Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Thais de Menezes e Miriam Abreu

‘Alberto Dines deixou de assinar sua coluna no Jornal do Brasil. Ele contou ao Comunique-se que foi comunicado da decisão, nesta sexta-feira (11/06), por e-mail, enviado por José Antonio Nascimento Brito, presidente do Conselho Editorial do JB. ‘Ele deixou claro que fui suspenso por causa de um artigo que escrevi para o Observatório da Imprensa’.

No texto ‘A imprensa sob custódia’, Dines faz uma crítica da cobertura feita pelos principais jornais do Rio sobre a omissão do governo do Estado em relação à Casa de Custódia de Benfica, onde houve uma rebelião de presos. ‘O JB abdicou de fazer jornalismo. Parece jornal, tem periodicidade de jornal, tem os atributos formais de um jornal, tem uma história incorporada ao jornalismo brasileiro, mas neste momento é movido por dinâmica e prioridades diferentes das de um jornal. Pode até estar reinventando o jornalismo, mas este não é o jornalismo do qual foi um dos expoentes e continua sendo praticado pela maioria dos seus concorrentes’, escreveu o jornalista.

Em outro trecho, ele escreveu: ‘Neste dia crucial, o JB fez o balanço do caso com uma chamada insignificante na parte inferior da primeira página! Ao lado, com destaque dez vezes maior, para satisfazer o enorme contingente de socialites que devoram suas colunas sociais, enorme foto de uma carioca friorenta ostentando um ‘casaquinho básico’. Antes assim, poderia estar falando em brioches’.

Para Dines, ele foi ‘censurado em todos os sentidos’. ‘Não inventei nada, não foi notícia de bastidor, mas sim analisei a forma como a cobertura foi feita. Fiz um trabalho técnico’.

O editor-executivo, Marcos Barros Pinto, disse que o colunista fez uma análise errada do JB. ‘Se ele considera tudo aquilo deste jornal, não deveria nem trabalhar nem receber dele. Como ele não tomou a iniciativa de deixar a empresa, a direção do JB tomou por ele’.

Na próxima edição do OI, que será na terça-feira (15/06), Dines promete escrever um artigo sobre o que aconteceu.’



Julio Hungria

‘Nao assine, nao leia, nao anuncie’, copyright Blue Bus (www.bluebus.com.br), 14/06/04

‘Bom dia. A decisao do JB, conhecida na 6a feira, de cancelar a coluna de Alberto Dines, foi um belo alerta. Expoe outra vez o jornalismo incompetente e equivocado que a empresa produz ha alguns anos, depois de ter fracassado nas maos dos herdeiros da Condessa. Nao digo que sejam analfabetos, nem reclamo que troquem o Dia da Independencia e refiram em manchete da 1a pagina a Proclamaçao da Republica (o que ja fizeram, uns dois anos atras). O problema é que nao sao do ramo, vendem batatas e cebolas. A materia do Dines no Observatorio, que teria sido o estopim da providência idiota, é um retrato claro do que eu estou dizendo, leia integra aqui. Vale lembrar que Dines é um campeao de demissoes no gênero. Assim foi, recentemente (uns tantos anos), quando esgrimou, na Folha, com a arrogância dos Frias e, depois, quando o Observatorio nao coube nos planos de ‘monetizaçao’ do UOL.’



Andre Silveira

‘Nao assino, nao leio, nao anuncio’, copyright Blue Bus (www.bluebus.com.br), 14/06/04

‘‘Todos devemos nos indignar com a situaçao em que se encontra a grande imprensa, e alguns veículos em particular. Há uma absoluta falta de relevância nas notícias publicadas com destaque e uma proposital minimizaçao daquelas que realmente importam para a sociedade. Lamentavelmente muitos veiculos, talvez a maioria, estao a serviço de grupos políticos inescrupulosos e sem compromisso com suas comunidades (…..)’’



Consultor Jurídico

‘Direção do JB decide suspender coluna de Alberto Dines’, copyright Consultor Jurídico (www.conjur.com.br), 14/06/04

‘A partir deste sábado os leitores do Jornal do Brasil não contarão mais com a coluna assinada pelo jornalista Alberto Dines. A decisão de suspender o espaço foi tomada nesta sexta-feira (11/6) pelo presidente do conselho editorial do jornal, José Antonio Nascimento Brito.

A decisão é uma resposta direta ao artigo intitulado A imprensa sob custódia, publicado por Dines em seu Observatório da Imprensa. No texto, o jornalista critica a cobertura feita pelo JB em relação à omissão do governo do estado para enfrentar a rebelião que ocorreu na Casa de Custódia de Benfica.

Leia o artigo de Alberto Dines

OMISSÃO & VIOLÊNCIA NO RIO

A imprensa sob custódia

O ideal de Maquiavel é um Príncipe que não precisa prestar satisfações aos súditos. Hoje, quando governantes se calam é sinal de que não estão sendo pressionados a se manifestar. E esta pressão só pode ser exercida pela imprensa.

Se o casal governador do Rio de Janeiro adotou a tática da omissão durante quatro dias para enfrentar a calamidade na Casa de Custódia de Benfica, cabia à imprensa fazer um estardalhaço federal. Pior do que a mentira é o silêncio. Inverdades acabam sendo descobertas, mas o silêncio desmobiliza, desanima os cobradores, esfria indignações. Sobretudo quando a opinião pública começa a imunizar-se com a repetição.

O ‘comunicador’ Anthony Garotinho sabia o que fazia quando desapareceu misteriosamente mal começou a calamidade em Benfica. Contava com o fim de semana, o providencial hiato inventado pelo jornalismo brasileiro, habeas corpus dos relapsos. Previa que se o noticiário sobre o motim iniciado no sábado não fosse alimentado no domingo, na terça-feira estaria secundarizado ou esquecido.

Garotinho errou: não imaginou a dimensão e o grau de brutalidade do massacre, o caso continuou sendo noticiado com destaque até a sexta-feira seguinte. Mas acertou nos efeitos: sem informações, a imprensa carioca não ficou suficientemente chocada com o episódio nem conseguiu chocar. Muito menos acionar os alarmes para acordar o governo federal imerso nos seus dramas de consciência.

Isso não significa que O Dia e O Globo, os principais jornais da cidade, tenham escondido a cobertura. Acompanharam o caso razoavelmente, desde a edição do domingo (30/5). Mas, o que chama a atenção do observador é que a cobertura mais contundente, mais insistente e mais dramática – portanto a mais jornalística – foi a do jornal Extra, do Grupo Globo, cuja circulação não se compara em termos quantitativos ou qualitativos aos dois jornalões citados.

Se esta ênfase do Extra fosse transferida para O Dia e, sobretudo, para o portentoso Globo, evidentemente produziria um efeito-cascata, incontrolável, com resultados bem diferentes. Inclusive sobre a mídia paulista, que costuma ter mais penetração na esfera política.

Esta é a questão: se a ingovernabilidade do Rio de Janeiro transformar-se em questão nacional o casal Garotinho conseguirá manter-se impune? Um editorial curto e grosso na primeira página do Globo, mesmo na segunda-feira (31/5, quando já se tinha uma noção da carnificina) teria provocado um turbilhão político bem diferente da resignada reação que o episódio produziu.

Desmascarar governantes

Então cabe perguntar: e o Jornal do Brasil?

O JB abdicou de fazer jornalismo. Parece jornal, tem periodicidade de jornal, tem os atributos formais de um jornal, tem uma história incorporada ao jornalismo brasileiro, mas neste momento é movido por dinâmica e prioridades diferentes das de um jornal. Pode até estar reinventando o jornalismo, mas este não é o jornalismo do qual foi um dos expoentes e continua sendo praticado pela maioria dos seus concorrentes.

Compreende-se, o JB está em crise. Não apenas em crise financeira mas em crise interna. Dos nove vice-presidentes que ostentava no seu expediente antes do trágico fim de semana, dois vices-presidentes jornalistas estavam demissionários desde a sexta-feira (Augusto Nunes e Cristina Konder) e o nome do terceiro foi retirado do expediente no sábado, sem o menor aviso aos leitores (Wilson Figueiredo, com 42 anos consecutivos de casa!) [veja sua entrevista reproduzida na rubrica Entre Aspas, nesta edição].

O JB tem ainda excelentes profissionais no comando da redação, mas a empresa e a diretoria esqueceram que jornalismo não é uma colagem de noticias – jornalismo é um compromisso político com a sociedade. A prova deste esquecimento está na edição de terça-feira (1º/6), quando as dimensões do massacre de Benfica já eram conhecidas inclusive pelos próprios leitores do jornal.

Neste dia crucial, o JB fez o balanço do caso com uma chamada insignificante na parte inferior da primeira página! Ao lado, com destaque dez vezes maior, para satisfazer o enorme contingente de socialites que devoram suas colunas sociais, enorme foto de uma carioca friorenta ostentando um ‘casaquinho básico’. Antes assim, poderia estar falando em brioches.

E, como se não bastasse, na quinta-feira (3/6) – depois da manchete correta do dia anterior, ‘Inquisição do tráfico mata 30 presos’ – o jornal recuou acintosamente para enveredar pela linha business com esta pérola em oito colunas: ‘Rio troca imposto por segurança’.

Trata-se de mais uma pilantragem desenvolvida nos laboratórios do casal Garotinho para esconder sua dupla incompetência como responsável pela segurança pública e para atrair incautos defensores da livre iniciativa: empresas que financiarem a segurança pública terão desconto de 10% no ICMS.

Descobre-se então que esta manchete foi financiada pelos patrocinadores de um seminário organizado pelo Grupo JB, estrelado pela deslumbrante governadora Rosinha e convertido no sábado seguinte num caderno especial.’



Zuenir Ventura


"Sai Dines, uma pena", copyright NoMínimo (http://nominimo.ibest.com.br), 15/6/04


"Com quase 50 anos de jornalismo, sempre como assalariado, nunca como dono de nada, a não ser de meu nariz e de minha consciência, sei que patrão é patrão e empregado é empregado. Mesmo quando se trata de jornalista-patrão ou patrão-jornalista, a diferença é estabelecida pelo capital e pelo trabalho. Não desconheço que luta de classe é coisa do tempo em que Dondon jogava no Andaraí, e que a convivência harmoniosa entre quem paga e quem recebe é possível, até a amizade, mas é certo também que os interesses e direitos não se misturam, os sindicatos não são os mesmos.


O empregador tem entre suas prerrogativas o poder de demitir; o empregado, de se demitir. Num caso ou no outro, sendo demitido ou me demitindo, isso já aconteceu comigo umas quinze vezes: felizmente, saí mais do que fui saído. Portanto, não me cabe discutir o direito do ‘JB’ em dispensar a excelente coluna que Alberto Dines escrevia aos sábados. Mas lamentar o desfecho. Foi um prejuízo tão grande para a imprensa carioca quanto para os leitores. Perdemos todos. Acho que só quem ganhou foi o casal Garotinho, ao se ver livre de um implacável crítico de seu desgoverno.


Estou muito à vontade para defender Dines e exaltar suas qualidades. Muitas vezes divergimos e nossas relações incluíram alguns anos de rompimento, mas nunca pude deixar de reconhecer seu talento e sua dedicação ao jornalismo. É certamente um dos melhores exemplares de minha geração. Um episódio marcante de bravura cívica e física de meu livro ‘1968, o ano que não terminou’ foi vivido por ele, quando, depois de realizar uma edição histórica sobre o AI-5, driblando habilmente a censura (‘Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável’), quase saiu no braço com o major-censor plantado na redação: ‘Você se comporte ou te ponho daqui pra fora e você vai ter que censurar o jornal no banheiro’.


Em compensação, outro dia, numa entrevista, me acusou de ter omitido do livro uma declaração que teria me dado: ‘Aí tem uma coisa que eu contei para o Zuenir, mas ele não botou no livro dele, o 68, porque parte da esquerda prefere criar mitos e não ver as coisas com verdade’. Era, fiquei sabendo agora, a denúncia da ligação suspeita de um dos três ‘Irmãos Bobagem’, o empreiteiro Maurício Alencar, então dono do ‘Correio da Manhã’ (os outros dois eram Mario e Marcello), com Andreazza, ministro dos Transportes de Costa e Silva. Nunca ocorreu a Dines apurar se a suposta omissão era devida mesmo à minha intenção de ‘criar mitos’, imaginem, ou à falta de espaço ou, o que é mais provável, à desimportância dos tipos, num livro que teve o cuidado de escolher seus personagens, como ele próprio é exemplo.


Nada disso, evidentemente, diminui para mim a contribuição que Dines já deu e continua dando ao nosso jornalismo. Nem falo de suas realizações no passado. Fico no presente. Como primeiro ombudsman da imprensa brasileira, na ‘Folha’, inaugurou entre nós a prática sistemática do media criticism, uma espécie de autocrítica profissional, que veio a institucionalizar mais tarde, criando um site na internet e depois um programa na televisão. Com todos os riscos da tarefa, que às vezes resvala da crítica para o julgamento e a condenação, o ‘Observatório da Imprensa’ é hoje uma referência indispensável para jornalistas e leitores, como se sabe. Tudo bem. Mas sem coluna em jornal, Dines deixa a imprensa escrita meio invertebrada."



Thomaz Magalhães


"Advogados são menos imprecisos que jornalistas", Consultor Jurídico (http://conjur.uol.com.br), 14/6/04


"Chegando aqui na revista Consultor Jurídico atrás de coisas para minha filha, também jornalista, encontrei a matéria do jornalista Alberto Dines e comentários.


Reparei que os advogados são menos imprecisos que os jornalistas, pelo menos separam alhos e bugalhos. Não confundem muito a liberdade de imprensa com os direitos e deveres de empregados e empregadores.


Dines, que não é empregado, é colunista, publicou no Observatório matéria criticando o Jornal do Brasil. Não precisaria nem ser jornalista para fazer isso – embora seja há décadas um dos melhores do país.


Mas o JB tem o direito de demitir o colunista por ter feito críticas – que não se restringem à cobertura da rebelião. Chama de pilantragem o patrocínio de um caderno ligado ao seminário de segurança. Evento que é feito por empresa do grupo e não pelo jornal. Pode ou não ter cabimento, mas pilantragem é depreciativo, para dizer o mínimo.


Entra em méritos, como o tamanho da chamada da matéria, que ele acha pequena na primeira página. Colunista não tem que passar por cima do pessoal da redação para decisão sobre fechamento de primeira página.


Nem é tão descabida assim uma chamada pequena na capa de um jornalão, que circula no dia seguinte dos fatos, tratados à exaustão pelo noticiário eletrônico da noite anterior, e antes disso ‘coberto’ pelos datenas da vida na boca da noite, com motolinks, helicópteros, câmeras e microfones na cara de parentes de presos.


As críticas mais equivocadas, ufanistas, vêm especialmente dos estudantes de jornalismo e dos jornalistas ideologicamente mais gasosos, achando que não temos liberdade de imprensa no país e ladainhas adjacentes.


Não reparam que Dines não foi processado. Foi desligado do emprego, e pode ter sido sem justa causa, tanto faz, o que também não compromete a liberdade de expressão.


Se alguém sai perdendo é o JB. E Dines, o que não acredito, pois ele é muito competente e vivo, sabe direitinho o que anda fazendo. Soube da fofocagem do site Comunique-se que ele teve o fee abaixado em dois terços, informação do editor dele lá num bate boca nos comentários da matéria. (Thomaz Magalhães é jornalista)"