Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Telefonica desafia
ministro e lança TV


Leia abaixo os textos de sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 24 de novembro de 2006


TELEVISÃO
O Estado de S. Paulo


Operadora contraria ministro e lança serviço de TV paga em Ribeirão Preto


‘‘Se puser no ar, vai tirar do ar’, disse ontem o ministro das Comunicações, Hélio Costa, sobre o serviço da Telefônica em parceria com a Astralsat, antes da reunião com o presidente do grupo espanhol no Brasil. ‘Vou me encontrar agora com o Dr. Fernando Xavier e vamos reparar qualquer desentendimento.’ Parece que não foi isso o que aconteceu.


Logo depois do encontro, a DTHi, como também é conhecida a Astralsat, anunciou o lançamento do serviço de TV paga via satélite em Ribeirão Preto, em parceria com a Telefônica, e a operadora anunciou que Xavier está deixando a empresa.


Além do desastre político da sua estratégia de entrar no mercado de TV paga, a Telefônica enfrentou vários problemas de comunicação. Na sexta-feira, uma central de atendimento da empresa informava que o serviço seria lançado na segunda, o que não aconteceu. A assessoria da operadora negou as informações, dizendo ter havido um ‘erro de script’.


Na terça-feira, a empresa publicou um anúncio nos grandes jornais onde dizia que não precisava de anuência prévia para colocar em prática o acordo com a Astralsat. Foi contestada pelo conselheiro Pedro Jaime Ziller, da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), e pelo consultor jurídico do Ministério das Comunicações, Marcelo Bechara.


‘Nós temos leis neste País’, afirmou Costa. ‘Tudo passa pelo governo e pela Anatel.’ O governo planeja editar um decreto para criar um grupo de trabalho interministerial, que, segundo o ministro, irá elaborar uma proposta de Lei Geral de Comunicação de Massa até o fim do ano. ‘A regulamentação de DTH é um buraco negro’, disse Costa, referindo-se à TV paga via satélite.


‘Não é um buraco negro’, afirmou Camilla Tápias, diretora de Assuntos Jurídicos da Telefônica. ‘Existe uma regulamentação, que não impõe restrições ou limites.’ Ao contrário da legislação de TV a cabo, as regras do DTH não impedem a entrada de operadoras de telecomunicações ou empresas estrangeiras no mercado.


Camilla disse que não houve problema para a Embratel, da Telmex, oferecer telefonia com a Net, que pertence à Embratel e à Globo. ‘A gente acreditou que o caso seria tratado de maneira similar’, destacou a diretora da Telefônica. ‘Achamos que casos similares estão sendo tratados de maneira diferente.’’


Keila Jimenez


MTV Brasil exporta produção


‘A MTV recorreu ao Ministério da Justiça para pedir um selinho de ‘recomendação’ ao seu especial do Dia Mundial de Luta contra à Aids, no dia 1º.


O documentário Sexpress foi uma encomenda da Fundação Staying Alive e do Unicef à MTV Brasileira. A fundação, que procura unir jovens de todo o mundo no combate à doença, liberou o equivalente a US$ 30 mil para a produção do programa, que será exibido na MTV Brasil, na MTV Latina, na Tempo (MTV caribenha) e na MTV Espanhola, entre outras.


‘É a primeira vez que a MTV Brasil produz um programa para MTVs de todo o mundo. Esse é um reconhecimento da qualidade de nossas campanhas no combate à Aids e de nossas produções’, fala o diretor de Programação da emissora, Zico Góes.


Com gravações em São Paulo – na Rua Augusta -, na Cidade do México e em Kingston, na Jamaica, Sexpress mostra o comportamento dos jovens dessas três cidades com relação a sexo, drogas, música, homossexualismo e preconceito.


‘Há semelhanças e muitas diferenças entre esses jovens. Na Jamaica, por exemplo, a sexualidade é muito mais latente, com danças de rua que se parecem com os bailes funks do Rio. Ao mesmo tempo os jamaicanos são conservadores na questão do homossexualismo. Gay acaba morto lá, a cultura local não aceita.’


O documentário, dirigido por Mauro Dahmer, deve ir ao ar às 23 h e aguarda classificação do MJ. Apesar de contar com uma ajudinha da MTV Latina e da TV Tempo com os equipamentos e locações, Sexpress foi todo concebido e produzido pela MTV Brasil.


‘Além do selinho com classificação etária, pedimos ao Ministério aquele selinho de programa recomendado, por ter um conteúdo educativo’, fala Góes.


entre- linhas


Claude Troisgros foi para a África do Sul a serviço do Menu Confiança, programa do GNT, e agora seu parceiro de cena, Renato Machado, arruma as malas em nome do programa. Mas vai para a França, claro, a pretexto de investigar a uva, da colheita às garrafas. Embarca dia 10.


Heródoto Barbeiro vai conduzir as entrevistas da nova temporada do Balanço Social, da TV Cultura, a partir do próximo domingo, dia 26, às 20h.


O People + Arts estréia sábado, às 20 horas, a série da BBC Hotel Babilônia, sobre o mundo dos hotéis cinco estrelas.’


SEGUNDO MANDATO
João Domingos e Rosa Costa


Oposição ataca criação de secretaria para mídia


‘A iniciativa do governo de fazer estudos para ‘democratizar a informação’ – segundo os quais a Subsecretaria de Comunicação passará a se chamar Secretaria de Democratização da Informação (SDI) e ficará sob comando da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff – foi considerada pela oposição um atentado à democracia. Ao comentar a informação, revelada pelo Estado, parlamentares disseram que na democracia a informação dispensa tutela do governo, sob pena de esse procedimento vir a ser uma estratégia para controlar a imprensa.


Eles lembraram que no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou clara a intenção de cercear a informação com a tentativa de criar o Conselho Nacional de Jornalismo (CNJ) e a Agência Nacional de Cinema e Audiovisual (Ancinav). ‘O que está havendo é uma tentativa de tutelar a imprensa’, disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Para ele, na prática o Planalto quer repetir o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) da ditadura Vargas.


O senador Jefferson Péres (PDT-AM) afirmou que a palavra democratizar freqüentemente tem sido usada por pessoas de mente ‘totalitária, autoritária, para matar aquilo que a democracia tem de melhor, que é a liberdade de expressão’. E foi além: ‘É preciso não esquecer que as ditaduras no Leste Europeu eram chamadas de democracias populares.’


O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) lembrou alguns ‘escorregões autoritários’ de autoridades – como o ministro Tarso Genro e o presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli – que, acredita, não ajudam a alimentar a tese de que o governo está bem-intencionado. Todos reagiram a notícias publicadas pelos meios de comunicação com respostas agressivas e insinuações de que deveria haver algum tipo de controle sobre a mídia.


A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) minimizou a questão, alegando que pouco importa a qual ministério a secretaria será submetida e que o relevante é a tarefa que o órgão terá no segundo governo do presidente Lula. ‘Eu vejo com indiferença a relação burocrática que a secretaria vai ter’, disse o presidente do órgão, Sérgio Murillo de Andrade. Outras entidades do setor, como ABI (imprensa), Abert (emissoras de rádio e TV) e ANJ (jornais) preferiram não se posicionar, sob o argumento de que as informações não são oficiais.


NEGATIVA


A ministra Dilma Rousseff foi questionada sobre o assunto ontem e respondeu negativamente, com apenas duas frases. ‘Não há nada pensado neste sentido. Não há estudos sobre isso’, afirmou ela, por intermédio de sua assessoria. Já o presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, disse desconhecer o tema. ‘O programa de reorganização do governo ainda está em curso’, declarou.


O Estado apurou que os estudos existem e chegam a propor que o dinheiro do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) – na casa dos R$ 5 bilhões – seja administrado pela Casa Civil, que cuidaria dos programas da TV Digital, hoje com o Ministério das Comunicações.


De acordo com os estudos, a nova secretaria, se criada, deverá atuar para fortalecer mídias alternativas e regionais, como TVs e rádios comunitárias, que receberiam verba publicitária. O plano se baseia no caderno setorial do PT para a comunicação, que propõe ‘desconcentrar’ a mídia.


COLABOROU CLARISSA OLIVEIRA’


INTERNET
Ana Paula Lacerda


Após fusão, Americanas.com e Submarino miram mercado externo


‘A fusão das lojas de comércio eletrônico Americanas.com e Submarino, anunciada ontem, deverá criar uma empresa com faturamento de US$ 1 bilhão em 2006 e com perspectiva de crescer pelo menos 35% ao ano no Brasil e estender suas atividades para outros países. Antes de unir suas operações, porém, a megaloja virtual terá de passar pela avaliação do Cade.


A nova empresa será chamada B2W Companhia Global do Varejo – uma abreviação em inglês para negócios internacionais pela internet. Debaixo dessa sigla, ficarão as marcas Americanas.com, o Submarino e o Shoptime (que pertence às Americanas.com). Segundo a consultoria especializada em comércio eletrônico e-bit, essas empresas controlam cerca de 48% do mercado de varejo eletrônico – alguns analistas estimam esse número em até 60%. O comércio online movimentou R$ 2,5 bilhões em 2005, e está crescendo 70% este ano.


A proposta prevê troca de ações no mercado. Com a operação, a nova empresa seria negociada no Novo Mercado da Bovespa e 53,25% de suas ações ficariam com as Lojas Americanas e os 46,75% restantes nas mãos dos atuais acionistas do Submarino. Na prática, a nova empresa seria controlada pelas Lojas Americanas que, por sua vez, está sob controle dos três ex-sócios do banco Garantia. Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira são donos de pelo menos 52% do capital com direito a voto das Americanas.


O negócio ainda prevê um investimento de R$ 175 milhões a ser feito pelas Americanas e o pagamento de R$ 500 milhões em dividendos aos acionistas do Submarino. Ontem, as ações do Submarino subiram 15,8%, enquanto as ações preferenciais das Lojas Americanas caíram 8,25%. O resultado mostra que os investidores avaliaram que as Americanas estão pagando mais que o esperado pelo Submarino.


A fusão está baseada em um plano para o mercado interno e um projeto para o exterior. Segundo Roberto Dias, diretor de Relações com Investidores das Americanas, a fusão trará sinergias de R$ 800 milhões por ano, em corte de custos e pela união das operações.


Um estudo da consultoria Forrester, usado pelas Americanas, projeta um crescimento de 35% a 40% ao ano para o comércio eletrônico no Brasil. As próprias Americanas.com estão crescendo muito mais rápido, a um ritmo de 90% ao ano. O Submarino deve apresentar crescimento de 48% em 2006.


Hoje, as duas empresas oferecem cerca de 200 mil itens cada uma, incluindo de produtos eletrônicos a computadores e CDs. Uma das prioridades no Brasil será investir na venda de viagens. ‘O turismo é um setor que cresce muito e vamos investir nele’, diz Flávio Jansen, presidente do Submarino.


A outra estratégia é a ampliação internacional. Roberto Dias diz que a nova empresa poderá atuar em países como Argentina, México e Chile e, num segundo momento, na Colômbia e no Peru. Esses países não têm lojas virtuais tão fortes como o Brasil. ‘As três empresas (Americanas.com, Submarino e Shoptime) têm poucas vendas para fora. Pode valer a pena operar em países diferentes com marcas diferentes’, diz Jansen.


Mas a internacionalização é, por enquanto, apenas um plano. A missão imediata dos executivos das empresas é convencer os acionistas do Submarino que se trata de um bom negócio. Hoje, as ações do Submarino estão dispersas entre investidores na Bolsa, nenhum deles com mais de 5% do total.’


Isabel Sobral


Processo ainda tem de passar pelo crivo do Cade


‘A Secretaria de Direito Econômico (SDE), do Ministério da Justiça, e a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), do Ministério da Fazenda, deverão analisar em conjunto a fusão bilionária das lojas de comércio eletrônico Americanas.com e Submarino, anunciada ontem.


A diretora de Proteção e Defesa Econômica (DPDE), da SDE, Mariana Tavares, disse que a análise conjunta por parte das secretarias ocorre em casos complexos, seja pelo tamanho das empresas envolvidas, seja pelo segmento de mercado da economia afetado.


Ao fazer a instrução em parceria, as secretarias reduzem o tempo de análise. No entanto, é o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) quem dá a palavra final sobre as fusões, depois de receber os pareceres da SDE, da Seae, da Procuradoria Geral do Cade e do Ministério Público Federal.


Os órgãos de defesa da concorrência se recusaram a comentar previamente o impacto do negócio. Entre os casos de fusões recentes analisados simultaneamente pelas duas secretarias estão a compra das fábricas de suco e extratos de laranja da Cargill pela Cutrale Fisher e a aquisição da Ripasa pela Suzano, empresas da área de papel e celulose.


O Submarino e as Americanas.com vão alegar que embora dominem metade do comércio eletrônico no País, a comparação que vale é com o comércio em geral. Neste caso, as duas empresas movimentam menos de 2% do total do comércio brasileiro, que movimenta R$ 200 bilhões por ano. ‘Nossa concorrência é com as lojas físicas’, disse Flávio Jansen, presidente do Submarino.


CVM


A Comissão de Valores Mobiliário (CVM) vai pedir o apoio da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) para tentar acabar com os constantes vazamentos de informações em operações de fusão e aquisição no Brasil.O presidente da CVM, Marcelo Trindade, se queixou ontem de vazamento de informações nas negociações de Americanas.com e Submarino e abriu investigação.


‘O que deveria ser considerado uma exceção está virando regra’, reclamou o presidente da CVM, Marcelo Trindade. ‘Isso é dramático.’


A idéia é estender o debate também à Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) e o Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (Cesa).


COLABOROU MÔNICA CIARELLI’


Andrea Vialli e Marina Faleiros


Para rivais, operação é sinal de amadurecimento


‘Apesar de criar uma empresa com quase metade das vendas pela internet no Brasil, a fusão entre Americanas.com e Submarino foi bem recebida por alguns dos maiores concorrentes. ‘Para nós, é oportunidade de crescimento’, diz Flávio Dias Fonseca, gerente geral de comércio eletrônico do Magazine Luiza. Com a união das duas maiores empresas do mercado, a divisão de negócios virtuais da Magazine Luiza passa a ser a vice-líder no ranking do varejo virtual, com uma projeção de faturar R$ 220 milhões em 2006.


Segundo Fonseca, a estratégia de crescer no varejo virtual já estava traçada antes da fusão. ‘Para 2007, esperamos crescer 70% só com o site, e para isso estamos investindo em recursos humanos, novas plataformas tecnológicas e um novo centro de distribuição, que vai concentrar a logística das lojas virtuais’, diz. O novo centro será inaugurado em março de 2007 e terá 52 mil m2.


Para o executivo a fusão consolida o setor no País, mas pode ser negativa para os consumidores, que deixam de ser beneficiados pelas guerras de preços praticadas entre as antigas rivais.


‘Para nós, porém, é uma oportunidade para ganhar clientes com promoções. Eles não têm o poder de barganha com fornecedores que nós temos em eletrodomésticos e eletrônicos, nosso carro-chefe, com 80% das vendas virtuais’, diz Fonseca. Além disso, o site do Maganize Luiza deve começar a vender outros produtos, como livros, DVDs e CDs.


Stelleo Tolda, presidente do site de leilões Mercado Livre, diz que a aquisição reflete um amadurecimento do mercado virtual. De acordo com ele, depois da febre de fusões no varejo tradicional, chegou a vez do varejo virtual. ‘Isso ajuda a aumentar a fatia do bolo das lojas virtuais’, diz. ‘É bom para o mercado ter mais uma empresa grande e forte.’


O único problema, diz Tolda, é que a menor concorrência nunca é um fator positivo. ‘Mas na internet a disputa ainda está acirrada. Temos muitas lojas e buscadores que localizam o melhor preço.’


Alberto Luiz Albertin, professor da Fundação Getúlio Vargas e especialista em comércio eletrônico, tem opinião semelhante. ‘A fusão consolida um grande player no mercado, que vai concorrer com empresas fortes no varejo físico e que atuam também no meio virtual’, diz, em referência a empresas como Extra, Ponto Frio e Magazine Luiza. ‘A fusão seria ruim se não houvesse grandes empresas nesse meio. No atual momento, é positiva porque vai mexer com o mercado.’


Segundo Tolda, ainda há no País espaço para o comércio virtual. ‘Somente 6 milhões de brasileiros já fizeram compras no varejo online. É muito pouco’, diz.’


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 24 de novembro de 2006


DIPLOMA EM DEBATE
Editorial


Diploma autoritário


‘PASSADOS 18 anos da promulgação da Constituição Federal, que pôs um ponto final em mais de duas décadas de exceção ao Estado de Direito, assombram ainda a esfera pública brasileira certos diplomas legais que merecem cabalmente o qualificativo de ‘entulho autoritário’.


Entre eles sobressai o decreto-lei 972/69, que estipula a obrigatoriedade do diploma de jornalista para obtenção de registro profissional -não por muito tempo mais, espera-se, agora que tal atentado à liberdade se encontra sob exame da instância máxima da Justiça, o Supremo Tribunal Federal.


Na última terça-feira, o STF confirmou por unanimidade a liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes suspendendo a exigência. O relator havia decidido serem suficientes as ponderações do Ministério Público Federal (MPF) em prol da medida cautelar, ao argumentar que havia ameaça aos direitos de um elevado número de jornalistas que exercem hoje a profissão sem cumprir as exorbitantes determinações do decreto-lei de 1969 (este havia sido baixado pelos ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar, em 17 de outubro de 1969, com apoio nos atos institucionais nº 16 e nº 5).


É com a convicção de que esse decreto conspurca a ordem constitucional que esta Folha -pioneira na insubmissão à tutela do diploma- vem saudando as iniciativas do MPF para sustar seus efeitos antidemocráticos. Bem antes delas, já se destacava na defesa dos princípios consagrados nos vários artigos da Constituição de 1988 que aniquilam a sanha controladora: liberdade de expressão (art. 5º, inciso IX); liberdade de profissão (art. 5º, inciso XIII); e proibição de embaraço legal à liberdade de informação jornalística (art. 220, parágrafo 1º).


Em acréscimo, é imperioso anotar que não cabe analogia entre a profissão jornalística e outras que, por demandarem capacidade técnica específica para prevenir malefícios à coletividade, devem permanecer controladas. No mundo inteiro assim se procede com médicos, engenheiros e farmacêuticos, cuja imperícia pode causar graves danos. O Brasil está entre as raras nações que optaram por sujeitar também os profissionais de imprensa a uma tutela incompatível com a livre circulação de idéias, opiniões e informações.


Em outubro de 2001, tais princípios foram reafirmados em memorável decisão liminar da Justiça Federal suspendendo a exigência do diploma. Agremiações de jornalistas recorreram da decisão, demonstrando mais uma vez a disposição policialesca de interditar redações a profissionais talentosos e especialistas que não tenham passado antes no cartório consagrado por sindicatos e escolas de comunicação. Voltaram as costas, como é seu hábito, aos interesses do público, impedindo-o de julgar e escolher por meios próprios os profissionais competentes para lhe trazer informação.


Cinco anos depois, essa visão estreita terminou referendada pelo Tribunal Regional Federal da Terceira Região, que reinstaurou a exigência do diploma. O MPF apresentou então recurso extraordinário ao Supremo, sustentando que o decreto-lei 972 não foi recepcionado pela Constituição de 1988, por violação flagrante dos artigos citados. Após a concessão da liminar, aguarda-se para breve o julgamento de mérito do recurso extraordinário pelo STF.


Será uma decisão histórica. No momento em que novas mídias franqueiam canais de informação para quantidade crescente de pessoas, permeando a barreira artificial erguida entre jornalistas e cidadãos, o país enfim decidirá se mantém essa reserva de mercado anacrônica, corporativista e liberticida.’


SEGUNDO MANDATO
Fábio Zanini


PT quer ‘critério político’ para propaganda


‘Após a reeleição, marcada pelo escândalo da tentativa de compra de dossiê antitucano por petistas e de acusações de membros do partido à mídia, o PT pôs o tema no topo da agenda. Deve ser incluído na resolução final da reunião do Diretório Nacional petista, que ocorre amanhã e domingo em São Paulo. Também estará na pauta do seu 3º Congresso, em 2007.


Sob o pretexto de ‘democratizar as comunicações’, o PT deve discutir mudanças nos critérios para distribuição de publicidade oficial. Essa revisão vem sendo levantada, entre outros, pelo secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, um dos integrantes da Executiva Nacional do partido. Ele defende critérios políticos para o emprego das verbas, não só de mercado.


‘A mídia brasileira é muito monopolista. É um grupo pequeno de empresas controlado por um grupo pequeno de famílias. Isso vai criando uma espécie de círculo vicioso. Como são grandes, recebem uma cota maior, e graças a essa cota maior continuam grandes’, disse. No PT, cresce o sentimento de que o governo federal, ao destinar suas verbas oficiais de propaganda, estaria fortalecendo meios que lhe são hostis. O governo deve gastar cerca de R$ 1 bilhão este ano com publicidade, incluindo os gastos das estatais.


Na opinião de Pomar, ‘elogios públicos a Roberto Marinho não levaram a uma mudança da Globo em relação a nós. A crença de que os meios de comunicação monopolistas seriam capazes de dar um tratamento democrático se revelou infundado. O conceito que prevaleceu no governo e no partido foi ingênuo. Existe uma parte dos meios de comunicação que nos trata como inimigos’.


No final da campanha, o PT lançou um documento com propostas para o tema. Na versão preliminar, que a Folha revelou em 28 de agosto, havia um projeto de criação da Secretaria da Democratização das Comunicações. Na versão final, a idéia foi excluída.


Segundo a Casa Civil, ela não será ressuscitada. O texto também pedia o incentivo econômico a jornais e revistas ‘independentes’, mas sem explicar como isso não transformaria tais veículos menores em órgãos oficiosos do Planalto.


Segundo Pomar, ‘você não pode dizer que o jornaleco de quinta categoria da cidade tal, propriedade de um grupo político local, é diferente da Folha. Ambos são propriedade familiar’. Para ele, o esforço de ‘desconcentração’ envolveria repassar mais recursos à mídia regional: ‘A coisa não pode ser resolvida no terreno do mercado, tem que ser resolvida no terreno da política. No terreno do mercado pode ser lógico você investir uma verba muito grande nos meios com uma cobertura muito grande. Mas isso conduz a mais monopólio’.


Para o secretário de Comunicação do PT, Humberto Costa, o ideal seria combinar dois critérios de distribuição de publicidade: a ‘democratização’ dos meios de comunicação e a necessidade de o governo veicular sua mensagem: ‘Tem que haver referência à democratização dos meios, mas há o fato de que o governo precisa fazer sua mensagem chegar à sociedade. Isso depende de tiragem e mercado’, disse.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


‘Esse negócio de crescer’


‘Dezessete aqui, quinze acolá, no fim eram dezesseis governadores e dois vices a posar com Lula, ontem. Ao longo de toda a cobertura, ontem, e no destaque de Fátima Bernardes, ele quer diálogo ‘até com oposição para acelerar o crescimento’. Ou ainda, ‘é preciso destravar o país, a economia, votando as reformas’.


Segundo a Reuters, ecoou de imediato na Bovespa, que bateu ‘recorde’ com ‘o maior valor da história’, manchete do UOL. No dizer de um representante do mercado, ‘é esse negócio de o Lula querer que o país cresça, essa busca por soluções, é uma conjuntura de fatores positivos’. Em inglês, no texto original, ‘this whole issue of Lula wanting the economy to grow’.


ASSOPRA


‘Já discutimos tudo o que é necessário para destravar’, saiu espalhando Lula, mas ‘não vou dizer’. Mas Guido Mantega falou -e logo o Valor Online destacava a renúncia fiscal superior a R$ 10 bilhões, prioridade à infra-estrutura, desoneração de folha etc.


MORDE


Antes, no ‘Valor’, ‘Lula decide manter Mantega na Fazenda’. Mas ele ‘vai ser testado na vida real’ com o Congresso -e negociar ‘uma dura agenda de reformas’ que inclui ‘enfrentar pressões por gastos que já se armam’, caso das dívidas dos Estados.


O PROFISSIONAL


Na manchete da Folha Online, ‘Polícia Federal prende deputado do PT e outros 12’. Na piada do blog de Josias de Souza com o nome do petista, ‘Juvenil não é juvenil, é profissional’.


No portal G1, da Globo, em destaque menor, ‘Deputado do PT e ex-deputado do PL são presos’. E não faltaram cenas da prisão (acima) e até entrevista para o ‘JN’ na cobertura, de tom contido.


INQUIETAÇÃO


Com uma ilustração do símbolo democrata, o burro, olhando ameaçadoramente a América Latina (abaixo), a ‘Economist’ falou do temor na região com o novo poder no Congresso dos EUA. A ‘inquietação’, sobretudo de Colômbia e Peru, é quanto ao protecionismo comercial. Os democratas, escreve, ‘parecem fadados a dar um golpe em favor de Chávez’.


ANSIEDADE


Na mesma linha, ontem em texto de primeira página, o ‘Washington Post’ aponta a ‘ansiedade’ dos latino-americanos com o pendor protecionista do Congresso democrata. Escrevendo da Colômbia, avalia que será uma ‘humilhação’ para o presidente do país e uma ‘mensagem negativa’ para a região a eventual suspensão do acordo bilateral -e fala em vitória de Hugo Chávez.


NA FLORESTA


Larry Rohter, que trombou com Lula, e Ricardo Kotscho, que foi assessor, viajaram à Amazônia e postaram ontem no ‘NYT’ e no Nomínimo. O primeiro retrata os ‘soldados da borracha’, levados ao Acre no esforço de guerra, há 60 anos. O segundo revê os ‘órfãos do ouro’ de Serra Pelada. Nos dois casos, são centenas como Vicência (foto acima) e Raimunda (abaixo.).’


INTERNET
Adriana Mattos


Americanas.com e Submarino se fundem


‘A Lojas Americanas, maior rede de varejo on-line, anunciou ontem acordo para fusão com a número dois do mercado, o site Submarino, depois de uma negociação frustrada com a rede Ponto Frio. O negócio entre as partes foi assinado pela manhã e comunicado ao mercado. Com a operação, os grupos se unem para criar uma nova empresa, chamada B2W Companhia Global de Varejo. Os nomes dos dois sites serão mantidos.


A Americanas será a controladora da B2W e indicará cinco membros para o seu Conselho de Administração -o Submarino terá quatro membros independentes.


A concretização do negócio depende de aval dos acionistas do Submarino em Assembléia Geral a ser realizada neste ano, ainda sem data marcada. Os acionistas da Lojas Americanas já o aprovaram. Se for fechada, será a maior fusão entre empresas abertas de capital pulverizado listadas no Novo Mercado da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). As ações ordinárias (com direito a voto) do Submarino fecharam ontem em alta de 15,80%.


A empresa resultante terá faturamento bruto de mais de R$ 2,2 bilhões (dados de 2006) -cerca de R$ 850 milhões do Submarino e R$ 1,4 bilhão da Americanas.com, segundo estimativas de analistas para o ano. Haverá concentração de mercado: o comércio on-line deve faturar neste ano entre R$ 5,2 bilhões e R$ 5,5 bilhões apenas com a venda de produtos duráveis, semiduráveis e não-duráveis. A nova empresa vai ser dona de um terço desse total.


Isso porque, dos R$ 2,2 bilhões do faturamento total de ambas, entre R$ 350 milhões e R$ 370 milhões virão do ShopTime, operação de venda por TV -não é venda pela internet. Ao se descontar esse volume -e os ganhos com a Submarino Viagens e Ingresso.com, ambos do Submarino-, a nova empresa terá receita bruta de cerca de R$ 1,8 bilhão -33% do segmento. As dez maiores varejistas virtuais têm 70% de todos os pedidos de compra, diz a E-bit, empresa de marketing on-line, e estimados 80% das vendas.


‘A gente quer competir também com o varejo tradicional. Não tem mais essa coisa de só vendermos para quem é comprador on-line. Todo mudo compete com tudo mundo, e nós também’, disse Flávio Jansen, presidente do Submarino. ‘Essa é uma maneira de tentarmos alcançar o Wal-Mart, o Carrefour e o Pão de Açúcar’, disse Martin Escobari, chefe do setor de relacionamento com investidores do Submarino.


A transação foi estruturada da seguinte forma: cada ação do Submarino nas mãos dos minoritários será trocada por uma ação da B2W. A Lojas Americanas terá 53,25% da empresa e o Submarino, 46,75%. Para que o negócio aconteça, o Submarino vai distribuir dividendos aos acionistas e reduzir o seu capital no valor de R$ 500 milhões. Isso vai engordar o bolso dos acionistas, que precisam dar aval para a operação. A Lojas Americanas, dona do site, fará uma capitalização de R$ 175 milhões na Americanas.com -isso para que a B2W nasça capitalizada. A Americanas não pode adquirir mais ações para aumentar a sua participação na empresa por quatro anos.


Haverá sinergias entre as empresas -ganho estimado de R$ 800 milhões- e podem ocorrer cortes de pessoal, dizem especialistas. As empresas negam. ‘É esperado um enxugamento natural das estruturas’, diz Pedro Guasti, diretor da E-bit. ‘Ainda não estamos pensando nisso. Não tem sentido fazer cortes, vamos crescer’, diz Roberto Martins de Souza, diretor de relações com investidores da Americanas.


Para os consumidores, não são esperadas grandes mudanças. Acredita-se que a nova operação ganhará escala e isso dará à B2W maior poder de barganha com os fornecedores. Como conseqüência, pode conseguir descontos nos preços -’que podem ou não ser repassados para o consumidor’, diz Guasti, da E-bit. ‘Tudo vai depender de como os concorrentes irão reagir.’’


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Negócio pode levar a disputa de bancos para fornecer crédito à nova empresa


‘A nova fusão deve mexer não apenas com o varejo tradicional como com a disputa entre bancos. As financeiras Taií, do Itaú, e a francesa Cetelem (uma das maiores do mundo) atendem, separadamente, os dois sites -Americanas.com e o Submarino, respectivamente.


O mercado trabalha com a expectativa de que apenas uma financeira acabe operando com a nova empresa, a B2W.


A Folha apurou que as duas financeiras, Taií e Cetelem, só souberam ontem da fusão.


‘É um conflito que deve aparecer, e eles vão ter de resolver’ afirmou Pedro Guasti, diretor-geral da empresa de marketing on-line E-bit.


Flávio Jansen, presidente do Submarino, diz que não está definida a estratégia de crédito das empresas, mas que, por enquanto, tudo continua como está. ‘Estamos agora numa situação que não prevíamos. Não sabíamos dessa fusão. Pode ser que um [banco] tenha uma única proposta que atenda às duas empresas, Americanas e Submarino. Mas não necessariamente iremos operar só com uma financeira. Ainda vamos ver’, afirma ele.


Há uma disputa acirrada entre os bancos pelo serviço de crédito do varejo. Nos últimos dois anos houve uma corrida: o Bradesco fechou acordo com a Casas Bahia e o Itaú, com o Pão de Açúcar. Como querem ampliar a receita com crédito, os bancos compraram o direito de explorar a área financeira das lojas ou se tornaram espécies de sócios do negócio.


Especialistas do setor já aguardam uma movimentação maior de concorrentes no Brasil e no exterior após o anúncio do negócio ontem.


Há rumores de que a Amazon, o maior site de varejo on-line dos EUA, pretenda entrar no país. ‘Não vamos esperar eles chegarem, nós já estamos preparando nossa internacionalização também. Pretendemos operar no exterior, na América Latina a princípio. Mas não temos datas definidas’, diz Roberto Martins de Souza, diretor de relações com investidores do Submarino.’


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País tem queda em número de internautas


‘DA REUTERS – O número de internautas residenciais caiu no Brasil em outubro, mas o país continua a liderar o ranking de tempo de navegação, à frente de França, Japão e EUA, segundo o Ibope/NetRatings.


Segundo dados da companhia, o Brasil registrou no mês passado 13,3 milhões de internautas residenciais que acessaram a web pelo menos uma vez no mês. O número é 2,4% maior que o de setembro e 13,5% superior ao de outubro do ano passado.


O tempo médio de navegação ficou em 20 horas e 30 minutos, três minutos a mais que em setembro. Ante outubro do ano passado, houve acréscimo de uma hora e 48 minutos.


A França, com tempo médio por internauta residencial de 19 horas, o Japão (18 horas e meia) e os EUA (17 horas e 51 minutos) foram os que mais se aproximaram do Brasil.


Entre as categorias de sites em destaque no mês passado, estava a de automóveis, que registrou alta de 5% na audiência, movimento influenciado pelo Salão do Automóvel.


Em seguida, aparece a categoria de viagens e turismo, com alta de 28,1%.’


Marcelo Billi


Site teve apoio de investidores desde o início


‘Quando o ‘New York Times’ publicou texto sobre o Submarino, começou advertindo seus leitores de que ‘a história não é muito romântica’. Era 2002, e a história da ‘Amazon’ brasileira, fundada em 1999, dizia o diário americano, não era a história típica do mundo virtual, pelo menos não a história que se esperava, naquela época, de uma empresa de internet.


Por trás do Submarino não havia um adolescente genial, tampouco um jovem recém-formado pronto a criar um gigante e enriquecer à velocidade da luz, dizia o ‘NYT’. Pelo contrário, Murillo Tavares, que era então diretor do Submarino, já tinha 32 anos quando se tornou, em 1999, o principal executivo da empresa que se tornaria, para os padrões brasileiros, uma gigante do varejo on-line. Por trás de Tavares estava o nada inexperiente GP Investimentos, um dos maiores grupos de investimentos do país e que controla a Lojas Americanas.


Os planos não eram nada modestos. A empresa não começava do zero. O GP comprara a Booknet, uma das pioneiras do varejo eletrônico, que vendia apenas livros. Da Booknet o Submarino já herdava uma rede de 50 mil clientes construída nos quatro anos anteriores.


O novo nome, Submarino, havia sido escolhido pela familiaridade, primeiro, com o oceano e, segundo, com as línguas espanhola e portuguesa. Oceano, explicavam os executivos da empresa, porque a idéia era que o varejo virtual permitia a existência de uma loja ampla, imensa, com uma variedade imensa de produtos. Um nome que não causasse estranheza em nenhuma das línguas era necessário porque a ambição do site era se tornar um grande varejista para os mercados de língua espanhola e portuguesa.


Foi por isso que o varejista virtual montou operações na Espanha, no México e na Argentina. Mas o comércio virtual não parecia deslanchar como esperado no resto da América Latina e no sul da Europa. Na Argentina, a maior crise da história do país atropelou os planos da empresa brasileira.


Depois dos percalços -a maior parte em 2000, quando o mercado mundial de internet tentava sobreviver ao estouro da bolha da então chamada ‘nova economia’-, o Submarino voltou-se para o mercado interno, ainda incipiente, mas que crescia a taxas muito altas.


Em março de 2005, quando a loja abriu seu capital, lançando ações na Bolsa, o Submarino já faturava mais de meio bilhão de reais e vendia cerca de 700 mil itens.’


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Na Bolsa, ação do Submarino tem ganho de 15,8%


‘As ações ordinárias do Submarino tiveram considerável valorização no pregão da Bovespa de ontem: 15,80%.


Nos últimos dias, antes de o negócio com a Americanas.com ser anunciado, a ação do Submarino já vinha registrando valorização.


Desde segunda passada, dia 13, o papel ON da empresa tem subido, acumulando alta de 32,17% no período.


Somente nesta semana, a ação da empresa de varejo on-line já subiu 25,62%. No período, a Bovespa registrou ganhos bem mais modestos, de 2,53%.


As ações preferenciais da Lojas Americanas caíram 8,25% na Bolsa ontem.’


LÍNGUA PORTUGUESA
Carlos Heitor Cony


Xama e atensão


‘DESDE QUE me entendo por gente (e mesmo antes disso), ouço falar em decadência do ensino, baixo nível dos vestibulandos, coisas assim. Como qualquer mortal, também cruzei o gargalo de antanho, quando as provas nada tinham do atual sistema de múltipla escolha. Achei profundamente cretina a redação que me mandaram fazer no exame (‘narre um filme que viu recentemente’) e desovei duas páginas de papel almaço, veículo então obrigatório para requerimentos, certidões e exames escolares.


O que interessava era o resultado: passei no vestibular sem mortos nem feridos, embora tenha sofrido com o exame de latim, onde o catedrático da matéria recusou minha pronúncia, impondo-me Quíquero em lugar de Cícero.


Num ano dos mais antigos do passado, aqui no Rio de Janeiro, o vestibular unificado provocou pasmo e ira de jornais e educadores. Na prova de redação, alguns alunos escreveram chama com ‘x’, atenção com ‘s’ e massa com ‘cê’ cedilha. A televisão perguntou drasticamente: pode um aluno que escreve ‘xama’, ‘atensão’ e ‘maça’ freqüentar uma universidade?


Ninguém me perguntou a opinião, mas vou dá-la gratuita e escandalosamente: pode. Em princípio, sou contra o tal vestibular unificado, que acredito reduzir a sabedoria humana a uma espécie de loteria esportiva intelectual.


Um rapaz analfabeto de pai, mãe e avoengos pode cursar desde o primário até a extensão universitária acertando sempre nas colunas respectivas (aliás, teve um que tirou o primeiro lugar). Pode formar-se engenheiro sem saber somar dois e dois, ser médico sem saber para que serve o coração, ser professor de geografia sem saber que uma ilha é uma porção de terra cercada de água por todos os lados.


Essa hipótese, matematicamente viável, tem uma probabilidade mínima. Um entendido já me explicou a fórmula; parece que são necessários trezentos bilhões de provas para que um mesmo cidadão, sem nada saber, vá do bê-a-bá até a tese sobre a Teoria do Quanta ou sobre as Influências Medas na Cerâmica dos Persas. Deixa para lá.


Sendo contra a múltipla escolha, não sou pela correta grafia das palavras. E muito menos pela gramática correta. No fundo, gramática e ortografia são convenções mais ou menos abstratas.


Os maiores pensadores do mundo, líderes de povos, eram rutilantes analfabetos: Jesus Cristo e Maomé estão aí para provar. Foram os dois homens que mais exerceram influência sobre a vida e a cultura dos outros homens. E, lembremos, nunca perderam tempo em saber se ‘cãs’ é feminino de cão e ‘farinha’, diminutivo de faro.


Lembro uma confissão autobiográfica de Nelson Rodrigues. Um dia, em meio a uma crônica, deu-lhe um branco total e ele perguntou, em voz alta, se cachorro se escrevia com x ou com cê cedilha.


Até hoje, antes de escrever determinadas palavras (esquistossomose, por exemplo, e nem fui ao Aurélio consultar se estou certo), sou obrigado a pensar fundo, ou, sacrifício supremo, ir até a estante apanhar o ensebado dicionário do mestre.


Na minha situação, acredito, estão milhares de outros escribas que não chegam a ser, exatamente, analfabetos, embora no que me tange e concerne, eu tenha pavorosas dúvidas a respeito. Os leitores também.


Por que chama é com ‘ch’ e não com ‘x’? O importante não é escrever certo. O furo está mais em cima: é pensar certo. Mas o que é pensar certo? Resposta: é pensar de acordo com a norma.


Por falar em norma, venho observando que os gramáticos estão evitando falar em gramática. Têm preferido falar em norma, citar a norma como fonte da verdade e da beleza da língua.


Não faz muito, estarreci alguns professores defendendo a expressão popular ‘um chopp e dois pastel’. No meu entender, a frase é perfeita não pela norma, mas pela ontologia do pastel; não existem ‘pastéis’, existe pastel, que todo mundo sabe o que é. Dois pastéis é uma redundância que o bom gosto literário aconselha evitar.


Sei que essa crônica será considerada um atentado à norma. Chamo a atenção para tudo que foi inventado e fez a Humanidade sair das normas e chegar ao ponto a que chegou -com gente pedindo ‘um chopp e dois pastel’ e ‘xamando a atensão para os erros da maça’.


Não estou inventando uma linguagem, como fizeram Guimarães Rosa e Glauber Rocha, estou apenas registrando a falência das normas em relação ao uso do mundo e dos povos.’


ENTREATOS REVISITADO
Barbara Gancia


‘Entreatos’ é Lula interrompido


‘FINALMENTE RECEBI o meu exemplar do DVD ‘Entreatos’, o documentário que mostra os bastidores da campanha presidencial de Lula em 2002.


Trata-se de uma declaração de amor a Lula. Sim, estão lá todos os petistas que depois caíram em desgraça. Mas o documentário que o diretor João Moreira Salles relutou em lançar em DVD antes da conclusão das eleições de 2006, por temer que o conteúdo pudesse interferir no processo eleitoral, só mostra a parte, digamos, mais elegante dos bastidores da campanha do PT.


Tirando os palavrões que Lula e Duda Mendonça distribuem fartamente na frente das lentes de Salles (e eu não tenho nada contra palavrões), esse poderia tranqüilamente ser um documentário sobre alguém da estatura de um Nelson Mandela.


A edição, que chega a ser microcirúrgica na precisão com que interrompe com afiado bisturi a cada cena em que Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido por seu pavio curto, começa a perder a paciência com alguma coisa, acaba transformando o que pretendia ser o relato dos bastidores de uma campanha presidencial em um ‘coitos interruptus’.


Em ‘The War Room’, o celebrado documentário dos bastidores da primeira campanha presidencial de Bill Clinton, lançado em 2004, o espectador é colocado na posição de voyeur com credencial de acesso, bem no centro das reuniões do comitê eleitoral dos democratas. E ganha até o direito de ouvir os comentários mais picantes dos principais articuladores da campanha, James Carville e George Stephanopoulos.


No filme de Salles, a porta é fechada na cara do espectador a cada vez que a equipe de Lula se junta para traçar estratégias de campanha. Só nos é permitido assistir a uma ou outra conversa amena entre os assessores do presidente antes e depois das conversas de trabalho.


Em ‘The War Room’, Clinton surge como coadjuvante e não aparece fazendo jogo de sedução para as câmeras que o seguem. Já em ‘Entreatos’, Lula é o ator de um ‘one man show’ e interpreta para as câmeras com grande habilidade. Vemos um presidente assertivo, de imenso carisma, extremamente simpático e brincalhão e muito mais articulado na hora de falar sobre geopolítica ou citar dados do IBGE do que o Lula que a gente conhece das entrevistas na mídia.


O leitor assíduo deste cantinho de céu deve lembrar de que eu afirmei que viraria esporte nacional identificar no filme de Salles, que estava para ser lançado em DVD, os petistas acusados de atos ilícitos. Pois bem, para quem imaginava que veríamos Delúbio Soares e Silvio Pereira em conversas comprometedoras, ‘Entreatos’ é um balde de água gelada. Resta um consolo. Alô, meu querido Monkey Simon! A primeira dama (ou ‘a única dama’, como ela se refere a si mesma no documentário) fala. E como fala.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Telefônica ignora ministro e lança TV paga em SP


‘Apesar de o ministro Hélio Costa (Comunicações) ter anunciado o ‘congelamento’ de novas operações de TV paga via satélite por 60 dias, o grupo Telefônica manteve seu plano original e lançou ontem um serviço de TV por assinatura na região de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, que terá pacotes de canais a R$ 40.


O serviço se chamará Você TV, já estava em testes em São Carlos. Será uma TV paga via satélite (DTH), com recepção por miniparabólicas, como a Sky, mas o alvo é a Net, de cabo.


A Você TV é uma solução provisória da Telefônica, que ainda aguarda da Anatel uma licença própria para operar DTH. Há dois meses, o grupo espanhol fez uma parceria com a empresa DTH Interactive Telecomunicações, a DTHI, que já tem uma licença de DTH. O grupo também comprou parte da TVA (cabo e MMDS).


A assessoria do ministro Hélio Costa diz que a suspensão paralisa não só o pedido de uma licença própria como a parceria Telefônica/DTHI. Durante a suspensão, o governo estudará uma nova legislação do setor.


A Telefônica discorda. ‘O decreto deve alterar o pedido de licença, mas parcerias comerciais já em operação, como a da DTHI, não serão impactadas’, disse à Folha Camila Tápias, diretora de assuntos jurídico-regulatórios da Telefônica, que se manifestou oficialmente pela primeira vez sobre o assunto.


‘A gente entende que legalmente não há motivo para suspender o lançamento da parceria. A Telefônica não comprou a DTHI. O serviço de DTH continuará sendo da DTHI’, diz Tápias. Segundo ela, a Telefônica ‘atuará na distribuição e na publicidade’ do serviço, fazendo instalações e cobranças.


O objetivo da Telefônica, diz, é poder oferecer a seu assinante um serviço de TV paga como já faz a Net/Embratel (que vende por R$ 80 o pacote telefone/banda larga/ TV paga).


Tápias diz que sua empresa ‘não entende’ a posição contrária de Hélio Costa (a mesma da Net). Afirma que a Telefônica ‘trará maior concorrência’.


IMAGINAÇÃO A Record prepara uma versão do americano ‘Ripley’s Believe It or Not!’, apresentado pelo ator Jack Palance, morto recentemente. O programa se chamará ‘Acredite Se Quiser’. O Palance brasileiro será o ator e diretor Kito Junqueira.


CAIU A FICHA A Band já abortou a idéia de tirar do ar o ‘Brasil Urgente’, de José Luiz Datena, em março de 2007. O programa é um dos raríssimos da casa que dão cinco pontos no Ibope.


TUDO A VER A Record, quanta imaginação, agora tem três programas chamados ‘Tudo a Ver’: um de variedades, à tarde, outro noticioso, às 21h, e outro às 23h, de curiosidades e só às quartas, que ‘estreou’ anteontem dando 11 pontos.’


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