Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Terra Magazine

TELEVISÃO
Márcio Alemão

‘Tudo reconstruidinho’, 8/12

‘Luciana Gimenez entrevistou uma ex-garota de programa que está lançando um livro.

A moça, oriunda do Balneário de Camboriú, agradeceu a solidariedade do povo brasileiro para com o Estado de Santa Catarina e mandou um recado: não deixem de ir para Camboriú. Já está tudo em ordem. ‘Tudo reconstruidinho’.

Luciana reforçou a mensagem, deixando claro que a cidade vive do turismo. Um outro convidado duvidou da notícia, mas foi repreendido pela apresentadora, que voltou a frisar a importância do turismo para a cidade balneária.

Não tive disposição para assistir a entrevista mas fiquei a pensar sobre essa clássica história de ex-garota de programa lançar livro. É uma opção que não existe, por exemplo, para um ex-engenheiro, ex-açougueiro, ex-motorista de ônibus. É óbvio que qualquer um dos citados pode escrever um livro.

O que quero dizer é que dificilmente serão entrevistados pela Luciana. Imagino que não exista muita gente disposta a conhecer os bastidores de um canteiro de obras ou de um açougue. Pena. Seria interessante ouvir perguntas do tipo: ‘do que se alimenta uma picanha viva?’.

Li que algumas séries, nos EUA, provavelmente não irão emplacar novas temporadas por conta da crise. A manchete era mais ou menos essa. Tratei, pois, de ler a notícia e descobri que as tais séries ameaçadas pela crise estão apresentando baixa audiência. Ou seja: a ameaça não é exatamente a crise.

Talvez seja um exagero dizer, ou nem tanto, que a tal crise tem sido a nova Isabella, o novo rapaz de Santo André para boa parte da mídia. Tem sido raro ouvir alguma versão que apresente a possibilidade de vermos uma luz no final do túnel. E eu gosto de acreditar que exista.

Será difícil ouví-la e a notícia sobre as séries americanas é um ótimo exemplo dessa ‘apropriação indébita’. Série sem audiência não sobrevive nem em tempos de fartura e prosperidade. Cada vez mais esse julgamento tem sido implacável. E a culpa não é da crise.

Bastante divulgada a notícia de que o Jornal Nacional perdeu 4% de audiência em 2008. Outras emissoras comemoram algum crescimento. Igualmente bem divulgada a volta do SBT à vice-liderança, tecnicamente empatado com a Record.

Foram várias as vezes que aqui nesse espaço comentei sobre as bravatas da Record. Deveriam adotar outra estratégia. Falar menos e entregar mais.’

 

Thais Bilenky

Presidente da TV Brasil vê audiência satisfatória, 2/12

‘Nesta terça-feira, 2, a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) inaugura o canal aberto digital 63 da TV Brasil, em São Paulo. Poucas horas antes, a presidente da estatal, Tereza Cruvinel, contextualiza: ‘Estamos em campanha para levar nosso sinal aos brasileiros’.

Também hoje a EBC exibe nova identidade visual com logomarcas e vinhetas eletrônicas da TV Brasil.

Em conversa com Terra Magazine, Tereza Cruvinel mostra contentamento em relação à audiência da emissora: ‘os programas estão indo bem’. A jornalista reconhece, contudo, que entraves burocráticos e técnicos retardam o avanço da programação e a modernização de equipamentos. São dificuldades mais significativas que eventuais problemas políticos – inexistentes, segundo ela.

‘Não recebemos nem um único bilhetinho, nenhum recado, nenhuma pauta’, garante, em relação à liberdade editorial perante o governo.

‘Em certos casos, não temos a agilidade que gostaríamos de ter. Por exemplo, a Anatel disponibilizou para nós em São Paulo os canais 68 e 69, mas ao fazermos as instalações, vimos que eram canais tecnicamente inviáveis. Então precisamos de mais dois meses para apropriar os canais 62 e 63’, comenta Cruvinel. Segundo ela, ‘foi um grande prejuízo’ que manteve por um ano a TV Brasil fora de São Paulo.

A jornalista assumiu a presidência da EBC no final de 2007. No dia 2 de dezembro do mesmo ano, há exatos 365 dias, o governo inaugurou a transmissão digital da TV pública no Brasil e oficializou o conselho curador que delibera sobre a gestão executiva e editorial da empresa (leia mais aqui e aqui).

Cruvinel informa que, em 2008, os investimentos estatais seguiram duas prioridades: produzir novos conteúdos e comprar equipamentos. ‘Nós encontramos as sedes da EBC no Rio, Brasília e em São Paulo muito sucateadas. O governo investiu R$ 100 milhões em equipamentos (em processo de licitação), mas não adianta ter apenas instalações tecnicamente modernas’, critica.

Uma terceira meta perseguida pela emissora é a ampliação do sinal, em que se encaixa a abertura do canal digital em São Paulo.

Audiência boa, audiência complementar

Para Cruvinel, ‘os programas relançados estão indo bem’. ‘A TV começou dia 2 de dezembro de 2007 com uma grade não produzida por ela. Nós criamos dez programas que estão respondendo satisfatoriamente’ à audiência esperada, diz. A jornalista afirma:

– A TV Pública sempre teve tradição de audiência baixa no Brasil. Queremos superar isso. Agora o objetivo da TV pública não é competir com a TV comercial. É oferecer programação complementar de qualidade e com diferencial. Oferecer aquilo que a TV comercial não oferece porque vive para ter audiência, já que é financiada pela publicidade. Se não, contrato um humorista e levanto a audiência.

‘Programação complementar’, segundo a presidente da EBC, seriam ‘programas educativos, artísticos, infantis de conteúdo consistente’, produtos que expressem a diversidade cultural do Brasil. Complementares seriam ainda produções jornalísticas ‘que atendam aos princípios de objetividade e isenção, norteados pelo interesse público da notícia’.

O programa Repórter Brasil chega a 1,83% share – TVs ligadas no canal -, na aferição do Ibope. A programação infantil alcança 4,5% share. ‘O Faixa de Cinema tem desempenho muito bom, a depender do filme obviamente, mas chega em média a 5% share, com ápice de até 7%’, informa Cruvinel. Os mais recentes programas lançados pela TV Brasil são ‘De lá para cá’, ‘3 a 1’ e ‘Caminhos da reportagem’.’

 

DEU NA ECONOMIST
Alexandre Xavier

De brasileiro quieto a brasileiro oportunista, 6/12

‘Até os craques pisam na bola. Na edição de 18 de setembro, a toda-poderosa The Economist (publicação britânica que ainda é o paradigma de boa revista semanal de informação) soltou uma esquisita matéria de página inteira bem simpática ao senhor Daniel Dantas, intitulada ‘A quiet Brazilian’.

O banqueiro foi retratado na matéria como ‘bom aluno’, ‘abstêmio’, ‘vegetariano’ e ‘parcimonioso’, mas até aí, tudo bem. Também dá para se relevar o fato de que a revista elogia Dantas ao dizer que, apesar de bilionário, ‘ele não tem helicóptero, carro de luxo e casa na praia’.

O embaraço ficou por conta da aposta da revista de que Dantas não seria condenado. E também por ter apenas dado voz na matéria ao banqueiro. A Economist até cita que Dantas diz com ‘orgulho’ que apareceu na capa de uma ‘revista semanal de informação brasileira’ (a CartaCapital, dando nome aos bois) mais vezes que George Bush.

O outro lado

Na edição dessa semana, a Economist traz matéria sobre Dantas com um tom totalmente diferente – mais equilibrado e nada simpático ao banqueiro. Além de citar desta vez mais personagens do imbróglio, a matéria ‘Fall of an opportunist’ afirma que Dantas é ‘um financista que lucrou com operações na zona nebulosa onde os negócios e o governo se encontram no Brasil’.

E, sem citar a edição de setembro, a Economist sabe que apostou errado e desta vez diz que o banqueiro foi ‘condenado por um crime muito menos sofisticado: tentar subornar policiais’.

A revista britânica, após tirar um sarrinho dos nomes das operações da Polícia Federal (que ‘parecem livros de thriller daqueles que se encontra no aeroporto’), faz também uma crítica à justiça brasileira: ‘é obstruída por várias instâncias e intermináveis apelações’.’

 

CRISE
Paulo Nassar

Não fale em crise, trabalhe, 6/12

‘Uma crise financeira pode, muitas vezes, revelar a pior linhagem de um comunicador, especialmente quando ela tem ramificações sociais sensíveis, além de econômicas. É aquele que, a surfar na incerteza, transforma medo em terror ao retransmitir – sem interpretação e com muita opinião – informações que alcançam a sociedade por meio das redes de relacionamento, os empregados, fornecedores, e se amplifica pela mídia. É um ambiente em que pouco se fala sobre construir, mas, a cada dia, comunicadores se reúnem para contar os mortos e projetar o que será ceifado.

Este terrorismo oriundo do ambiente empresarial e da mídia de massa sobre a crise lembra-nos o mito da Caverna de Platão: pessoas aprisionadas no fundo da caverna, sem nenhum contato com o exterior, percebiam o mundo apenas por meio das sombras, que vinham de fora e eram falsamente entendidas como monstros.

Nesta crise, comunicadores e veículos de comunicação têm criado ambientes cavernosos e de ampliações falsas de percepção. Dados reais de uma pesquisa internacional sobre os efeitos da crise financeira sobre as políticas, planos e ações comunicacionais, foram divulgados nesta semana em seguida a uma reunião da ABERJE, Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, e da International Association of Business Communicators, IABC, maior entidade norte-americana de comunicação de empresas.

A pesquisa ‘Communication and Communicators in the Financial Crisis’, mostra que felizmente a maioria dos comunicadores empresariais observa a crise sem se transformar em objeto dela. O trabalho realizado pela IABC, em parceria com a Mercer, foi aplicado em 1.442 membros da IABC, entre 29 de outubro e 12 de novembro de 2008. Entre os respondentes, 59% estavam nos EUA e 26% em empresas no Canadá. O complemento da amostra veio de países como Brasil, Austrália, China, entre outros.

O estudo do IABC foi feito com o objetivo de saber como os comunicadores estão envolvidos na crise e como isso afeta suas funções. A maioria dos comunicadores consultados tinha cargo de diretores ou gerentes de corporações. Questionados sobre o impacto da crise em suas organizações, alguns disseram que não havia crise. Canadenses e australianos relataram que suas empresas não sofreram muito impacto; 40% avaliam que os impactos da crise são significantes, drásticos ou consideráveis e 36% consideram esses impactos moderados.

Em outro item, 8% têm muito medo de perder seus empregos devido à crise, 34% um pouco e 51% não têm medo algum. Dentre os que responderam ‘drásticos e consideráveis’ estão aqueles que trabalham em áreas financeiras e os norte-americanos, áreas consideradas geradoras da grande crise. Sobre se a crise afeta a motivação e confiança dos funcionários, a resposta de 37% foi que não afeta de maneira nenhuma, enquanto 34% disseram que afeta moderadamente.

A percepção dos funcionários em relação aos gerentes é de 46% de credibilidade e 33% de alguma confiança, sendo que os gerentes que não tinham a confiança de sua equipe, já não eram considerados confiáveis antes da crise. Por fim, questionados se suas organizações tinham pedido por um plano de comunicação devido à crise, a maioria respondeu que não (70%).

A pesquisa do IABC mostra que a maioria dos comunicadores sabe que, pelo menos no curto prazo, o mundo não vai acabar. E que o melhor para os negócios – e para a alma – é trabalhar na consolidação da comunicação junto aos empresários e à sociedade como campo de conhecimento e estratégia para a sustentabilidade das atividades produtivas.

Além disso, esta crise financeira global é um momento de reconhecer os comunicadores que, além de selecionar aquilo que informam, interpretam e opinam de forma tranqüila e qualificada. Os ‘educomunicadores’, com certeza, contribuem para diminuir, as incertezas geradas pela crise, a dureza das medidas tomadas pelas empresas e a tristeza desse tempo de pouca esperança.’

 

 

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