Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Terra Magazine

ANIVERSÁRIO
Francisco Viana

Aberje, 40 anos: continuidade e renovação, 2/10

‘Chega ao fim, agora no dia 8 de outubro, as comemorações do 40º. aniversário da Aberje. Haverá o lançamento de uma revista voltada para temas teóricos o primeiro número traz uma oportuno artigo sobre o tema das relações entre as estratégias de comunicação e o valor das marcas, sob o título ‘Uma única face’ – o lançamento de uma TV digital e a 34ª edição do Prêmio Aberje de Comunicação Empresarial, como marcos últimos de um extenso calendário de eventos. Esta semana foram divulgadas as premiações regionais e as mídias do ano. O prêmio, registre-se, nasceu junto com a Aberje e este ano é disputado por 450 empresas, em 18 categorias, entre elas Comunicação de Ações de Marca e Comunicação de Ações de Sustentabilidade, recém-criadas.

A data é o espelho de uma longa e produtiva jornada feita de muitos marcos. Poderiam, em suas grandes linhas, serem sintetizados em dois capítulos. O primeiro é feito da argamassa do pioneirismo e se prolonga dos anos 60, quando a Aberje foi fundada sob a liderança do jornalista Nilo Luchetti, até a metade da década de 90, época em que consolidou a comunicação organizacional como profissão indissociável das estratégias corporativas e organizacionais. O segundo capítulo começa a ser escrito em 1995 e continua evoluindo nos dias atuais. Se no princípio o foco era a edição de jornais e revistas e, a seguir, acompanhar o passo da modernização das companhias numa economia que se abria para a concorrência internacional e o poder público que se renovava com o renascimento da democracia, o salto à frente se deu em muitas direções. Uma delas foi o mundo acadêmico.

No Brasil e, também, no exterior as alianças celebradas pela Aberje passaram a produzir conhecimento. Livros, papers, artigos, palestras, um curso internacional que caminha para a quarta edição, cursos de qualificação profissional, um centro de memória. A geografia do mundo Aberje hoje chega a todo o país e se estende, por exemplo, até os Estados Unidos graças a parceria com a Siracuse University. Tornou-se rotina comunicadores com títulos de mestre e doutor em comunicação ou outras áreas de especialidade, assim como com pós-graduação. O objetivo permanente da Aberje é, de um lado, buscar a democratização da comunicação, com posicionamento claro em favor dos valores republicanos, e, de outro, promover o saber, o conhecimento, a cultura. É cada vez mais claro que o comunicador é um estrategista do ativo principal das organizações: a reputação que é feita da soma da imagem e da identidade.

É cada vez mais claro que a comunicação não pode ser reduzida a ferramentas e que sua essência é o conhecimento, a prática qualificada e transformadora que alia teoria e conteúdo, arte e técnica. Essa é a essência. Essa é a luz da chama do artífice da comunicação moderna. A metáfora contemporânea de Prometeu desacorrentado. O ponto de partida desse segundo capítulo da história aberjiana data de 1995. Naquele momento, assumiu a presidência Rui Altenfelder, que nos dias atuais dirige o Conselho de Estudos Estratégicos da Fiesp e, com ele, o jornalista Paulo Nassar, que respondia pela chamada Ala Jovem da instituição.

A dinâmica obedeceu a uma linha de continuidade e renovação, criada por Nassar. Por continuidade, entenda-se a preservação do passado, depositada no reconhecimento pela trajetória percorrida; renovação dada a busca de adaptação aos novos tempos. Se a memória é a presença do passado, a visão de futuro é a construção da estratégia evolutiva no cotidiano.

Nesse ambiente foram sendo incorporados à Aberje nomes como Rodolfo Witzig Gutilla (Natura), Gilberto Galan (Galan & Associados, Eraldo Carneiro da Silva (Petrobras), Jean François Hue (Accor), José Eduardo Gonçalves (Andrade Gutierrez), Luiz Fernando Brandão (Aracruz), Eloi Zanetti, Augusto Rodrigues (CPFL), Paulo Henrique Soares e Olinta Cardoso (Vale), Marco Antonio Lage (Fiat), Márcio Polidoro (Odebrecht), Malu Weber( Votorantim, aliás agora mais uma vez eleita Personalidade de Comunicação do Ano em São Paulo), Renato Gasparetto (Gerdau) e Elisa Prado (Tetrapack), enfim, um plêiade de comunicadores que pensam e fazem comunicação. O mérito da continuidade está na gênese da renovação.

Essa perspectiva ampliou e persiste ampliando os horizontes da organização, que reúne mais de mil empresas e tornou-se uma referência nacional e internacional. É isto que faz a Aberje interlocutora nos grandes temas ligados à comunicação e a esse caminho maior das organizações que é dialogar com a sociedade dialeticamente e construir o novo, o ético, o útil para a sociedade.

Aristóteles ensinava que o homem se torna um cidadão quando educado para servir à cidade. E ensinava mais: que a virtude – leia-se a ética – era um hábito nascido da prática. Quanto mais próximo da virtude, mais o homem estaria próximo do bem. Quando mais próximo da virtude, mais a cidade estaria próxima do bem. Pois a virtude é uma qualidade potencial a ser desenvolvida dinamicamente por meio da práxis e da educação (Ética a Nicomacos). O que a Aberje tem feito – e este o seu principal mérito, esse o fio da tessitura e o fio da trama da continuidade e renovação – é educar, é incentivar a prática da ética, é aproximar a comunicação da cultura corporativa com vista ao bem da sociedade, com vista à realização da corporação como cidadã.

Educar comunicadores, educar empresários, executivos e governantes. Educar a sociedade com a mensagem chave da utilidade da cultura da comunicação, com a mensagem de que comunicação é arte-técnica mestiça a entrelaçar todos os fios do conhecimento, do saber, da informação. É assim, educando, que tem dado sua contribuição para superar o grande conflito corporativo dos nossos dias: ao mesmo tempo que gera riqueza a empresa gera destruição (veja o caso da crise americana). No que depender da Aberje, a construção cada dia se tornará mais preponderante e esta missão está expressa na ênfase a esse ativo maior que é a educação. São traços distintivos que fazem a Aberje merecer, de todos nós, o reconhecimento pelo seu valoroso papel. E que inspira confiança de que o futuro será modelado pela inteligência modelada pelo passado e a ousadia de olhar nos olhos os desafios do futuro.’

 

 

ENTREVISTA
Claudio Leal

Hatoum: ‘Os cronistas se distanciaram das cidades’, 3/10

‘A memória une a crônica, o conto, a novela e o romance de Milton Hatoum. Guardam autonomia respeitosa, mas a reinvenção do passado marca todas as linguagens do escritor. A crônica, sem piscadela etimológica, tornou-se um desafio ao tempo – e aos jornais. ‘Me pergunto por que os cronistas não contam mais histórias. Já tem tantos comentaristas de política… Qual a importância de falar do Bush pra um cronista brasileiro?’, indaga o autor de Dois irmãos.

Colunista de Terra Magazine, Hatoum imprime as habilidades de romancista à ‘vida em voz alta’, no espaço e tempo narrativos de uma crônica. Nesta sexta-feira, 3, o escritor estréia coluna no ‘Caderno 2’ do jornal Estado de S. Paulo, onde revezará, quinzenalmente, com o escritor Ignácio de Loyola Brandão. O título do primeiro texto prenuncia um mundo ficcional: ‘Confissões de Uma Manicure’.

– Meu desejo é contar histórias de brasileiros comuns. Inventar. Inventar pequenos quadros narrativos. Recortes da vida, da memória, coisas da memória.

O escritor amazonense retorna hoje ao Brasil, depois de participar do projeto ‘Siempre Una Palabra’, em Madri. Na Espanha, dialogou com Bernardo Atxaga e Alfredo Taján. Em agosto, o jornal Le Monde o escolheu para representar a literatura brasileira numa série com 15 escritores.

O ano de 2008 foi marcado ainda pela publicação de Órfãos do Eldorado e a estréia de Hatoum no teatro, com a adaptação de Dois irmãos, em São Paulo. No primeiro semestre de 2009, virá o primeiro livro de contos. E pretende lançar outro de crônicas.

Em entrevista a Terra Magazine, Milton Hatoum comenta a estréia da coluna no Estadão. ‘Escritor não é para virar bicho’, defende. Sem fixações políticas – ‘tem gente que vive espicaçando o Lula’ -, continuará a fazer da crônica um observatório dos homens e das cidades.

Terra Magazine – Qual será a linha de sua coluna no Estadão?

Olha, me deram toda liberdade para escolher os temas. Mas meu desejo é contar histórias de brasileiros comuns. Inventar. Inventar pequenos quadros narrativos. Recortes da vida, da memória, coisas da memória. Algo parecido com o que já publiquei e continuo a publicar na Terra Magazine. Recuperar um pouco esse olhar do cotidiano, recuperar e reinventar o passado. A crônica tem que falar do seu tempo. Daí a origem do nome. O tempo é importante. Mesmo que seja sobre alguma coisa do passado, a crônica tem que repercutir no presente.

Uma tradição brasileira atualmente enfraquecida nos jornais.

Pois é. Me pergunto por que os cronistas não contam mais histórias. Já tem tantos comentaristas de política… Qual a importância de falar do Bush pra um cronista brasileiro? Achar que o Bush vai passar a noite em claro por causa do cronista… (risos) Vai tirar o sono…

De Barack Obama!

Obama. Falar do Obama, falar do Bush… Ou então, tem gente que vive espicaçando o Lula. Uns são fixados no Lula e no MST. Uma coisa de louco. Quando você se fixa numa coisa, aí é complicado.

Há um rebaixamento da linguagem do cronista? Não tem havido muito rancor?

Exatamente. A crônica tem que ter um texto leve, mas muito bem trabalhado. O desafio do cronista é o seguinte: encontrar um pouco de poesia e de lirismo na brutalidade do cotidiano. Encontrar um pouco de poesia em nosso purgatório, que é o dia-a-dia.

E esse declínio não vem por conta de outra relação que nasceu entre o homem e a cidade? Não há mais uma relação semelhante à que tinha Rubem Braga com o Rio de Janeiro, por exemplo.

O que está no fundo disso tudo é a falta de experiência. É o distanciamento dos cronistas em relação à cidade, em relação ao seu lugar. Porque as pessoas precisam descer um pouco do pedestal e andar pelas ruas, ver o que acontece, observar os camelôs, os transeuntes, os empertigados também. Os empertigados também dão uma crônica. Até o presidente do STF daria uma crônica. Não sei uma crônica do horror ou do ridículo.

Ou talvez seja cronicamente inviável.

É, até ele dá. Mas acho que é isso. Vou tentar dialogar com meus romances também. Em algum momento de minhas crônicas, vou tentar dialogar com meus livros. Quero contar histórias, falar de memórias. É muito parecido com que eu fiz algumas vezes no Terra. Eventualmente, vou falar de um escritor ou de um livro, mas o essencial mesmo é a recuperação de um olhar sobre a cidade, sobre o passado – que está em Manaus, está na Amazônia, está em São Paulo.

O tempo do leitor de jornal é outro, não? Na internet, há um leitor mais impulsivo?

É uma pergunta dificil. O jornal ainda é uma coisa quase nostálgica, que lembra a edição de um livro. Um leitor que tem outro tempo. E pode ser mesmo que esteja vivendo em outro tempo. O interessante é que as duas formas podem conviver, porque eventualmente o leitor do jornal é também o leitor da internet. Há loucos da internet que eventualmente lêem jornais.’

 

 

 

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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