Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Renata Gallo

‘O Altas Horas volta a ser inédito neste fim de semana reforçando seu slogan: vida inteligente na madrugada. A partir de sábado, a atração contará freqüentemente com a participação de um político. O primeiro a participar será o presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoino. De acordo com Serginho Groisman, a novidade é uma vontade antiga que ele preferiu concretizar em um ano não eleitoral. ‘Não queria que ficasse uma coisa partidária visando as eleições’, explica.

Você acha que vai ser difícil o jovem falar de política?

Acho que este questionamento tem de fazer parte do repertório da platéia. Não espero um confronto, mas que eles perguntem o que têm vontade. Talvez caia na redundância, mas tenho tido uma participação maior como entrevistador, então não há problema.

Quais são as outras novidades para este ano?

Sempre discuti temas com especialistas. Agora vou trazer uma pessoa que tenha uma história para contar e que a platéia se identifique com ela. Esta semana o tema é anorexia. Depois, pena de morte. Não são histórias novas, mas pontos de vista novos. Também teremos matérias de comportamento. Quero trabalhar com questões que, de alguma maneira, façam as pessoas pensarem: o contraste que existe na educação, preconceito, união homossexual…

Questões mais jovens?

É claro que falar de anorexia é mais fácil, porque está mais próximo do jovem, e a política nem sempre, mas todas as vezes que levei político no programa foi interessante. A idéia não é ficar falando de espinha, a gente está trazendo política, discussões.

Você está feliz na madrugada?

A proposta de fazer programa na madrugada sempre foi minha, mas não era tão na madrugada. Às vezes a gente entra no ar às 2 horas! Meu horário preferencial é por volta das 0h45. Aprendi que um percentual grande da população tem como único divertimento a TV. Tem gente que fala que sábado o povo está na balada, mas, se a gente pensar em Brasil, pouca gente tem dinheiro para pegar um ônibus para ir para a balada.

E tem a vantagem de ter mais liberdade?

Não é liberdade, a questão é ousadia, experimento. Já trouxemos Naná Vasconcelos, Hermeto Pascoal, já fizemos uma série com diretores de teatro. Acho que domingo à tarde isso seria arriscado. Até gostaria de tentar, mas na madrugada eu sei que eu posso e dá certo, a audiência aceita.

Já houve época em que toda emissora tinha programa de jovem. Você se sente só hoje?

O Altas Horas tem uma mescla de entrevista, música, auditório e reportagem, mas tem uma característica que é a platéia interferindo no programa. Acho que o que falta na TV é isso. Essa questão de programa jovem é muito delicada porque o que é uma atração jovem? É falar de drogas, aborto, anorexia, só isso? O que temos no Altas Horas é um ponto de vista jovem em relação a assuntos da sociedade. A platéia é jovem, mas não necessariamente o espectador.’



BIG BROTHER BRASIL
Roberto Damatta

‘O que o ‘BBB’ diz do B?’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/02/05

‘Eu não nego a globalização, mas a menos que ocorra uma invasão de Marte – acredito muito pouco no seu poder arregimentador e instrumental. Tampouco duvido de uma crescente e perturbadora consciência planetária, mas entre atestar isso e deduzir que somos sujeitos de redes globais mais impositivas e importantes que as nossas fronteiras locais e nacionais, às quais pagamos impostos e que exigem vistos e passaportes, há a barreira do meu ceticismo.

O planeta, tirante os grande e infelizmente vazios chavões da liberdade, igualdade, fraternidade e paz universal, concórdia, etc., tem produzido muito mais concentração de renda e contradição de sentimentos altruístas de unidade. O terremoto da Ásia, em que pese uma impressionante solidariedade mundial, já saiu dos jornais. Mas, como compensação, existe Cuba e o mercado financeiro mundial que vão muito bem, obrigado. E é com apreensão que vejo como os países ricos e bem postos nas suas trajetórias históricas que todos deveriam imitar (pois não é exatamente isso o que vendem os organismos internacionais?), desdenham ou rejeitam – a começar pelos Estados Unidos de George W. Bush – protocolos importantes como o de Kyoto. Um imposto estilo global para os ricos fica no terreno utópico e, mesmo aceito, seria provavelmente inexeqüível, porque teria de forçosamente passar pelas duras e burras burocracias nacionais com suas leis, seus funcionários e ativistas políticos. Eu já posso imaginar grupos da famosa e paralisada esquerda brasileira rejeitando um maldito ‘dinheiro apátrida’ e, por isso mesmo, muito mais asqueroso do que a saudosa ajuda do Usaid.

Produtos globais, como o MacDonald’s, a Coca-Cola, a General Eletric, a Gucci, a Sony, a Colgate, a Volkswagen, os filmes de Hollywood, o futebol e os realities shows, são itens culturais privilegiados para um teste da efetividade dos bens e dons planetários. Pois eles só pegam e funcionam quando traduzidos e assimilados em nível local. Sendo assim, enquanto não adquirem uma ‘cara’ nacional, vagam num oceano de ambigüidade, onde um dos seus pólos tem visibilidade na aldeia, mas o outro remete aos seus lugares de origem, um lado geralmente lido como quinta coluna e negativo.

Não é diferente nos programas de TV que importamos. Vejam o exemplo dos noticiários. Nos Estados Unidos, os locutores usando as mesmas mesas, roupas e microfones, exibem uma cara-de-pau e, apenas movendo os lábios, transmitem a novidade, permanecendo neutros ao ponto de pensarmos que usam máscaras. No Brasil, ao contrário, cada qual faz o seu comentário. Seja por palavras, seja por meio de caras e bocas pois, entre nós, é culturalmente impensável não reagir de algum modo à notícia que se está transmitindo. Ficar indiferente a notícias de assassinato, catástrofes ou da última gafe do governo seria ser conivente com o assunto.

Mas onde o localismo se mostra de modo mais dramático é nos reality shows que adotam integralmente a perversa transparência da casa de vidro proposta pelo comunista André Breton, e remetem a perversidade do totalitarismo absoluto de Orwell, de onde o programa tira o nome Big Brother: aquele que entrega tudo o que vê ao nosso voyeurismo perverso, descontrolado e com direito a voto.

Mas em vez de individualizar ao máximo a competição e o individualismo, como ocorre em outros países, o que vemos nos BBs nacionais é o nascimento de um forte e emocional personalismo quando os competidores choram de saudade de casa ou, como no caso atual, se aglutinam em torno de um líder. Ou seja, mesmo num jogo desenhado para acirrar a disputa individual, a cultura da família, do clientelismo e da amizade protetora – da ‘casa’ – tem forte presença e dá as suas cartas. Lá se enturmam os ‘meninos gigantes’, os ‘homens’, fortes e lutadores, pressionando e esmagando as ‘meninas’. Lá se estampa também o enorme prestígio da profissão de médico, cimento de uma ex-liderança absoluta, com direito a projeto político corporativo, seguidores fanáticos e bajuladores, do mesmo modo que, do outro lado, reage um professor universitário (eis outra carreira importante, embora difícil, no Brasil), aliciando outros participantes – todos momentaneamente esquecidos de que o prêmio caberá não a um grupo ou e uma relação, mas a um indivíduo. Por isso mesmo é básico constatar a força viva dos valores locais na figura de um forte personalismo relacional que, mesmo num contexto hobbesiano, onde todos lutam (ou deveriam lutar) contra todos, existem entregas fiéis a uma ou outra pessoa.

Um outro dado notável deste BBB é a formação aberta e consciente de um grupo fechado, imitação talvez do sucesso de algum partido político autoritário, como uma facção que dita em quem votar e, tendo força, tem esbanjado preconceito contra preferências sexuais e traços de personalidade dos seus oponentes. Nunca se viu em nenhum BBB uma tentativa de congregação mais totalitária, corporativa e dominada por um pensamento único do que nesse programa em que os chamados ‘gigantes’ parecem ter saído de algum partido político totalitário.

Felizmente, para os competidores, a estrutura do programa combina o paredão fidelista, com o bom e velho mercado eleitoral democrático e, no voto, o público tem compensado todas as pressões stalinistas. Com isso, o brasileiro revela como ele tem horror ao autoritarismo e às propostas arbitrárias e, acima de tudo, a arrogância associada ao poder.

Caso interessante esse de um programa que demonstra com todas as letras como é bom ter mercado e, melhor ainda, voto livre para calar os autoritários, os núcleos duros, os de carteirinha e os incapazes de se colocarem no lugar dos outros.’



Carlos Franco

‘No Big Brother, Assolan promete pôr fim à sujeira’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/02/05

‘Apesar do esforço, liderança do mercado de lã de aço no País ainda é da Bombril

A eliminação, ontem, de mais um participante da quinta edição do Big Brother Brasil, na TV Globo, abriu espaço para um dos patrocinadores oferecer os seus produtos de limpeza, enquanto a turma da casa lavava a roupa suja. A Assolan exibiu campanha criada pela agência Africa para reforçar a imagem, um pouco além da lã de aço, com panos umedecidos para limpeza e esponjas.

A Assolan vem lutando para ameaçar a liderança da Bombril no segmento em que essa marca acabou por virar sinônimo de lã de aço. Há um ano, chegou a exibir uma fatia de 14% do mercado. Só que a Bombril manteve e ainda mantém a liderança, com mais de 80% de mercado. Mesmo em crise, por conta dos problemas financeiros enfrentados pelo controlador italiano Sergio Cragnotti, na mira do fisco italiano e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o xerife do mercado de ações no País, a Bombril tem conseguido manter as vendas. Seus administradores lutam para separar a empresa desse vendaval, e o consumidor parece entender o esforço com a sua preferência.

A Assolan, então, partiu para encorpar a sua linha de produtos de limpeza. A participação no BBB5, como o nome do programa foi abreviado pela Globo, é uma ponta de lança da apresentação das novas linhas. Cada patrocinador, como a Assolan, pagou R$ 5 milhões para garantir a presença no programa. Além da Assolan, são também patrocinadores a Fiat, a Azaléia, a Minuano e a fabricante de cosméticos Niely.

Outros estão entrando no programa até em merchandising, como é o caso do banco HSBC, que mantém um caixa na casa onde 14 pessoas já estiveram hospedadas. É o que justifica a repetição à exaustão pelos participantes da expressão ‘merchan’, uma forçada abreviação de merchandising, já que todos usam os seus segundos de fama para a auto-propaganda.

As empresas não ficam atrás. E se a quinta edição do programa começou morna, agora, com índices de rejeição nas alturas e votações estupidamente expressivas, ganhou musculatura. Há anunciantes tanto na TV aberta como nos canais fechados, querendo pegar carona no BBB5.’



CARNAVAL NA TV
Keila Jimenez

‘Quem desfilou mais na hora da propaganda?’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/02/05

‘As emissoras aproveitaram a boa audiência do carnaval para empurrar goela abaixo dos telespectadores chamadas de seus programas. Entre as atrações mais divulgadas nos intervalos da folia na TV estão a minissérie Mad Maria, da Globo, Floribella, nova novela da Band – que estréia em março – e TV Fama, da RedeTV!

A quantidade de chamadas dessas atrações foi tão grande que elas despontaram entre os produtos mais anunciados na TV durante o carnaval, segundo pesquisa realizada pela Controle da Concorrência – empresa que monitora a programação e inserções publicitárias para o mercado.

Nos dias 5, 6, 7 e 8 de fevereiro, a empresa monitorou por 24 horas diárias a programação das principais redes: Band, Globo, SBT, Record e RedeTV!, e reuniu as marcas que mais investiram nas transmissões do carnaval. A novelinha Floribella, por exemplo, disputou o break com marcas como Schincariol e Casas Bahia, que dominaram os espaços comerciais no Band Folia, transmissão do carnaval em Salvador realizada pela Band. A trama, que ainda nem estreou, teve 70 chamadas na programação, enquanto a Schin teve 149 inserções. Na Rede TV!, 31 chamadas do TV Fama entraram na programação durante o carnaval – pouco, comparado ao produto recordista de inserções, as Lojas Marabraz, que somou 137 chamadas.

Os produtos mais anunciados na Globo nesse período foram a cerveja Kaiser, que teve 180 inserções, e a Nestlé, com 137 inserções, ambas patrocinadoras das transmissões dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro.

Falando em patrocinadores, as marcas que compraram mais cotas de patrocínio na Band, nessa temporada, foram Ford, Casas Bahia e Schincariol. Na Globo, Kaiser, Garnier e Nestlé ficaram com as principais cotas do evento. Na RedeTV!, que exibiu somente os bastidores do evento, Schincariol, Gree e Marabraz foram as grandes patrocinadoras das transmissões.’