmissão de cinco horas da folia de hoje à noite em Salvador.


Caixa A Globo começa a vender na semana que vem cotas de participação para as transmissões da Copa do Mundo. São cotas que dão ao anunciante o direito de exibir comerciais nos intervalos dos jogos. Serão dez cotas nacionais, a R$ 6,5 milhões cada uma.


Rivalidade 1 A disputa entre Globo e Record chegou a Portugal. A Globo divulgou à imprensa lusitana que o contrato com a operadora TV Cabo pela distribuição do canal pago GNT corre o risco de não ser renovado. Disse ainda que o GNT deverá ser substituído por ‘um canal que não está entre os primeiros no Brasil’, a Record.


Rivalidade 2 Na verdade, a Record está sendo usada pela TV Cabo. As relações entre a TV Cabo e a Globo se deterioraram muito. A TV Cabo não renovou contrato para distribuir em Portugal o Telecine e o Sexy Hot. E a Globo anunciou que seu canal internacional não será mais distribuído na Europa pela TV Cabo _e sim por ela própria.


Rivalidade 3 O GNT de Portugal é diferente do GNT brasileiro. O canal é um mix da programação da TV Globo (transmite o ‘Domingão do Faustão’, por exemplo) com a dos canais da Globosat (exibe até lutas de vale-tudo).’


Folha de S. Paulo


Grupo de Murdoch anuncia novo canal nos EUA para suas produções próprias


‘O grupo News Corporation, do magnata da comunicação Rupert Murdoch, anunciou o lançamento de um novo canal de televisão nos Estados Unidos. A nova rede, que se chamará ‘My Network TV’, deve começar a funcionar a partir do dia 5 de setembro.


O anúncio acontece em meio de uma reestruturação dos canais de TV nos EUA. O fato de que a Time Warner e a CBS fecharão seus respectivos canais e criarão um único, conjunto, deixou parte da programação do News Corporation sem rede.


‘Isso nos trouxe uma oportunidade única e maravilhosa’, disse o presidente do grupo, Peter Chernin, ao anunciar o novo canal, que abrigará a produção da News Corporation.


A nova rede será supervisionada pelo presidente das emissoras de televisão da Fox, Roger Ailes, e terá 12 horas de programação original durante o horário nobre. O novo canal trará também vários ‘reality shows’.’


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006


MERCADO EDITORIAL
Sam McManis


Jornais buscam formas de atrair a atenção dos jovens


‘THE SACRAMENTO BEE, SACRAMENTO, EUA – Conquistar consumidores de notícia jovens é um dos maiores desafios da mídia atualmente. Estudo após estudo, os dados mostram que os jovens americanos (adolescentes e na casa dos 20 e poucos anos) estão ignorando os noticiários em números alarmantes. Segundo uma pesquisa de 2005 da Kaiser Family Foundation, os jovens passam 6 horas e 21 minutos por dia usando a mídia – e, desse tempo, 3 horas e 51 minutos são dedicados à TV. Mas apenas 6% dos entrevistados disseram que assistem ao noticiário.


Várias outras sondagens mostram que os jovens, embora entrem na internet com freqüência, não a usam para obter notícias. E a leitura de jornais entre os jovens tem caído continuamente desde 1972, assim como a audiência de noticiários de redes de TV e a leitura de revistas. A chamada grande mídia tem respondido com várias iniciativas.


PRESENÇA ONLINE


Os jornais metropolitanos vêm aumentando significativamente sua presença online, como uma forma de chegar mais perto dos jovens. Os noticiários das redes e emissoras locais de televisão também respondem. O World News Tonight, da rede ABC, lançou uma transmissão vespertina via internet com a âncora Elizabeth Vargas. O âncora da NBC Brian Williams tem um blog sobre o processo de seleção de notícias. A CBS News lançou um serviço, Assignment America, no qual os espectadores escolhem uma de três idéias de reportagem para que o correspondente Steve Hartman a realize. Várias emissoras disponibilizam vídeos de notícias na internet e algumas oferecem conteúdo pago que pode ser baixado em celulares.


Outras abordagens mais radicais são testadas com o mesmo intuito – atrair a atenção dos jovens. A Gannett, maior rede de jornais dos Estados Unidos, publica tablóides dirigidos aos jovens em uma dúzia de mercados do país. A agência de notícias Associated Press lançou o ‘asap’, um pacote de reportagens impressas e downloads de áudio dirigido ao público de 18 a 34 anos. Até agora, diz o editor do asap, Ted Anthony, 235 jornais assinaram o serviço.


‘É uma resposta direta à tentativa do setor dos jornais de atrair esse público’, afirma Anthony. ‘Buscamos uma maneira de levar os jovens de volta ao jornal ou fazê-los visitar pela primeira vez o website do jornal. Textos e fotos, que eram o modo padrão de se contar histórias, deixaram de ser necessariamente o melhor.’


INFERIORES


Tudo isso está funcionando? Bem, quando duas dúzias de universitários foram entrevistados para esta reportagem, muitos disseram sentir-se tratados como inferiores pela grande mídia. ‘Para mim, é mais interessante entrar em fóruns (na internet) e ver o que outras pessoas estão dizendo sobre os eventos atuais do que ouvir durante dois minutos um noticiário que não é muito informativo’, diz Taylor Wang, estudante de 23 anos da Universidade da Califórnia em Davis.


Avi Ehrlich, estudante de jornalismo na Universidade Estadual da Califórnia em Sacramento, foi mais direto: ‘Conseguimos exatamente o que queremos, quando queremos, em vez de deixar que alguém decida quais são nossas necessidades.’ Mas a mídia não está pronta para desistir dos jovens. Ela continua a se debater com os motivos pelos quais uma geração (alguns dizem duas) simplesmente não está ‘consumindo’ notícias.


A frustração, no entanto, aparece. ‘Eles não dão a mínima’, diz Michael Rosenblum, produtor de TV e professor da Universidade de Nova York, que em agosto ajudou a lançar o Current, canal a cabo digital promovido por Al Gore e dirigido aos jovens. ‘Eles são tão desconectados das notícias que não existe base intelectual na qual se apoiar. Tenho 350 alunos na Universidade de Nova York, uma boa escola. Eles são inteligentes. Mas não têm senso histórico ou do que é notícia. Há uma desconexão entre as realidades de suas vidas e o que as notícias apresentam.’


Kevin Krim, diretor do blog Livejournal, diz que a fragmentação das fontes de informação dificulta ainda mais a conquista dos jovens. ‘Esses garotos são hiperconectados, com cinco janelas de mensagens instantâneas abertas ao mesmo tempo no computador, a TV ligada, um vídeo baixando no laptop e o livro da lição de casa aberto’, afirma Krim. ‘Como competir com isso?’


Outro obstáculo, diz Jim Morris, produtor-executivo do Channel One (noticiário transmitido para escolas no país todo), é que os jovens não aprenderam a distinguir entre produtos noticiosos sérios e blogs de opinião, ou mesmo sites de fofocas. ‘A difícil tarefa da grande mídia é fazer com que as notícias sejam relevantes para eles’, afirma Morris.


A convergência de ‘sistemas de distribuição de informação’, dizem Morris e outros, pode ser a solução. ‘Os jovens estão menos interessados na ‘notícia’, mas continuam extremamente interessados na informação’, diz Ellin O’Leary, diretora-executiva da Youth Radio, em Berkeley. ‘Eles crescem em meio a uma tremenda revolução da informação. Estão misturando mídias e formatos.’’


TELEVISÃO
Luiz Carlos Merten e Keila Jimenez


Record ameaça GNT


‘O GNT pode deixar Portugal por causa da Record Internacional. Isso mesmo. Os dois canais estariam disputando espaço na TV Cabo, a maior operadora de TV paga local.


Desde dezembro, o GNT português – que exibe atrações dos canais GloboSat misturadas com as da TV Globo, como novelas, Domingão do Faustão e A Diarista – está negociando a renovação de seu contrato com a TV Cabo, onde está desde 1998. Segundo informações do GNT, o canal é o 6º mais assistido pelos portugueses na TV por assinatura, mas vem encontrando resistência da operadora na renovação por causa da concorrência de um canal internacional que não está entre os primeiros em audiência no Brasil. Leia-se Record Internacional, que investiu mais de R$ 2,5 milhões no ano passado na implantação de uma sede em Lisboa, onde já produz programação local e noticiários ao vivo. O canal estaria com negociações avançadas com a TV Cabo.


A Record Internacional está lutando por espaço também na África, em Uganda, onde iniciou suas transmissões em UHF e tenta espaço em TV a cabo. O contrato do GNT com a TV Cabo termina em 31 de março.’


Keila Jimenez


Gugu disse que quer ir para a Record


‘Não se resumiu a uma visita de cavalheiros a passagem de Gugu Liberato pelos estúdios da Record no Rio. Foi nesse encontro que o apresentador manifestou a vontade de trocar de emissora e a Record começou a pensar em ter o loirinho em seu cast. Conselho reunido, a Record tomou a decisão: quer, sim, Gugu em sua grade, mas não sabe se aos domingos, como ele está acostumado a fazer, ou em um programa noturno. Na Record, as negociações avançam após o carnaval. O contrato de Gugu com o SBT termina em 31 de março.’


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Valor Econômico


Sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006


CINEMA & JORNALISMO
Amir Labaki


Capote e a força da ficção real


‘A magnitude do desempenho de Philip Seymour Hoffman como o escritor americano Truman Capote (1924-1984) no sutil e complexo retrato dirigido por Bennett Miller tem ofuscado o justo reconhecimento do próprio filme. Sim, está indicado ao Oscar de melhor produção e diretor, além de franco favorito ao de ator para Hoffman, entre outros. Mas é preciso reconhecer de pronto: ‘Capote’ é simplesmente o mais equilibrado e adulto dos concorrentes deste ano e uma das grandes análises de um artista da literatura no cinema.


Foco me parece o primeiro segredo do filme de Miller. Nada há daquelas cinebiografias épicas que pincelam episódios dramatizados da infância até a morte do protagonista em geral canonizado em celulóide. ‘Capote’ acompanha apenas o mais importante momento da vida e carreira do escritor.


O arco começa com aquela manhã de novembro de 1959 em que Capote teve a idéia para um livro, a partir de um artigo em ‘The New York Times’ sobre o assassinato, ‘numa parte remota do Kansas’, de um casal de fazendeiros e dois de seus filhos adolescentes. ‘A Sangue Frio’, definido pelo autor como um ‘romance não-ficcional’, viria à luz em 1966, primeiro nas páginas do semanário ‘The New Yorker’ e a seguir como livro, um dos mais influentes do pós-guerra americano e a obra máxima de Capote. É esse o período do filme.


A partir do roteiro de Dan Futterman adaptado da biografia de Capote escrita por Gerald Clarke, que acaba de chegar às livrarias brasileiras, Miller diferenciou-se ao respeitar as arestas e vilanias de seu personagem. O Capote de Hoffman é arrogante, inseguro e vaidoso, mas delicado, generoso e inteligente. A ambição de criar a ‘obra renovadora’ justifica toda sorte de jogadas, manipulações e mentiras, ainda que perpetradas com tato e sutileza.


‘Capote’ é assim, a um só tempo, um filme sobre o autor e sobre a gestação de seu maior texto. Miller destaca sobretudo a originalidade do projeto e do método fundador de ‘A Sangue Frio’. ‘Eu achava que jornalismo, reportagem, poderia ser forçado a produzir uma nova forma séria de arte, o romance não-ficcional’, lembrou Capote a George Plimpton numa reveladora entrevista a ‘The New York Times’ em janeiro de 1966, com o livro ainda no forno.


‘Uma forma narrativa que empregasse todas as técnicas da arte ficcional, mas nem por isso fosse menos imaculadamente factual’ – eis a fórmula. Capote reconhecia algo disso nos textos de três de seus colegas de ‘The New Yorker’, Joseph Mitchell (‘O Segredo de Joe Gould’), Lilian Ross (‘Filme’) e Rebecca West (‘The Meaning of Treason’). Achava que faltava aos jornalistas, em geral à turma do ‘New Journalism’ (Tom Wolfe à frente), ‘o equipamento necessário de técnica ficcional’.


Miller dramatiza em cenas algumas das técnicas exploradas por Capote. O escritor gabava-se da extraordinária memória, ‘95% de absoluta precisão’, que lhe permitiu reconstituir longas entrevistas sem o uso sempre intrusivo de um gravador ou de um bloco de anotações. Destacava ainda a necessidade de um ‘olho absoluto para o detalhe visual’, isto é, o escritor como ‘fotográfo literário’. Por fim e acima de tudo, ‘a capacidade de empatizar com personalidades estranhas ao seu campo imaginário habitual, mentalidades diferentes da sua própria’.


George Plimpton, na entrevista clássica citada, atirou na mosca ao cutucar Capote sobre o parentesco dessas técnicas com o arsenal do cinema. ‘Conscientemente, não o notei. Inconscientemente, quem sabe?’, esquivou-se o escritor.


Uma vereda similar à trilhada por Capote no desenvolvimento de ‘A Sangue Frio’ foi simultaneamente enfrentada por um grupo de jovens documentaristas americanos: Albert e David Maysles, D.A.Pennebaker, Fred Wiseman, Robert Drew. Enquanto com seu ‘romance não-ficcional’ Capote tentava combinar fato e ficção sem abrir mão do poder da imaginação, os fundadores do Cinema Direto, com seus equipamentos menores e mais ágeis e suas equipes reduzidas, buscavam exatamente desenvolver narrativas mais elaboradas no cinema não-ficcional, injetando no documentário, emprestando as palavras de Capote, ‘técnicas da arte ficcional’ sem com isso tornar o gênero ‘menos imaculadamente factual’, nem tampouco menosprezar o papel da imaginação.


É curioso notar que, no ano mesmo de publicação de ‘A Sangue Frio’, os irmãos Maysles rodaram ‘Uma Visita com Truman Capote’, filmando a região em que o livro se desenvolve, entrevistando o escritor em sua casa e registrando-o ao ler alto trechos de sua obra-prima. Nos anos seguintes, os Maysles elevavam o poder narrativo do Cinema Direto a novos patamares com filmes como ‘Salesman’ (1968) e ‘Grey Gardens’ (1975).


Bennett Miller certamente bebeu nos Maysles, como estes se impressionaram com Capote. Um círculo se fecha. Há quem acredite em coincidências.’


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