Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sérgio Dávila

‘‘Inocente! Inocente!’ Foi ao som deste slogan, gritado por cerca de mil fãs, que Michael Jackson entrou na corte de Santa Maria, na Califórnia, no início da tarde de ontem para ouvir o veredicto de 12 jurados que decidiriam seu futuro. Menos de meia hora depois, o músico sairia pela mesma porta vingado: o júri concordou com os fãs. O rei do pop foi considerado inocente das dez acusações que pesavam sobre ele, a mais grave a de molestar sexualmente um menino de 13 anos que se recuperava de um câncer.


O resultado traz uma surpresa e um recado. A surpresa: virtualmente nenhum analista jurídico acreditava que o cantor voltasse para seu rancho, Neverland, onde os atos criminosos supostamente teriam acontecido, sem ao menos uma pena, simbólica que fosse. ‘Estou surpreso que Michael Jackson possa voltar a fazer seu ‘moonwalking’ como se nada tivesse acontecido’, disse o advogado Robert Shapiro, que ganhou notoriedade no julgamento do ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson, referindo-se ao passo de dança que o músico popularizou nos anos 80 e que deu impulso à carreira solo.


O recado: a promotoria, liderada por Tom Sneddon Jr., não preparou direito o seu caso. ‘Em décadas de vida pública, nunca briguei com a opinião de um júri, não vou começar agora’, disse o promotor em entrevista coletiva logo após o veredicto. Os antecedentes suspeitos da família de acusadores, os testemunhos confusos dados pela então suposta vítima e por sua mãe, a falta de ao menos um indício de prova além de uma dúvida razoável contribuíram para a impressão da falta de preparo do ataque neste caso.


Além do abuso sexual de um menor de idade, Michael Jackson, 46, estava sendo acusado de fornecimento de agente tóxico (álcool) com o objetivo de cometer esse delito, seqüestro do menor, falsa prisão deste e de sua família e extorsão com objetivo de viabilizar conspiração. Se fosse condenado, poderia pegar até 20 anos de cadeia. Sua defesa foi liderada por Thomas Meserau, 54, que livrou o boxeador Mike Tyson de um julgamento em 2001, e que, mais do que negar as acusações, se concentrou em desqualificar o acusador e caracterizar o caso como uma vendeta do promotor.


Thomas Sneddon Junior, 64, promotor do condado (divisão administrativa) de Santa Barbara, da qual Santa Maria é a sede, investiga o cantor há mais de dez anos. Em 18 de novembro de 2003, depois de a polícia vistoriar Neverland, ele anunciou a abertura do processo. Sneddon instruiu processo semelhante contra ele em 1993, depois que outro menor o acusou de abuso sexual. O caso foi resolvido com acordo amigável e uma compensação financeira de US$ 23 milhões (cerca de R$ 56 milhões). Desde então, o ex-pugilista, com nove filhos, que se aposenta no ano que vem, dedicou a década final de sua carreira a tentar levar o músico às grades. Não conseguiu.


O motivo é uma frase repetida à exaustão tanto pelo advogado de Jackson quanto pelo juiz do caso, Rodney Melville: ‘Além de uma dúvida razoável’. Ou seja, os 12 jurados teriam de condenar Jackson apenas se não houvesse nenhuma sombra de dúvida em nenhuma das acusações. Não foi o que aconteceu. ‘Não conseguimos ver um indício de prova indubitável da culpa de Jackson’, disse um dos jurados, identificados apenas por números, na entrevista coletiva após o veredicto.


Eram 12 moradores de Santa Maria, oito mulheres e quatro homens, com idades entre 20 e 79 anos, oito deles brancos, três latinos e um asiático, que ouviram 86 testemunhas e viram 662 evidências da acusação e 22 da defesa, que trouxe ao banco de testemunhas 52 pessoas, entre elas o ex-ator infantil Macaulay Culkin, que negou que tivesse sido abusado por Jackson quando criança, e o apresentador de TV Jay Leno, que disse que desconfiou da família de acusadores.


Antes de deliberarem, receberam 98 páginas de instruções, o que pode ter causado a demora nas decisões. Os 12 ficaram 33 horas reunidos, de sexta retrasada até ontem. Na comparação, o júri que inocentou O.J. Simpson gastou dez dias, mas o caso envolvia acusação de assassinato e possibilidade de pena de morte.


Como o de Simpson, também este era para ser o ‘julgamento do século’, mas as acusações envolvendo pedofilia, a bizarrice do acusado e de certos testemunhos (uma das empregadas de Jackson disse que tinha de limpar fezes do chimpanzé de estimação das paredes do quarto do cantor) e a proibição do juiz de que o caso fosse transmitido ao vivo pela mídia ajudaram a esvaziar o interesse do público em geral. Um número resume a discrepância: 2.000 jornalistas de 35 países esperavam o veredicto ontem em Santa Maria; era o dobro do número de fãs no mesmo local.


Finda a leitura, que tomou menos de dez minutos, um abatido Michael Jackson, quilos mais magro do que no começo do julgamento, em 31 de janeiro, e sua família deixaram a corte em direção ao comboio de carros pretos, mesma cor do terno e da gravata que o cantor usava, pela primeira vez sem coletes coloridos e sem as faixas que carregou enroladas no braço. Ele não disse nada aos fãs, que comemoravam. Seu advogado falou: ‘Foi feita a Justiça. Michael Jackson é inocente’.’



 


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‘Veredicto mostra vitória da privacidade ‘, copyright Folha de S. Paulo, 14/06/05


‘‘Respeitem minha esquisitice.’ Se tem uma lição que Michael Jackson ensinou ao mundo com o veredicto de ontem foi essa. Respeitem a privacidade de alguém que quer viver como um garoto, ter amiguinhos de 12 a 14 anos e convidá-los para dormir na casa dele depois de passar o dia inteiro juntos, sempre com a anuência e, às vezes, o estímulo dos pais dos tais amiguinhos.


Respeitem sua vontade de alisar o cabelo, de clarear a pele, de afinar o nariz (o dele, o dos pais dele, o dos irmãos, o das irmãs LaToya e Janet, para quem Michael pagou cirurgias plásticas para que todos continuassem pelo menos no exterior parecendo membros da mesma família). Respeitem sua vontade de usar roupas estranhas com faixas nos braços.


Ao mesmo tempo, o ‘julgamento do século’ que acabou não acontecendo vai ficar marcado na estranha vida de Jackson como uma surra de cinta fica marcada na vida de qualquer criança que faz uma besteira maior do que as normais, banais, corrigidas com um tapinha no pulso ou uma noite sem TV. Foi o ‘preste atenção’ mais severo possível, com direito a humilhação pública e horas e horas e horas sentado na frente de um juiz, vários advogados, 12 jurados e centenas de jornalistas sedentos por qualquer tipo de informação.


Agora, porém, ele aprendeu a lição. Ou foi essa a impressão que deixou quando fez uma única declaração pública assim que foi indiciado neste caso. Disse que se arrependia de ter resolvido o caso anterior, quando foi acusado de molestar sexualmente outro garoto, fora do tribunal, pagando US$ 23 milhões (cerca de R$ 57 milhões) à família deste. Dessa vez, afirmou, iria até o fim da história, ainda que doesse, ainda que fizesse o garoto de 13 anos que existe dentro dele virar um homem de 46, a idade real do cantor, em apenas seis meses.


E jurou que nunca mais se deixaria levar pelos encantos de nenhum amiguinho menor.


Desde o dia 31 de janeiro, Michael estava de castigo. O que ele aprontou para merecer isso foi dar uma entrevista a Martin Bashir, um dos jornalistas mais suspeitos a ser desmamado pela parte sensacionalista da mídia britânica. Na reportagem televisiva ‘Living with Michael Jackson’, que deu origem ao caso, o músico mostrava que tinha um ‘amiguinho especial’, que por falta de sorte pertencia a uma das famílias mais suspeitas de Los Angeles.


Bashir já foi acusado de conseguir entrevistas com celebridades na base da chantagem e de promessas falsas. Foi ele quem entrevistou a princesa Diana em 1995, quando ela contou ao mundo que Camila Parker-Bowles era amante de seu então marido, o príncipe Charles desde antes do casamento. Bashir teria convencido Diana mostrando documentos falsos, segundo os quais o serviço secreto havia contratado um assassino para matá-la.


Já Janet Arviso, a mãe da ex-suposta vítima, fraudou a previdência norte-americana e levou milhares de dólares de uma loja de departamentos norte-americana ao dizer que tinha apanhado e sido apalpada sexualmente pelos seguranças da empresa, acusações que depois disse ter inventado por pressão do ex-marido, que supostamente a espancava.


Segundo seu próprio testemunho, teria presenciado Jackson lamber a cabeça de seu filho e não fez nada. Quando teria ouvido de seu filho que este tinha sido molestado sexualmente, disse que procurou primeiro o mesmo advogado que já havia atuado num caso semelhante contra o músico para só então ir à polícia.


A vitória da esquisitice de Michael Jackson contra a obsessão de Tom Sneddon e a ganância de Janet Arviso, o caso ‘O Povo contra Michael Jackson’, lembra outro caso, ‘O Povo contra Larry Flynt’, que virou filme nas mãos de Milos Forman em 1996. Neste, a vitória do mau gosto significava a vitória da liberdade de expressão, nem que esta liberdade de expressão fosse usada para mostrar o que a revista pornográfica ‘Hustler’ mostra. Agora, a inocência de Michael Jackson é a vitória da privacidade, num mundo cada vez mais obcecado com a celebração da celebridade a qualquer preço.’



 


Thiago Ney


‘Nem mau, nem perigoso, nem invencível’, copyright Folha de S. Paulo, 14/06/05


‘Em quase 20 anos, desde ‘Bad’, de 1987, Michael Jackson produziu não mais do que cinco canções realmente boas. Uma delas é ‘Unbreakable’, do disco ‘Invincible’. ‘Você não pode me quebrar, pois eu sou inquebrável’, ele canta. Elepode até ser inquebrável, invencível nos tribunais, mas quem ainda o conhece por Rei do Pop?


O apelido veio nos anos 80, década que pertenceu a Michael Jackson. Foi em 1982 que ele estourou com ‘Thriller’, álbum que está beirando as 50 milhões de cópias -só nos EUA, foram 26 milhões, e está emparelhado com ‘Their Greatest Hits (1971-1975)’, uma coletânea dos Eagles, na disputa de disco mais vendido da história do país. No total, Jackson já vendeu quase 60 milhões de álbuns apenas nos EUA.


‘Thriller’ -mas também ‘Bad’- trouxe antes beats e sacadas rítmicas que iriam fazer a fama de gente como Timbaland e Neptunes, os mais talentosos produtores de rap e r&b hoje. E anteciparia a atenção aos passinhos de dança, às coreografias que foram seguidas à risca por boy bands como New Kids on the Block e Backstreet Boys e girl bands como Destiny’s Child e TLC.


A influência dele está aí, por todo o lado. Enquanto muito se fala da atual infantilização do universo do cantor, no início de sua carreira, com a experiência de seus cinco anos, Michael Jackson já subia ao palco como um veterano.


Em 1963, Jackson se juntaria aos irmãos no Jackson 5, e com a inconfundível voz, carregaria todos -inclusive o pai, que produzia a banda- a um impensado sucesso. ‘ABC’, ‘The Love You Save’, ‘I’ll Be There’… Com pouco mais de dez anos, já teria garantido singles no primeiro posto da parada da ‘Billboard’.


Após álbuns solo como ‘Got to Be There’ (1972), ‘Music and Me’ (73) e ‘Forever, Michael’ (75), a primeira grande mudança na carreira e na vida de Jackson veio em 1977, com o encontro com Quincy Jones, que produziu ‘Off the Wall’ (79). Amparado por baladas e funks como ‘Don’t Stop till You Get Enough’ e ‘She’s Out of My Life’, o disco vendeu 7 milhões de cópias. O ‘ABC’ dos Jackson 5 ficava para trás.


A parceria com Jones chegou ao seu ponto máximo com ‘Thriller’. ‘Beat It’, ‘Billie Jean’, ‘Human Nature’, ‘Wanna Be Startin Somethin’, ‘The Girl Is Mine’… Praticamente todas as nove canções do álbum são hits.


É aqui que começa a massificação e a intensificação do marketing em torno de Jackson. O extenso vídeo de ‘Thriller’, de 13 minutos e seus zumbis de olhos vermelhos, é considerado um marco no gênero. Com o passo ‘moonwalking’ -que ele pegou emprestado, não foi invenção de Jackson-, criou mania universal em rodas de breaks. Não à toa recebeu o título de artista do milênio em premiação da MTV…


A partir daí, o universo infantil passou a aparecer mais e mais na música e na vida de Jackson. ‘Bad’, seu último grande disco, já traz as baladas cansadas, açucaradas -algumas paranóicas- que acompanhariam o cantor posteriormente. Jackson envelhecia, e seus fãs também.


Os títulos dos discos de Jackson mostram, na cara, o antagonismo e o desespero do cantor após o sucesso de ‘Thriller’. ‘Bad’ não tinha nada de mau, e trazia, pela primeira vez, um Jackson de pele mais clara e de nariz mais fino. O insosso ‘Dangerous’ (92) não tem nada de perigoso, enquanto ‘Invincible’, de 2001 -quando os rumores das enormes dívidas do cantor tomavam o noticiário num pós-11 de Setembro-, é de uma época em que Jackson aparecia mais vulnerável.


Artista que sempre reclamou da perseguição à sua vida pessoal, restava a Jackson turbinar sua carreira com factóides. A campanha de marketing da coletânea ‘HIStory’ (95) foi uma das mais monstruosas -em todos os sentidos- que já se viu no pop. Com mais de US$ 40 milhões, Jackson mandou construir cinco gigantescas estátuas de 18 m de altura -uma delas desfilou em cima de um barco pelo londrino Tâmisa.’



 


Richard Fausset e Jean Guccione


‘Um profissional acostumado a pressões e altos riscos’, copyright O Globo / Los Angeles Times, 15/06/05


‘Quinze anos atrás, Thomas Mesereau planejava escapar de uma frustrante carreira de advogado defensor de empresas. Um dia, ele compartilhou seu plano com uma antiga colega da escola de direito.


– Ele disse: ‘Vou ler todos os livros sobre cada advogado criminal de defesa famoso, e vou me tornar um advogado criminal de defesa famoso’. Eu só o olhei e disse: ‘Boa sorte’ – lembra Dana Cole. – Mas agora, é claro, ele é o advogado criminal de defesa mais famoso do mundo.


Ninguém sabe se a carreira de Michael Jackson será ressuscitada com a absolvição de anteontem. Mas o caso certamente abrilhantou a carreira de Mesereau. O advogado era relativamente desconhecido mesmo entre seus colegas em Los Angeles até três anos atrás, quando o ator Robert Blake (da série de TV ‘Baretta’) o contratou e foi inocentado da acusação de matar a mulher. Agora, o mundo testemunha sua decisiva vitória no caso de um famoso e excêntrico cliente cujo destino estava nas mãos de um júri.


– É um dos maiores casos da década, e ele (Mesereau) o ganhou por completo. Parecia um caso difícil, devido às estranhas história, conduta e aparência de Jackson. Ele agiu com habilidade – disse o veterano advogado criminal de defesa Harland W. Braun.


Ao contratar Mesereau, Jackson obteve um advogado acostumado a fortes pressões e altos riscos. Além de representar celebridades, ele presta serviços voluntários como defensor em casos de pena de morte. É uma experiência única, que pode ter ajudado esse nova-iorquino de 55 anos a ganhar o respeito do cantor e, em troca, a manter seu cliente sob seu controle.’



 


O Estado de S. Paulo


‘Por unanimidade, júri inocenta Michael Jackson de abuso sexual ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 14/06/05


‘O cantor Michael Jackson, de 46 anos, foi absolvido ontem pelo júri de todas as dez acusações a que respondia na corte de Santa Maria, na Califórnia – quatro delas por abuso sexual de um adolescente de 13 anos, uma por tentativa de abuso, quatro por dar bebidas alcoólicas ao menor e uma por conspirar para manter o garoto e sua família presos em sua propriedade (veja todas no quadro ao lado).


O veredito, unânime, foi lido ontem por volta das 17h45 (horário de Brasília), dez dias após o início das deliberações dos jurados e pouco mais de quatro meses após a abertura do julgamento.


De terno preto, camisa branca e óculos escuros, Jackson entrou no tribunal acenando discretamente para os cerca de 300 fãs que, de mãos dadas, fizeram um cordão pelo trajeto percorrido pelo astro. Durante a leitura do veredito, a cada vez que a palavra inocente era pronunciada, uma fã soltava uma pomba branca. Inocentado, Jackson saiu chorando do prédio, acompanhado da família e sem falar com ninguém. Entrou no carro e voltou para o rancho Neverland. Apenas a ex-mulher do cantor, Debbie Rowe, testemunha de defesa, afirmou que ‘estava emocionada por saber que o sistema legal tinha funcionado’.


Foi o fim de um julgamento que atraiu a atenção da mídia, provocou especulações sobre os problemas financeiros do cantor, inclusive sobre suas dívidas milionárias, e levantou antigas acusações de pedofilia, que desde 1993 assombram a figura de Michael Jackson, época em começaram as primeiras acusações de familiares de garotos.


No entanto, na única vez em que as suspeitas se transformaram em um processo, que poderia resultar em cerca de 20 anos de prisão (os US$ 3 milhões de fiança serão devolvidos a Jackson), foram oito mulheres e quatro homens da região de Santa Maria os responsáveis por inocentar o cantor. Um grupo sem nenhum integrante negro, selecionado entre uma população eminentemente agrícola e descrita como conservadora.


COM CERTEZA


‘Nós, jurados, estudamos minuciosamente os testemunhos e as evidências’, afirmou o grupo em uma declaração lida após o anúncio da absolvição. ‘Sentimos o peso dos olhos do mundo sobre nós’ e ‘chegamos ao veredito com certeza’, escreveram na única declaração pública que provavelmente farão. O juiz Rodney Melville recomendou que eles não comentem o caso por um ano e meio.


Pessoas como um educador aposentado, uma técnica em informática (que descreveu o cantor como uma pessoa maravilhosa), um escultor, uma treinadora de cavalos e uma bisavó de 79 anos foram os responsáveis por um julgamento que entrará para a história do sistema judiciário americano.


Pelo resultado, eles acreditaram na versão da defesa, que colocou a família do adolescente como pessoas aproveitadoras, interessadas em extorquir dinheiro do cantor e que, para isso, obrigavam seus filhos a mentir. O principal alvo do advogado de Jackson foi a credibilidade da mãe do garoto.


Ela afirmava que o cantor teria abusado sexualmente de seu filho em 2003, na época com 13 anos e se recuperando de um câncer, e que ele teria os mantido presos em sua casa para produzir um documentário favorável à sua imagem. O garoto e seus irmãos descreveram como teriam sido esses abusos, entrando em contradições.


NO BRASIL


No Brasil, o advogado que há oito anos cuida dos interesses de Michael Jackson, Michel Assef, disse que tinha certeza da absolvição. ‘As acusações eram absurdas. A família do menino inventou essa história para conseguir dinheiro’, disse Assef, que defende Jackson em dois processos por atropelamento, um em São Paulo e outro no Rio, cometidos por motoristas da equipe do cantor nos anos 90.


Assef também participou indiretamente do julgamento. Há três meses, foi a Los Angeles levar documentos mostrando como a Justiça brasileira julga acusações de pedofilia _ é comum que nos julgamentos se compare a aplicação das leis em outros países. Para Assef, o Brasil é bem mais brando que os EUA nesses casos.’



 


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‘Michael Jackson não vai mais dormir com crianças, diz advogado ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 15/06/05


‘Aos 46 anos, Michael Jackson não voltará a compartilhar sua cama com crianças nem se porá novamente numa posição que o deixe vulnerável, afirmou o advogado Thomas Mesereau, um dia depois de os jurados declararem o cantor inocente das acusações de pedofilia. ‘Ele não voltará a fazer isso’, disse o advogado, responsável pela defesa que obteve sucesso ao questionar a credibilidade da mãe da suposta vítima. ‘Sempre achei que tínhamos o caso ganho.’


No entanto, ao conquistar o voto dos 12 jurados, após quatro meses de julgamento, a defesa não obteve o mesmo sucesso com a opinião pública americana. Segundo pesquisa encomendada pela CNN ao Instituto Gallup, 48% dos 635 entrevistados afirmaram ‘não estar satisfeitos’ com o veredito. O júri recebeu apoio de apenas 34% das pessoas. O levantamento mostrou também que para 62% o fato de Jackson ser famoso influenciou na decisão.


Ontem, a primeira manifestação do cantor depois do resultado veio pelo seu site oficial. Na página, uma mensagem intitulada ‘vitória’, que ficou no ar por pouco tempo, dizia: ‘Agradeço a minha família, meus amigos e fãs por todo o amor e apoio. Nunca esquecerei. Amo todos. Michael.’ O site também comparou sua absolvição à liberação de Nelson Mandela, ao nascimento de Martin Luther King e à queda do Muro de Berlim.


ESTRATÉGIA


A vitória no tribunal pode ser associada à estratégia de Mesereau de questionar a credibilidade da mãe do acusador, contratando um detetive para investigá-la. Em suas declarações, os jurados deixaram claro quanto a tática foi bem-sucedida. ‘Que mãe em seu juízo perfeito permitiria que o filho dormisse com alguém, não só Michael Jackson, mas qualquer pessoa? Isso é algo com que as mães se preocupam’, disse a jurada número 10.


A jurada número 5 falou de seu desgosto com a mãe. ‘Ficava profundamente irritada quando ela estalava os dedos para nós’, disse. A jurada número 4 disse que se sentiu ‘muito desconfortável’ com o modo como ela encarava os jurados enquanto testemunhava.


Outra jurada disse que sentia pena do acusador e de seus irmãos, acreditando que os três haviam sido treinados pela mãe para mentir. ‘Como mãe, os valores que ela ensinou para eles são difíceis de entender’, afirmou. O presidente do júri, Paul Rodríguez, contou que sentiu que a mãe do menino o escolheu como aliado porque os dois são hispânicos. ‘Ela me olhava, mordia os dedos e parecia dizer: ‘Você sabe como é a nossa cultura.’ E piscava para mim’, contou Rodríguez. ‘Mas eu pensei: ‘Não, nossa cultura não é assim’.’


Para chegar ao veredito, os jurados fizeram entre si uma votação informal e chegaram à conclusão de que a maioria considerava o cantor inocente das 10 acusações da promotoria. O jurado Raymond Hultman falou que ele e outros três membros discordavam, mas depois mudaram de opinião. ‘Isso não quer dizer que ele seja inocente’, afirmou Hultman. ‘Simplesmente não é culpado dos crimes de que foi acusado.’


Segundo ele, a promotoria apresentou provas de que Jackson seguia um padrão de conduta imprópria com muitos meninos, mas não com o menino acusador. A estratégia que triunfou, ironicamente, foi possível graças a uma decisão dos promotores, que, em vez de entrar com uma ação baseada exclusivamente no testemunho do acusador, apostou em um indiciamento mais amplo.’



 


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‘Recuperar a carreira é a nova batalha ‘, copyright O Estado de S. Paulo / The Boston Globe, 15/06/05


‘Agora que Michael Jackson foi absolvido, a pergunta é como – e se – ele conseguirá recuperar sua reputação e carreira. ‘Se for esperto, não vai mostrar seu rosto nem gravar por um tempo’, disse Craig Marks, editor da revista Blender. ‘Mas ele está melhor na carreira agora do que se não tivesse havido julgamento.’


Sua carreira já tinha caído muito antes de um garoto acusá-lo de abuso sexual. Mesmo sem esses problemas, Jackson nunca poderá recuperar o prestígio do seu auge, que ocorreu após Thriller, de 1982, o álbum mais vendido de todos os tempos.


‘Artistas com 47 anos não vendem a mesma quantidade de discos que astros de 24 anos’, disse Marks.


O veredito confere ao astro ‘um espaço para respirar’, disse Bob Merlis, da MFH, firma de relações públicas. ‘Acho que ele vai fazer turnês e creio que as pessoas vão pagar para vê-lo, embora reste ver se ele ainda é um artista convincente.’’



 


O Globo


‘Michael Jackson: meninos na cama, nunca mais’, copyright O Globo, 15/06/05


‘Advogado de defesa de Michael Jackson, Thomas Mesereau disse ontem que o comportamento de seu cliente vai mudar, agora que ele foi inocentado em todas as dez acusações de um caso relacionado a abuso sexual de um menino de 13 anos. Segundo Mesereau, o cantor não vai mais dividir a cama com meninos.


– Ele não voltará a fazer isso – disse o advogado, acrescentando que Jackson não se colocaria novamente numa situação que o tornasse vulnerável.


Há anos o cantor tem sido envolvido em acusações de pedofilia, mas o processo encerrado anteontem teve origem num documentário em que ele aparecia segurando a mão de um menino e dizia que compartilhava a cama com crianças, sem intenção sexual. Era o menino cuja família depois o processaria.


O advogado disse ter ficado muito preocupado com seu cliente durante os quase quatro meses do julgamento.


– Ele emagreceu muito e não conseguia dormir. Conversávamos às vezes às três, quatro horas da manhã – afirmou.


Site de Jackson compara absolvição a fatos históricos


Mesereau descreveu Jackson como uma pessoa ‘de bom coração’ e ‘com jeito de criança’. Disse que ele precisa ser ‘mais rígido em relação às pessoas que deixa entrar em sua vida’.


– Ele permitiu que famílias entrassem em sua vida, não apenas meninos novos. Os pais deles tiveram permissão para permanecer por perto, e o fizeram. Tudo foi feito com a permissão dos pais – afirmou. – Eles tiveram permissão para entrar e sair de seu quarto. A promotoria tentou interpretar mal o que Michael Jackson fez e fracassou, como tinha que ter sido.


Jackson ficou ontem em casa, sem dar declarações. Em seu site, exibiu a declaração do júri que o inocentou e comparou sua absolvição a acontecimentos históricos, como a queda do Muro de Berlim, a libertação do líder sul-africano Nelson Mandela e o nascimento do líder negro Martin Luther King.


Raymond Hultman, um dos 12 jurados que o inocentaram, disse que o julgamento serviu para Jackson acordar e mudar seu comportamento.


– Não tenho problema com a decisão que tomei no caso – afirmou – Tenho um problema com o comportamento de Michael Jackson. E tudo o que posso dizer a esta altura é que espero que ele reconheça que isto é um problema sério e que seu comportamento será afetado de alguma maneira por isso.


Paul Rodriguez, representante dos jurados, disse que eles ficaram muito preocupados com o fato de Jackson admitir passar a noite com crianças. Mas acrescentou que eles foram orientados pelo juiz a basear os veredictos em provas, e não em crenças ou suposições.


Apesar da absolvição, os problemas de Jackson estão longe de acabar. Suas dívidas chegariam a US$ 270 milhões e, segundo a CNN, seus custos legais nos últimos anos chegam a US$ 20 milhões. O cantor gasta muito mais dinheiro do que ganha (fez mais de 60 modelos de roupa para suas aparições no tribunal) e há anos não grava um disco de sucesso. Os danos do processo à sua imagem foram considerados irreversíveis.


– A marca Michael Jackson está efetivamente morta. Não há um segundo grito de vitória e Michael Jackson nunca vai se recuperar desse escândalo – comentou Ronn Torossian, presidente da 5W Public Relation, empresa de relações públicas em Nova York.


Já o veterano advogado do setor de música Londel McMillan afirmou:


– É uma batalha difícil. Culturalmente, ele nunca será o Michael Jackson que conhecíamos.


A imprensa americana e internacional especulou ontem sobre o futuro de Jackson. O título de uma reportagem do ‘New York Times’ era: ‘Um difícil caminho pela frente para reencontrar a glória’. Mais crítico, o ‘Los Angeles Times’ disse em editorial que sua carreira está em perigo e, em análise, que o depoimento da mãe do menino acusador foi um desastre. Já o ‘Washington Post’ aconselhou Jackson a se mudar para a Europa e disse que ‘a absolvição não lava seu nome, mas apenas torna as águas um pouco mais turvas’. Para o ‘USA Today’, ‘ser estranho não é delito nos EUA’.’



 


INGLATERRA


Fernando Duarte


‘‘Guardian’ encolherá este ano’, copyright O Globo, 15/06/05


‘O jornal britânico ‘Guardian’ vai antecipar em quase um ano sua decisão de acompanhar a concorrência na mudança de formato e, a partir de outubro ou novembro, passará a ser publicado em tamanho berliner , um pouco maior que o tablóide, em dimensões semelhantes às do francês ‘Le Monde’. A mudança também afetará o ‘Observer’, jornal dominical publicado pelo mesmo grupo do ‘Guardian’, mas só no início de 2006. Com isso, entre os britânicos apenas o ‘Daily Telegraph’ e o ‘Financial Times’ continuarão no formato standard , embora ambos já tenham feito estudos avançados ou testes para uma eventual redução de tamanho.


Ao todo, o Guardian Newspapers Limited, grupo que controla o ‘Guardian’, gastará mais de US$ 100 milhões com a mudança. Se já não era uma surpresa, a opção do ‘Guardian’ pela encolha foi antecipada pelo sucesso experimentado por outros veículos impressos do país que mudaram de formato. O ‘Independent’, que passou a ser tablóide em setembro de 2003, teve desde então um aumento de 20% nas vendas. O ‘Times’, que encolheu dois meses depois, demorou um pouco mais para alavancar suas vendas – sobretudo por causa da oposição dos leitores mais tradicionais – mas já registrou um incremento de 5%. Já o ‘Guardian’ teve queda de quase 5% nas vendas entre maio de 2004 e maio de 2005, e sua circulação atualmente é de 346 mil exemplares.


O encolhimento, que segundo especialistas é uma solução mais ágil e cômoda para leitores das grandes cidades, não é apenas uma tendência britânica: só em 2004, 56 jornais standard no mundo adotaram dimensões reduzidas – e já correspondem a um terço dos jornais do planeta.’