Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Programação de TV
é liberada pela Justiça


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 25 de abril de 2007


TELEVISÃO
Laura Mattos


Justiça libera programação na TV


‘As redes de TV obtiveram mandado de segurança que anula a obrigatoriedade de exibir programas nos horários determinados pelo governo. Com a decisão, mesmo a programação classificada como imprópria a crianças e adolescentes fica autorizada a ir ao ar em horário livre (antes das 20h).


O mandado, solicitado pela Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV), foi assinado pelo ministro João Otávio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 18/4. A Folha tentou localizá-lo ontem, sem sucesso.


A vitória da Abert se dá às vésperas do prazo máximo para que as TVs passem a cumprir as novas regras de classificação de programas, elaboradas pelo Ministério da Justiça. A pasta informou ontem que irá recorrer da decisão do STJ.


Publicada em fevereiro, a portaria 264 entra em vigor no dia 13 e determina horários para programas inadequados a crianças e adolescentes (após as 20h para maiores de 12 anos, 21h para 14, 22h para 16 e 23h para 18). A portaria também exige que as TVs respeitem os diferentes fusos horários do país. Diferentemente do que ocorre hoje, a novela classificada para 21h, por exemplo, não pode ir ao ar às 19h no Acre (18h no horário de verão).


Com o mandado de segurança, essas exigências ficam suspensas, e o governo só poderá cobrar que as redes informem, com símbolos padronizados, para que idade o programa em exibição não é recomendado.


O mandado de segurança tem efeito provisório, até o julgamento do mérito. Enquanto o STJ não decidir se as TVs devem ou não cumprir os horários, os efeitos da portaria ficam suspensos. Não há prazo para o julgamento do mérito.


Além desse processo, há outro contra a portaria de classificação sendo analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O caminho via STJ foi uma manobra das TVs, que avaliaram que o STF não abordaria a questão até o dia 13, quando as regras entram em vigor.


José Elias Romão, diretor do departamento de classificação da MJ, afirma que, sem a obrigatoriedade dos horários, as redes de TV ficam sem controle, e a infância, desprotegida.


Flávio Cavalcanti Jr., diretor-geral da Abert, diz que ‘as TVs continuarão a fazer o que sempre fizeram’, com critérios próprios para determinar os horários de exibição, e que comunicarão a faixa etária dos programas ‘para que os pais decidam o que o filho deve ver’.’



Daniel Castro


Markun quer participar de rede de Lula


‘Candidato com o aval do governador José Serra (PSDB) a presidente da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura, o jornalista Paulo Markun defende a participação da emissora paulista na rede nacional de TV pública proposta pelo presidente Lula (PT).


‘Há [um] debate instaurado no país em que nos cabe [à TV Cultura] papel decisivo _a definição do que virá a ser uma futura rede pública de televisão. A cooperação e o consenso com o governo federal e as emissoras já agrupadas em torno da Abepec [a associação das TVs públicas e educativas] podem fortalecer o campo que é, por norma constitucional jamais regulamentada, um dos eixos da comunicação eletrônica em nosso país’, escreveu Markun em texto entregue a membros do conselho curador da fundação, anteontem, quando sua candidatura (única) foi formalizada. A eleição será dia 7.


No documento, o futuro presidente se diz ‘pronto’ para o cargo e promete que ‘a Cultura irá se caracterizar ainda mais por uma programação eminentemente cultural, educativa, informativa, artística e inovadora’. A forma como a Cultura participará da rede pública federal ainda será discutida.


No texto aos conselheiros, Markun (que continuará apresentando o ‘Roda Viva’) defende participação do governo federal no financiamento da Cultura, hoje dependente do governo de São Paulo.


MUSA DA PAMONHA 1 Lucimara Parisi, que Fausto Silva costuma chamar de ‘miss Rancho da Pamonha’, não é mais coordenadora do ‘Domingão do Faustão’ em São Paulo. Cuida agora da área comercial do programa. Tem a missão de supervisionar merchandisings, para evitar que o programa vire ‘uma feira’.


MUSA DA PAMONHA 2 A jornalista, que é amiga de Fausto Silva, continuará aparecendo no ‘Domingão’. Foi designada ‘representante da platéia’, fazendo perguntas a participantes do programa.


MANO FAUSTÃO Fausto Silva emagreceu 12 quilos e pretende perder mais dez. Para marcar a nova fase, está usando no programa da Globo camisetas de grifes amadas por rappers, como a Ecko.


CONTABILIDADE A Globo nega que tenha ajudado o autor de novelas Walter Negrão a pagar indenização de quase R$ 18 milhões ao SBT. Nos bastidores da emissora, isso vem estimulando exercícios matemáticos: como autores do nível de Negrão ganham R$ 150 mil mensais quando estão escrevendo (fora do ar, recebem menos), ele teria que escrever ininterruptamente durante dez anos para juntar a fortuna.


INTERVALO Apesar do fiasco de ‘Paixões Proibidas’, a Band não vai desistir de produzir novelas. Mas dará um tempo entre o final de ‘Paixões’ e a estréia da nova.


VOZ DO RÁDIO Tina Roma, a voz das manhãs da Jovem Pan FM, será a narradora de ‘Mudando de Vida’, ‘reality show’ da Record.’


GOVERNO LULA
Andreza Matais


Berzoini defende controle da mídia durante eleição


‘O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), defendeu ontem que a reforma política, que tramita no Congresso, também discuta mecanismos para discutir ‘o poder dos meios de comunicação no processo eleitoral’.


Durante seminário que tinha como objetivo debater o ‘funcionamento dos sistemas políticos eleitorais do Uruguai, da Espanha e da Alemanha’, ele disse que a reforma não pode se limitar ao financiamento público, à fidelidade partidária e ao voto em lista. ‘Há questões mais importantes, como discutir o poder dos meios de comunicação no processo eleitoral.’


Berzoini também sugeriu que a Justiça Eleitoral poderia controlar os meios de comunicação, mas não disse de que forma isso seria feito. Para defender sua tese de que é preciso controlar a mídia durante as campanhas, Berzoini citou a disputa de 2006.


‘Vários meios de comunicação abriram mão do bom jornalismo nas últimas eleições e fizeram campanha declarada para a oposição’, afirmou. ‘Com um Judiciário mais atento com relação a isso’, respondeu ele ao ser questionado como seria exercido o controle.


O partido sentiu-se perseguido pela mídia, sobretudo após o escândalo do dossiê contra tucanos, que teve como um dos protagonistas Berzoini.


O líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio (RJ), e o deputado José Genoino (PT-SP) concordaram com Berzoini. ‘Temos crise no financiamento das campanhas, mas também temos uma crise com o poder dos meios de comunicação. Muitos agem de forma partidária nas eleições, sem assumir suas posições’, disse Luiz Sérgio.


Palestrante do evento, Genoino complementou: ‘Algumas pessoas do Judiciário, do Ministério Público e da mídia partem da idéia de que algumas instituições encarnam o bem e fazem um julgamento preconceituoso e elitista do que consideram o mal numa tentativa de tirar a legitimidade da política’. Colaborou FÁBIO ZANINI, da Sucursal de Brasília’


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Partido sugere ‘democratizar as comunicações’


‘Foi durante a reeleição do presidente Lula, marcada por críticas de integrantes do partido à mídia, que o PT intensificou a discussão interna sobre ‘democratizar as comunicações’. O tema deve estar na pauta do seu 3º Congresso, em agosto deste ano.


Durante o primeiro mandato, o presidente teve relação tensa com os meios de comunicação. Deu poucas entrevistas e tomou atitudes como a tentativa de expulsão do país do jornalista Larry Rohter, do ‘New York Times’ e a de criar um Conselho Federal de Jornalismo, para regulamentar e fiscalizar o exercício da profissão.


Dois dias após a reeleição de Lula, o PT divulgou o texto do programa que prometia medidas ‘vigorosas’ para regulamentar e descentralizar a mídia. O partido deve discutir mudanças nos critérios para distribuição de publicidade oficial.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Dinheiro, dinheiro


‘Na home do UOL, ‘investimento estrangeiro é o maior em 60 anos’. Na explicação do Banco Central na Folha Online, ‘você tem confiança, economia estável, medições de risco, todas elas, baixas. E perspectiva de crescimento’. É o que se vê há tempos em sites de finanças, como no ‘Wall Street Journal’ de ontem: ‘o custo de proteção’ para o investimento em emergentes, Brasil à frente, é menor do que ‘suas reputações poderiam sugerir’. Está em ‘níveis de baixos recordes’, explicados por ‘fundamentos sólidos e a conversa persistente de elevação das notas de crédito’.


O DECLÍNIO DA AMÉRICA


Foi a manchete nos sites do ‘New York Times’ ao ‘Financial Times’, ‘Toyota passa GM pela primeira vez’. Em destaque no primeiro, ‘é um marco no longo declínio da América’. A GM foi ‘a número um por 70 anos’, observou o ‘WSJ’, sublinhando que, ‘além do mercado-chave dos EUA, a Toyota tem feito um grande esforço em emergentes como China e Índia’. E Brasil, pelo que destacou o ‘Valor’ um dia antes, com a notícia de que a montadora ‘estuda nova fábrica no país’, segundo seu presidente, e até ‘tem feito inúmeras visitas pelas cidades brasileiras’.


MANHATTAN PROJECT


Sem reação imediata à Toyota, a GM declarou à Dow Jones, por outro lado, que a Casa Branca ‘precisa adotar abordagem de Manhattan Project se quiser enfrentar a preocupação crescente com o uso de combustíveis fósseis’. O vice da empresa cobrou importação de etanol do Brasil.


Em tempo, Manhattan Project foi o programa que produziu a bomba atômica, lançada afinal sobre o Japão.


ATÉ A FIAT


No ‘WSJ’, mais montadora, agora a italiana Fiat, que ‘mais que dobrou’ as vendas ‘na Europa e no Brasil’, segundo o enunciado. O resultado se deveu aos ‘carros pequenos’ que são a sua marca e, em especial, às ‘vendas no Brasil, maior mercado da Fiat fora de seu território sede e que contribuiu de novo com parte significativa dos lucros’. E assim a empresa ‘se distancia dos dias negros de 2002’.


A REDE


À esq., a capa da edição especial da ‘Forbes’, sobre ‘redes’, palavra-chave que ‘já significou cadeia de rádios’ e hoje, com a web, ‘pode se referir ao marketing viral, a uma forma de encontrar um carro ou um marido, a uma campanha política, uma coleção de especialistas que pode solucionar a crise de energia -ou uma célula de terroristas’.


‘QUE VENHAM’


São dezenas de textos na ‘Forbes’, inclusive artigos de Jimmy Wales, da Wikipedia e que aborda seu projeto de um site de busca com o mesmo conceito de ‘rede’, e Chad Hurley, criador do YouTube. São dois dos maiores projetos de web participativa -ou 2.0, expressão que a revista evita. A ‘Forbes’ cobre as ‘redes’ em inúmeros aspectos, da relação com a democracia às tendências futuras, até meio ambiente. Mas é revista de economia e, a começar do artigo do empresário Rupert Murdoch dizendo ‘que venham as mudanças’, o objetivo é identificar oportunidades de negócio (ilustração acima).


‘É a ferramenta mais importante para a construção da democracia desde a invenção da imprensa. As pessoas agora podem criar, descobrir e se conectar com redes em horas, em qualquer lugar do mundo’.


Do presidente do Partido Democrata, HOWARD DEAN, na ‘Forbes’’


INTERNET
Folha de S. Paulo


Serviço se expande para as comunidades


‘O que nasceu para dar vazão a notícias já está servindo também para espalhar fofocas.


Na semana passada, a comunidade Live Spaces (spaces.live.com), da Microsoft, colocou no ar uma ferramenta que permite que seus membros fiquem sabendo quais foram as últimas novidades colocadas pelos demais, como textos e fotos. Em sua página, o usuário é avisado sobre as últimas páginas pessoais a sofrerem atualizações .


O recurso integra um pacote de novidades lançado pela Microsoft na semana passada e ao qual a Folha teve acesso com exclusividade. Trata-se de uma seqüência de lançamentos -alguns a princípio não estarão disponíveis no Brasil- que deve se prolongar até o final deste ano.


A troca de recados (scraps), os alertas sobre aniversários e o envio de mensagens em formato rich text estão entre as novidades.


Em breve, os usuários poderão também utilizar uma série de miniferramentas (widgets), terreno em que se sobressai o mecanismo mais surpreendente: a Live Spaces exibirá canais com conteúdo atualizado de outras comunidades, como as rivais Orkut, do Google, e MySpace, da News Corp.


O primeiro site social a se integrar a esse pretensioso plano da rede da Microsoft é o LinkedIn, voltado à troca de contatos profissionais. Há parcerias também com o site Pandora, de criação de rádios em streaming e, possivelmente, com a LastFM, que também oferece conteúdo do gênero.


Segundo Moz Hussein, responsável pelo gerenciamento dos serviços on-line da empresa, a Live Spaces pretende criar mecanismos para que seja possível reunir todos os seus amigos on-line, não importa em qual sistema social eles estejam.


Em entrevista à Folha, ele deu mostras de que a integração entre plataformas também será mais ampla. O caderno de endereços do Hotmail será atualizado automaticamente quando um contato publicar mudanças de telefone ou de endereço, enquanto um sistema fará sugestões de assuntos que estão na ordem do dia para os blogueiros em busca de assuntos sobre os quais escrever.


Efeito dominó


A jogada de usar as próprias páginas para abraçar concorrentes também foi feita pelo agregador Netvibes.


Com a proposta de permitir que seus usuários criem não só sites personalizados mas também portais inteiros, o Netvibes Universe, como foi chamado, aglutina novidades oriundas de sites como o Flickr e o MySpace.


Este último também colocou suas mangas de fora na semana passada, ao apresentar um leitor de notícias composto por 300 categorias de assunto e acessível por meio da página pessoal de cada membro.


Entre os parceiros dessa empreitada, estão nomes de peso como CBS, CNN Money, Forbes.com, LATimes.com, Newsweek, Sports Illustrated, Time, USA Today e WashingtonPost.com.


Palma da mão


Donos do smartphone BlackBerry, da Research in Motion, ganharam uma nova porta para entrar no mundo do RSS. O NewsGator Go, versão móvel do agregador NewsGator (US$ 29,95 ou versão grátis para teste, em www.newsgator.com)comporta até 500 fontes noticiosas.’


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Leitores organizam a web 2.0


‘É difícil dissociar a evolução do RSS da evolução da web 2.0, a internet composta por sites de resposta rápida e atualizações automáticas.


Essa foi uma das conclusões da Web 2.0 Expo (www.web2expo.com), evento em que se discutiu como os novos serviços, como o próprio RSS on-line, estão contribuindo para suprir algumas das necessidades mais básicas de quem acessa a rede mundial.


Os sites agregadores de notícias foram postos no mesmo balaio dos sites de listas de tarefas, dos calendários e dos sites de compartilhamento de favoritos.


Juntos, eles integram uma categoria apelidada de ‘lifetracker’, ou rastreadores de vida, voltada à manutenção de uma organização pessoal para as tarefas do dia-a-dia.


A publicação e o compartilhamento de conteúdos, a segurança on-line e a conectividade saem fortalecidos.


Destacam-se, ainda, os mecanismos de busca, que exibem em seus resultados não só informações mas também dados pessoais, por meio do cruzamento de perfis publicados em diferentes sites, com sistemas de algoritmos.’


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Blog pode ter canal de vídeos com atualização automática


‘Os blogueiros entusiastas de vídeos e fotos têm uma ferramenta que utiliza o RSS para gerenciar uma TV multimídia de fácil atualização. É o SplashCast (splashcastmedia.com).


O site permite criar uma caixa para blogs que pode ter o conteúdo separado por canais ou programas, adicionados ou retirados ao gosto do programador.


Dá para misturar textos, fotos e vídeos em um programa. O espectador pode passar para frente e voltar o conteúdo apresentado, que fica em um lugar fixo no blog.


Usar o RSS para atualizar um programa limita o SplashCast ao Flickr e ao YouTube, mas a atualização é automática.


O usuário escolhe qual será a fonte do RSS -um canal do YouTube, por exemplo- e, conforme o conteúdo é alterado na origem, a programação muda no visualizador do blog.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 25 de abril de 2007


ENTREVISTA / LARRY KING
Arcel Rosenbach


‘Tem surgido uma competição absurda entre os programas de entrevistas’


‘Larry King, de 73 anos, a lenda dos programas de entrevista da CNN, conversa sobre seus 50 anos na mídia, o valor das notícias sobre Anna Nicole Smith e os executivos da TV que se importam mais com o resultado financeiro do que com o que é importante no mundo ultimamente.


O sr. está no ar diariamente há quase 50 anos. Alguma vez, tirou um descanso das câmeras e do microfone?


Seria difícil. Nunca tiro férias longas. É claro que, mesmo quando estou de folga, continuo lendo dez jornais toda manhã.


Como o sr. começou a se interessar pela radiodifusão?


Quer saber uma coisa engraçada? Já queria ser radialista quando tinha 5 anos de idade. Não queria fazer outra coisa. Naquela época, não havia televisão e eu me interessava pelo rádio, isso em 1938, e 1939, e pretendia ser radialista. Havia muitos programas de rádio famosos e eu costumava entrar no banheiro e imitá-los, fingindo ser o apresentador. Alguns programas de rádio tinham auditório ao vivo em Nova York e eu ia às estações de rádio assisti-los.


O sr. viu isso como uma forma de escapar de uma infância humilde?


Meu pai morreu cedo e houve épocas em que tivemos que sobreviver dos benefícios do governo. Comecei a trabalhar como vendedor numa loja de departamentos. Depois, trabalhei como entregador da United Parcel Services (um dos serviços de entrega de encomendas pelo correio dos EUA, equivalente ao serviço de Sedex). Fui apresentado a um homem em Nova York que era da CBS e eu lhe pedi conselhos sobre um bom lugar para começar no rádio. Ele disse: ‘Tente Miami, onde há muitas estações de rádio e não tem sindicatos.’ Numa cidade dominada por jovens e idosos, há dois tipos de pessoas em Miami – as que estão em ascensão e as que estão saindo. Bati em várias portas à procura de um emprego, e uma pequena estação fez um teste de microfone comigo. O diretor disse: ‘Gostei da sua voz, você tem potencial. Não há vagas no momento mas, se ficar por aqui, conseguirá o emprego assim que aparecer uma chance.’ Não havia nada a fazer, assim eu apenas varria o chão e tentava aprender o máximo que podia. Duas semanas depois, alguém saiu e eu consegui o emprego. Tive uma oportunidade e soube aproveitá-la.


O sr. ficou nervoso na primeira vez que foi ao ar?


Não achei que estivesse nervoso, mas quando tentei falar, não saiu nada. Aí, meu chefe disse: ‘Diga alguma coisa.’ E eu fiz algo que faço até hoje. Disse ao público o que estava acontecendo: ‘Esta é a minha primeira vez no ar. E meu chefe acaba de me dar um novo nome.’


Seu nome verdadeiro é Lawrence Harvey Zeiger.


Meu pai veio da Áustria. E meu chefe disse que não era um bom nome, que as pessoas não se lembrariam dele ou não saberiam escrevê-lo. Você precisa de um novo nome. Ele estava com um exemplar do Miami Herald e nele havia um anúncio do King’s Wholesale Liquors (Atacado de Bebidas do King). E ele perguntou: que tal Larry King?


Bem, é melhor do que Larry Liquor.


Larry Liquor Live (risos). Soa melhor!


Como a radiodifusão e a televisão mudaram desde então?


Antes de qualquer coisa, naquela época todo mundo fumava no estúdio. Mas o que mais mudou foi a tecnologia: o cabo e o satélite. O satélite mudou o mundo. Quando criança, nunca imaginei que seria visto na Alemanha e em todo o mundo – transmitindo a partir de um pequeno estúdio em Los Angeles. Na Guerra do Vietnã, você tinha de ir para o aeroporto, mandar revelar o filme e isso demorava um certo tempo, às vezes até no dia seguinte. Hoje mostramos guerras em tempo real. Tenho pensando nisso. Se nunca tivesse havido aviões, muitas vidas teriam sido salvas. O progresso pode ser transformado numa praga. Por outro lado, veja os avanços na área das cirurgias médicas…


Os grandes astros de Hollywood estiveram no seu programa – lendas como Frank Sinatra e Marlon Brando.


Marlon Brando esteve duas vezes, isso foi algo espetacular. Foi muito divertido, fizemos uma hora e meia de programa, Foi na casa dele. Ele era um anfitrião maravilhoso. Ofereceu champanhe e salgadinhos para toda a equipe de gravação. Ele próprio fez sua maquiagem. Gostava dele de verdade. No fim do programa, simplesmente me beijou na boca. Quando me dei conta, estávamos saindo para jantar e quando chegamos ao restaurante, havia milhares de paparazzi. Eu não tinha avisado ninguém dizendo que ele iria. Parte da sua genialidade era a capacidade que ele tinha de olhar em volta e dizer coisas sobre as pessoas. ‘Aquele garçom’, disse ele, ‘não gosta do seu trabalho.’ Ele conseguiu detectar isso pelo jeito dele. ‘Está vendo aquele casal no canto? Infeliz.’ Como sabe? Veja a maneira como ele cruza as pernas. E como os olhos dele olham por cima do ombro dela e não para ela. É isso que os atores fazem – observam – e é isso que eu faço. Marlon foi um verdadeiro ator, um gênio.


Como se prepara para receber os convidados do seu programa?


Não muito. Por falar nisso (diz ele virando-se para sua assistente), o que haverá programa desta noite, Bridget? ( A assistente responde: ‘O tema será Anna Nicole Smith.’) Oh, não, de novo, não. Detesto este programa, mas esta é a notícia do dia, então temos que apresentá-la. Não é preciso nenhum esforço para noticiar sobre Anna Nicole Smith hoje à noite. Não há inventividade nisso, não há desafio.


Por que o senhor simplesmente não recusa essas notícias de tablóide?


É claro que eu poderia dizer não. Mas eles (a rede) diriam que precisamos nos equiparar com os índices de audiência das outras redes. E eu compreendo o que eles enfrentam. Você ganha algo e perde algo. Mas se fossem longe demais, então eu não faria. Uma vez um colega me disse: ‘Se eu puser um casal tendo relações sexuais na TV às 21 horas, poderei vencer esta noite.’


O caráter do noticiário mudou, não?


Esse é o lado negativo.


Mesmo um astro como o sr. não tem poder para impedir isso?


Às vezes, é mais cômodo para a administração tomar o caminho mais fácil. Se você quiser fazer um programa sobre o Oriente Médio, não obterá um alto índice de audiência. Muito embora possa dizer com certeza que o Oriente Médio é mais importante que Anna Nicole Smith. Quem negaria isso?


Como lida com a concorrência?


Tem surgido uma competição absurda entre os programas de entrevistas. Se eles têm o irmão de Anna Nicole, então precisamos trazer o seu médico. Ou a irmã dela. Mas isso não é importante. Quero dizer, não tem influência nenhuma sobre nossa vida. Na minha época de rádio e mesmo no começo da televisão, talvez se tivesse feito apenas um programa sobre Anna Nicole. Mas Anna Nicole não teria sido uma celebridade há 40 anos, porque ela não fez nada. Portanto, é uma notícia porque é uma notícia. As empresas agora são comandadas por contadores. Naquela época, eram dirigidas por comunicadores que entendiam melhor o que um apresentador fazia. Agora, as coisas vêm do departamento financeiro e isso diz respeito ao resultado final.


O que é mais importante para um político hoje – um bom discurso perante o Congresso ou uma entrevista com você?


Se você estiver concorrendo a um cargo, é mais importante aparecer na televisão porque no Congresso você só aparece no C-Span (o canal a cabo dos EUA que transmite as sessões do Congresso).


Todos os presidentes, desde Nixon, estiveram no seu programa e muitos dos candidatos à presidência. Quem é mais difícil – Bill ou Hillary Clinton?


Boa pergunta. A Hillary tem um lado que provavelmente vocês não conhecem. Ela tem um grande senso de humor. É engraçada. Já Bill é o político mais carismático que já vi na vida. Não tem ninguém que se iguale a ele. Os críticos querem odiá-lo, mas é impossível odiá-lo.


Quem é mais hábil, o Bush, pai, ou o Bush Júnior?


Hábil não é um adjetivo que eu usaria para nenhum dos dois. Eles são diferentes. O Bush mais velho é um homem maravilhoso, inteligente, sensível e muito emotivo. Já George W. é obstinado, sincero e um crente ardoroso e tem um time de beisebol digno de crédito. Seu pai seria mais flexível, é possível fazê-lo mudar de opinião em relação a uma questão. A mais difícil de todos é Barbara Bush.


Há um debate na Alemanha sobre se os programas de entrevistas deveriam ser a arena política dominante. O que acha disso?


A televisão é uma mídia importantíssima. Mas depende de qual é o seu objetivo. Veja o exemplo da Nafta, o acordo de livre comércio da América do Norte. Al Gore era totalmente favorável a ele. E debateu a questão com Ross Perto, no meu programa em 1983. Foi a primeira vez que um vice-presidente pressionou tão fortemente a favor de uma questão num programa de entrevistas. Isso teve uma grande influência sobre o Congresso e o acordo foi aprovado. Clinton me telefonou no dia seguinte, dizendo: ‘Devo isso a você.’


Cada vez mais os políticos estão freqüentando o show business. Eles querem mostrar seu lado privado.


Realmente, os políticos estão mais abertos hoje e mais dispostos a falar sobre questões privadas. Veja, por exemplo, o candidato à presidência John Edwards, que falou sobre o câncer de sua esposa. Mas isso não é necessariamente ruim, é apenas diferente do que costumava ser. A maioria dos americanos não sabia que Franklin D. Roosevelt se locomovia numa cadeira de rodas. Isso era ocultado da população. Achavam que, se as pessoas soubessem, isso o prejudicaria. Antes, também, se você fosse um político que ambicionasse um cargo no alto escalão, não podia ser divorciado. Mas esse tempo já passou.


Nos últimos 50 anos, o sr. conduziu cerca de 40 mil entrevistas. Quem está faltando na sua lista?


Eu certamente teria adorado ter entrevistado o último papa. Estamos trabalhando para conseguir uma entrevista com Fidel Castro antes que ele morra. Ele é o líder do século 20 que está há mais tempo no poder. Gosto de ter o melhor convidado e fico feliz quando conseguimos um bom convidado primeiro, mas não me aborreço quando outras pessoas entrevistam convidados antes de mim. Não sofro de ciúme profissional – a esta altura. Fico contente com o que aparece.


Depois dos atentados terroristas de 11 de setembro, a mídia apoiou firmemente a guerra ao terrorismo do governo Bush e quaisquer críticas foram vistas como antipatriotas. Até mesmo a CNN ficou exibindo o tempo todo a bandeira americana. Foi a coisa certa a fazer?


Isso foi verdade após os atentados. Certamente que foi nacionalista. Mas isso já desapareceu. O Iraque definhou e agora o terrorismo não ocupa tanto a mente das pessoas. O Iraque será um problema na próxima eleição. Se você for a favor da guerra do Iraque e disser ‘vamos bombardeá-los’, então vai perder. No momento, a população se opõe mais à guerra no Iraque do que se opôs ao Vietnã.


Candidatos à presidência como Obama e Hillary estão fazendo um uso intensivo da internet na campanha deles. O sr. e o pessoal da televisão encaram a internet como uma ameaça?


Sei que está lá e obviamente tem sua influência, Mas todo mundo tem televisão e nós ainda atingimos um número maior de pessoas.


O sr. já usou a internet?


Comecei a usá-la porque as pessoas caçoavam de mim por não usá-la. Porém, não costumo enviar e-mails. Gosto de faxes, gosto de correio. Nesse sentido, estou satisfeito por não ser uma vítima da tecnologia.


O seu programa tem um verdadeiro poder?


Certamente que não posso alterar o curso das eleições. Mas Henry Kissinger me disse uma vez que eu poderia trabalhar como diplomata. Que poderia fazer isso porque era conhecido no mundo todo e as pessoas viriam. Uma vez tentamos fazer isso no programa em 1995 com o Oriente Médio. Tivemos aqui três chefes de Estado – Yasser Arafat, Yitzhak Rabin e o rei Hussein da Jordânia. Mas não fazemos isso com freqüência.


Às vezes, o sr. é acusado de ser muito gentil na sua diplomacia. Os críticos alegam que Larry King consegue todos os convidados porque não faz perguntas impertinentes.


Na minha opinião, o confronto não o leva muito longe com um convidado. Muita gente da mídia faz isso agora. Eu prefiro fazer boas perguntas e obter as respostas. Não vou gritar com eles. Você não vai conseguir mudar o sentimento deles. Você faz perguntas do tipo: ‘por que o senhor faria isso?’ Não é preciso entrar em discussões. Minhas opiniões são irrelevantes. Há uma tendência neste momento de esses caras jovens serem opiniáticos, gritarem, esse tipo de coisa. Para mim, são personalidades falsas. Mas eu sou ‘eu’, a mesma pessoa que está sentada agora aqui com vocês estará no ar daqui a pouco. Isso é uma coisa que vem desde os meus tempos de rádio em Miami – ser sempre você mesmo. Uma vez um amigo me disse: ‘O único segredo do sucesso é que não existe segredo. Seja você mesmo.’ Se gostam de você, gostam de você. Se não gostam, você não vai conseguir com que gostem. É o mesmo que acontece com as mulheres…


…. que, no mínimo, são de grande importância na sua vida. Tivemos dificuldade em contar, o sr. está no seu quinto, sexto ou sétimo casamento?


É o quinto porque me casei com a mesma mulher duas vezes. Portanto, são seis casamentos com cinco pessoas. Na minha época, não se podia viver junto com alguém – você tinha que se casar. E às vezes, você se casava quando não devia ter casado. Apaixonei-me por três mulheres e com uma das três não me casei. Tenho um amigo da minha idade que nunca se apaixonou. Nunca teve esta sensação.


Qual a pergunta que o sr. mais se arrepende de ter feito nesses anos todos entrevistando pessoas?


Estava trabalhando no rádio há apenas duas semanas quando, ao entrevistar um padre católico, perguntei quantos filhos ele tinha. Tradução de Maria de Lourdes Botelho’


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Em primeira pessoa


‘É esperada para fim de maio, início de junho, a estréia do site Globo Memória, um acervo com centenas de depoimentos gravados ao longo dos últimos cinco anos. São atores, diretores, autores, apresentadores, jornalistas e outros profissionais – vários já mortos – que ajudaram a fazer a história das Organizações Globo, do jornal à internet.


O material a ser disponibilizado na web soma esses relatos em vídeo e se concentra na maior vitrine da casa, a TV Globo. Como toda semana é gravado um depoimento inédito, o volume do acervo promete se manter em permanente crescimento. O site incluirá ainda imagens vistas nos telejornais ao longo de sua história.


A iniciativa, no entanto, não há de frear o aproveitamento do Globo Memória no lançamento de novos títulos em livros. O principal produto derivado do projeto foi o livro dos 35 anos do Jornal Nacional, em 2004, mas outros vieram e virão.


FIGURINO EM LIVRO


O lançamento do ano oriundo do Globo Memória já está em produção: é o figurino desfilado pela tela do plim-plim, tantas vezes inspirador da moda nas ruas, que chega às prateleiras no fim do ano.


entre-linhas


Hebe abriu o programa de anteontem se desculpando pela notada ausência na partida da amiga Nair Bello. Jurou que não ia chorar, mas chorou. E explicou que pensou em adiar uma viagem de negócios, mas achou mesmo que Nair, do jeito como era, aproveitaria sua ausência para ir embora.


O SBT se pronuncia em seu site como a ‘única emissora que dá ao anunciante um ‘Certificado de Garantia de Audiência’. Ou seja, se o anúncio não alcança a audiência comprada, o cliente escolhe qualquer produto para ter seu anúncio recolocado no ar.


Ainda do site do SBT, resta aos anunciantes a promessa de 20% de desconto em qualquer produto da programação.


Mayra Dias Gomes, 20 anos, herdeira do dramaturgo, lança no dia 27 seu primeiro romance, Fugalaça, pela Editora Record.


Maratona de Desperate Housewives na Sony: sábado, das 12h às 18h, do 7º ao 12º da 3ª temporada.


O cerimonial está a toda na Globo São Paulo. O novo edifício do Brooklin, que abriga departamento comercial, CGCom e estúdio panorâmico, é palco de várias festas de inauguração esta semana, em turnos revezados, para receber autoridades, publicitários, jornalistas e fornecedores.


Aliás, o novo Edifício Roberto Marinho recebeu, no início do mês, a visita do designer Hans Donner, que lá esteve para conferir os traços finais da obra.’


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