Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Renato Gallo

‘Em salas escuras do Rio de Janeiro e São Paulo, tendo como cúmplices somente uma TV e um microfone, se escondem Julia Roberts, Tom Hanks, Dustin Hoffman, Morgan Freeman, entre outros grandes astros do cinema americano. Pelo menos as vozes deles. Os dubladores brasileiros, apesar do êxito profissional, são meros anônimos do grande público e circulam pelas ruas sem que nenhum paparazzo os sigam.

Isso tudo enquanto estão calados, porque quando abrem a boca… ‘Sempre me perguntam se eu faço novela da Globo, falam que me conhecem de algum lugar’, diz Mônica Rossi, de 40 anos, a responsável pelas vozes de celebridades – e divas – como Julia Roberts, Cameron Diaz, Demi Moore e Madonna. Na verdade, Mônica também trabalha na Globo. É dela a voz da malvada Cuca, do Sítio do Picapau Amarelo, e da Priscila, da extinta TV Colosso. O que já lhe causou situações engraçadas. ‘Os pais esquecem que as crianças têm uma coisa lúdica e insistem em me apresentar como a Cuca. Elas ou ficam decepcionadas ou com medo’, conta, rindo.

A decepção também acontece quando ela diz que costuma interpretar as vozes das mulheres mais cobiçadas do mundo. ‘Uma vez falei para uma menina que fazia a voz da Madonna. Ela me olhou dos pés à cabeça e disse: ‘É ruim, hein?!’. Foi muito engraçado’, diz.

Mônica começou sua carreira depois de fazer um teste nos estúdio da Herbert Richards, em 1982. Segundo ela, a dublagem é uma das profissões mais ingratas porque, quando bem-feita, não é notada. Mas é só acontecer uma falha à la Fucker and Sucker (do Casseta & Planeta) para todos perceberem que o filme é dublado. ‘Daí falam que filme dublado é horrível’, fala Mônica.

Marco Ribeiro, de 34 anos, proprietário da Áudio News, diz que a boa dublagem é aquela que você vê a voz saindo da boca do personagem. ‘Às vezes, parece que a voz sai do lado, mas o certo é a voz casar com a boca do ator’, afirma.

Métrica – A dublagem de um filme é feita em média em cerca de 15 dias, mas apenas dois ou três são destinados à gravação das vozes. A preparação é muito rápida. Nada de estudos ou pesquisas. Tudo é feito na hora. Os dubladores usam um fone de ouvido com o som original e dublam assistindo ao filme tentando sincronizar a voz com o movimento dos lábios do ator que está sendo dublado. ‘Faço algumas adaptações na hora, como mudar uma ou outra palavra para que ela se encaixe melhor no texto’, diz Ribeiro, que tem em seu currículo a grande maioria dos filmes de Tom Hanks e Jim Carrey.

Ribeiro trabalha na área desde 1985 e lembra que antigamente a dublagem era feita muito precariamente. ‘Havia apenas dois canais de áudio e todo mundo tinha de gravar junto. Alguns gravavam as vozes apenas olhando para a tela porque não tinha como dar fone para todos. Hoje há canais infinitos e fazemos tudo separadamente’, conta. Os dubladores também têm hoje a ajuda de programas de computador que são capazes de comprimir ou esticar as vozes até um certo limite sem alterar o som.

Um dos pioneiros na profissão, Newton da Matta, de 60 anos, a voz de Dustin Hoffman, Paul Newman e de Bruce Willis, diz, no entanto, que não há recurso ou truque capaz de salvar uma péssima dublagem. ‘Não é só sincronizar, é preciso atuar e 80% dos dubladores apenas sincronizam a voz, 20% é que dublam de verdade’, argumenta.

Para ele, que começou a carreira fazendo radionovela, a atuação do dublador é o mais importante. ‘Temos de vestir o personagem e passar toda a emoção pela voz’, diz Da Matta, citando dois grandes desafios de sua carreira:

quando dublou Dustin Hoffman em Rain Man e em Tootsie. ‘O Dustin Hoffman dá muito trabalho, é um excelente ator. Tem atores que não são tão difíceis, pois nem mudam muito de um filme para outro’, fala.

Dublar sempre o mesmo ator não quer dizer interpretar sempre com a mesma voz. Ribeiro conta que os atores costumam mudar o timbre ou a densidade da voz de um trabalho para outro. ‘Cada filme é diferente do outro. A voz do Tom Hanks era mais grave em À Espera de Um Milagre, mais extrovertida em Um Dia a Casa Cai, mais sofrida em O Náufrago’, exemplifica.

Em O Terminal, filme que já foi dublado por Ribeiro, Tom Hanks fala búlgaro.

Por isso, Ribeiro também teve de falar. ‘Tivemos um grande cuidado e consultamos uma pessoa do Consulado da Bulgária para supervisionar o trabalho’, afirma. Ribeiro é tão fiel a Tom Hanks que, quando o ator fez a voz do persongem principal do desenho Toy Story, da Disney, ele também o dublou na animação.

Mas um dos atores mais difíceis para dublar, segundo ele, é o careteiro Jim Carrey. ‘Ele mexe muito a boca, faz muita careta. Tenho de fazer todo um manejo para achar a métrica’, diz.

Efeitos sonoros – Além da voz, o trabalho dos dubladores também inclui fazer os sons de tosses, espirros, beijos ou qualquer outro barulho que apareça na fita. ‘A gente resmunga, limpa a garganta, gagueja, faz de tudo. O ator original pode não ter feito o som do espirro, por exemplo, mas nós fazemos’, conta Márcio Seixas, de 59 anos, locutor oficial da Disney há 28 anos e responsável pelas vozes de Morgan Freeman, Clint Eastwood e Sr. Spock, de Jornada das Estrelas.

Seixas nasceu em Belo Horizonte, mas ainda jovem decidiu ir para o Rio atrás daquela frase ‘Versão Brasileira…’ que ouvia no final dos filmes. Assim como Da Matta, também começou na carreira depois de se tornar ator de radio-novela. Atualmente, Seixas se diz mais recluso e um pouco decepcionado com a profissão. Segundo ele, a dublagem é sempre feita às pressas, sem muito cuidado com o texto e sem as adaptações necessárias para que ele fique condizente com nosso cotidiano. ‘Acho que o texto tinha de ser igual ao que falamos e tem coisas que me dão desespero. Um cachorro pula no personagem e ele diz: ‘Isso garoto, pula garoto’ (fala em tom caricatural). Nenhum brasileiro diz isso’, critica.

Ficção x Realidade – Outro problema da área, de acordo com ele, são os documentários do Discovery Channel. ‘É preciso colocar ética na dublagem. A Discovery obriga o dublador a interpretar, mas o que se passa em um documentário é real, não ficção. É a pessoa falando de uma dor dela, daí fica aquele: ‘Meu filho chegou morto.., é…, morto ao hospital…, hospital.’ É totalmente artificial.’ O certo, segundo ele, seria fazer uma versão em cima do som original. ‘Não é fazer o dublador chorar, sentir a dor da pessoa que está sofrendo, porque soa falso’, diz.

Um ponto em que todos dubladores concordam é que um filme bem dublado é muito melhor que um legendado. ‘A legenda é condensada, não é nem a metade do que eles realmente falam’, fala Da Matta. ‘É uma síntese do que está se dizendo’, completa Ribeiro.’

***

‘Telecine Pipoca e TNT endossam o gosto da platéia’, copyright O Estado de S. Paulo, 10/10/04

‘Muitos podem torcer o nariz, mas há, sim, gente de sobra disposta a assistir a filmes dublados. Prova disso é o novo Telecine Pipoca, que desde o início do mês substitui o Telecine Happy na Rede Telecine. A proposta do Pipoca é mostrar os blockbusters do Premium e os destaques dos outros canais na versão dublada. De acordo com João Mesquita, Diretor-geral da Rede Telecine, a decisão foi calcada em uma pesquisa de público. ‘Um dos maiores ensinamentos é que boa parte do público quer ver filmes dublados, por inúmeras razões: porque querem simplesmente sentar no sofá e não ler nada, porque estão cansados…’, afirma.

Segundo Mesquita, a TV paga está muito popularizada – prova disso é o sucesso do Big Brother Brasil no Multishow – e não corresponde a uma elite, mas a uma classe alta que não necessariamente é uma elite cultural. ‘Não é uma crítica, mas é uma questão cultural. O brasileiro cresceu vendo a Globo exibir filmes dublados. É hábito. Na Espanha tudo é dublado, em Portugal nada é dublado’, diz Mesquita, que é português.

O inglês Anthony Doyle, vice-presidente da Turner International do Brasil, concorda. ‘O TNT é um canal básico e, por termos maior distribuição, achamos que seria melhor chegar mais perto ao que o assinante está acostumado. Por isso exibimos filmes dublados’, argumenta.

Para quem não gosta de ver Tom Cruise falando português, a opção, segundo ele, é acionar a tecla SAP. ‘O fato é que TV não é como cinema: tem o telefone, a geladeira, não dá para olhar o tempo todo para a tela. Isso não quer dizer que legenda seja pior ou melhor’, conclui Doyle, do TNT, canal que lidera a audiência adulta entre as emissoras pagas.

Oferta de trabalho caiu – A aparente invasão de dublados na TV paga não quer dizer, no entanto, que o mercado está crescendo. ‘A TV a cabo e os DVDs eram uma esperança, mas foi só euforia’, diz Márcio Seixas. Newton da Matta concorda: ‘Antes havia séries longas como A Gata e o Rato, Magiver. Até a produção de longa-metragem caiu.’

Para Mônica Rossi, outro problema é que a TV aberta estagnou. ‘A quantidade de reprises é absurda. Antes era um filme inédito por semana, hoje é meia duzia de lançamentos por temporada. Passam a reprise da reprise’, fala a voz de Demi Moore em Ghost, um dos campeões de reprise.

E, como a maioria dos dubladores ganha por hora (a média é R$ 50,00/hora), a situação fica mais difícil. Se o filme for de ação, então, que tem poucos diálogos, esqueça. ‘Acabei de dublar o Allien e tive só cinco horas de trabalho’, afirma Mônica Rossi.’



MTV
Leila Reis

‘VMB reforça o vazio musical da TV’, copyright O Estado de S. Paulo, 10/10/04

‘A premiação dos melhores videoclipes do ano pela MTV ganhou uma repercussão que irradiou para um território bem mais amplo do que a faixa UHF. Esta semana o VMB 2004 foi assunto de inúmeros jornais, sites, revistas, programas de TV, da MTV que, sem dúvida alguma, vai explorar o programa diariamente pelos próximos 12 meses.

O evento foi tão badalado que até José Serra e Marta Suplicy apareceram na condição de espectadores para, decerto, agregar uma visibilidade não garantida por lei às suas candidaturas.

Não desmerecendo o esforço da MTV para montar a festa, mas o que faz um evento exibido por uma emissora em rede não aberta ganhar repercussão nacional? A resposta só pode ser uma: carência. Na falta de oportunidade para mostrar trabalho na TV, todos os artistas – todos mesmo – atendem ao chamado.

Claramente inspirado nos Grammy, Emmy e Oscar, o VMB acaba colocando no vídeo representantes de todos os gêneros musicais. Ecumenicamente junta o superbrega com o cool, o moderno com o antiquado, o ultrapassado com o emergente.

A trupe da casa, os VJs, comparece, mas a grande graça continuam sendo os comentaristas Marco Bianchi e Paulo Bonfá, do Rockgol. Claro que, com dez anos de duração, o VMB não consegue surpreender ao fazer duplas que normalmente não se relacionariam no showbiz. Ao contrário dos americanos, comete falhas técnicas e ainda não consegue sintetizar a festa que dura a eternidade de quase três horas. Mas mesmo assim, funciona porque falta lugar para música na TV.

Existem valiosas exceções, como o Bem Brasil que há 13 anos oferece um espaço democrático para todos os estilos musicais, e Viola Minha Viola, que dá voz à música de raízes rurais, da TV Cultura. Mas o fato é que não há lugar para a MPB na televisão.

Os programas de auditório – Faustão, Domingo Legal, Programa Raul Gil, etc.

– incluem no cardápio atrações musicais (quase sempre de qualidade discutível), mas está cada vez mais rarefeito o espaço para música no país do samba e do carnaval.

Está certo que a pirataria dizimou o mercado das gravadoras, mas olhando o VMB percebe-se que existe uma pujança musical que a TV aberta ignora. Quais chances que Pitty ou Marcelo D2 ou Seu Jorge ou Elza Soares têm de atingir o grande público que não assiste à MTV? Pouquíssimas.

É incompreensível a apatia das emissoras para com a música porque, como já foi registrado nesta coluna, ela faz parte da história da TV brasileira desde seu nascimento. Foi responsável pela revelação de talentos que até hoje são referência para diversas gerações. O Caetano Veloso, que reclamou do problema no som durante apresentação no VMB, foi guindado à condição de cantor de MPB pelos memoráveis festivais da Record. Festivais esses que garimparam talentos como Tom Jobim, Chico Buarque, Gilberto Gil, Rita Lee, Elis Regina, etc.

Houve uma época em que era comum investir em grandes especiais, programas que iam a fundo na obra de um determinado artista ou em um tema específico.

Houve programas – na chamada linha de shows – cuja matéria-prima era a música, a boa música.

O curioso é que os profissionais que fizeram essa história estão por aí, loucos para aceitar desafios. E o público – descrito como um dos mais musicais do mundo – continua sem a alegria de conhecer a produção que certamente está se desenvolvendo pelo Brasil afora.’



Jotabê Medeiros

‘Prêmio da MTV comemora recorde de audiência’, copyright O Estado de S. Paulo, 7/10/04

‘A artilharia foi pesada: o vestido branco sinuoso de Daniella Cicarelli (que mandou beijinho ao estilo Ronaldo Fenômeno); um apresentador que é profissional de interpretação (o ator Selton Mello); encontros históricos emocionantes ou alquímicos (Ira! e Paralamas do Sucesso, Sepultura e Nação Zumbi, Skank e Replicantes); uns condimentos especiais (beijo entre duas mulheres, Syang e Preta Gil); os VJs caracterizados como heróis de quadrinhos; o decote sempre inderrubável de Fernanda Lima (dessa vez acompanhada pelo roqueiro de proveta Alex Band, do The Calling).

Com esses ingredientes, a transmissão do prêmio Video Music Brasil (VMB), da MTV, bateu recorde de audiência histórica na emissora, ficando em primeiro lugar durante 43 minutos, segundo dados do Ibope. A MTV tinha batido as concorrentes (na faixa de público entre 15 e 29 anos) em 2001, ficando durante 30 minutos na liderança. O pico de audiência foi 6.5 pontos percentuais, com uma média de 4.5 pontos percentuais.

Em geral balizada pelo agrado à indústria fonográfica, a festa deste ano foi um pouco mais democrática, o texto estava bem melhor, e os encontros notáveis foram felizes – à exceção de Caetano e David Byrne, que foram derrotados por um microfone sabotador.

Segundo explicou a emissora, o microfone de Caetano que não funcionou e o fez perder as estribeiras (e até dirigir alguns impropérios para a MTV, que ele corteja desde o início) tem a seguinte explicação: havia um outro microfone aberto nos bastidores do evento, o que provocava microfonia no equipamento de Caetano.

Mas não foi só com Caetano que a coisa deu chabu: falhou também quando A Liga dos SuperVJs se apresentou (mal dava para ouvir a voz do Cazé) e em outras vezes deixou o apresentador Selton Mello em maus lençóis. A sorte é que ele também sabe atuar em teatro e tem voz poderosa.

A festa consagrou Marcelo D2 como o maior papa-prêmios do País nos últimos 2 anos – ele ganhou da APCA aos prêmios Multishow e TIM, além de ter papado também a MTV no ano passado. Este ano, levou os de Videoclipe de Rap e Videoclipe do Ano. O prêmio da audiência foi para a roqueira baiana Pitty.

Até os candidatos a prefeito de São Paulo, de olho na audiência crescente e na influência que a MTV tem sobre o eleitorado jovem, apareceram lá na premiação – convidados pelo diretor-geral da emissora, André Mantovani.’



Tela Viva News

‘VMB mantém MTV como líder no seu target por 43 minutos’, copyright Tela Viva News, 6/10/04

‘A MTV permaneceu na liderança entre as redes abertas no seu target (dos 15 a 29 anos), classes AB, durante 43 minutos da transmissão direta e ao vivo de sua festa de premiação VMB 2004, na noite de terça-feira, exibida entre 21h30 e 0h30. De acordo com a emissora, foi a primeira vez que a MTV ficou por tanto tempo nesta colocação. Ainda, o share da emissora (número de TVs ligadas na MTV durante a premiação) foi em média de 18,40%. Na média do programa, a audiência no público-alvo da emissora foi de 4,5% (o mesmo índice de 2003), com pico de de 6,5% (em 2003, o pico fora de 8%). Cada ponto aferido pelo Ibope na Grande São Paulo corresponde a cerca de 49 mil domicílios com TV, ou 164 mil telespectadores. Na média do horário, a MTV ficou na segunda colocação entre as emissoras segmentadas (o que inclui também os canais pagos).

Dantanexus

Na medição do instituto Datanexus, concorrente do Ibope, a MTV aparece com média de 0,7% de audiência no horário compreendido entre 18h e meia-noite, ficando à frente apenas das redes abertas Gazeta e Canal 21 (UHF) no período. No entanto, o levantamento do Datanexus indica que o pico de audiência da emissora foi às 18h15, quando teria atingido cerca de 2% de audiência, muito antes portanto da exibição do evento, principal atração do dia.’