Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

SBT e Record na mira da justiça

Leia abaixo os textos desta quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 26 de julho de 2006


CPI DOS SANGUESSUGAS
Folha de S. Paulo – Editorial


Infestação


‘O ANÚNCIO de que a CPI dos Sanguessugas já reuniu provas contra 80% dos congressistas e ex-congressistas investigados é um sinal auspicioso. Na contramão da ineficiência que tem sido a praxe das investigações parlamentares, a comissão logrou acumular, em prazo relativamente curto, elementos suficientes para pôr em xeque a credibilidade de quase um quinto dos integrantes do Congresso Nacional -de acordo com dados anunciados ontem, já são 91 os parlamentares suspeitos de envolvimento no esquema fraudulento de venda de ambulâncias.


O próximo passo é dar maior publicidade às acusações e qualificá-las de modo preciso. As listas já divulgadas com fotos e nomes dos acusados são um começo, mas não bastam para dar a medida do envolvimento dos congressistas no esquema nem para esclarecer detalhes operacionais dos delitos, que envolvem, entre outros, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e crime contra a Lei de Licitações.


Como a CPI já dispõe dos dados, e como não faltam no Congresso funcionários para auxiliar na compilação das provas documentais e testemunhais contra cada acusado, não há mais razão para protelar a divulgação.


Neste momento, informação precisa ao eleitor é o serviço mais efetivo que pode prestar a CPI. Os avanços na investigação contribuem pouco para possibilitar cassações ainda neste período legislativo. Com a proximidade das eleições e a sucessão de trâmites burocráticos que caracteriza o trabalho da comissão, são pessimistas as perspectivas a esse respeito. Vale lembrar que o deputado José Janene (PP-PR), acusado de envolvimento no mensalão, ainda não teve seu processo de cassação votado em plenário.


Diante dos entraves à punição rápida, é preciso avaliar mecanismos para impedir que os parlamentares envolvidos nos escândalos tirem proveito de brechas legais e obtenham novos mandatos. É esse o teor da consulta encaminhada pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre as poucas medidas propostas até o momento capazes de reduzir a impunidade.


O objetivo é impedir que, caso reeleitos, os congressistas com envolvimento em desmandos tomem posse. O deputado pedetista propõe que o TSE possa obstruir o mandato mesmo daqueles ainda não condenados em definitivo, mas contra os quais haja provas irrefutáveis de corrupção.


De acordo com a Polícia Federal, as operações criminosas da máfia dos sanguessugas movimentaram R$ 110 milhões desde 2001. Mesmo que o número de envolvidos não volte a sofrer alteração -as primeiras denúncias mencionavam cifra superior a 200 suspeitos-, é evidente a generalidade da corrupção que infesta o Congresso.


Por mais eficientes que sejam os trabalhos da CPI, da Polícia Federal e do Ministério Público, é da renovação dos quadros parlamentares que depende a recomposição da credibilidade do Legislativo. E essa responsabilidade é também do eleitor.’


 



CAMPANHA
Fernando Rodrigues


A estratégia de Lula


‘BRASÍLIA – Nos seus comícios inaugurais de campanha, o candidato Lula deu uma demonstração de como poderá ser seu discurso até o dia da eleição: muita comparação com o governo passado, falando sobretudo para as parcelas mais pobres do eleitorado.


As pesquisas mostram Lula com grande força nas classes menos favorecidas, tendo ficado um pouco órfão na ponta de cima da pirâmide do eleitorado. O petista aparenta, ao menos momentaneamente, ter pouco interesse pelos eleitores individuais mais ricos.


A exceção são os setores da economia que mais ganham dinheiro, como os bancos. No repertório lulista, é bom as instituições financeiras terem alto lucro.


Como as pesquisas começam a mostrar um placar no olho mecânico no final do primeiro turno, fica difícil compreender as razões que explicariam a estratégia adotada por Lula. No comício de anteontem à noite, um fracasso retumbante de público em Brasília, o petista deixou escapar uma boa chance de lustrar a imagem.


Para começar, atrasou sua fala em mais de uma hora. Perdeu uma entrada ao vivo no ‘Jornal Nacional’, da TV Globo. Falou como o típico Lula palanqueiro, olhando para o público (não para a câmera), rosto suado e tom de voz diferente da do candidato ‘paz e amor’ de 2002. Em resumo, quase uma derrota do ponto de vista do marketing.


É possível, por explicações ouvidas dentro do PT, que Lula tenha se decidido por esse caminho por considerá-lo o mais seguro: falar a quem tem propensão a ouvi-lo com mais condescendência.


Se for mesmo assim, os lulistas precisarão de nervos de aço até o final. Tudo indica que uma eventual vitória no primeiro turno será apertada. E o maior risco de Lula, sabe-se, é perder para si próprio.’


 




FIM DO JORNALISMO
Plínio Fraga


Gutenberg está morto


‘RIO DE JANEIRO – A internet despojou o jornalismo de seus privilégios. Difundir a informação, encontrar uma audiência e decidir que fatos devem ser destacados são funções acessíveis a todos. A influência que uma profissão específica exercia sobre os meios de comunicação desmoronou. O que explica, em parte, a crise recorrente, ética e econômica, da imprensa clássica. A internet não é um suporte a mais; é o fim do jornalismo tal como o conhecemos até hoje.


O arrazoado acima, numa tradução para lá de livre, vem de ‘Une Presse Sans Gutenberg’ (‘Uma Imprensa Sem Gutenberg’, Grasset, 2005), dos jornalistas Jean-François Fogel e Bruno Patino. É um livro fascinante desde o título. Seus autores se arrogam tantas certezas sobre o futuro que assustam os mais comedidos: a internet na era da informação ‘não é um novo capítulo em sua história, mas uma outra história’, escrevem.


No meio dessa complexa discussão é que deve ser analisado o projeto de lei, aprovado pelo Congresso, que amplia a exigência de diploma de jornalista de 11 para 23 funções em meios de comunicação. É uma proposta do Pastor Amarildo, do PSC, do Tocantins. Dá vontade de dizer que Amarildo não é o Senhor, PSC não é partido nem Tocantins é Estado. Tal gracejo deveria ser um desses privilégios despojados do jornalismo, mas é de um tipo incitado hoje na rede.


Espera-se o veto ao projeto pelo presidente Lula -gesto alvissareiro para quem defendeu a existência de um conselho castrador para os jornalistas. A formação sindical de Lula faz com que entenda o mundo por meio de nichos corporativos.


Desalentador é perceber que são as entidades de classe dos jornalistas os anjos a inspirar as algaravias do Pastor Amarildo. Mal informados, ainda não receberam a notícia de que Gutenberg está morto.’


 



TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Da internet à televisão


‘Anunciando que ‘Alckmin acaba de receber os números da pesquisa do Ibope’, o blog de Ricardo Noblat destacou Lula com 41%, o tucano com 30% e Heloísa Helena com ‘9% ou 10%’. Eram 15h39.


Não demorou e os percentuais surgiam em toda parte, do site do jornal baiano ‘A Tarde’ à rádio Jovem Pan, em São Paulo e Brasília.


Mais alguns minutos e a rádio CBN, que é das Globos, ecoou. Por fim, em pleno Globo.com, o Blog Brasil foi atrás -e acabou virando a submanchete do portal da TV Globo, ‘Alckmin cola em Lula’.


O portal iG e outros passaram a comentar abertamente o avanço. Também outros blogs.


Assim foi até as 20h30, quando os apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes anunciaram, afinal, números inteiramente diferentes, quase com um sorriso nos lábios: Lula com 44%, Alckmin com 27%, Heloísa Helena com 8%.


GUERRAS COMERCIAIS


O ‘Independent’ não economizou no catastrofismo, ao noticiar o colapso nas negociações globais, ‘o mundo à beira de nova erupção das guerras comerciais’. Vem aí ‘uma nova era de protecionismo’.


Pode ser mais que retórica. No ‘Wall Street Journal’, ‘diplomatas temem que populistas como Hugo Chávez usem o colapso como combustível’. Chávez que, noticia o ‘Financial Times’, pode perder o ‘tratamento passivo’ dos EUA. Foi o que a comissão de relações externas do Congresso cobrou, em carta, de George W. Bush. O temor é de corte no suprimento de petróleo.


SUCESSO E FRACASSO


Em reação às críticas do ex-ministro Rubens Ricupero à reunião do Mercosul ampliado na Argentina, a engajada Agência Carta Maior saudou ontem, em sua manchete, ‘um sucesso: o Mercosul cresce e muda’.


Em meio a críticas à OMC, que ‘não consegue fechar a Rodada Doha, um fracasso dos livre-mercadistas’, o site destaca que no Mercosul ‘sai a mera região aduaneira e entra um organismo complexo e diferenciado’.


TRANSATLÂNTICA 1


Na manchete do site do ‘FT’, ontem, ‘EUA atiram de volta contra a União Européia pelo colapso de Doha’.


Diz o jornal que ‘a hostilidade transatlântica atingiu níveis jamais vistos’. A representante dos EUA nas negociações comerciais, Susan Schwab, ‘acusou o negociador europeu de espalhar mentiras para dividir culpa’.


No dia anterior, o europeu Peter Mandelson havia culpado os EUA pelo colapso.


HARMONIA


Segundo o site do ‘WSJ’, as negociações sempre dependeram de EUA e Europa. Foi assim até alguns meses atrás, respectivamente com Robert Zoellick e Peter Lamy. Mas, ‘sob seus dois sucessores, a harmonia evaporou’.


TRANSATLÂNTICA 2


Ao fundo da ‘hostilidade jamais vista’ de EUA e Europa, a notícia na BBC Brasil é que Peter Mandelson ‘deve se reunir com o brasileiro Celso Amorim’ em agosto, para negociar a retomada de um acordo de livre comércio da União Européia com o Mercosul.


A BRINCADEIRA


No blog de Sergio Leo, ‘eis que se esboroa a rodada que iria trazer a felicidade à Terra sob a forma de uma gigantesca liberalização comercial’. Ele dá ‘a explicação’:


– Os países ricos teriam de ceder mais do que ganhar, desta vez -e desse jeito a brincadeira não tem graça.


ACORDO NENHUM


Para um especialista, na manchete do Terra Magazine, ‘Brasil sai ileso de Doha’, pois ‘não ganhou nada, mas poderia ter perdido um bocado’, legitimando os subsídios.


O blog do ‘WSJ’ foi ouvir fazendeiros do país, que ‘celebraram’ com o mesmo argumento de que agora nada muda nos subsídios. Para um deles, ‘acordo nenhum é melhor que um mau acordo’.


GANHA-E-PERDE


O ‘FT’ publicou uma lista de quem-ganha-quem-perde. Ganham ‘os fazendeiros americanos altamente subsidiados’. Perdem ‘exportadores competitivos’ da Europa e ‘o agronegócio brasileiro e australiano, que não vai entrar nos mercados que esperava’.’


 



JORNALISMO RESTRITO
Folha de S. Paulo


Lula deve vetar ao menos em parte projeto de lei da Fenaj


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetará ao menos parcialmente o projeto de lei que amplia de 11 para 23 as funções de jornalista com exigência de diploma para exercer a profissão. Lula tem até amanhã para decidir e pode vetar todo o texto.


Como a Folha publicou na semana passada, técnicos do Palácio do Planalto consideram que o projeto tem muitas falhas técnicas, é ‘confuso’, ‘mal redigido’ e deverá ser vetado. ‘O governo acha que, em várias partes, o projeto tem problemas sérios, de inconstitucionalidade, de ilegalidade’, afirmou a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.


O projeto de lei, elaborado pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), regulamenta a profissão de jornalista e modifica um decreto de 1969. Obriga repórteres fotográficos, cinegrafistas, comentaristas e chargistas, entre outros, a terem o diploma de jornalismo para exercer a profissão, o que até então não era exigido.


O texto enfrenta resistências de entidades de donos de jornais, de assessores de imprensa e de profissionais.’


 




IMAGEM DISTORCIDA
Adriana Mattos


Procon vê problemas em TVs de plasma


‘O Procon de São Paulo decidiu analisar o material de propaganda de redes varejistas e fabricantes de eletrônicos para verificar se as empresas não estão sendo omissas ou passando informações equivocadas sobre a venda de TVs de plasma e de LCD. No Rio de Janeiro, a Comissão de Defesa do Consumidor, da Assembléia Legislativa do Estado, conseguiu liminar contra indústrias do setor solicitando clareza e transparência na comunicação.


Advogados já começam a entrar com ações individuais na Justiça, solicitadas por consumidores que se sentiram punidos ao efetuar a compra do produto. O problema é que os aparelhos de plasma e LCD (cristal líquido) lançados no país não são compatíveis com o sistema de transmissão analógico em uso atualmente -apenas com o das TVs por assinatura digital. Por isso, quem tenta assistir a programas na TV aberta em aparelhos de plasma ou LCD verifica uma distorção na imagem e/ou perda de definição. As lojas e os fabricantes não estariam informando ao cliente que isso acontece, segundo a Comissão de Defesa do Consumidor.


‘Quem entra na loja e vê uma imagem bonita acha que vai levar aquilo para casa e não vai’, diz José Roberto de Oliveira, advogado e presidente da Associação Nacional de Assistência ao Consumidor. O que ocorre é que, nas lojas, os televisores estão conectados com DVDs com tecnologia digital ou estão utilizando codificadores de TV a cabo digital. Por isso, a imagem tem alta qualidade. ‘Se você tentar assistir, nessa mesma TV, um programa da TV aberta, por exemplo, vai ver que a situação é diferente’, completa Oliveira, que representa 30 clientes em ações contra várias marcas e lojas.


Uma solução seria incorporar à nova TV um pequeno aparelho que converte a tecnologia analógica em digital. Mas, como o país anunciou no mês passado que tipo de sistema digital usará -o japonês-, esse conversor ainda não está à venda.


Por conta desse imbróglio, em junho, a Comissão de Defesa do Consumidor obteve liminares na 2ª Vara Empresarial do Rio, no Tribunal de Justiça do Estado, solicitando maior esclarecimento dessa questão por parte das empresas Philips, LG, Samsung e Sony. Um aviso ao cliente poderia ser colocado na embalagem do produto, por exemplo, diz Paulo Girão Barroso, advogado da comissão. ‘Mas não acreditamos que isso seja apenas responsabilidade das empresas, e sim de toda a cadeia, incluindo o comércio. O Código de Defesa do Consumidor entende que, em caso de qualidade do produto, todos precisam ser ‘solidários’ ao problema’, completa.


As liminares têm efeito apenas no Estado do Rio. Em São Paulo, o Procon informou que está verificando as propagandas do produto para se certificar se há esclarecimentos a respeito. É importante verificar os anúncios das lojas antes de comprar e estar consciente da compra, diz o Procon.’


 




PADRÃO INTERNACIONAL
Thiago Ney


Santoro diz que foi ‘sondado’ para ‘Lost’


‘Com a mesma voracidade com que seus episódios são assistidos pelos fãs, espalhou-se pela internet a informação de que os produtores de ‘Lost’ teriam contratado o brasileiro Rodrigo Santoro para atuar na terceira temporada do seriado. Como muito do que envolve a trama da série, não é bem assim.


Em entrevista ao norte-americano ‘TV Guide’, dois executivos de ‘Lost’ compararam Santoro a Tom Cruise e a Russell Crowe e afirmaram já ter contratado o ator. Por meio de sua assessoria, Santoro disse à Folha que houve uma ‘sondagem’, mas nada foi acertado. ‘Pode ser que dê certo.’


Atualmente em férias no Brasil, Santoro afirmou ainda não saber que tipo de personagem faria em ‘Lost’ e nem quando começariam as suas filmagens (a segunda temporada do seriado está sendo exibida no país pelo canal pago AXN). Nos EUA, a terceira temporada começará em 4 de outubro, na rede ABC. No Brasil, só deve chegar em março.’


 




TELINHA
Daniel Castro


SBT é processado por 120 ‘inadequações’


‘O procurador da República Sérgio Suiama entrou ontem na Justiça Federal com uma ação civil pública pedindo que o SBT seja condenado a pagar multa de R$ 8 milhões por ter exibido, entre 2004 e início de 2006, ‘mais de 120 programas contendo inadequações’ para os horários em que foram ao ar.


Na ação, o procurador também requer uma liminar que obrigue a rede a cumprir a classificação indicativa feita pelo Ministério da Justiça.


A ação se baseia em três investigações por descumprimento da classificação indicativa. É amparada em dados do Ministério da Justiça, que monitora a programação da rede.


Um caso grave relatado na ação é o da apresentação, em janeiro de 2004, de ‘South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes’. O filme, que é quase um ‘dicionário de palavrões’, foi classificado como impróprio para menores de 18 anos (23h), mas foi ao ar a partir das 22h15.


Outro caso grave foi o da exibição no ‘Programa do Ratinho’ de ‘imagens pornográficas’ só adequadas para depois da 0h. O programa, apesar de ter classificação para as 21h, foi exibido em 2005 antes das 20h.


A ação ainda enumera a transmissão no período matutino ou vespertino de séries e novelas classificadas como inadequadas para antes das 20h, como ‘The O.C.’, ‘O Vidente’ e ‘Smallville’ (essas três ainda no ar nas manhãs de domingo). O SBT não se manifestou.


DESEMPREGO 1 Armado com um revólver, o ator Ricardo Dualibi, que atuou como figurante nos primeiros capítulos de ‘Cobras & Lagartos’, tentou ontem de manhã invadir o Projac, a central de estúdios da Globo, no Rio, pela portaria usada por diretores, elenco e convidados.


DESEMPREGO 2 Segundo funcionários do Projac, Dualibi teria se despido totalmente. Já a Globo, em nota, disse que ele ficou só de sunga. Em seguida, o ator, desempregado desde abril, rendeu um recepcionista e deu dois tiros para o alto. Os seguranças agiram rapidamente e o imobilizaram. Ninguém se feriu.


DESEMPREGO 3 Segundo a Globo, Dualibi falava ‘coisas desconexas’, como ‘Quero dar um tiro na câmera’.


PRIMEIRO AVISO 1 O Ministério da Justiça enviou anteontem à Globo comunicado informando oficialmente que está monitorando ‘Páginas da Vida’, porque recebeu várias denúncias contra o conteúdo da novela das oito _que vem abusando do sexo.


PRIMEIRO AVISO 2 Alerta o comunicado que, ‘se persistirem as inadequações’, ‘Páginas’ poderá ser reclassificada, no caso para as 22h. Mas isso ainda não é uma constatação do ministério. Caso o órgão conclua que a novela está inadequada para as 21h, primeiro emitirá uma nota técnica.


CASA DOS CANTORES Os finalistas de ‘Ídolos’, que acaba amanhã, estão ‘hospedados’ no imóvel, dentro do SBT, que foi usado para gravações de ‘Casa dos Artistas’.’


 


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O Globo


Quarta-feira, 26 de julho de 2006


NOTAS
Ancelmo Gois


Petróleo verde


‘A al-Jazeera, a TV com sede no Qatar famosa pela cobertura dos conflitos no Oriente Médio, mandou uma equipe ao Brasil.


Veio ver o nosso H-bio, o ‘óleo verde’ da Petrobras, feito a partir de petróleo e óleos vegetais.


O efeito seleção


A Copa deu o maior preju ao varejo. CDs e DVDs, por exemplo, micaram nas prateleiras.


As vendas das gravadoras multinacionais, que de janeiro a maio só tinham crescido 1%, desabaram em junho. A queda, acredite, foi de 31%.


Laboratório


A ministra Marina participou ontem no Projac, no Rio, a convite de Glória Perez, de um laboratório do elenco da minissérie ‘De Galvez a Chico Mendes’.’


 




KING E AS COTAS
Elio Gaspari


A receita do Martin Burger King é velha


‘Aqui vai uma nota de pé de página para a bibliografia do manifesto do Burger King, aquele que condenou a Lei das Cotas e o Estatuto da Igualdade Racial com diversos argumentos, inclusive uma variante da famosa fala de Martin Luther King, de 1963. O manifesto disse o seguinte:


‘Nosso sonho é o de Martin Luther King, que lutou para viver numa nação onde as pessoas não seriam avaliadas pela cor de sua pele, mas pela força de seu caráter.’


King disse quase isso:


‘Eu tenho um sonho, no qual minhas quatro pequenas crianças viverão num país onde não serão julgadas pela cor de sua pele, mas pelo seu caráter.’


Quando King discursou ainda havia estabelecimentos públicos e restaurantes americanos que não admitiam negros. O uso da frase para alavancar propostas de condenação de políticas de ação afirmativa que levem em conta a cor dos cidadãos é imprópria. Os redatores do manifesto fariam muito bem se procedessem como seus similares americanos.


Aos fatos:


Essa não foi a primeira vez que usaram King como tempero de sanduíche. O mesmo trecho já foi manipulado em 1996, na Califórnia, por marqueteiros do Partido Republicano, durante a campanha pela aprovação de uma proposta que acabava com as políticas de ações afirmativas baseadas em critérios de raça, gênero ou nacionalidade. Era a ‘Proposition 209’, na qual um grupo de cidadãos sustentava que a legislação contrária à discriminação racial impede que um negro, por ser negro, ocupe um lugar que deveria ir para um branco.


O trecho do discurso de King, em vídeo, foi incluído num anúncio de televisão da propaganda contra a ação afirmativa. Antes que a peça fosse ao ar, a comunidade negra protestou. Coretta King, viúva do reverendo, divulgou uma nota, assinada também pelo seu filho Dexter, onde dizia: ‘Aqueles que sugerem que ele não apoiaria a ação afirmativa estão deturpando suas crenças e, na verdade, o trabalho de sua vida.’


Até aí, pode-se argumentar que a senhora era um ícone da comunidade negra e disse o que se esperava que dissesse. Nesse caso, merece atenção o que disse o professor Thomas Wood, co-autor da ‘Proposition 209’:


‘O problema é que há provas de sobra mostrando que King achava que os negros tinham direito a tratamentos preferenciais.’


Outros líderes do movimento, mesmo sustentando que havia afinidade entre as palavras de King e as da ‘Proposition 209’, condenaram o uso do seu nome no anúncio. Uma coisa seria discutir (ou conjeturar) as idéias do pastor. Bem outra, usá-lo como muleta. Os marqueteiros republicanos suprimiram o trecho contestado. Ele nunca foi ao ar.


Wood é contra as ações afirmativas, mas é um sujeito decente. Entrou na briga sem um tostão no bolso. A ‘Proposition 209’ venceu por 54% a 46%. Pela vontade de seu povo, o Estado da Califórnia mandou ao brejo as cotas e preferências baseadas em critérios de raça ou de gênero.


O sonho de Martin Luther King não era o de Wood. Mesmo que o professor achasse que era, recusou-se a usar as palavras do reverendo numa peça contra as ações afirmativas. Ninguém é obrigado a sonhar como os outros. O que não se pode é tungar sonho alheio.


Gente como Wood faz uma falta danada em Pindorama.


Ninguém é obrigado a sonhar como os outros. O que não se pode é tungar sonho alheio’


 



AMEAÇA
O Globo


Ator é preso após invadir armado estúdio de TV


‘O ator e desenhista Ricardo Dualibi, de 29 anos, armado com uma pistola, invadiu ontem a portaria 3 da Central Globo de Produção, em Jacarepaguá, atirando para o alto e anunciando um assalto. Um dos dois seguranças da portaria foi feito refém por Ricardo. Apontando a arma para o segurança, o invasor se dirigiu ao setor B do Projac, onde são gravadas as cenas da novela ‘Cobras e Lagartos’, mas acabou detido por outros seguranças da emissora.


PMs levaram o ator à 32 DP (Taquara), onde foi autuado por disparo de arma de fogo e uso de armamento de calibre restrito. Na delegacia, disse que não queria machucar ninguém e que sua intenção era chamar a atenção de diretores da TV Globo, para mostrar seu trabalho. Em abril, ele chegou a fazer figuração na novela, mas foi desligado pela emissora. A pistola apreendida está registrada no nome do irmão que, segundo o ator, é colecionador de armas.’


 




CINEMA NACIONAL
Bruno Porto


Audiovisual contraria expectativa pessimista


‘Por causa do fraco desempenho obtido pela maioria dos filmes nacionais lançados até aqui, grande parte da classe cinematográfica acredita que a participação dos longas-metragens brasileiros na bilheteria em 2006 será menor que a registrada no ano passado. O secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, Orlando Senna, no entanto, afirmou anteontem que os cineastas podem estar enganados.


— Em 2004 e 2005, nós tivemos entre 13 e 14% de participação. Segundo estudiosos, este ano a nossa participação deve ficar entre 14 e 15% — disse ele durante o seminário ‘Audiovisual e Governo Lula’, que aconteceu segunda-feira, na sede do grupo teatral Tá na Rua, na Lapa.


Com o objetivo de discutir as políticas culturais do Governo Lula, o seminário reuniu autoridades do Ministério da Cultura, cineastas, políticos do PT e estudantes de cinema. Senna disse que a participação nacional na bilheteria está longe do ideal, mas frisou tratar-se do melhor percentual da América Latina.


— Também é maior que o dos países asiáticos. E são poucos os países europeus que têm esse número — garantiu. — Num possível segundo mandato, esperamos chegar nos 20% de participação.


O seminário seguia morno quando um estudante perguntou se o cineasta Paulo Thiago não achava que grupos como o Nós do Morro estavam ajudando a renovar o cinema. O diretor de ‘Coisa mais linda’ e ‘O vestido’ aproveitou a pergunta para criticar os editais do MinC voltados para o fomento da produção.


— É excelente o surgimento de grupos como o Nós do Morro. Por outro lado, está havendo uma desprofissionalização da atividade — disse ele.


Cineasta defende discussão de portas fechadas


Paulo Thiago chamou atenção para o fato de o produtor Luiz Carlos Barreto e os cineastas Roberto Farias e André Klotzel, presentes na platéia durante a sua fala, terem sido ignorados por editais recentes do MinC, que estariam beneficiando diretores novos.


— São três nomes importantes do cinema brasileiro. O Farias não ganhou um edital no Governo Lula. O Luiz Carlos só foi contemplado este ano, através de uma homenagem que acompanhou o último edital da Petrobras — disse ele. — E o Klotzel foi eliminado durante um tal de um pitching ( defesa oral do projeto ). Que editais são esses? Eles têm que ser revistos. Os critérios profissionais precisam ser levados em consideração.


A temperatura do debate subiu quando um curta-metragista novato presente reclamou, dizendo que ele e as outras pessoas da sua geração também eram profissionais.


— Tem a questão de adquirir direitos históricos. Não pode todo o mundo concorrer no mesmo nível — rebateu Paulo Thiago. — Tem o cinema cultural e o profissional. O último edital da Petrobras até foi mais equilibrado nesse sentido, mas ainda assim os critérios têm que ser revistos.


Mais cedo, Paulo Thiago criticou a mídia, que, segundo ele, adora polemizar.


— Quando as discussões da classe cinematográfica vão parar na imprensa, elas não dão em nada. Só as nossas discussões, a portas fechadas, podem gerar frutos e acrescentar — disse.


Luiz Carlos Barreto, que participou de uma outra mesa, também criticou (num tom mais ameno, vale ressaltar) os editais do MinC.


— O cinema brasileiro precisa de renovação, sim, mas não pode eliminar uma coisa para fazer outra — disse ele, que questionou a qualidade dos filmes dos novos cineastas que estariam sendo beneficiados pelos editais. — Nunca se botou tanto dinheiro no cinema brasileiro, e nunca os produtos foram vistos por tão pouca gente.


Barretão defendeu os filmes populares. Segundo ele, ‘um produto só é social quando se comunica com o público’.


— Quero os 42% de participação na bilheteria que conseguimos nos anos 70. E isso só é possível com filmes populares. Populares, não popularescos — frisou. — Com isso, posso alcançar a auto-sustentabilidade. Eu não quero ser o eterno beneficiário das leis de incentivo. Quero me livrar disso o mais rápido possível.


Ele criticou os artistas que ‘fazem arte para o umbigo’.


— Sobretudo os que fazem isso com o dinheiro público. O grande beneficiário tem que ser a população — disse.


A TV digital foi um dos temas discutidos durante o seminário. Barretão disse que os investidores japoneses que vão lucrar com a implantação do seu modelo no Brasil deveriam ser taxados.


— Essa taxa iria para um fundo voltado para o audiovisual — explicou ele, que saiu em defesa do secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, que causou polêmica no meio acadêmico com o livro ‘Desafio brasileiro na era dos gigantes’, no qual defende a retomada de investimentos bélicos no país. — Estão preconizando a desmobilização do Exército, assim como preconizaram a desmobilização do Estado.’


 




CAMPANHA
Bernardo Mello Franco


Denise justifica ataques de Cesar pela internet


A divulgação de e-mails confidenciais do prefeito Cesar Maia, na segunda-feira, irritou adversários e aliados na disputa pelo governo do estado. A candidata apoiada por Cesar, Denise Frossard (PPS), admitiu a autenticidade de mensagens em que o prefeito discutia estratégias com assessores para atacá-la em blogs e e-mails anônimos. A deputada lembrou, no entanto, que as ofensas foram feitas antes que ela acertasse a coligação com o PFL de Cesar.


— Isso é normal. Tem horas em que a gente xinga e depois se arrepende. Naquele momento, ele via em mim uma inimiga política — justificou.


Segundo Frossard, que em 2004 acusou Cesar de sabotar sua candidatura a prefeita do Rio pelo PSDB, os hackers que invadiram o ex-blog do prefeito não desestabilizarão o que chamou de união republicana contra a governadora Rosinha Garotinho, o ex-governador Anthony Garotinho e o candidato do PMDB, Sérgio Cabral.


Eduardo Paes receita remédio ao prefeito


Chamado de idiota num dos e-mails violados, o candidato do PSDB, Eduardo Paes — ex-aliado de Cesar — ironizou uma mensagem em que o prefeito dizia fazer política com o fígado.


— Vou mandar uma caixinha de Epocler para ele — disse, referindo-se a um remédio contra dores no fígado.


Em entrevista de manhã à rádio CBN, Frossard afirmou que, se eleita, fará uma auditoria nos gastos do governo com servidores terceirizados.


— Garotinho fez greve de fome porque não conseguiu explicar esses contratos — disse.


A juíza aposentada deixou claro que terá duas frentes de campanha: a defesa de medidas duras na área de segurança pública e a determinação de associar Cabral às administrações do casal Garotinho.


— Ainda não se colou na imagem do Serginho Cabral que ele é o candidato de Garotinho. As pesquisas indicam que quando isso acontece ele cai — afirmou.


A crise na segurança também foi usada como munição contra o candidato peemedebista, que lidera as pesquisas de intenções de voto. De acordo com Denise, Cabral está a salvo da violência porque circula pelo estado em carro blindado e com dez seguranças.’


 



Raquel Miura


Denúncia faz Heloísa demitir assessor


BRASÍLIA. Diante da acusação de que usou o gabinete no Senado para fazer campanha política, a candidata do PSOL à Presidência, Heloísa Helena, demitiu ontem o funcionário Antônio Jacinto Filho. Segundo reportagem do ‘Correio Braziliense’, ele ocupava cargo de confiança e usava um computador do gabinete para enviar mensagens eletrônicas com a agenda da candidata.


Heloísa disse que foi um episódio isolado e negou que tenha usado a estrutura do Senado para fazer campanha.


— Estou há quatro anos sem usar nem a gráfica do Senado a que tenho direito. Passei a minha vida com rigor ético implacável desafiando qualquer canalha do mundo da política. Então, infelizmente, ele era um bom pai, um bom rapaz, mas teve de ser demitido.


A lei eleitoral proíbe ao servidor usar bens móveis ou imóveis da administração pública em benefício de candidato, partido político ou coligação.


Mandado de segurança para garantir presença em debate


Heloísa entrou com mandado de segurança no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para garantir o direito dela e dos candidatos nos estados de participar dos debates no rádio e na TV. A lei eleitoral de 1997 garante a participação aos candidatos com representação no Congresso. Mas instrução do TSE de 10 de julho restringe o direito a partidos com representantes eleitos na última legislatura. O PSOL só foi registrado ano passado.’


 


EXPOSIÇÃO
Suzana Velasco


Quadrinhos refletem transição política espanhola


‘Num país com um forte período de ditadura e censura, é natural que o humor e o sarcasmo fiquem escondidos por trás da aparente sisudez do contexto social. E que explodam quando a sisudez dá uma trégua. Foi o que ocorreu na Espanha, que, após a ditadura franquista, viveu um boom das histórias em quadrinhos, grande parte com acentuados traços de crítica política. Essa trajetória pode ser vista em ‘A democracia espanhola em quadrinhos’, exposição organizada pelo Instituto Cervantes, que reúne cerca de cem pranchas originais de 1975, ano da morte de Franco, a 2005, e fica até 30 de agosto, no Museu Nacional de Belas Artes.


— Na Espanha, só havia cómics para crianças e após a morte de Franco houve uma espécie de idade de ouro dos quadrinhos. Foi como uma rolha que se soltou — diz o curador da mostra, o romancista e professor de literatura José María Conget, que em 2004 publicou o livro ‘El olor de los tebeos’ (‘O cheiro dos quadrinhos’).


Depois de uma introdução com histórias infantis, a exposição apresenta os quadrinhos do período de transição política, até que os socialistas ganhassem as eleições pela primeira vez, em 1982. A segunda parte traz o período de auge, quando existiam cerca de 20 grandes publicações na Espanha. Fechando a mostra estão os quadrinhos de a partir do fim dos anos 90, que, segundo Conget, marcam o início da crise do gênero no país.


— Há várias teorias para essa crise, de que havia uma espécie de superprodução ou de que a indústria do cómic carecia de infra-estrutura na Espanha — conta Conget, que chega ao Rio no fim de agosto para dar uma conferência de encerramento da exposição. — Hoje em dia ainda há o cómic satírico, como na clássica ‘El jueves’, uma das publicações mais atrevidas do país. É o único lugar onde se fazem críticas à família real.


Além das histórias de ‘El jueves’ — que, como exceção, sobrevive desde 1977 — a exposição traz a sátira política de revistas como ‘El Papus’ (1973) e ‘Star’ (1974), além de publicações especialmente focadas na transgressão. Um dos destaques é a underground ‘El víbora’ (1979), que teve como um de seus autores mais audaciosos o desenhista Nazario, criador de personagens como o homossexual Anarcoma. Impensável nos tempos de Franco.


A mostra tenta ainda dar um panorama da diversidade estética das criações. Conget diz que os anos 80 e 90 uniam grandes publicações mas também muitos quadrinhos de experimentação e ousadia. Hoje em dia, essa vanguarda experimental não tem tanto alcance porque tem surgido em cidades menores, como Mallorca e Bilbao. As grandes editoras se dedicam agora a publicar sofisticadas edições dos clássicos dos quadrinhos.


— Antes havia mais experimentação estética. Hoje, os quadrinhos experimentais, como ‘Nosotros somos los muertos’ ( ‘Nós somos os mortos’, uma brincadeira com as críticas de que os quadrinhos morreram ), de Max e Pere Joan, são muito caros e não têm uma circulação periódica definida. Acabam sendo publicações elitistas, para um público muito reduzido, ainda que talvez mais exigente. E são criações em que a expressão visual é mais importante do que a história, diferente da linha clara belga, de quadrinhos como ‘Tintin’. São cómics muito adultos, adúlteros às vezes — brinca Conget, que nota a decadência das histórias para crianças. — Elas passam o dia vendo TV e na internet, algumas até têm celular. Os quadrinhos infantis perderam espaço nesse contexto.’


 




CRIME
O Globo


Vereador é envolvido em morte de jornalista


‘Uma briga envolvendo o vereador de Guapimirim Oswaldo Vivas (PT do B) resultou na morte do jornalista e funcionário aposentado do Ministério do Trabalho Ajuricaba Monassa de Paula, de 73 anos. O incidente aconteceu no fim da tarde de segunda-feira.


Segundo a família de Ajuricaba, o jornalista aposentado foi agredido pelo vereador e dois parentes — o tio Nereu Correa Viana e o primo Alfredo Vivas. Ajuricaba caiu no chão, teria sido atingido com chutes e desmaiou ao bater com a cabeça. No Hospital de Guapimirim, para onde chegou a ser levado, os médicos constataram que a morte foi provocada por traumatismo craniano e edema pulmonar.


O motivo da briga foi a posse de uma casa em Guapimirim, onde Ajuricaba morava com a família, questão que vem sendo decidida na Justiça.


Na 65 DP (Magé), o vereador Osvaldo Vivas disse que a morte do jornalista ocorreu por acidente e que ainda tentou reanimá-lo.


Ontem à tarde, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), da qual Ajuricaba era associado desde 1981, enviou mensagem à governadora Rosinha Garotinho pedindo a sua intervenção pessoal para apuração do caso.’


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 26 de julho de 2006


WASHINGTON E ISRAEL
Luiz Weis


O rabo que abana o cachorro


‘É comovedora a inocência da América liberal. Escrevendo no New York Times de anteontem, o colunista Bob Herbert criticou o governo americano por não ter, nas suas palavras, puxado a manga e murmurado ao ouvido de Israel, assim que começou a devastar o Líbano: ‘OK. Nós entendemos. Mas chega. A carnificina tem de cessar. Acharemos um meio melhor.’ É o caso de perguntar em que galáxia o honesto Herbert foi passar férias em março, quando um estudo inédito sobre as relações entre EUA e Israel apareceu no site da Universidade Harvard e na London Review of Books – nenhuma publicação americana o aceitou. O seu impacto só não foi maior que as agressões aos seus autores.


Quem o tiver lido não se perguntará por que a América, em seu próprio prejuízo, promove ou endossa sucessivas barbaridades no Oriente Médio, como ao dar carta-branca para Israel despejar o inferno sobre o Líbano, assim que o extremista Hezbollah, entrincheirado no sul do país, seqüestrou dois soldados em solo israelense. A única pergunta que resta é o que ainda precisa ocorrer – depois do 11 de Setembro, depois do monumental fracasso no Iraque, depois do revertério à vista no Afeganistão, depois do constante fortalecimento dos movimentos islâmicos radicais – para Washington se libertar da paradoxal tutela que o protetorado israelense exerce sobre a sua política exterior.


O Estado judeu é a cauda que abana o buldogue americano, e desse fenômeno único na atualidade mundial começou a se ocupar em 2002 uma dupla de acadêmicos de primeiro linha, expoentes da chamada escola realista em matéria de relações internacionais e que se declaram ‘filo-semitas, partidários ardorosos da existência de Israel’. John Mearsheimer leciona Ciência Política na Universidade de Chicago. Stephen Walt, Política Internacional em Harvard. Eles sustentam que as ações americanas no Oriente Médio derivam quase todas de fatores internos, principalmente do formidável lobby israelense, que persuadiu os EUA de que os objetivos dos dois países são idênticos ou quase.


Graças ao sistema de prêmios e punições que esse aparato maneja com rara desenvoltura – o que os autores descrevem detalhadamente – há quase 40 anos, Israel é o maior receptor singular de assistência econômica e militar americana. São US$ 3 bilhões por ano em ajuda direta, o equivalente a US$ 500 anuais para cada cidadão israelense. A prodigalidade americana em relação ao Estado judeu – que, a contar de 1967, acumula US$ 140 bilhões em valores atualizados – é amplamente conhecida nos seus termos gerais. Mas os dados e fatos compilados pelos professores configuram uma relação especial sem paralelo: nem a URSS tratava Cuba tão bem. Só Israel, para se ter idéia, não precisa prestar contas dos dólares recebidos.


Jamais os americanos moveram uma palha para impedir o seu Estado-cliente de levar adiante o programa secreto que produziu um arsenal estimado em uma centena de ogivas atômicas. Ao mesmo tempo que encabeçam as pressões contra o programa iraniano de enriquecimento de urânio, os EUA bloqueiam sistematicamente qualquer debate sobre o armamento nuclear israelense.


Inabalavelmente fiéis, a contar de 1982, vetaram 32 resoluções do Conselho de Segurança da ONU desfavoráveis ao aliado – mais do que a soma dos vetos impostos por todos os outros membros do órgão. Em 2000, em Camp David, onde Arafat teria rebarbado a pax israelensis de Barak, ‘agimos mais que a maior parte do tempo como advogados dos israelenses’, confidenciaria um negociador americano.


O alinhamento automático dos EUA a Israel chegou ao auge na segunda Intifada palestina, depois que Sharon se elegeu primeiro-ministro e Bush, presidente. A Casa Branca nunca deixou de condenar com as palavras mais duras os atentados suicidas contra civis israelenses, porém reagia com escandalosa indulgência às atrocidades contra civis palestinos nos territórios ocupados. Bush chegou a classificar como ‘homem de paz’ o mesmo Sharon que um tribunal israelense julgou pessoalmente responsável pelo massacre de Sabra e Chatila, no Líbano ocupado em 1982. Dólares americanos tornaram possível a colonização da Cisjordânia, onde se instalaram 400 mil judeus (incluindo os das áreas anexadas de Jerusalém Oriental). A direita cristã, esteio do bushismo, ajuda diretamente os assentamentos.


O pior de tudo é o apoio de Washington ao expansionismo israelense – os ‘fatos consumados’ de que fala Bush – e à barreira que avança Palestina adentro, em nome da segurança de Israel. O que conduz ao problema do terrorismo. Para Mearsheimer e Walt, a ameaça terrorista resulta da adesão incondicional dos EUA a Israel – e não o contrário (a adesão como efeito do terror).


A conseqüência é clara como o sol: para o mundo inteiro, exceto os EUA, Israel faz o que faz no Líbano – e na Palestina – ‘porque dispõe da extraordinária imunidade que lhe foi concedida pelos americanos’, assinala Patrick Seale, um dos maiores especialistas britânicos em Oriente Médio. Daí o fim da legitimidade da liderança americana, salvo junto aos regimes autoritários ou abertamente despóticos, como os do Egito, da Jordânia e da Arábia Saudita. Eles temem os próprios povos e o ‘Crescente Xiita’ de uma eventual aliança Irã-Iraque. Por isso, pela primeira vez condenaram publicamente o Hezbollah. E Bush não falará mais em promover a democracia no mundo árabe.


A autoridade moral que os EUA tiveram para atacar o Afeganistão, no pós 11/9, ficou desfigurada com a invasão do Iraque e se degradou de todo com a licença de Bush para Israel matar e destruir no Líbano até a remoção do Hezbollah – uma fantasia insana – sob a cruel pilhéria do cessar-fogo, sim, mas não já.


O resumo da tragédia é que, ‘em Israel e no Líbano, o sangue está sendo derramado, o horror está se intensificando, o preço está subindo’, escreve o respeitado analista israelense Gideon Levy, no Haaretz. ‘E tudo para nada.’’


 



MERCADO
O Estado de S. Paulo


Panasonic avança na guerra das TVs de plasma


‘THE NEW YORK TIMES – Será que algum dia a compra de um aparelho de televisão implicará uma escolha entre os tamanhos normal, queen-size e king-size? A Panasonic comunicou na semana passada que começará a vender um televisor de plasma com tela plana de 103 polegadas nos EUA. A TV, quase tão grande quanto uma cama queen-size, é, segundo a Panasonic, a maior do mercado. Custará em torno de US$ 70 mil.


O recordista anterior em maior tela de TV era um modelo de 84 polegadas vendido por vários fabricantes. Nem será preciso dizer que o novo Panasonic é um produto de nicho. ‘As vendas serão limitadas por conta de seu peso e tamanho’, disse Andrew Nelkin, vice-presidente para monitores da Panasonic Consumer Electronics.


Os 2,28 metros de comprimento por 1,22 metro de altura da tela a tornam equivalente em tamanho a quatro TVs de 50 polegadas. Com a moldura e os alto-falantes, ela mede aproximadamente 2,7 metros por 1,80 metro. Pesando aproximadamente 205 quilos, ela precisa ser despachada numa caixa especialmente projetada com sistema de suspensão.


‘Não sei se uma TV como essa chegará ao grande público algum dia’, disse Nelkin. Mas ele prevê que as TVs de 50 polegadas serão o tamanho mais popular este ano, em comparação com as de 42 polegadas em 2005.’


 




FOME DE BOLA
Waldenyr Caldas


A tabela futebol e cinema no Brasil


‘O universo acadêmico tem se dedicado muito à pesquisa da cultura lúdica brasileira. Não são poucas, por exemplo, as teses e dissertações sobre telenovelas, música popular, futebol, cinema e carnaval, entre outros temas do nosso entretenimento cotidiano. Quase sempre elaborados sob a ótica da teoria crítica da indústria cultural ou, se preferirmos, da chamada cultura de massa, esses trabalhos, com algumas exceções, têm se dedicado à análise do fenômeno pesquisado por si só. A história, a sociologia e em alguns casos a semiologia, têm norteado a linha analítica dessas pesquisas acadêmicas. Não há dúvida de que elas são imprescindíveis. Nos levam a conhecer melhor nosso país e a formação cultural da própria sociedade. Não há dúvida também de que, em nome do rigor científico, esses trabalhos quase sempre são escritos em uma linguagem tão hermética quanto inacessível à grande maioria do público leitor. O leigo interessado, mas não afeito àquela linguagem sisuda, quase cifrada, desiste da leitura. Assim, boa parte das teses e dissertações produzidas na Universidade fica mesmo circunscrita ao universo acadêmico, ainda que publicada pelas editoras.


A bem da verdade, é possível também escrever simples, de forma clara e objetiva, sem nenhum prejuízo da qualidade. Podem-se registrar os mesmos fatos, casos e análises sobre o tema pesquisado e com estilo muito mais acessível ao grande público. É o caso, por exemplo, do livro Fome de Bola, do jornalista Luiz Zanin Oricchio, do Estado, que trata do binômio futebol/cinema no Brasil (Imprensa Oficial, coleção Aplauso, 488 páginas, R$ 9, site http://lojavirtual.imprensaoficial.com.br). O nível de informações contidas no trabalho e a qualidade de suas análises acerca do tema estudado têm a consistência e a sensibilidade do bom pesquisador que sabe usar a razão e a paixão nos momentos certos. Mas tem também a profundidade do profissional que, de fato, sabe escrever com clareza e competência. Seu texto é límpido e preciso. Se de uma parte não deixa dúvida sobre o que quer dizer o autor, por outro lado permite ao leitor a liberdade de outras interpretações sobre suas palavras. O livro deixa fluir e estimula o pensamento crítico, sem imiscuir-se nos dogmas e maniqueísmos político-ideológicos, que tanto povoaram e ainda povoam a cultura lúdica brasileira. Aqui, o lugar-comum e as frases de efeito perderam seu espaço. O fato é que, querendo ou não (e isto nem vem ao caso), o autor de Fome de Bola tornou seu livro realmente mais democrático. Isto porque, o acadêmico exigente em sua precisão científica, o estudante do nível médio, ou qualquer outra pessoa interessada em futebol/cinema, ou só futebol ou só cinema, poderá ler seu trabalho com igual desenvoltura.


A história do nosso país é o fio condutor da narrativa e análises de Luiz Zanin Oricchio. Na introdução, ele faz um levantamento da memória do futebol e do cinema no Brasil. Uma espécie de arqueologia desses dois produtos, remontando ao século 19, com a chegada de Charles Miller em 1894, trazendo consigo duas bolas da Inglaterra. Com isso, teria início o futebol no Brasil. ‘Era um domingo, 14 de abril de 1895, e, nesse dia, dizem os historiadores, nasceu o futebol brasileiro.’ O local foi a Várzea do Carmo, entre as ruas Santa Rosa e do Gasômetro, na capital paulista. Já em 1896, o omniógrafo instalado na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, mostrava imagens em movimento, mas de forma ainda incipiente. Mesmo assim despertou a atenção das pessoas. Mas é em 19 de junho de 1898, de acordo com os historiadores, que nasce o cinema brasileiro. Este acontecimento deve-se a Alfonso Segreto, que registrou com uma pequena máquina francesa ‘as primeiras imagens em movimento da terra brasileira…’, como registra o autor.


Bem, mas se os fatos históricos se deram assim ou não, é uma discussão que tem se arrastado ao longo do tempo. Seja como for, há algo de mais significativo do que datas e locais. Como diz Oricchio, ‘cinema e futebol chegaram praticamente juntos ao Brasil nos últimos anos do século XIX. Logo encontraram adeptos, se difundiram, caíram de vez no gosto do público, tornaram-se populares’. Os primeiros registros do futebol/cinema foram feitos nos anos 30, com os filmes Campeão de Futebol (1931), de Genésio Arruda e, um pouco mais tarde, em 1938, Futebol em Família, de Ruy Costa. Este último já era o reflexo da Copa do Mundo de 1938 disputada na França, quando se consagra Leônidas da Silva pela magia do seu futebol. Há muitos outros filmes citados e analisados em Fome de Bola. O espaço aqui é pequeno, o livro é denso e há outras questões igualmente importantes.


Se a partir dos anos 30, quando o futebol realmente se populariza em nosso país e torna-se praticamente uma unanimidade, parte da inteligência brasileira o rejeitava. Lima Barreto e Graciliano Ramos, por exemplo, chegaram a se manifestar sobre suas contrariedades e desaprovação ao futebol. Este último considerava nosso principal esporte ‘uma importação indesejada, estrangeirismo que nada acrescenta ao Brasil’, como registra Zanin Oricchio. Nosso grande autor de Vidas Secas e São Bernardo chegou a escrever o seguinte: ‘Temos esportes em quantidade. Para que metermos o bedelho em coisas estrangeiras? O futebol não pega, tenham certeza.’ Menos mal, mas o tempo encarregou-se de mostrar que Graciliano não estava certo. O futebol, orgulho nacional, hoje reina soberano na cultura lúdica do nosso país. É bem verdade, também, que este orgulho nacional foi ferido de morte, maltratado por nossos dirigentes e atletas nesta Copa de 2006. Esqueçamos, não tem volta.


Que o uso político-ideológico deste e de outros esportes, dentro e fora do nosso país, sempre ocorreu e ocorre, não é, evidentemente, nenhuma novidade. Desde o governo de Getúlio Vargas nos anos 30, até a nossa contemporaneidade, este fato se repete sistematicamente. Ao tratar deste tema, a meu ver, o livro atinge o ponto mais significativo da conjunção futebol/cinema. O capítulo 3, ‘Batendo Bola nos Anos de Chumbo’, apresenta 48 páginas de análise rigorosa e equilibrada de filmes como, Tostão, a Fera de Ouro, Brasil Bom de Bola, Pra Frente Brasil, entre outros. No tempo dos governos militares, futebol e política eram inseparáveis. Muito mais do que em épocas anteriores e posteriores. O registro que Oricchio faz do filme Pra frente Brasil é esclarecedor: ‘Apesar de suas notórias insuficiências dramatúrgicas, Pra Frente Brasil é um marco, uma dos poucas obras brasileiras que não se propõem a debater a utilização política do futebol. Não discute a excelência daquela seleção brasileira, nem questiona o fato de que o futebol tenha se tornado, no Brasil e em outras nações fanáticas por ele, uma expressão da cultura desses países, o que torna ridícula a disposição de torcer contra a seleção, pois seria torcer contra nos mesmos.’ E é assim que, em alguns momentos da nossa história, futebol e política tornam-se quase irmãos siameses.


O livro ainda traz importantes entrevistas com os cineastas João Moreira Salles, Luiz Carlos Barreto, Ugo Giorgetti, Maurice Capovilla, Oswaldo Caldeira, Djalma Limongi Batista e o craque Pelé. A filmografia, como diz o próprio autor, pretende ser a mais completa possível. Ela começa em 1907 e chega a 2006 com o filme O Maior Amor do Mundo, direção de Cacá Diegues. Em síntese, não se trata apenas de um livro a mais, ou de um livro só sobre futebol e cinema. Trata-se, isto sim, de um trabalho de referência para quem se interessar pela cultura lúdica brasileira, o futebol e o cinema. Confira, caro leitor.’


 



TELINHA
Keila Jimenez


MP cobra indenização da Record


‘O Ministério Público entrou anteontem com uma ação civil pública contra a Record. Motivo: a exploração da imagem de uma criança com câncer no programa de Sônia Abrão, em agosto passado.


Segundo o procurador Sergio Suiama, a ação pede que a emissora pague uma indenização moral coletiva no valor de de R$ 4 milhões, 0,5% do que a Record fatura em um ano. O dinheiro seria destinado a um fundo público de preservação dos direitos humanos.


‘Soubemos do abuso, pedimos as fitas com as imagens e tentamos várias negociações com a Record antes de entrarmos com a ação. Em nenhuma obtivemos sucesso’, fala Suiama. ‘A Record se recusava a assinar um compromisso de não explorar mais imagens de crianças, nem queria exibir vídeos independentes de ONGs sobre a proteção dos direitos das crianças, como uma espécie de penalização pelo ocorrido.’


Na época, sob o pretexto de arrecadar fundos para uma instituição que cuida de crianças com câncer, o programa de Sônia Abrão – hoje no ar pela RedeTV! – colocou em cena um garoto doente, que chorava diante das câmeras enquanto sua cabeça era raspada. Detalhe: com a mesma trilha sonora que embalava cena semelhante na ficção de Camila, personagem com leucemia vivida por Carolina Dieckmann em Laços de Família, que na ocasião vinha sendo reprisada no Vale a Pena Ver de Novo, na Globo.


Além da ação, o MP entrou com uma liminar pedindo à União que instale uma fiscalização no caso, pois se trata de uma concessão pública cometendo abusos.


Segundo o procurador, a emissora deve levar ainda alguns dias para ser citada no caso. A Record, por meio de sua Assessoria de Imprensa, diz que ainda não foi notificada da ação.’


 


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