Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Saul Hansell

‘Anunciantes e executivos de empresas de mídia vêm falando há 20 anos em criar uma televisão totalmente interativa, com a qual os espectadores poderão ver exatamente o que querem e quando querem.

Parece que esse futuro pode se realizar por meio do computador. Grandes empresas de mídia e ligadas à internet vêm desenvolvendo novas programações de vídeo e comerciais baseados na web, algo que fica realmente sob o controle do espectador. À medida que os americanos vão se acostumando a assistir a programas online, a programação na internet começa a somar à diversidade da televisão a interatividade e o caráter imediato da web.

O canal a cabo Nickelodeon, por exemplo, recentemente criou um serviço gratuito na Internet chamado TurboNick, que oferece ao internauta acesso 24 horas a programas de grande popularidade, como os desenhos ‘Bob Esponja’ e ‘Jimmy Neutron’. Também oferece alguns programas originais, já que o público infantil do Nickelodeon (pertencente à Viacom) passa cada vez mais tempo diante do computador.

A CBS News, que não possui rede a cabo e que também pertence à Viacom, usa a internet para oferecer reportagens e atualizações de notícias que não cabem nos 30 minutos de duração de seu programa ‘CBS Evening News’.

Para essas empresas e muitas outras, investir numa programação nova de vídeo para a internet é uma maneira de responder às exigências de anunciantes que querem levar comerciais às telas dos computadores, onde serão vistos por novos espectadores.

‘Existe uma massa crítica de consumidores dotada de conexões à internet em alta velocidade, de modo que o vídeo pode ser uma experiência boa para o usuário’, disse Jim Walton, presidente do CNN News Group. ‘Isso significa que pode existir já a massa crítica necessária para os anunciantes.’

Um fato que funcionou como divisor de águas no desenvolvimento do vídeo na internet foi a transmissão ao vivo pela AOL dos concertos Live 8, em julho. Cerca de 5 milhões de pessoas assistiram aos concertos na AOL, passeando entre os concertos em Londres, Paris, Filadélfia, Toronto, Roma e Berlim.

Um número três vezes maior assistiu à versão televisionada pela MTV, mas muitos espectadores ficaram insatisfeitos com a maneira como a rede escolheu as canções a exibir e como fez seus comentaristas falarem sobre a música. A AOL também ofereceu aos usuários vários tipos de comentários -blogs dos bastidores, comentários de internautas, fotos etc.-, mas eles eram acessíveis ao lado da transmissão, sem interromper a música.

A flexibilidade dessa mídia em evolução também se aplica aos anunciantes.

Os serviços de vídeo na internet geralmente exibem comerciais de 15 a 30 segundos de duração -que o usuário não pode pular- antes de o espectador começar a assistir e, depois, novamente a cada poucos minutos. E, quando um comercial é transmitido, em muitos serviços, um anúncio gráfico estático do anunciante aparece em outra parte da tela. Esse anúncio gráfico permanece enquanto o programa está passando. Se o usuário clicar nele, é levado ao site do anunciante.

‘Um comercial em banda larga é algo que provoca emoção e causa impacto’, disse Matt Wasserlauf, presidente da Broadband Enterprises, que vende anúncios em vídeo na internet. Ele disse que os anúncios em vídeo na internet geram cem vezes mais cliques do que banners parados em páginas da web.

Os especialistas dizem que, com o tempo, vão surgir programas mais complexos, criados especificamente para a internet. A rapidez com que isso pode acontecer talvez dependa em parte do desenvolvimento de uma tecnologia para que o vídeo na internet possa ser visto em televisores, nos quais as pessoas estão acostumadas a assistir a programas mais longos.

Uma coisa que a AOL não vai oferecer na internet é a programação mais popular de suas ‘primas’ da Time Warner, como a HBO e seus seriados ‘A Família Soprano’ e ‘Sex and the City’.

‘Todo mundo pergunta por que não colocamos ‘Sex and the City’, disse Kevin Conroy, diretor de operações da AOL Media Networks Group, ‘mas o programa já está sendo exibido pela televisão em rede. Vai chegar à internet algum dia, mas por enquanto ainda há milhares de horas de programação que não conseguem chegar ao ar em lugar algum.’ Tradução de Clara Allain’



COMÉDIAS NA TV
Bia Abramo

‘Deboche limita experiências em comédia’, copyright Folha de S. Paulo, 7/08/05

‘Cláudia Rodrigues é uma humorista ótima; em ‘A Grande Família’ há pelo menos meia dúzia de atores com talento muitíssimo acima da média para a comédia e no entanto… Por que ambos os programas são ‘quase bons’? (Por ‘quase bons’ entende-se aquela coisa que saiu há tempos da precariedade, mas ainda não chegou exatamente lá.)

Não é a primeira vez que esta coluna chama a atenção para um certo desenxabimento dos roteiros de comédia. É o texto, ou seja, roteiros e diálogos irregulares, que mantêm ‘A Diarista’ e ‘A Grande Família’ ainda no perfil de ‘quase bons’.

Em ambos, a qualidade do roteiro fica bastante aquém do que outros elementos conseguiram consolidar e aperfeiçoar. Cláudia Rodrigues começou com uma interpretação meio caricata (ainda que boa), mas evoluiu para um tipo paródico muito interessante. Os coadjuvantes fixos encontraram personalidade. E olhar irônico para o mundo das ‘patroas’, mesmo que aqui e ali resvale no populismo, conseguiu entrar num território mais sutil de crítica.

Em ‘A Grande Família’ deu-se algo parecido, e, já há um certo tempo, a atração se fixou como uma alternativa simpática. O elenco é, de fato, excelente e foi se afinando com o tempo. O subúrbio estilizado, quase ‘camp’, faz uma espécie de síntese quase que atemporal e ageográfica (as referências são embaralhadas de propósito) da universo da classe média baixa.

Ou seja, tanto ‘A Diarista’ quanto ‘A Grande Família’, em tese, teriam condições de realmente se destacarem na programação e, mais, inaugurar um formato brasileiro de comédia seriada. Só que para isso o roteiro teria que dar realmente um bom salto. Na verdade, dois: um técnico, do modo de fazer, e outro, como dizer, ideológico.

As falhas de construção são várias, mas não graves, e se repetem nos dois programas. Há, às vezes, criatividade para criar a situação, mas o desenvolvimento perde o ritmo; a noção de absurdo resvala no excessivamente inverossímil e, portanto, quase infantil; diálogos poderiam ser mais ácidos, mais inteligentes, mais críticos.

Mas talvez o principal seja repensar que tipo de humor se faz, e essa questão, além de mais complexa, não é exclusiva nem só desses dois programas nem só da televisão. Parece que pesa, sobre o humor feito no Brasil em geral, a obrigatoriedade de ser debochado e desaforado. Fora disso, arrisca-se muito pouco e quem arrisca, como fazia a ‘TV Pirata’, corre o risco de ser tachado de elitista.

OK, deboche é uma possibilidade de humor, sim, e muito constitutiva da cultura brasileira, mas não deveria ser a única. O formato de seriado exige uma variedade muito grande de alternativas para ter fôlego e não se tornar repetitivo. O problema do deboche é que ele sempre faz rir do outro e quase nunca de si mesmo, que é uma fonte mais rica e variada de situações humorísticas.’



ELIANA vs. MÁRCIA
Laura Mattos

‘Eliana agora é adulta e encara até Márcia’, copyright Folha de S. Paulo, 7/08/05

‘É briga de ‘ex’: a ex-apresentadora infantil Eliana estréia hoje a ‘fase adulta’ na Record e disputa audiência com a ex-barraqueira Márcia Goldschmidt (Band).

O ‘Tudo É Possível’, de Eliana, terá até quadro ‘picante’, com ‘ricardões’ e ‘outras’. Vai ao ar aos domingos, das 14h às 15h45, e concorre por 15 minutos com o ‘Jogo da Vida’, de Márcia -que entra no ar também de segunda a sexta a partir do dia 15.

As duas comandam quadros, brincadeiras e entrevistam celebridades. Mas negam de pés juntos qualquer semelhança. Também não assumem um ‘quê’ de Oprah Winfrey, apesar de Band e Record sonharem em obter com elas o feito da apresentadora norte-americana: unir popularidade com prestígio. Leia abaixo entrevista das apresentadoras à Folha.

‘Eu nem sei qual é o horário dela ‘

Folha – Como é seu programa?

Eliana – É um programa de entretenimento, que busca divertir a família brasileira, sem sensacionalismo, sem baixaria, sem tristeza. A gente quer mostrar uma coisa gostosa, divertida mesmo. Não tem pretensão de ser o melhor programa das tardes de domingo. Aos poucos a gente chega a um grande caminho, passo a passo. E essa transição vai acontecendo aos poucos, principalmente para o público. Acho que as pessoas vão se conscientizar: ‘Poxa, o conteúdo faz com que a apresentadora modifique a atitude’. O grande caminho é fazer com que as pessoas não sintam aquela coisa: ‘É uma apresentadora infantil apresentando programa adulto’.

Folha – O que tem de Oprah?

Eliana – Nada. Acho ela maravilhosa, mas tenho meu tamanho, meus pezinhos no chão.

Folha – O que tem de Hebe?

Eliana – A Hebe é maravilhosa, minha madrinha querida. Tenho alguns ícones que me influenciaram ao longo dos anos. A Hebe é um, o Silvio Santos é outro. Tive contato com ele por sete anos no SBT. O Chacrinha é outro, que faz parte da minha infância.

Folha – O que tem de João Kléber?

Eliana – Não tem nada. O quadro ‘Prova de Amor’ [modelos tentam seduzir o participante diante da parceira] é uma brincadeira, um teste de afinidades, para ver se eles se conhecem. É só para apimentar, para fazer uma brincadeirinha, porque o programa não é infantil, não pode estar o tempo inteiro sem nenhuma graça a mais que o adulto curta.

Folha – Considera a Márcia Goldschmidt sua concorrente?

Eliana – A Márcia…? Não sei, acho que não… Eu não sei nem o horário, sinceramente…

Folha – Vocês duas vão bater de frente durante 15 minutos.

Eliana – Ah, tá. Mas é outro… Não tem… É completamente… É outro conteúdo, outro perfil.

Folha – Acha que vai conseguir apagar a sua imagem do passado?

Eliana – Não quero apagar, isso faz parte da minha vida, me deu a credibilidade para a Record acreditar que eu pudesse ter um programa para a família, é meu grande tesouro, que ninguém me tira.

‘Ela não é minha concorrente’

Folha – Como é seu programa?

Márcia Goldschmidt – Vai ser uma edição diária do ‘Jogo da Vida’. A gente não pretende reformular porque é um produto vencedor. Alguma novidade sempre tem, mas não falo porque estou cansada de entregar ouro ao bandido. Sabe como é o meio de TV: o outro fica sabendo e já se arma.

Folha – O que tem de Oprah?

Márcia – Não quero ser parecida com ninguém. Sou Márcia e é isso que quero ser. Tenho minha personalidade e quero manter. Nem acho que o programa da Oprah seja uma maravilha. Ela é uma maravilha como pessoa.

Folha – O que tem de Hebe?

Márcia – Não consigo estabelecer esse link com ninguém. E, se estabelecesse, até me incomodaria, não por não querer me parecer com esse ou aquele, mas porque acho que a força do comunicador é o diferencial de personalidade.

Folha – O que tem de João Kléber?

Márcia – Às vezes as pessoas vão falando coisas sem parar para analisar. Com o tempo, começaram a perceber que não havia nenhuma ligação. Eu tinha uma fórmula imitada por outras pessoas, mas com outro apelo.

Folha – Considera a apresentadora Eliana sua concorrente?

Márcia – De forma nenhuma, de forma nenhuma. Primeiro porque nem sei qual é o projeto do programa dela. Estou envolvida com as gravações e não tive tempo para saber mais. Todos os que estão no meu horário são concorrentes, mas estou no do Fausto e no do Gugu, das 15h30 às 17h30. Acho que ela nem entra nesse horário, não a considero concorrente de forma nenhuma.

Folha – Vocês duas vão bater de frente durante 15 minutos.

Márcia – Ah, 15 minutos não é nada, é só passagem.

Folha – Acha que vai conseguir apagar a sua imagem do passado?

Márcia – Acho que essa imagem não existe, é uma percepção errada. A Band não apostaria numa apresentadora com uma imagem prejudicial. Pode ser que em algum momento tratar da realidade tenha sido considerado barraco, mas então a vida é um grande barraco e não posso fazer nada. Pega Ronaldinho, Cicarelli, Brasília…’



REALITY SHOWS
Laura Mattos

‘‘Aprendiz’ chinês fará disputa com brasileiros’, copyright Folha de S. Paulo, 7/08/05

‘Uma empresa chinesa selecionará um executivo brasileiro por meio de um ‘reality show’ à la ‘O Aprendiz’, exibido pela CCTV-2, espécie de Globo da China, com 1 bilhão de telespectadores.

O vencedor será gerente de marketing da ZTE (telecomunicações) e trabalhará em São Paulo. Headhunters (caça-talento dos negócios) avaliaram 164 currículos e chamaram dez candidatos para entrevistas com os chineses. Apenas os três finalistas viajarão a Pequim, onde o programa será gravado. Não é preciso saber falar chinês. Os candidatos deverão se comunicar em inglês no ‘reality’, que terá legendas em chinês.

De 15 a 18 de agosto, os brasileiros participam de provas. No dia 23, vão ao ar os melhores momentos da competição e a etapa final, um ‘quiz show’ (perguntas de conhecimentos gerais e sobre os mercados brasileiro e chinês).

O vencedor é escolhido por uma cúpula do programa. O telespectador define por telefone quem leva o prêmio extra, um treinamento profissional. O ‘Absolute Challenge’ (desafio total) é exibido semanalmente, desde 2003. A cada edição, uma empresa diferente seleciona um novo funcionário.’