Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Roberto Lameirinhas

‘O checkpoint no qual o carro em que viajava a jornalista italiana Giuliana Sgrena foi alvejado fica a cerca de três quilômetros do Aeroporto Internacional de Bagdá, numa estrada onde ataques rebeldes são freqüentes. Por seu grau de risco, o caminho é considerado uma das vias urbanas mais perigosas do planeta.

Ao se aproximarem do posto de controle, os veículos que se dirigem de Bagdá para o aeroporto – uma distância de cerca de 10 quilômetros – são desviados para uma pista marginal da estrada, sob ordens de soldados americanos. Ali formam filas imensas, à espera da revista feita por agentes da empresa de segurança sul-africana Global Service. O local está inundado de placas colocadas pelo Exército americano que alertam: ‘O uso de força letal está autorizado a partir deste ponto.’

Os soldados americanos que organizam a fila são exigentes quanto ao cumprimento de suas ordens e os automóveis devem se aproximar vagarosamente. A parada de qualquer veículo metros antes ou depois do local determinado pode causar de berros imperativos a disparos de fuzil na direção dos que – intencionalmente ou não – não cumprem a ordem.

São os agentes da Global que se encarregam de revistar os carros em busca de armas e explosivos. A passagem de um lado para outro do checkpoint é feita a pé, pelo chão de terra batida – ou lama, dependendo do tempo.

Num grande balcão sob uma lona, eles reviram malas e mochilas e submetem todos os que pretendam passar pelo local a detectores de metal e checagem pessoal.

Só carros oficiais ou especialmente autorizados pelos militares podem seguir viagem do checkpoint até o aeroporto. Normalmente, os passageiros, depois de exibir suas passagens às autoridades, têm de tomar táxis ou ônibus para chegar ao terminal. Dependendo do movimento da estrada, o trajeto da cidade ao aeroporto pode levar várias horas.’



O Globo Online / Reuters

‘Agente italiano morto por soldados dos EUA no Iraque é enterrado com honras de Estado’, copyright O Globo Online / Reuters, 7/03/05

‘A Itália despediu-se nesta segunda-feira, num funeral com honras de Estado, do agente Nicola Calipari, que deu a vida para salvar a jornalista Giuliana Sgrena, ao tentar protegê-la de tiros disparados por soldados americanos no Iraque. O incidente ocorreu após a libertação dela no Iraque após um mês de seqüestro – cujo desfecho ele negociou. A cerimônia na Basília de Santa Maria dos Anjos e Martires, em Roma, foi transmitida ao vivo por diversos canais de televisão do país.

Milhares de italianos reuniram-se nas ruas de Roma enquanto o corpo de Calipari era levado até a imponente basílica. Soldados uniformizados integraram uma guarda de honra, e a multidão aplaudia a passagem do caixão coberto pela bandeira italiana. Segundo o jornal italiano ‘La Reppublica’, mais cem mil pessoas estiveram no velório, desde domingo, e vinte mil acompanharam os funerais desta segunda-feira.

Calipari foi baleado na cabeça após se jogar sobre a Giuliana Sgrena, quando soldados americanos disparavam contra o carro que os transportava, na sexta-feira, ao aeroporto de Bagdá. Sgrena, libertada minutos antes, após ficar um mês em poder de rebeldes no Iraque, foi ferida no ombro. Nesta segunda-feira, ela recebeu a visita do presidente da Itália, Carlo Azeglio Ciampi, no hospital onde está internada.

Entre os presentes ao funeral do Nicola Calipari, estavam o presidente italiano e o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, que enviou o agente para proteger a jornalista italiana Giuliana Sgrena libertada no Iraque. Berlusconi tenta agora reconciliar suas políticas pró-EUA com exigências de uma investigação sobre as circunstâncias da morte do agente. Uma missa foi realizada na basílica pelo irmão de Calipari, o sacerdote Maurizio Calipari.

A mulher de Calipari, Rosa, foi consolada pelos filhos de 19 e 14 anos, e pelo namorado de Sgrena, Pier Scolari. Com milhões de italianos, a jornalista acompanhou, pela televisão, o funeral do quatro do hospital militar, onde ela se recupera de um ferimento no ombro esquerdo.

A jornalista rebateu a versão americana para o incidente. Segundo os EUA, os soldados americanos abriram fogo contra o carro, porque os italianos não obedeceram a um sinal para diminuir a velocidade do veículo perto de um posto de controle. Sgrena sugeriu ter sido alvo de um ataque intencional dos militares americanos, que se oporiam ao pagamento de resgate para a libertação de reféns.

Calipari, de 50 anos, era um experiente negociador que já havia garantido a libertação de outros dois italianos seqüestrados no Iraque no ano passado. Agora, a morte dele traz à tona especulações de que a Itália estaria pagando resgates para a libertação de seus cidadãos capturados, algo que Roma nega.

O governo italiano deixou claro que continuará apoiando o presidente George W. Bush apesar do assassinato e que não retirará suas forças do Iraque. Mas, ao mesmo tempo, a Itália exige a punição dos responsáveis pela morte de Calipari. Em toda a Itália houve manifestações de indignação. Tanto membros do governo quanto oposicionistas rejeitaram a versão americana para o incidente.

Os EUA e a Grã-Bretanha são contra o pagamento de resgates por acreditarem que isso incentiva a prática do crime.’



Globo Online

‘Jornalista italiana seqüestrada no Iraque é libertada’, copyright Globo Online (www.oglobo.com.br), 4/03/05

‘Um dos casos acompanhados com maior expectativa internacional na longa lista de seqüestros de estrangeiros no Iraque pós-Saddam Hussein teve um desfecho feliz. A jornalista italiana Giuliana Sgrena, de 56 anos, repórter do jornal de esquerda ‘Il Manifesto’, foi libertada.

Sgrena foi capturada no dia 4 de fevereiro, em Bagdá, por insurgentes que exigiam a retirada de tropas italianos do Iraque. No dia 16, os seqüestradores divulgaram um vídeo em que a jornalista fazia um apelo pungente por sua libertação.

– Eu imploro: encerrem a ocupação. Eu imploro ao governo italiano e ao povo italiano que pressione o governo a sair – disse Sgrena, com feição abatida e as mãos juntas diante de si, como que fazendo uma prece.

Milhares de italianos atenderam ao apelo, marchando em Roma contra a presença das tropas do país Iraque. Durante as quatro semanas de seqüestro, houve várias manifestações pela libertação da jornalista.

A libertação, anunciada primeiro pela rede de TV árabe Al-Jazeera, foi confirmado governo da Itália e pela direção do jornal ‘Il Manifesto’. As redes de TV interromperam a programação para dar a notícia, foi recebida com euforia no país.

O desfecho do seqüestro de Sgrena acende as esperanças de libertação de outra jornalista cativa no Iraque no momento, a francesa Florence Aubenas. Num vídeo divulgado na terça-feira, Aubenas reapareceu muito abatida, dizendo estar mal física e psicologicamente e pedindo diretamente a um parlamentar francês que atuasse por sua libertação.

Entre os estrangeiros atualmente dados como seqüestrados no Iraque também está o engenheiro brasileiro João José Vasconcelos, capturado em janeiro.’



Folha de S. Paulo

‘Repórter italiana diz que foi alvo dos EUA’, copyright Folha de S. Paulo, 7/03/05

‘A Itália exige que venha à tona a verdade sobre o tiroteio contra a jornalista Giuliana Sgrena, 57, no Iraque, que custou a vida do agente secreto Nicola Calipari -líder da operação para libertá-la- e teme que uma onda de antiamericanismo afete suas relações com os EUA. A refém italiana, baleada e ferida após ser libertada, disse ontem que as forças americanas podem tê-la escolhido como alvo, pois Washington se opõe à política italiana de negociar com seqüestradores e de pagar resgate.

Funcionários dos governos da Itália e dos EUA não explicaram como Sgrena conseguiu ser libertada após um mês de cativeiro, mas um ministro italiano afirmou que, ‘muito provavelmente’, o resgate tenha sido pago. O valor, segundo informações não-oficiais, seria de US$ 1 milhão.

‘Os EUA não concordam com essa política, portanto eles tentam pará-la de qualquer maneira’, disse Sgrena à TV Sky Italia. Em comentários posteriores para a agência Reuters, Sgrena foi menos veemente: ‘Você pode caracterizar como uma emboscada quando se é apanhado por uma chuva de tiros. Se isso aconteceu por falta de informação ou deliberadamente, eu não sei. Mas, mesmo que tenha ocorrido por falta de informação, é inaceitável.’

Jornalista do diário de esquerda ‘Il Manifesto’, Sgrena narrou sua ‘verdade’ num longo artigo publicado no jornal italiano ontem.

‘Não pude deixar de pensar nas palavras dos meus seqüestradores antes de me soltarem. Eles me diziam que haviam se comprometido a me libertar, mas que eu tivesse muito cuidado, porque os americanos não queriam que eu voltasse viva’, escreveu.

‘Quando me disseram isso, as palavras pareciam superficiais, ideológicas. Depois, com a chuva de balas dos soldados americanos, não pude deixar de pensar que a advertência havia se convertido em uma verdade amarga.’

A versão da jornalista provocou polêmica na Itália, cujos diários e editoriais questionam a validade da aliança com os EUA.

Ontem, milhares de italianos prestaram homenagem a Nicola Calipari, 50, no velório no monumento nacional Vittoriano, em Roma. O agente secreto havia participado meses atrás da negociação para libertar Simona Torretta e Simona Pari, as jovens voluntárias capturadas no Iraque.

‘A morte de Nicola Calipari comoveu a opinião pública italiana, que não se comportou com cinismo e ceticismo’, comentou Valentino Parlato, fundador do ‘Il Manifesto’. O enterro será hoje.

O incidente de sexta-feira inflamou os sentimentos antiamericanos da esquerda italiana e causou uma enorme irritação dentro do governo de centro-direita liderado por Silvio Berlusconi.

Para o jornal ‘La Stampa’, o ocorrido ‘deteriora’ as excelentes relações entre EUA e Itália.

O chefe do governo italiano anunciou que comparecerá ao Senado na quarta-feira para contar o ocorrido, e o ministro das Relações Exteriores, Gianfranco Fini, fará o mesmo amanhã na Câmara dos Deputados.

Berlusconi pressiona os EUA para obter uma explicação satisfatória sobre o incidente. O presidente George W. Bush e a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, prometeram realizar uma investigação profunda e asseguram que o comboio italiano passava em alta velocidade, desrespeitando um posto de controle da estrada. Sgrena desmente.

A Itália enviou 3.000 homens ao Iraque, oficialmente em ‘missão de paz’, apesar de a maioria do país ser contrária à intervenção militar. Nesse momento delicado, a poucos dias das eleições regionais e administrativas de 3 e 4 de abril, os líderes da oposição se mostram cautelosos. ‘Espero que o governo consiga obter a verdade. É algo muito importante pra todos nós e para todo o país’, disse Romano Prodi, líder da coalizão de centro-esquerda. Com agências internacionais’



O Estado de S. Paulo

‘Marido de jornalista italiana acusa EUA de tentar matá-la’, copyright O Estado de S. Paulo, 6/03/05

‘Pier Scolari, marido da jornalista italiana Giuliana Sgrena – ferida por tropas americanas horas depois de ter sido libertada pelos rebeldes que a seqüestraram no Iraque – acusou ontem os militares dos EUA de terem preparado ‘uma emboscada’ para matá-la. ‘Ela tinha muitas informações e os militares americanos não queriam que ela saísse viva do Iraque’, disse.

No confuso incidente, na estrada que liga o centro de Bagdá ao aeroporto internacional da capital iraquiana, morreu o agente do serviço secreto italiano Nicola Calipari. Giuliana ficou ferida no ombro e no pulmão.

A jornalista retornou ontem a Roma e foi levada diretamente do aeroporto para um hospital, onde se recupera satisfatoriamente.

Ela negou a alegação das tropas americanas de que o carro em que estava com Calipari e outras duas pessoas – que também ficaram feridas – estivesse em alta velocidade e que o motorista desobedeceu uma ordem dos soldados para parar.

‘Não estávamos em alta velocidade’, disse Giuliana. ‘Uma chuva de fogo caiu sobre o carro. Já havíamos passado por todos os controles (do checkpoint principal, a 3 quilômetros do aeroporto) e estávamos a 700 metros do terminal quando os tiros começaram. Americanos e italianos já tinham sido avisados da passagem de nosso carro.’

‘Os soldados que atiraram em nós não eram de um posto de controle, mas sim de uma patrulha, que abriu fogo contra o carro depois de lançar um facho de holofote sobre nós.’, acrescentou.

Em suas primeiras declarações ao descer do avião em Roma, Giuliana, de 56 anos, afirmou não ter sido maltratada durante o período de cativeiro. Ela foi seqüestrada no dia 4, quando se dirigia à Universidade de Bagdá para uma entrevista.

Em Washington, a Casa Branca se recusou a comentar novamente o incidente. ‘Não temos nada para acrescentar pelo momento ao que já foi dito na sexta-feira pelo porta-voz Scott McClellan’, disse um funcionário do serviço de imprensa da presidência americana.

McClellan havia informado que o presidente americano, George W. Bush, telefonou para o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, e prometeu uma ‘exaustiva investigação’ para apurar as circunstâncias da morte de Calipari. Berlusconi, convocou o embaixador dos EUA em Roma para expressar seu protesto e pedir esclarecimento.

Um deputado iraquiano, o cristão Yonadam Kanna, disse que Giuliana foi libertada após pagamento de resgate. ‘Segundo nossas informações, (os seqüestradores) pediram US$ 1 milhão’, declarou.’

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‘Refém italiana é ferida por americanos após ser libertada’, copyright O Estado de S. Paulo, 5/03/05

‘A jornalista italiana Giuliana Sgrena, de 56 anos, foi solta ontem por seus seqüestradores no Iraque, mas quando atravessava um posto das forças de ocupação dos EUA, a caminho do aeroporto de Bagdá, seu carro foi alvo de disparos de soldados americanos. Os tiros a atingiram no ombro e mataram o agente secreto italiano, Nicola Calipari, de 50 anos.

Giuliana e os outros dois agentes italianos que estavam no veículo e também ficaram feridos foram levados para um hospital militar dos EUA. Ela não corre perigo, mas outro agente está em estado grave.

O trágico desfecho levou o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi – um dos principais aliados dos EUA no Iraque -, a convocar o embaixador americano em Roma, Mel Sembler, para explicações. ‘Tem de haver uma explicação para um fato tão grave, pelo qual alguém precisa responsabilizar-se’, disse Berlusconi aos. Calipari morreu ao proteger Giuliana com seu corpo, disseram Berlusconi e o jornalista Gabriele Polo, editor do diário de esquerda Il Manifesto, no qual ela trabalha. Polo, Berlusconi e o companheiro de Giuliana, Pier Scolari, festejavam a libertação quando receberam a notícia do incidente.

Chefe da equipe que negociou a libertação de Giuliana, Calipari havia participado de outras operações de resgate no Iraque. Porta-vozes das forças dos EUA em Bagdá alegaram que o veículo se aproximou do checkpoint a alta velocidade e os militares só dispararam ‘no motor do carro’ porque o motorista teria ignorado advertências com sinais de braço e luzes para que parasse. Não ficou claro como os disparos no motor atingiram os italianos.

A Casa Branca emitiu um comunicado lamentando o incidente, mas não mencionou medidas para apurar os fatos. ‘Desejamos a ela uma recuperação rápida. Lamentamos a perda de uma vida’, disse o porta-voz Scott McClellan.

Correspondente do Il Manifesto, jornal contrário à invasão do Iraque, Giuliana foi seqüestrada em 4 de fevereiro em Bagdá. Ontem, a TV árabe Al-Jazira divulgou um vídeo no qual ela agradece seus captores por ter sido bem tratada. Não ficou claro se a Itália pagou resgate. Segundo a imprensa italiana, o país pagou US$ 1 milhão pela libertação das voluntárias italianas Simona Parri e Simona Torretta, em setembro.’



Comunique-se

‘Agente secreto morre e jornalista é ferida após libertação’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 4/03/05

‘Um agente secreto italiano morreu quando uma patrulha americana disparou contra o automóvel que transportava a jornalista Giuliana Sgrena, que acaba de ser libertada por seus seqüestradores e que ficou ferida no incidente, à embaixada italiana, segundo fontes oficiais citadas pela imprensa local.

O falecido foi identificado como Nicola Calipari, um especialista membro do SISMI, os serviços secretos militares, que previamente tinha prestado seus serviços à espionagem civil da Itália.

No incidente, protagonizado por um veículo blindado dos EUA que disparou por motivos ainda indeterminados, outro membro dos serviços secretos também ficou ferido.

Os dois feridos, que segundo as fontes estão bem, foram levados a centros médicos de Bagdá.

Aparentemente, Giuliana Sgrena teria sido atingida no ombro, ao ser protegida por Calipari.

As autoridades italianas, que informaram sobre o incidente Gabriele Polo, diretor do jornal Il Manifesto, para o qual Sgrena trabalha, tentam reconstruir os fatos, que teriam ocorrido a caminho do aeroporto de Bagdá.

Este episódio escureceu a alegria que tinha se espalhado na Itália depois de divulgada a notícia da libertação da jornalista, de 57 anos, capturada há um mês nas imediações da universidade da capital iraquiana.

Depois de várias reivindicações, através da Internet, em 16 de fevereiro os seqüestradores difundiram um vídeo no qual a jornalista implorava por sua libertação e pedia ao governo italiano que retirasse suas tropas do Iraque.

Pouco antes, o Parlamento italiano tinha aprovado a prorrogação da missão militar italiana ‘Nova Babilônia’, que mantém cerca de 3.000 soldados na cidade de Nassiriya, ao sul de Bagdá. (c) Agencia EFE’