Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Simone Iwasso


‘Quatro pessoas identificadas como autoras de mensagens racistas divulgadas na internet terão de prestar depoimento


Três jovens de classe média, um deles menor de idade, e uma mulher foram os primeiros brasileiros identificados entre os cerca de 6 milhões de usuários do Orkut, site de relacionamentos da internet, como autores de mensagens e comunidades racistas.


Um deles, um garoto de 18 anos, estudante de engenharia da Universidade Mackenzie, assumiu no Ministério Público a autoria de frases racistas como ‘concordo em utilizar da violência porque esse bando de fdp só sussega (sic) no hospital ou no túmulo’ e ‘o lugar desses macacos sujos é na floresta, e não na faculdade’.


Na semana que vem, um adolescente de 17 anos deverá ser ouvido pelo promotor Christiano Jorge Santos, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), responsável pela identificação dos responsáveis.


O depoimento dos outros dois ainda não foi marcado. No caso dos adultos, eles poderão ser acusados de crime de racismo, cuja pena varia de 2 a 5 anos de prisão e multa. Já para o jovem de 17 anos o racismo deverá ser classificado como ato infracional, levado à Vara de Infância e Juventude, ficando sujeito a receber medidas socioeducativas.


A dúvida fica por conta do estudante de 18 anos, que tinha 17 quando criou a comunidade ‘Sou Contra as Cotas para Pretos’. ‘Ele tinha 17 anos quando fez a comunidade. Mas a página continuou na internet. Estou estudando a possibilidade jurídica de acusá-lo por manutenção de incitação ao racismo. Por enquanto, está indefinido’, explicou o promotor.


No depoimento, o estudante disse que as mensagens fizeram parte de uma fase de sua vida, que já teria passado, e que na época ele queria só chocar as pessoas e parecer exótico.


Os quatro foram identificados durante investigação para encontrar os autores de uma comunidade criada para humilhar e incitar agressões contra um adolescente negro, denunciada por ONGs ao Ministério Público no início do ano. ‘Começamos com esse caso e fomos encontrando diversas comunidades com conteúdo racista. É importante mostrarmos que a internet não é um oceano de impunidades’, disse Santos, que apura outras dez denúncias de racismo na rede.


Devido à possibilidade de não se identificar, usar nomes falsos ou aparecer como anônimo, no Orkut a lista é longa. Em português, uma busca com a palavra preto, aparecem mais de dez comunidades racistas, que pregam violência e discriminação.


Na busca, é possível encontrar também comunidades que pregam o ódio contra nordestinos, gays e judeus. ‘Tem muito skinhead navegando na internet, entrando nesses sites para tentar convocar jovens’, diz o promotor.’