Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Terra Magazine

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Felipe Corazza Barreto

Anúncio da Fiat mostra velocímetro a 200 por hora, 18/04/07

‘Propagandas que incitam os consumidores a fazerem coisas perigosas não são tão raras quanto deveriam ser. Anúncios de cigarro (já proibidos por lei), de bebidas alcoólicas (também limitados pela legislação, embora com menores restrições) são alguns dos exemplos.

Mas os perigos não param por aí. Um dos anúncios da Fiat para o lançamento do novo Palio mostra um velocímetro próximo dos 200 km/h (veja foto). A velocidade é semelhante à média de um carro de Fórmula 1 durante uma corrida em Interlagos. No ano passado, Felipe Massa venceu o GP do Brasil pilotando numa média de 199,731 km/h.

A reportagem de Terra Magazine consultou o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) sobre o assunto. Como ainda não há processo aberto contra a propaganda da montadora italiana, o Conselho não pôde comentar o assunto. Mas o site da entidade traz o Código Brasileiro de Auto-Regulamentação Publicitária que, entre outros assuntos, regula a propaganda de veículos automotores.

Diz o anexo ‘O’ do código que as propagandas de veículos automotores não podem conter ‘contenha sugestões de utilização do veículo que possam pôr em risco a segurança pessoal do usuário e de terceiros, tais como ultrapassagens não permitidas em estradas, excesso de velocidade, não utilização de acessórios de segurança, desrespeito à sinalização, desrespeito aos pedestres e às normas de trânsito de uma forma geral’.

As rodovias de tráfego mais rápido do país têm limite de velocidade de 120 km/h. Assim, a propaganda da Fiat mostra um velocímetro claramente ‘fora-da-lei’, ferindo o código de publicidade do Conar.

Outra campanha da Fiat já causou controvérsia na mídia. A montadora lançou mundialmente uma campanha que vai premiar com um Fiat 500 a mãe que der à luz no dia do lançamento do carro, 15 de setembro (leia mais aqui).

A Fiat defende que o anúncio não estimula o abuso de velocidade: ‘A intenção é atrair o internauta para o hot site e não estimular o abuso de velocidade. A internet é uma mídia que permite um pouco mais de ousadia na comunicação, com maior apelo lúdico’, respondeu a gerência de publicidade da montadora no Brasil.’

TV PÚBLICA
Raphael Prado

‘As pessoas não gostam do que dizem que gostam’, 30/04/07

‘No começo de maio, entre os dias 8 e 11, o Brasil vai passar por uma discussão fundamental e que pode revolucionar diversos conceitos de televisão e informação no País. Nesta data, ocorre o ‘I Fórum Nacional de TVs Públicas’, evento do ministério da Cultura em conjunto com a Casa Civil da Presidência da República.

A ampla discussão que o governo pretende abrir passa pelo coordenador de políticas digitais do MinC, Cláudio Prado. Ele já liderou outras dicussões delicadas, como a que envolve os Creative Commons – registro que permite a abertura parcial ou total dos direitos das obras (leia mais). Cláudio Prado convida a pensar o futuro desssa mídia:

– A TV digital não é uma seqüência, uma conseqüência natural da TV analógica. Como o computador não é uma conseqüência direta da máquina de escrever.

No momento em que vivemos, próximos de dizer adeus para a TV analógica, seria um erro pensar em TV Pública dissociada da TV digital. E seria também sem pensar na integração com a internet e a IPTV, sigla em inglês de Internet Protocol Television, um sistema em que a TV digital é disponibilizada através da internet.

Mas o coordenador de políticas digitais do MinC conhece as dificuldades que enfrentarão. Cláudio Prado sabe que há muita pressão, de vários lados que tentam enterrar a discussão antes mesmo de ser posta:

– As forças que dominam o mercado, as decisões políticas, a tendência de não se mudar nada estão aí, exercendo as suas pressões da forma que a gente está vendo.

Outra dificuldade: como fazer uma TV de qualidade que chame a atenção da audiência? Sabe-se, é claro e óbvio, que o público brasileiro se interessa mais por baboserias televisivas do que um conteúdo bem feito. Cláudio Prado acha que isso pode ser revertido. E cita o Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda de Adolf Hitler, para explicar como:

– As pessoas não gostam daquilo que elas dizem que gostam. Elas são induzidas a dizer que gostam daquilo que estão dizendo, através de uma massificação. Goebbels puro. Uma mentira repetida muitas vezes se torna verdade.

A discussão será complexa. Mas está posta, colocada. O desfecho também está próximo, já que o governo pretende implantar a TV Pública até o final do ano, segundo o ministro da Cultura, Gilberto Gil.

Para entender um pouco mais, leia a íntegra da entrevista com o coordenador de políticas digitais do MinC.

Terra Magazine – Como o ministério da Cultura pensa integrar a TV Pública à TV digital?

Cláudio Prado – A compreensão do MinC é que só é possível entender a questão da convergência das tecnologias através do prisma cultural. E neste sentido, nós pensamos que uma TV pública tem que necessariamente dialogar, sinergizar com a internet, com a IPTV. Não faria sentido nenhum se não acontecer isso.

E de que forma seria essa interação? Vai ser através de conteúdo colaborativo, feito pelos próprios internautas?

Isso eu não sei. É uma discussão que nós estamos tentando abrir e fazer com que todos os atores envolvidos participem. Para entender qual é a forma, não temos uma solução mágica. A única coisa que nós estamos brigando é no sentido que só podemos entrar nessa questão da TV digital a partir de uma nova compreensão do que é possível fazer com comunicação pública. Essa discussão não se limita à questão pública. Mas, sobretudo nessa questão, se usarmos a convergência das tecnologias como ferramenta de maior acesso, de democratização do acesso e das possibilidades de as pessoas estarem bem informadas. E a tecnologia permite isso hoje. Então não fazê-lo é um equívoco de política pública.

De que maneira a TV pública que se pretende criar vai ajudar a democratizar a mídia?

Eu não sei. Essa é uma discussão. Temos o Fórum justamente para discutir essas questões para todo mundo. E neste Fórum estamos levando esse pleito, essa proposta de que discutamos e abramos a negociação sobre o que é uma TV pública na era digital.

Já se tem alguma idéia para um ponto de partida?

O ponto de partida é que não faz sentido o modelo anterior. Não faz sentido. A TV digital não é uma seqüência, uma conseqüência natural da TV analógica. Como o computador não é uma conseqüência direta da máquina de escrever. É a mesma relação. Portanto, quem está pensando em sistemas analógicos como modelo… isso é uma herança cultural da televisão tal qual ela é. Cultural, econômica, com uma série de coisas que têm que ser levadas em consideração. Mas no modelo digital, não faz sentido se pensar a partir dessa lógica da TV que já existe. Como não faz sentido já pensar em distribuição de músicas através de CD. Não faz mais sentido.

E como é que vocês imaginam, se é que já imaginam antes do fórum, a audiência dessa TV pública? Vai ser parecida com a da TV Cultura, de uma parcela escolarizada da população… ou seja, como o governo pretende abrir essa audiência para realmente democratizar?

Eu acho que uma TV pública tem que abrir a interlocução máxima com o público, no sentido mais amplo possível. Agora, na verdade, o público está escravizado por uma massificação imbecil, que foi construída durante anos através de jabá. Então, na verdade, herdamos uma coisa totalmente falsa. Quando se vai ao mercado pesquisar o que o povo quer, o povo fala que quer as coisas que são massificadas. Ou seja, o Ibope é induzido. Ele não é real, não é verdadeiro. As pessoas não gostam daquilo que elas dizem que gostam. Elas são induzidas a dizer que gostam daquilo que estão dizendo, através de uma massificação. Goebbels puro. Uma mentira repetida muitas vezes se torna verdade. Então o cara acha que ele gosta de dupla caipira, porque dupla caipira foi imposta a ele de uma forma absolutamente… (pausa) Não tenho nada contra dupla caipira, sobretudo daquelas que são realmente caipiras (pausa). Mas esse modelo, um determinado modelo de música, de pensamento, de alegria, de amor que vem todo meloso com cara de novela, foi imposto ao público brasileiro e ao público do mundo através da massificação. E essa massificação é feita através de jabá, de interesses econômicos espúrios. Não tem a ver com interesse público. Portanto a TV pública tem que herdar essa questão e saber lidar com isso.

O que é algo muito complicado, porque além da discussão estrutural, de como vai se dar a convergência com a internet etc, há esse grande desafio de mudança de conceito…

Claro, é um grande desafio. O grande drama é que tem muita gente dizendo que a TV digital nada mais é uma continuação tecnológica da TV que já existia.

…que é uma idéia que as próprias TVs colocam…

Claro. As TVs estão interessadas em manter como está, porque está bom pra eles. Só que o digital cria a possibilidade de não ter mais intermediários. Você faz o seu programa. Não faz mais sentido você ver o jornal das 20h às 20h. Você vê o jornal das 20h a hora que você estiver em casa, a hora que você quiser. Você clica lá e vê, tanto faz a hora que for. Você vê o jornal das 20h de três semanas atrás.

E vai ser possível mesmo abrir o espectro da TV digital?

Eu não sei, essa é uma questão mista, de política. Se a questão fosse técnica e cultural, a TV seria outra coisa. Agora, as forças que dominam o mercado, as decisões políticas, a tendência de não se mudar nada estão aí, exercendo as suas pressões da forma que a gente está vendo. Então é uma discussão que tem que se tornar cada vez mais ampla, mais aberta. Nós não podemos refugar o progresso porque existem interesses econômicos de A, B ou C. Na verdade, esse é o pano de fundo dessa questão toda. O modelo de negócios da televisão é outro modelo de negócio. E nego não quer, porque não quer. Na TV está menos claro, mas na música está tão claro isso. Não faz mais sentido nenhum vender CD. CD é um acidente de percurso. Não há necessidade de suporte para a música, então você tem que inventar um novo jeito de negociar com as pessoas que se interessam por música. Mesmo porque o artista pode ganhar muito mais do que ele ganha com a gravadora dele e o público pagar muito menos do que ele paga pelo CD na loja. Aí perguntam: ‘bom, mas e o lojista?’ Bom, mas o que aconteceu com o cara que fabricava mastro de navio à vela, na época da navegação, que era o cara mais importante? Historicamente não interessa. A História não se interessa por ele. Pode ser um drama particular na vida do seu Marinho, ou sei lá de quem seja. Mas não é uma questão histórica, que é como nós vamos lidar com as novas possibilidades tecnológicas.

Numa entrevista recente do ministro da Cultura, Gilberto Gil, a Terra Magazine (leia aqui), ele disse que a TV pública deve sair até o final do ano. Esse Fórum vai ser um grande salto para a discussão do modelo adotado?

Eu espero que a gente consiga, nesse Fórum, que as pessoas entendam o que é possível acontecer com TV pública na era digital. Eu espero que haja uma compreensão. Porque a questão do digital precisa de uma abertura do pensamento. Há gente preso na ratoeira do século XX, que só pensa dentro do modelo. Por razões honestas e desonestas. Tem gente que honestamente não sabe o que é o digital, e tem gente que sabe muito bem o que é, e não o quer. Porque destrói o seu modelo de negócio. Então existe honestidade e desonestidade na ignorância, e nós temos que detectar e saber lidar com isso, porque isso é o mundo da política, é o mundo dos negócios. É com isso que a gente lida, com verdades e mentiras. Nada de novo no front. O Império Romano também lidava com isso.’

TELEVISÃO
Márcio Alemão

Nem os astros explicam, 30/04/07

‘Tentei encontrar nos astros uma explicação. O que vi na quarta-feira me levou a isso. Assisti ao ‘Sem Controle’, no SBT; uma das entrevistas no Programa do Jô e ao Charme.

A astrologia poderia esclarecer. Trânsito de Netuno com Júpiter provocando situações constrangedoras nos telespectadores, por exemplo. Não achei nada parecido.

O programa Sem Controle se pretende humorístico.

O programa chega a ser seriamente triste. É triste ver tantos atores sendo submetidos a um texto de tão precária qualidade. Não são atores do dito primeiro time. Não são mais jovens há décadas. Louvo os que estão dando a eles uma oportunidade de continuarem a trabalhar. Questiono, porém, se não seria esse programa um canto de cisne melancólico demais, mesmo para um ator sem grande expressão.

Consultório médico com uma enfermeira de micro-saia.

Em uma delegacia o delegado avisa ao guarda que sua irmã ‘pura e tímida’ irá aparecer. Pede que ele tome conta dela. Difícil prever como seria essa irmã, certo?

Dois exemplos. Não é preciso mais para perceber que estamos diante de uma tentativa anacrônica de fazer rir com apelos sexuais de amplo e irrestrito mau gosto, a exemplo do Zorra Total, com a diferença que nesse último o mau gosto é travestido pelo padrão Globo de qualidade. Fortemente questionável, inclusive, a beleza e formosura das várias moças que entram em cena sempre e sempre em trajes sumários.

Tenta-se criar bordões sem sucesso. O resultado geral é realmente triste, melancólico, deprimente.

Igualmente triste foi a entrevista que Jô Soares tentou fazer com um comerciante sósia do Papa. Não consigo ver a menor graça em alguém que tenta fazer graça lançando mão desse expediente. Foram longos e intermináveis 5 minutos. Cinco segundos teriam bastado e ainda assim teria sido constrangedor.

E finalizando a estranha noite, no programa Charme, Adriane entrevista Jorge ‘um pote até aqui de mágoa’ Kajuru, que sempre de maneira inflamada se declarava feliz, realizado e agradecido aos verdadeiros amigos que só apareceram quando ele enfrentou difíceis momentos. Como prova, tirou sua camisa e mostrou duas tatuagens permanentes em suas costas: o rosto de Datena no lado esquerdo e o de Adriane no direito. E tivemos também a apresentadora Cynthia Benini e a oportunidade de ver uma foto sua em Paris, próxima à pirâmide do Louvre – ela adora Paris, uma cidade cheia de cultura – e uma outra, praticando snow-board.

Os astros não me ajudaram a entender o que aconteceu naquela noite/madrugada. Temi em concluir: Não aconteceu nada. Foi mais uma noite na TV aberta.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Agência Carta Maior

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