Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

The New York Times
demite e corta custos

 

Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 19 de julho de 2006


NYT EM CRISE


Katharine Q. Seelye


‘New York Times’ reduz tamanho e fecha gráfica


‘THE NEW YORK TIMES, NOVA YORK – O jornal The New York Times vai ter seu tamanho reduzido, ficando 3,8 centímetros mais estreito, anunciou a The New York Times Co. A empresa também vai fechar sua operação de impressão em Edison, New Jersey. As mudanças, que entrarão em vigor em abril de 2008, serão acompanhadas por um redesenho gradual do jornal e implicarão na extinção de 250 empregos associados à produção.


Vários outros jornais americanos de tamanho padrão reduziram seu tamanho nos últimos anos, e muitos planejam novas reduções para diminuir custos num momento em que sobem os preços do papel de imprensa e os jornais perdem leitores e anunciantes para a internet.


O Times, que fez o anúncio na segunda-feira à noite, às vésperas de seu relatório trimestral de resultados, anunciou também que sublocará sua planta em Edison e consolidará suas operações regionais de impressão em sua nova unidade em College Point, Queens. Essa consolidação representará uma redução de aproximadamente um terço dos 800 funcionários que integram a área de produção gráfica. Abandonar a unidade de Edison significa evitar um custo de U$ 50 milhões em melhoramentos fundamentais nessa unidade, embora tenha de gastar cerca de U$ 150 milhões para combinar as unidades em College Point e comprar a nova impressora.


A redução do tamanho do New York Times implicará uma perda de 5% no espaço que o jornal dedica a notícias. Se o jornal reduzisse apenas o tamanho das páginas, perderia 11% desse espaço, mas Bill Keller, o editor-executivo do jornal, disse que essa perda seria drástica demais. Por isso, o jornal acrescentará páginas para compensar em parte a redução do espaço.


‘Esse é um número com o qual acho que podemos conviver com muito conforto’, disse Keller sobre a redução de 5%, acrescentando que a redução do espaço noticioso exigirá uma edição mais rígida e a colocação de algumas notícias de forma condensada.


Vários jornais grandes, entre eles o USA Today, The Los Angeles Times e The Washington Post, já tiveram seu tamanho reduzido, e outros, como o The Wall Street Journal, planejam fazê-lo. ‘É doloroso ver o setor apertar o cinto’, disse Keller. ‘Mas esta é uma maneira muito menos dolorosa de continuar assegurando a sobrevivência econômica do que cortar pessoal, ou fechar sucursais estrangeiras, ou reduzir nossas reportagens investigativas, ou diluir a sucursal de Washington.’’


ELEIÇÕES 2006
Leonencio Nossa


Lula gastou R$ 2,6 bi em publicidade desde 2003


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o governo gastou R$ 2,6 bilhões em publicidade institucional desde a posse dele, em janeiro de 2003. Só neste ano a despesa foi de R$ 476,77 milhões. O Ministério do Desenvolvimento Social, gerenciador do programa Fome Zero, foi o único que apresentou aumento sucessivo de gastos nos últimos 3 anos. A pasta investiu em 6 meses R$ 700 mil a mais que o total registrado em 2005.


As explicações de Lula sobre a publicidade foram exigidas pelo plenário do TSE, que por unanimidade acatou, em 29 de junho, pedido do PFL e do PSDB que questionaram o ‘excesso’ de gastos em ano de eleição.


Dados enviados na tarde de ontem pela AGU mostram que no primeiro ano de governo as despesas com publicidade atingiram R$ 540 milhões, subindo para R$ 798 em 2004. No ano passado, os gastos tiveram pequena queda em relação ao período anterior, totalizando R$ 771 milhões. Os ministros do TSE acompanharam voto do ministro relator, Carlos Ayres Britto. No voto, o relator ressaltou que o pedido de informações do PFL e do PSDB é de ‘interesse público’. ‘As informações quanto aos gastos da administração com publicidade institucional não só podem como devem ser disponibilizadas ao público, segundo princípio constitucional da publicidade e da impessoalidade’, disse Britto no relatório. ‘Tudo a se traduzir na compreensão de que o nosso modelo constitucional de Democracia faz do Estado um informante por excelência, e que, por isso mesmo, tem que primar pela excelência da informação.’


FOME ZERO


Os ministérios que mais gastaram este ano com publicidade foram Saúde (R$ 73 milhões), Turismo (R$ 19 milhões), Educação (R$ 8,6 milhões), Desenvolvimento Social e Combate à Fome (R$ 8,3 milhões), Desenvolvimento Agrário (R$ 6 milhões), Agricultura (R$ 5,6 milhões), Cidades (R$ 4,5 milhões), Transportes (R$ 4,3 milhões), Ciência e Tecnologia (R$ 2,1 milhões) e Meio Ambiente (R$ 536 mil). O governo argumenta que Saúde e Combate à Fome, por exemplo, dependem de publicidade para explicar projetos e ações à sociedade, daí as campanhas terem um caráter ‘institucional’.


O governo não economizou nos gastos com o programa Fome Zero, que engloba iniciativas exploradas por Lula na campanha eleitoral. O aumento no número de famílias beneficiadas pelo Bolsa-Família de 2004 para 2006 – de 6 milhões para 11 milhões – foi acompanhado pelo crescimento das despesas em publicidade. Os gastos no primeiro semestre superam toda a despesa registrada em 2004 – R$ 4 milhões – e em 2005 – R$ 8,2 milhões.


Os bancos públicos também estão na lista dos maiores gastadores. De janeiro para cá, o Banco do Brasil gastou R$ 55 milhões em publicidade. A Caixa Econômica Federal gastou R$ 17 milhões e o Banco do Nordeste, R$ 3,8 milhões. Até mesmo o Banco Central, tradicionalmente discreto, gastou R$ 480 mil em publicidade.


PT pede processo contra Bornhausen por frase do PCC


O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), protocolou ontem no Tribunal Superior Eleitoral notícia-crime contra os senadores do PFL Jorge Bornhausen (SC) e José Jorge (PE), candidato a vice na chapa de Geraldo Alckmin. O petista alega que ‘os dois ofenderam a honra e a moral do partido e de todos os seus filiados ao afirmarem, na semana passada, que havia ligações entre o PT e a facção criminosa PCC’. O PT pede abertura de ação penal contra os pefelistas.’


TV DIGITAL
Adriana Chiarini


Globo já marca data para início da TV digital


‘A TV Globo deve começar a transmitir o sinal digital para São Paulo e Rio de Janeiro doze meses após o fim dos trabalhos da comissão que está discutindo questões como o uso do sistema japonês de TV digital com software desenvolvido no Brasil. A estimativa foi feita pelo vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho. A transmissão do sinal atual, analógico, continuará a ser feita junto com a do digital.


Marinho declarou que ‘valeu a pena esperar’ pelo processo de escolha do padrão digital, terminado recentemente com a escolha do padrão japonês, como defendiam as televisões. De acordo com ele, o esforço de pesquisa brasileiro conseguiu melhorar o sistema japonês.


A TV Globo não pretende dividir receita publicitária com as operadoras de telefonia pela captação do sinal digital da programação de TV nos celulares. ‘Dividir receita por que? É a TV aberta, normal’, disse Marinho, após dar palestra na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ).


Marinho admitiu que as operadoras não vão ganhar nada por isso. Mas ele não acredita que por esse motivo as operadoras de telefonia deixariam de oferecer celulares com capacidade de receber sinal de televisão. Ele observou que o sinal de TV será captado por um chip instalado no aparelho. ‘É como tirar fotos no celular’, disse.


Para Marinho, ter a programação de televisão no celular vai gerar hábito e pode levar a negócios entre televisões e operadoras. Nesse caso, o consumidor pagaria pela possibilidade de baixar parte da programação da TV fora do seu horário normal ou pela geração de conteúdo especial. Isso já vem sendo feito com vídeos de gols.


O empresário vê possibilidade de a Globo aumentar o preço do espaço publicitário e gerar mais receita, caso a transmissão para celulares aumente a audiência dos seus programas.


Segundo ele, a Globo não vê a tecnologia como ameaça e aposta na qualidade para manter o seu público. Por isso e por questões publicitárias, não vai optar por usar sua parte no espectro para oferecer mais canais, como permite a tecnologia de digital, mas para ter alta definição no que já transmite.


Segundo Marinho, as operadoras de telefonia ainda não podem lançar os serviços de transmissão de televisão baseados no protocolo de Internet, a IPTV, por questões de regulamentação. Mas disse que as Organizações Globo estão prontas para comercializar seus canais para IPTV quando tudo estiver regulamentado.


Marinho acredita que o início da TV digital vai criar diversas oportunidades de negócios. Entre elas, nas áreas de produção audiovisual, de fabricação de televisores e de caixas conversoras de sinal para adaptar os aparelhos de televisão analógicos à recepção digital. Os incentivos da Lei de Informática também poderão vir a se aplicar para a televisão digital, dependendo do enquadramento que o governo fizer disso.’


MEMÓRIA / RAUL CORTEZ
Beth Néspoli


Morre o ator Raul Cortez


‘Morreu ontem às 20h15, aos 74 anos, o ator Raul Cortez, no Hospital Sírio-Libanês, onde estava internado desde o dia 30, em função de complicações relacionadas a um câncer na região abdominal. Ainda na noite de ontem, seu corpo começou a ser velado no Teatro Municipal de São Paulo.


A carreira de Raul Cortez é marcada por uma interessante conciliação entre facetas que costumam atritar-se. Conseguiu ser ao mesmo tempo artista ousado, meter-se em projetos libertários, e também engajado, mas também cultivar a imagem de artista do chamado ‘teatrão’ e fazer sucesso popular na televisão. Uma dessas conciliações ocorreu em 1980, quando a um só tempo ele brilhava, e recebia prêmios, no papel do velho militante de esquerda Manguary Pistolão da peça Rasga Coração, de Vianinha, recém-liberada pela censura, e era admirado por milhares de espectadores da novela Água Viva, que vibravam com sua criação para o cirurgião plástico Miguel Fragonar.


De família rica, começou por contrariar os pais para ser ator. Fez uma ‘incompreendida’ atuação/performance em 1969, encarnando um travesti em Os Monstros, sob direção de Denoir de Oliveira; em 1970, ousou com o primeiro nu masculino no teatro brasileiro na famosa montagem de O Balcão, dirigida por Victor García; atuou sob direção de Zé Celso no Oficina, tanto na sua primeira fase áurea, na década de 60, em montagens antológicas como Os Pequenos Burgueses, quanto na volta do diretor exilado, num Oficina destroçado, em As Boas, de Jean Genet.


Também atuou mais de uma vez sob direção de Antunes Filho, em peças como Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?, interpretação que lhe valeu os prêmios Molière, Mambembe, APCA e Apetesp, e Vereda da Salvação. Nunca escondeu sua admiração inconteste, jamais abalada, por esses dois diretores expoentes do teatro brasileiro, de linguagens tão díspares. Com muitos prêmios no currículo, depois de ter imprimido seu nome definitivamente na história do teatro brasileiro, decidiu fazer o ‘seu’ Rei Lear, ambição comum à carreira dos grandes atores. Mas também ousou levar ao seu público a dramaturgia contestadora de Mario Bortolotto, mantendo a dualidade, e a inquietação, que seriam marcas de sua vida artística.


Raul Christiano Machado Cortez nasceu no dia 28 de agosto de 1931, em Santo Amaro, quando esse bairro paulistano ainda era um município, e já tivera como prefeitos seu pai e seu tio. Sua rebeldia se manifestaria muito cedo. Na adolescência, arrumou um emprego para ficar independente do pai. Estudante de Direito, passou a freqüentar o famoso Nick Bar, vizinho ao Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Ali conheceu Ítalo Rossi, que o levou ao Teatro Paulista do Estudante, de Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974) e Gianfrancesco Guarnieri, onde estreou, sob direção de Ítalo, em O Impetuoso Capitão Tick, em 1955.


Pouco depois, faria um teste para o TBC e enfrentaria seu primeiro fiasco. A história é engraçada. Por sua bela voz, o então rapaz espigado – 1,81 m de altura – seria escolhido para um efeito ‘sonoro’ especial em parceria com Cleyde Yáconis. Nos ensaios, tudo bem. Mas no dia da estréia, ficou mudo de nervoso e Cleyde falou sozinha. Por conta disso, ficaria quatro anos fazendo praticamente figuração no TBC. Finalmente saiu da ‘geladeira’ e seu talento começou a brilhar ao substituir Leonardo Villar no papel de Biff, em A Morte do caixeiro-viajante.


Nesse período, atuou sob direção de Antunes no Pequeno Teatro de Comédia em O Diário de Anne Frank. Na Cia. Cacilda Becker, viajou para a Europa com um repertório bastante eclético, como era comum na época, que ia de Maria Stuart, de Schiller, passando por Santa Marta Fabril S. A., de Abílio Pereira de Almeida, até A Compadecida, de Ariano Suassuna. Sob direção de Antunes atuou em Yerma, de Lorca; sob a de Ziembinski, em Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues. Em 1963 já ganhava o APCA de ator coadjuvante por sua atuação em Os Pequenos Burgueses, sob direção de Zé Celso. ‘Foi uma montagem inédita no teatro brasileiro’, diria Cortez anos depois. ‘Os Pequenos Burgueses tinha o poder que o teatro deve ter de mudar o comportamento das pessoas. Jovens, estudantes, as pessoas que assistiam a essa montagem mudavam de vida.’


Em teatro, dizia gostar dos personagens loucos e lúcidos que se revoltam, como Joaquim de Vereda da Salvação, mais um dos que criou sob direção de Antunes Filho. Mas também era capaz de se apaixonar pelo travesti da comédia Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá. ‘Gostava da tristeza dessa peça e do meu personagem’, dizia sobre esse travesti pobre, que vivia no subúrbio carioca e era fã da atriz que dá título à peça.


Cortez foi um dos fundadores da Apetesp, em 1974, e também seu presidente, durante muitos anos. Em 1979, quando estreou em Rasga Coração, de Vianninha, tinha 48 anos e uma carreira repleta de prêmios teatrais. Havia levado ao palco personagens de Edward Albee, Molière, Lorca, Jean Genet, Gorki, Nelson Rodrigues, Jorge Andrade e muitos outros. Também já havia atuado em novelas como O Enigma, na Bandeirantes, entre outras.


Mas foi no início da década de 80, com Rasga Coração ainda em cartaz, que sua popularidade na telinha explodiu por conta de sua atuação na novela Água Viva, sua primeira na Globo. Começa então uma série de sucessos, como o volúvel Herbert de Brega & Chique, o Pedro Bergman de Mandala, o Virgílio de Mulheres de Areia. Um deles, porém, o Geremias Berdinazzi de O Rei do Gado, chegaria a roubar o lugar do protagonista no gosto do público.


Sucesso televisivo, no seu caso, não significou interrupção nos palcos. Muito depois de Água Viva, em 1986, novamente sob direção de Antunes, faria A Hora e a Vez de Augusto Matraga, inspirado em Guimarães Rosa. E muito mais. Ele seria o Paulo Prado de O Lobo de Ray-Ban, peça de Renato Borghi; Salieri, o antagonista na peça Amadeus; a madame da peça As Boas, de Jean Genet; Ah! Mérica, uma colagem de poesias e músicas por ele escolhidas; Rei Lear, na montagem para a qual ele convidou a dirigir Ronaldo Daniel, que hoje vive em Londres, com que havia atuado no Oficina no início da carreira, e ainda se arriscaria em À Meia-Noite Um Solo de Sax na Minha Cabeça e Fica Frio, duas peças de Bortolotto que levaria ao palco, expondo-se corajosamente ao fogo cruzado da crítica tanto de seu público mais tradicional quanto dos admiradores do autor aplaudido, sobretudo, pelo espectador arredio ao circuito dos teatros de veludo vermelho e poltronas confortáveis. Nesse momento, quando muitos de sua geração levavam ao palco confortáveis solos no estilo ‘balanço de carreira’, Raul Cortez mostrava jamais ter deixado morrer a chama do jovem rebelde que contrariou a família para tornar mais interessante o teatro brasileiro.’


Luiz Carlos Merten


Um intérprete de grandes papéis


‘Raul Cortez foi, acima de tudo, uma poderosa presença no palco, como sabem todos os que tiveram o privilégio de vê-lo atuar, mas também deu sua contribuição ao audiovisual brasileiro. Foi um ator de grandes papéis na TV e no cinema. É curioso como alguns dos maiores atores do País, Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Raul Cortez, conseguiram (conseguem) trafegar entre as exigências dramáticas do teatro e o naturalismo da TV, talvez porque eles não sejam, no limite, naturais como seus colegas de elenco em novelas. Fernanda, na recente Bia Falcão de Belíssima, mostrou como deve ser uma vilã de TV, com uma composição notável, embora o texto de Sílvio de Abreu não a tenha ajudado muito no desfecho, que andou ganhando elogios exagerados.


Com todo respeito que possa merecer Décio de Almeida Prado, virou motivo de piada uma frase do lendário crítico do Estado, que disse, comentando a atuação de Cortez em Eurídice, de Jean Anouilh, em 1956, que ele não merecia um lugar no teatro brasileiro. Ainda bem que ele perseverou e o próprio Almeida Prado terminou reconhecendo (e elogiando) o ator em que Cortez se transformou. Em 1957, Cortez participou de seu primeiro filme – Pão Que o Diabo Amassou, que o italiano Marcelo Basaglia realizou em São Paulo, com Jayme Costa no papel que Paolo Stoppa faria no cinema, se o diretor tivesse concluído o projeto em Roma. O elenco do filme é quase um who’s who do teatro paulista da época, o que explica, em parte, seu tom carregado e o escasso sucesso de público.


Passaram-se sete anos até que Cortez voltasse aos sets de filmagem, o que ocorreu com a adaptação que Anselmo Duarte fez da peça Vereda da Salvação, de Jorge de Andrade. Duarte construiu seu filme em elaborados planos-seqüências, valorizando a continuidade das interpretações. No livro que lhe dedica a coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado, o cineasta afirma que escolheu o ator para interpretar Joaquim porque ele vivia uma crise de identidade sexual e isso favorecia a trama sobre misticismo e repressão. Não há muito o que dizer sobre O Anjo Assassino, de Dionísio Azevedo, baseado na novela A Outra Face de Anita, de Ivani Ribeiro, mas o filme que Cortez fez em seguida, em 1967, é um dos melhores dos anos 1960 (e de toda a história do cinema brasileiro) – O Caso dos Irmãos Naves, de Luiz Sérgio Person, sobre o clamoroso erro judiciário que permitia ao cineasta discutir, a partir de um episódio do Estado Novo, a máquina repressiva do regime militar.


Nos anos seguintes, Cortez filmou muito, mas fez muitas vezes escolhas equivocadas, de quem não encarava o cinema como prioridade. Não lhe faltam no currículo nem mesmo pornochanchadas. Alguns filmes se destacam – Capitu, de Paulo César Saraceni; Os Trapalhões no Auto da Compadecida, de Roberto Farias; Jardim de Alá, de David Neves; A Grande Arte, de Walter Salles; e Cinema de Lágrimas, de Nelson Pereira dos Santos. Faltou Em 2001, sob a direção de Luiz Fernando Carvalho, ele completou a santíssima trindade de seus grandes papéis no cinema – Lavoura Arcaica situa-se no mesmo plano de Vereda e Irmãos Naves. Adaptado do livro de Raduan Nassar, com belíssima (um tanto exagerada) fotografia de Walter Carvalho, Lavoura ofereceu a Cortez um impressionante papel de pai autoritário. Suas cenas à mesa, tiranizando a família, pertencem à história, o que não representa uma adesão incondicional ao filme. Ao contrário do que disse o crítico, Cortez cavou, sim, seu lugar no teatro e no audiovisual brasileiros.


repercussão


‘Perdi um grande amigo que fazia parte da minha vida desde os anos 50. Acompanhei sua trajetória profissional e pessoal, o amor pela Celinha (a atriz Célia Helena), vi suas filhas nascerem. Uma pessoa especial que partiu.’


CLEIDE YÁCONIS ATRIZ


‘É um dos atores mais vivos, sensuais, irreverentes e inteligentes que conheço. Poucos conseguem manter a vitalidade em tanto tempo de carreira no cinema, no teatro e até na TV. A energia dele continua viva porque ele é imortal. Devo a Raul a minha volta ao teatro. Para mim ele continua dando risada, irônico, maldoso, nada careta. Toda a vitalidade dele deve seguir de exemplo no trabalho e na vida.’


ZÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA DIRETOR TEATRAL


‘Muito mais que um ator, um grande amigo, um companheiro de caminhada, de lutas. Abriu muitos caminhos para a classe teatral.’


JOSÉ RENATO, DIRETOR TEATRAL


‘Sou um grande admirador do trabalho de Raul Cortez. Sem dúvida alguma era um dos grandes atores do teatro brasileiro. O primeiríssimo.’


ADERBAL FREIRE-FILHO DIRETOR TEATRAL


‘Caiu como um raio para mim essa notícia. Mais que um ator, é a perda do amigo. A gente se admirava e brigava, se xingava e se abraçava, o que era ótimo. Foi aqui, nesse palco, que fizemos juntos Quem Tem Medo de Virgínia Woolf? e depois tantas coisas. Mas não é do profissional que quero falar, mas do amigo de botequinadas no Gigetto. Nossa vida foi bonita, pena que tudo tenha de acabar assim.’


ANTUNES FILHO DIRETOR TEATRAL


‘Era um ótimo ator, estava entre os grandes nomes, não apenas do teatro, como do cinema e TV. Sempre procurou abrir espaço para a classe teatral.’


ANTONIO ARAUJO DIRETOR TEATRAL


‘É uma grande perda. Era um grande ator que merece todas as homenagens. É hora de lembra tudo de bom que ele fez.’


DENISE FRAGA ATRIZ


‘Tinha uma elegância pessoal que emprestava altivez a todos os personagens que fazia. Como ator, nunca teve medo de desafios. Deixa uma história muito bonita na arte de interpretar. É uma lástima.’


ALCIONE ARAÚJO DRAMATURGO E ESCRITOR


‘Fiquei chocada. Fizemos juntos a peça Rasga Coração (de Oduvaldo Vianna Filho), em 1979, e foi uma experiência inexplicável. Tenho as melhores lembranças do mundo dele como ator e como homem.’


LUCÉLIA SANTOS ATRIZ


‘Raul é um amigo que ficará para sempre. Sempre foi solidário, tanto para os amigos, como para a classe teatral. Além de ser um bom ator, foi corajoso, fez espetáculos que muitos não tiveram coragem de fazer. Estava sempre aberto ao novo, essa era a sua marca’


OSWALDO MENDES DIRETOR TEATRAL’


Cristina Padiglione


Doença tirou-o de Senhora do Destino


‘Raul Cortez participou de JK, minissérie exibida no início do ano, mas o último trabalho em ritmo intensivo de gravações foi Senhora do Destino (2005), de Aguinaldo Silva, que teve de ser interrompido em função da doença. Interpretava um personagem em extinção: o Barão Pedro Correia de Andrade, falido financeiramente, mas rico em valores de vida e dono de rara elegância. Nos últimos dez anos, alguns de seus papéis mais memoráveis na TV estão nas novelas de Benedito Ruy Barbosa. Do adorável italiano Berdinazzi de O Rei do Gado (1996) veio o signore Francesco de Terra Nostra (2000) e depois mais um italiano, Genaro, em Esperança (2002).


Raul está na TV desde os idos da Excelsior, emissora pioneira em telenovela e na profissionalização do negócio. Lá fez, em 1966, a novela Ninguém Crê em mim. Na Bandeirantes atuou Os Miseráveis, adaptação de Walther Negrão para o clássico de Victor Hugo. Passou anos com a turma do Sumaré, integrando as novelas da Tupi – Toninho on the Rocks (1970), Vitória Bonelli (1972), de Geraldo Vietri, A Volta de Beto Rockefeller (73), de Bráulio Pedroso, Xeque-Mate (76), de Negrão e Chico de Assis, e Tchan! A Grande Sacada (76), de Marcos Rey.


Seu ingresso na TV Globo se dá pelas mãos de Gilberto Braga, em 1980, por Água Viva – e vale lembrar do cirurgião Miguel Fragonard. Fez Baila Comigo (1981), de Manoel Carlos, Jogo da Vida (1981), de Silvio de Abreu, e a minissérie Moinhos de Vento (1983), concebida por Walter Avancini e escrita por Daniel Más, Leilah Assunção e Luciano Ramos.


Ainda em 83, seguiu para a TV Bandeirantes, rumo à novela Sabor de Mel, de Jorge de Andrade. Voltou à Globo com Partido Alto (1984), de Aguinaldo Silva e Glória Perez. Emendou então Brega e Chique (1987), de Cassiano Gabus Mendes, a Mandala, no mesmo ano, de Dias Gomes. De Silvio de Abreu, fez ainda Rainha da Sucata (1990) e As Filhas da Mãe (2003).


A safra de minisséries inclui A.E.I.O.Urca (1990), de Doc Comparato e Antonio Calmon, O Sorriso do Lagarto (1991), de Walther Negrão e Geraldo Carneiro, As Noivas de Copacabana (1992), de Dias Gomes e Ferreira Gullar, além de Os Maias (2001), em que narrou em primeira pessoa o enredo de Eça de Queiroz adaptado por Maria Adelaide Amaral.’


TELEVISÃO
Luiz Carlos Merten


Daniel de Oliveira, o bom rapaz


‘Daniel de Oliveira mal teve tempo de participar da coletiva de Zuzu Angel, na segunda-feira à tarde. Na seqüência, conversou com o repórter do Estado e correu para o aeroporto de Congonhas, para pegar a ponte aérea para o Rio. Às 20 horas, Daniel teria de estar no centro de produção da Globo para gravar as cenas do casamento de Foguinho na novela Cobras & Lagartos.Têm sido dias de muita agitação para Daniel. Ele participa do lançamento (em 4 de agosto) do filme que Sérgio Rezende realizou contando a luta da estilista Zuzu Angel contra a ditadura, nos anos 1970. Zuzu não levou uma luta ideológica contra o regime militar. Lutou, como diz Patricia Pillar, que interpreta o papel, numa frase do diálogo – ‘Pelo sagrado direito que uma mãe tem de enterrar seu filho.’ Daniel faz o filho.


Stuart Angel é o quarto de uma série de personagens reais que ele interpreta. O primeiro foi Cazuza, no filme de Sandra Werneck e Walter Carvalho. Vieram depois Frei Beto, no filme do mineiro Helvécio Ratton; Santos Dumont, no curta de André Ristum; e agora Stuart Angel, o Tuti. São todos personagens excepcionais, fora-de-série. Sonhadores e aventureiros que quiseram mudar o mundo e viveram em choque com as instituições. Daniel gosta do desafio de criar esses personagens, mas ele próprio se considera um cara comum. E por isso se identifica tanto com o Duda da novela de João Emanuel Carneiro.


Cobras & Lagartos alavancou o horário das 7, que andava meio caído após o fracasso de Bang-Bang. O público tem adorado a história de Duda e Foguinho, o personagem de Lázaro Ramos. Ambos compartilham o mesmo nome, mas são diferentes em tudo, ou quase tudo. Um branco, outro negro; um, bom-moço, o outro disposto a fazer o que for preciso para sair da linha de miséria. Diferentes, sim, mas não opostos – ‘Foguinho é do bem; também está sofrendo’, avalia Daniel, que considera um privilégio contracenar com Lázaro. Ele acha muito bacanas esses dois personagens que compõem uma mesma idéia da identidade do brasileiro. A novela sofreu uma acusação de plágio – Walter Salles e Daniela Thomas acusam o autor, que foi co-roteirista de Central do Brasil, de se haver apossado de uma idéia que era deles, basicamente a do romance entre Duda e Bel, interpretada por Mariana Ximenes. A acusação não respingou no elenco e, pelo visto, a Globo também não ligou a mínima.


‘A galera está curtindo’, diz Daniel que, em toda parte, identifica sinais de aceitação da novela e dos personagens. A conseqüência é que Cobras & Lagartos vai ser esticada por mais um mês e, agora, vai até novembro (a previsão era outubro). Daniel não sabe qual será o desfecho, mas torce, como todo mundo, por Duda e Bel. ‘Espero que fiquem juntos porque se merecem.’ É um romântico, esse Daniel de Oliveira. Duda, Cazuza, Stuart Angel, Frei Beto – além de reais, seus personagens são do bem. Daniel não tem medo de que a etiqueta de bom moço cole nele e limite sua carreira? Ele pede que aguardem. ‘O Duda não é tão bonzinho assim. Ele vai descobrir a ligação de Leona e Estevão e vai armar para desmascarar os dois.’ Mas o plano não vai dar certo e Duda e Bel vão sofrer mais um pouco.


Stuart Angel surgiu em sua vida por meio de Patricia Pillar, que tem sido uma madrinha desde que fizeram juntos a novela Cabocla, das 6. Foi Patricia quem o indicou para Helvécio Ratton e, depois, para Sérgio Rezende. ‘A gente tem uma empatia muito grande e o fato de ela fazer a minha mãe em Zuzu Angel é emocionante.’ Pode parecer bobagem, mas Daniel se liga nos atores com quem trabalha. Com Totia Meirelles, que faz sua tia em Cobras & Lagartos, a relação ficou tão familiar que eles atuam como se fossem tia e sobrinho de verdade. Como é interpretar personagens reais? ‘No caso de Cazuza, foi mais difícil, porque ele é uma referência muito forte para o público. As pessoas sabem como era, quem era e como agia. No caso de Stuart, foi diferente. Ele é menos conhecido fisicamente, o que me deu mais liberdade para criá-lo como um personagem de ficção.’


Filho da estilista Zuzu Angel, Stuart, que era meio americano, pertenceu àquela geração que aderiu à guerrilha, nos anos 1960, vendo na luta armada a única opção de luta contra os militares. Stuart diz todas aquelas palavras de ordem que hoje, mais do que nunca, parecem coisas de loucos sonhadores. Algumas são até pomposas, diálogos difíceis de dizer que só atores com a sinceridade de Daniel conseguem tornar verdadeiras. Por mais que se considere um jovem comum, ele não é um alienado. Até por sua vivência de artista, tem um conhecimento maior daquele período. No teatro, nos sets de TV e cinema, sempre existe alguém para lembrar as histórias da repressão. E ele mergulhou fundo na pesquisa sobre Stuart Angel e sua época. A TV aumentou sua popularidade, mas Daniel não abre mão de viver como um jovem de sua idade, indo a lugares que celebridades não freqüentam. ‘As pessoas me respeitam muito’, analisa. Talvez seja pelo aspecto assumido de cara comum – o que ele não é, claro. O próximo papel no cinema será no longa de estréia de Matheus Nachtergale, A Festa da Menina Morta. ‘Vai ser um golpe na imagem do bom-moço’, ele anuncia. Para encerrar, a pergunta Contigo da entrevista – com quem Daniel está? ‘Com a minha cabocla’, ele responde, feliz da vida. ‘Cabocla’, para quem ainda não sabe, é a atriz Vanessa Giacomo, com quem Daniel contracenou na novela das 6.’


Keila Jimenez


‘Está faltando coragem aos autores velhos’


‘Aguinaldo Silva está de volta ao Brasil. O autor, que foi passar uma temporada em Portugal, chegou este mês ao País para acertar com a Globo sua próxima produção na casa, que deve estrear em 2007. Em entrevista ao Estado, Aguinaldo falou do sucesso de suas novelas entre os portugueses, criticou a falta de criatividade de seus colegas e adiantou um pouco sobre sua próxima trama.


Você chegou a trabalhar em Portugal?


Os portugueses têm gratas recordações do meu trabalho, mas não cheguei a trabalhar, porque meu contrato com a Globo, que acaba em junho de 2010, exige exclusividade absoluta. Mesmo assim conversei com duas produtoras independentes e acertei com uma delas, a Scriptmakers, a realização de um workshop em setembro com dez roteiristas, aos quais vou ensinar como se faz uma novela.


Quando veremos uma novela sua na Globo de novo?


Existe um cronograma prevendo minha entrada no segundo semestre de 2007. Minha primeira idéia para uma novela se chama: É a Educação, Estúpido!. É sobre a deseducação em todos os níveis que está levando a sociedade a um terrível impasse. Mas como sou um ficcionista, e não um sociólogo, terei de mostrar esse tema inserido numa boa história.


Acompanhou as novelas brasileiras enquanto esteve fora?


Acompanhei mais as portuguesas, que desbancaram totalmente as brasileiras lá. A nossa última novela líder lá foi Senhora do Destino (dele). América ficou um oitavo em audiência. Belíssima caiu mais ainda. Sou suspeito para falar, mas não posso deixar de dizer que sou contra essa onda de remakes que anda grassando por aí. Está faltando aos autores, que eu chamo de ‘jaburus’, ou seja, os velhos e experientes como eu, a coragem de reinventar, ousar, fazer alguma coisa que valha a pena.


Você desistiu de transformar o personagem Giovanni Improtta em filme?


Eu não desisti, mas o José Wilker não me deu mais notícias. Agora o Mario Gomes quer fazer o Giovanni no teatro. Não sei se faço, voltar ao Giovanni me dá certo tédio. Estou agora dando os último retoques no meu livro, que se passa nos bastidores de uma novela das 8 e talvez sirva para antecipar minha aposentadoria por justa causa no meio…’


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 19 de julho de 2006


NYT EM CRISE
Folha de S. Paulo


‘New York Times’ corta 250 empregos e diminui tamanho


‘DA BLOOMBERG – A editora de jornais New York Times Co., a terceira maior dos EUA no setor, informou que fechará 250 postos de trabalho e reduzirá o tamanho de seu principal jornal, o ‘New York Times’, após seu lucro ter se mantido praticamente inalterado no segundo trimestre deste ano.


O lucro líquido da editora cresceu menos de 1%, ao passar a US$ 61,3 milhões, contra US$ 60,8 milhões no segundo trimestre de 2005, informou a empresa em comunicado. A receita cresceu 1,6%, a US$ 858,7 milhões.


O plano de cortes, que se junta ao fechamento de 500 vagas anunciado em 2005, ajudará a editora nova-iorquina a economizar US$ 42 milhões por ano num momento em que luta para recuperar sua receita publicitária. O jornal ‘The New York Times’ terá suas dimensões reduzidas das atuais 54 polegadas (137,1 cm) de largura para 48 polegadas (121,9 cm), e a empresa não mais realizará impressões em sua unidade de Edison, em Nova Jersey.


‘O setor de publicidade norte-americano parece estar bastante fraco pelo que vimos em outras editoras, e o ‘New York Times’ é especialmente dependente dos anúncios nacionais’, disse Michael Kupinski, analista da A.G. Edwards & Sons. Ele trabalha em St. Louis, Missouri, e deu sua declaração antes do anúncio dos cortes.


Em outro comunicado, o New York Times informou que seu diretor financeiro, Leonard Forman, 61, pretende se aposentar no ano que vem, depois que a empresa encontrar um sucessor. Forman ocupa o cargo de diretor financeiro desde 2002.


Mais cortes


Janet Robinson, principal executiva da editora, está realizando mais cortes após ter eliminado das páginas do ‘New York Times’ e do ‘Boston Globe’ as tabelas que apresentavam os valores das ações, a fim de reduzir as despesas. Ela também comprou empresas de internet, como a About.com, para combater os efeitos das baixas taxas de crescimento dos jornais.


Tanto a redução do tamanho do jornal quanto a consolidação referente às atividades de impressão devem estar concluídas até o segundo trimestre de 2008, informou o New York Times.


A impressão do ‘New York Times’ será concentrada na nova unidade da empresa, localizada no bairro nova-iorquino do Queens. A antiga unidade de Nova Jersey será sublocada.’


ELEIÇÕES 2006
Silvana de Freitas


Lula declara ao TSE gastos de R$ 476 mi com publicidade


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comunicou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que as despesas com publicidade institucional do governo no primeiro semestre deste ano somaram R$ 476,774 milhões, o que equivale a dois terços do que gastou anualmente, em média, desde 2003.


Lula disse que o total das despesas com campanhas publicitárias dos órgãos do governo federal, incluindo a administração indireta, foi R$ 540,196 milhões em 2003, R$ 797,990 milhões em 2004 e R$ 771,360 milhões em 2005. Isso mostra que, em apenas seis meses de 2006, foram desembolsados 67,8% da média anual de sua gestão, de R$ 703,182 milhões.


Embora as despesas sejam proporcionalmente elevadas em comparação com os três primeiros anos do governo, elas não ultrapassam o limite da Lei Eleitoral (nº 9.504). Pela lei, as administrações direta e indireta não podem gastar com publicidade no ano das eleições mais do que a média dos últimos três anos ou o valor do ano anterior.


Notificação


Lula foi notificado duas vezes pelo TSE a prestar essas informações, a pedido do PSDB e do PFL. Os presidentes dos dois partidos fizeram a solicitação em 31 de maio, dizendo que essa interferência do tribunal era necessária para evitar problemas como demora injustificada ou omissão de informações.


Inicialmente, a Advocacia Geral da União afirmou que Lula desconhecia os gastos do governo com publicidade, porque ele não participaria da elaboração e planejamento nessa área, e pediu que o TSE notificasse a Subsecretaria de Comunicação da Presidência da República. O PSDB entrou com recurso, e o tribunal aprovou nova notificação a Lula.


O governo enviou ao tribunal uma tabela com a despesa de cada órgão federal desde 2003. A Petrobras, por exemplo, gastou R$ 115,812 milhões no primeiro ano, R$ 150,509 milhões em 2004, R$ 152,430 milhões no ano passado e R$ 94,387 milhões até junho último.


Pelas informações enviadas ao TSE, o Banco do Brasil desembolsou com publicidade R$ 122,077 milhões em 2003, R$ 137,697 milhões em 2004, R$ 119,443 milhões em 2005 e R$ 55,022 milhões no primeiro semestre deste ano.’


PROJETO DA FENAJ
Eduardo Scolese e Pedro Dias Leite


Planalto deve barrar projeto de lei da Fenaj


‘Mesmo com as discussões ainda em andamento, o Palácio do Planalto já encontrou justificativa técnica para vetar a proposta da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), aprovada no início do mês no Congresso, que amplia de 11 para 23 as funções da categoria.


O projeto de lei que regulamenta a profissão de jornalista modifica um decreto de 1969 e obriga repórteres fotográficos, cinegrafistas e comentaristas a terem o diploma universitário para exercer a profissão, o que até então não era exigido.


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem até quinta-feira da semana que vem, dia 28, para sancionar ou vetar o projeto, apresentado em 2003 pela Fenaj. Pressionado por entidades do setor, como associação de jornais e de assessores de imprensa, Lula deve vetá-lo.


Técnicos do Planalto argumentam que o texto está ‘mal redigido’, ‘contraditório’ e ‘confuso’, o que abre espaço ao presidente para vetá-lo com base no ‘interesse público’. Evitaria, assim, desgaste com o setor patronal da mídia, todo contrário ao projeto, às vésperas das eleições presidenciais.


O texto começa, nesta semana, a ser analisado pelos técnicos da Casa Civil. Só depois de análise jurídica detalhada e das avaliações de todos os ministérios envolvidos, o projeto é enviado à mesa do presidente.


A relação do governo Lula com a imprensa tem sido tensa desde o início da gestão petista.


O clima se agravou em 2004, quando o Planalto enviou ao Congresso a proposta de criação do CFJ (Conselho Federal de Jornalismo) com o objetivo de ‘orientar, disciplinar e fiscalizar’ o exercício da profissão e das atividades de jornalismo -inclusive com possibilidade de cassação dos registros profissionais. À época sob críticas de entidades do setor, Lula retirou o projeto da pauta.


Hoje, a pressão pelo veto é parecida com a enfrentada pelo CFJ. Lula tem recebido cartas de entidades, como a ANJ (Associação Nacional dos Jornais), cobrando o veto total do projeto. ‘Não somos contra o diploma, mas sim contra a exigência do diploma. O projeto é ruim, pois pode engessar talentos, como diagramadores, chargistas e outros’, afirmou Fernando Martins, diretor-executivo da instituição.


Ontem, Lula recebeu também outros dois documentos, um da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) e outro do Conferp (Conselho Federal dos Profissionais de Relações Públicas), pedindo veto ao projeto.’


***


Entidade critica ‘histeria’ da mídia e diz que pressão é ‘golpe’ contra a categoria


‘Preocupada com o que chama de ‘histeria’ de setores da mídia contra a proposta que amplia as funções dos jornalistas, a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) decidiu se mexer para que o Palácio do Planalto não ceda à pressão para vetar o projeto. Para isso, cobra apoio de setores do Congresso, da CUT e da OAB.


Para o presidente da Fenaj, Sérgio Murillo, a pressão contrária ao projeto é uma tentativa de ‘golpe’ contra a categoria. ‘Nós entregamos essa proposta em 2003 e só agora [os contrários às mudanças] decidiram acordar’, afirmou.


Murillo, porém, diz saber do poder da campanha contrária à proposta. Semanas atrás, por exemplo, o governo optou pelo padrão japonês de TV digital, preferido das emissoras de TV. Além disso, avalia que o momento eleitoral pode prejudicar. ‘É preciso acabar com o clima de histeria que criaram’.


Segundo ele, os profissionais já atuantes não serão prejudicados, caso Lula sancione o projeto. ‘A lei não retroage. Quem já está no mercado tem direito adquirido’, afirmou Murillo, que destacou no texto a inclusão da função de assessor de imprensa e a consolidação das funções para quem possui curso superior. (ES E PDL)


O PROJETO


O QUE É: Apresentado em 2003 pela Fenaj e adotado por um deputado do PSC, modifica decreto que regulamenta a profissão de jornalista


O QUE MUDA: Amplia as funções da categoria de 11 para 23. Obriga o diploma a repórteres-fotográficos, cinegrafistas e comentaristas


PRAZO: O presidente tem até o dia 28 para sancionar ou vetar o projeto, criticado por entidades como a ANJ (Associação Nacional de Jornais)’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Aritmética


‘‘O sétimo dia da ofensiva contra o Hezbollah’, anunciou Chico Pinheiro, enumerando os mortos de Israel (‘1 pessoa’) e depois do Líbano (‘mais de 30’) -e sublinhando que ‘nenhum dos lados’ quer parar.


Na fantasia global, seriam dois lados iguais entre si. Mas, como perguntou Janio de Freitas na Folha de ontem, ‘a quantos libaneses equivalerá um soldado do extremismo belicista que se impõe em Israel?’


Ou melhor, com as manchetes de ontem nos sites, na linha ‘Ataque israelense mata uma outra criança brasileira’, na Folha Online, a quantos brasileiros?


DIVERTIDO


Quinta tem grande festa do novo Mercosul na Argentina. É o que vêm anunciando os dois jornalistas que cobrem o tema sem trégua: Sergio Leo, no ‘Valor’ e em seu blog, e o editor de América Latina do ‘Financial Times’, Richard Lapper, no papel e on-line.


Eles destacam o potencial econômico do bloco ampliado -e o primeiro até brinca que ‘será divertido este Mercosul com Hugo Chávez de sócio’.


UM ATRÁS DO OUTRO


No fim das manchetes do ‘Jornal Nacional’, só o anúncio da pesquisa Datafolha, nada do resultado. Depois vieram o salto de Heloísa Helena e as oscilações tanto de Lula como de Geraldo Alckmin.


São números que surgem após duas semanas em que o mesmo ‘JN’, dia após dia, com exceção, cobriu as campanhas dos três citados e de Cristovam Buarque -e só.


Mas já começam agora a aparecer José Maria Eymael, um certo Luciano Bivar etc.


REVEJA O ‘JN’


Semana passada, do ex-blog de Cesar Maia, do PFL, em uma curiosa ‘carta aberta’ a Heloísa Helena, do PSOL:


– Trabalhando com pesquisas qualitativas, verificamos com preocupação que sua contundência na TV está passando da posição firme para a percepção de arrogância. Cuidado, reveja os seus pronunciamentos no ‘JN’, um atrás do outro, e avalie.


Dele, depois, sobre a notícia do fim de semana de que a candidata ‘foi convencida a abrandar o discurso para não assustar a classe média’:


– Muito bem, senadora! Mas, além de suavizar o conteúdo, o tom da voz e os olhos devem ser suavizados.


O AMOR É LINDO


Reação do blogueiro Guilherme Fiuza, do Nomínimo:


– Aí está o que faltava. Cesar Maia como fiel escudeiro de Heloísa Helena. Política é paixão. E o amor é lindo.


MIXARIA


Em primeiro lugar entre os ‘+ lidos’ da Folha Online, lá estava afinal ‘a lista dos 57 parlamentares investigados pela CPI dos Sanguessugas’. Encabeçando, um tucano.


Reação de bate-pronto do blog de Reinaldo Azevedo:


– O PT dirá: ‘Viram? Não há petista na lista’. Nesta primeira leva, ao menos, não. Mas talvez não haja mesmo. Esse esquema das ambulâncias, no conjunto, é um negócio milionário. Tomado caso a caso, rende uma mixaria. O PT não liga para mixaria.


NAS MÃOS


O blog de Fernando Rodrigues noticiou, antes de sair a lista, uma consulta do PDT à Justiça Eleitoral, argumentando que ‘já há provas para que os sanguessugas sejam considerados inelegíveis’.


Com a lista em 57 nomes e subindo, o PDT ‘pode causar uma revolução na eleição’, como já se viu em 2002. Mas está ‘tudo nas mãos de Marco Aurélio Mello’. Ele mesmo.


PRIMEIRO ATOR


Anunciada no final do ‘JN’, a morte foi seguida de menções a novelas, pouco mais. Se o leitor permite, eu fui espectador e até ensaiei Raul Cortez no teatro: ele foi muito mais que ‘um ator de primeira linha’; foi o maior.’


CÓDIGO DA VINCI
Luiz Felipe Pondé


A fofoca Da Vinci


‘IMAGINEMOS UM best-seller que juntasse fragmentos da teoria darwinista, cacos de física quântica barata, pitadas de ufologia mística e uma história mal contada do povo maia. Segundo nosso romance, há milênios, alienígenas entraram em contato com os maias.


Historiadores recentes determinaram que esse povo era agressivo, conhecedor da astronomia, canibal e, para alguns, ‘espiritualmente mais evoluído’ do que nós, pois já praticavam, naquela época, o aborto como instrumento de melhoria da qualidade de vida e de auto-estima. Outro dado etnográfico importante é que os maias viviam sob um matriarcado feroz, no qual os homens, após fecundarem 2012 mulheres, tinham seu órgão sexual cortado para que ficassem menos fálicos.


Após complexos cálculos quânticos, segue o romance, os alienígenas decidiram usar os maias para introduzir um vírus gay na humanidade, cujo objetivo era tornar a espécie estéril, além de, como efeito colateral, gerar um profundo sentimento de culpa em quem continuasse desejando o outro sexo. As primeiras cobaias foram os próprios maias, que mergulharam numa guerra civil entre os ‘libertários’ e os ‘conservadores’, sendo esta a causa real de sua extinção. Os alienígenas precisavam da Terra para colonização, por isso era essencial exterminar seus ‘donos’.


Nosso romance se desenrolaria entre Nova York e as selvas da América Central e teria como protagonistas um homem e uma mulher, alguns dos últimos espécimes heterossexuais, que sofreriam uma perseguição cruel de clones gays a serviço da extinção da espécie.


Ao final, nossos heróis seriam salvos por monges beneditinos que descobriram um antídoto para o vírus, mas que não podiam divulgá-lo, pois governos, universidades e empresas já atuavam sob tutela dos alienígenas e, por isso, difamavam nossos monges dizendo que eles eram pedófilos.


Escândalo: ongs, universidades, intelectuais e sociedades de classe se revoltariam (com razão) diante de tamanho uso absurdo de teorias científicas a serviço de preconceitos atávicos. Mas a história é boa, e alguém faz um filme (para ‘sorte’ de nossas vítimas difamadas, um péssimo filme, ainda que com grandes astros). Tentariam proibir o filme? Revelariam seu verdadeiro intento machista homofóbico? Os direitos humanos condenariam o evento?


O ‘Código Da Vinci’ apresenta características que o tornam interessante pra muita gente semiletrada -mas que não sabe que é semiletrada e se considera ‘crítica’. O livro fala mal da Igreja Católica, e falar mal da igreja é o único ‘preconceito crítico’.


Apresenta a Idade Média de forma infantil, como um período no qual se queimavam mulheres inteligentes todos os dias (o que é idiota e falso historicamente; os comunistas devem ter matado mais mulheres, mas o repertório semiletrado sobre a Idade Média é construído por Hollywood).


Faz brilhar a Ordem dos Templários misteriosos, esses heróis medievais dos semiletrados, especialistas em tudo, das melhores posições no sexo sagrado à ciência moderna, do destino da Sra. Jesus à física quântica. Além disso, o ‘Código Da Vinci’ prestaria um serviço irresistível à causa (justa) da recuperação da imagem da mulher na história do cristianismo (o que o elevaria a categoria de obra ‘libertária’).


Pena que isso seja à custa do uso falso dos evangelhos gnósticos e da arqueologia bíblica (o Evangelho de Maria Madalena ou o de Filipe nada nos dizem sobre a ‘vida de Caras Da Vinci’ de Jesus e Madalena), além da difamação direta de instituições e de seus integrantes.


Pouco importa aqui a adesão ou não às vítimas da fofoca Da Vinci, o fato é que, se lembrarmos das manifestações iradas contra o filme ‘A Paixão de Cristo’, de Mel Gibson, podemos perceber o que move a recepção de fenômenos como esse. O motor da reação nada tem a ver com a preocupação com o conhecimento ou com a história do cristianismo, mas, simplesmente, com essa coisa que disfarça sua verdadeira identidade de preconceito e que infesta a vida com o pensamento: as tolices do multiculturalismo e as militâncias de classes.


LUIZ FELIPE PONDÉ, 47, filósofo, é professor do programa de pós-graduação em ciências da religião, do Departamento de Teologia da PUC-SP e da Faculdade de Comunicação da FAAP. É autor de, entre outras obras, ‘O Homem Insuficiente’ (Edusp).’


MEMÓRIA / RAUL CORTEZ
Folha de S. Paulo


Raul Cortez morre aos 73 anos em SP


‘O ator Raul Cortez morreu ontem às 20h15. Ele estava internado desde o dia 30 de junho no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O corpo será velado hoje no teatro Municipal, a partir das 7h, e cremado na Vila Alpina (zona leste de SP). Cortez morreu aos 73 anos, em decorrência de um câncer na região do estômago. Ele já havia mencionado sua doença em entrevistas à imprensa.


Em nota oficial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte do ator. ‘A cultura brasileira acaba de perder um talento inigualável. Raul Cortez foi um ator excepcional, seja no teatro, no cinema ou na televisão. A obra de Raul Cortez, que marcou a história da dramaturgia brasileira, deixa para as novas gerações um exemplo de seriedade e dedicação à arte.’


Cortez nasceu em 28 de agosto de 1932, na cidade de São Paulo. Em 1955, entrou para o grupo Teatro Paulista de Estudante e, no ano seguinte, ingressou no teatro profissional com um papel menor, na peça ‘Eurídice’, no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC).


Foi no começo da década de 1970 que o ator iniciou sua coleção de prêmios importantes do teatro brasileiro. Recebeu seu primeiro Molière em 1972, por sua atuação em ‘Rapazes da Banda’.


Em 1976, por seu desempenho em ‘A Noite dos Campeões’, foi novamente contemplado com o Molière. Ganhou também, no mesmo ano, o prêmio da Associação dos Críticos de São Paulo, o prêmio Governador do Estado e o troféu Mambembe.


Na década anterior, em 1963, Cortez atuou em ‘Pequenos Burgueses’, montagem do Oficina, sob direção de José Celso Martinez Corrêa. No mesmo ano, nasceu Lígia, sua filha com a atriz Célia Helena. Ambos contracenariam, em papéis de pai e filha, nas peças ‘Cheque ou Mate’ e ‘Rei Lear’. O ator teve uma segunda filha, Maria, com a atriz Tânia Caldas. Cortez deixou duas netas.


Cortez conquistou amplo reconhecimento e sucesso popular com suas atuações em novelas de TV. Fez parte do elenco de ‘Água Viva’, ‘Baila Comigo’, ‘Partido Alto’, ‘Rainha da Sucata’, ‘O Rei do Gado’ e ‘Terra Nostra’, entre outras. Sua última aparição na teledramaturgia aconteceu na série ‘JK’, da Globo, neste ano.


Raul Christiano Machado Cortez cresceu com três irmãos e duas irmãs numa família estável de classe média. Passou a infância num casarão de Santo Amaro, então um subúrbio rural da capital paulista.


O pai, advogado, via as qualidades de ator do filho, mas as interpretava com outros olhos e aspirações. A visão paterna se dissiparia quando, já estudante de direito, Cortez aos poucos foi voltando, em peças de teatro amador, ao lazer do quintal de Santo Amaro. Consumada a opção, o pai nunca o perdoaria: nunca assistiu a uma interpretação de Cortez.


Necessidades prosaicas de sustento retardaram por alguns anos a prevalência da vocação verdadeira. Raul foi resignado funcionário público, geriu medíocre agência de publicidade, fez pontas em comerciais infames, até que amizades do meio teatral lhe conseguissem ‘Eurídice’, protagonizada no Teatro Brasileiro de Comédia por Cleyde Yáconis e Walmor Chagas.


Era um papel de figurante, mas que o fez vibrar antecipadamente: caberia a ele ler a carta de Eurídice (Cleyde) a Orfeu (Walmor). Finalmente sobrevinha o reconhecimento do poder mágico de sua voz, que falhou no momento crucial.


Os papéis


Quando afinal se fez ouvir, a voz redimiu esse fiasco inaugural e ganhou outras oportunidades para Cortez. Não oportunidades de dominação imediata do meio, mas de ascensão gradual, que abrangeria papéis coadjuvantes do repertório da Companhia Cacilda Becker e participação no aplaudido quarteto declamador ‘Os Jograis de São Paulo’.


Aprenderia tudo no próprio ofício. Provou versatilidade em mais de 60 peças e 25 filmes, mais outras tantas novelas, tanto em papéis que lhe exigiram vestir-se de mulher (‘As Boas’) quanto expor-se nu (‘Os Monstros’, ‘O Balcão’), tanto em monólogos (‘Ah América’, ‘Um Certo Olhar – Pessoa e Lorca’) quanto em trabalhos com a maioria dos diretores e atores de primeira grandeza.


Entre as exceções, Paulo Autran: cada vez que se viram num teatro, pelo menos um dos dois estava na platéia.


REPERCUSSÃO


JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA, diretor de teatro, com quem trabalhou em ‘Pequenos Burgueses’ e ‘As Boas’


‘Era o nosso melhor ator vivo, a morte não combina com ele. Bebeu a vida em grandes goles. O Raul não tinha nada de politicamente correto, era temperamental, era vedete, era estrela. Eu não consigo dizer que ele era, porque será sempre’


ANTUNES FILHO, diretor de teatro, com quem trabalhou em ‘A Hora e a Vez de Augusto Matraga’


‘A gente se amava, se detestava, às vezes ficava sem se falar, mas, quando nos encontrávamos, olhávamos um para o outro e nos divertíamos. É pena que não tenho mais esse cara para a gente brigar, se abraçar, fofocar…’


FERNANDA MONTENEGRO, atriz, com quem atuou em ‘O Outro Lado da Rua’


‘Raul tinha uma inquietação criativa grande. Uma perda muito grande, para a qual não há peça de reposição’


BENEDITO RUY BARBOSA, autor das novelas globais ‘O Rei do Gado’, ‘Terra Nostra’ e ‘Esperança’


‘Quando você tem um ator como ele na mão, é um casamento mental. Ele valorizou cada fala que dei a ele’


TÔNIA CARRERO, atriz


‘Era capaz de ‘governar’ qualquer texto. É uma perda legítima’


LIMA DUARTE, ator


‘Fica um grande brilho pessoal. Morrem com ele mil personagens e uma página bonita e sensível do teatro’


AGUINALDO SILVA, autor de ‘Senhora do Destino’


‘O Raul era uma das pessoas mais bem-educadas deste país. Temperamental, como todo artista, mas um gentleman’


LAURA CARDOSO, atriz


‘Tive uma crise de choro quando soube. Ele era um ator gigantesco’


JOSÉ RENATO, diretor, com quem fez ‘Rasga Coração’


‘O Raul era, principalmente, uma pessoa muito generosa, que batalhou junto com a gente da classe teatral em vários momentos’


MARCOS BERNSTEIN, cineasta que o dirigiu em ‘O Outro Lado da Rua’ (2004)


‘Raul trazia a energia do teatro para certos papéis televisivos, que fugiam ao naturalismo, sem extrapolar para o não-crível’’


Sergio Salvia Coelho


Nos palcos, foi protagonista de grandes diretores


‘Raul Cortez sempre foi um provocador, ou seja, alguém que seduz o outro ao desafiá-lo. Contrariando o desejo do pai -que o queria advogado- pelo amor ao teatro aprendido desde a infância nos quintais do bairro de Santo Amaro, subiu ao palco pela porta da frente: contracenando com Cleyde Yáconis e Walmor Chagas no Teatro Brasileiro de Comédia. A peça era ‘Eurídice’ e, quando faria a sua primeira intervenção -a leitura de uma carta de Eurídice a Orfeu-, perdeu a voz, talvez por exigir o máximo de si mesmo desde o início.


Mantendo essa obstinada auto-exigência -que estendia com rigor a seus colegas de palco-, sua voz soou desde então em momentos-chave do teatro brasileiro. Integrou a companhia de Cacilda Becker, na qual conheceu Célia Helena, formando assim uma parceria fecunda e plena na vida e nos palcos: ambos com o mesmo talento e a mesma ética, ambos empenhados em compartilhar isso por meio da formação de jovens atores, responsabilidade hoje endossada com igual firmeza pela filha Lígia Cortez.


Seu nome está igualmente associado ao de Antunes Filho, em ‘Yerma’, de García Lorca, de 1963, e ‘Vereda da Salvação’, de Jorge Andrade, de 1964. Entre essas duas montagens, fez o Teteriev de ‘Pequenos Burgueses’, de Gorki, na montagem antológica do teatro Oficina, o que lhe rendeu os mais importantes prêmios da época: o Saci e o Governador do Estado. Voltaria a trabalhar com Antunes anos depois, em ‘A Hora e a Vez de Augusto Matraga’ (1986) e ‘Drácula’.


Seu arrojo o fez participar de montagens polêmicas: ‘Os Monstros’, de 1968, um dos primeiros happenings do Brasil, e sobretudo no ‘Balcão’, de Jean Genet, dirigido por Victor Garcia no teatro Ruth Escobar, onde ficava nu. Esse despudor também era ostentado em montagens que expunham sem disfarces a temática homossexual: surgia transvestido em ‘Rapazes da Banda’, de 1970, assim como em ‘Greta Garbo, quem Diria, Acabou no Irajá’.


Chamado para fazer o protagonista de ‘Rasga Coração’, a peça-testamento de Oduvaldo Vianna Filho, pensou primeiro em recusar, por não ter se engajado politicamente em sua vida pessoal tão intensamente quanto o personagem exigia. Mudou de idéia ao saber que sua segunda filha, Maria, estava sendo amamentada no mesmo quarto no qual Vianninha havia morrido: ‘Que engraçada maneira que Vianna arranjou de me dar a resposta’.


Seu Manguari Pistolão se tornou outro personagem inesquecível de uma extensa galeria que inclui o ‘Lobo de Ray-ban’ de Renato Borghi (1987).


Fez espetáculos-solo marcantes, nos quais cantava e dançava: ‘Ah..mérica’ (85) e ‘Um Certo Olhar’ (99), que entremeava com sua bem-sucedida carreira na TV. Mas sua consagração talvez tenha vindo com o ‘Rei Lear’ (2000), montagem de Ron Daniels, na qual contracenava com a filha Lígia.


Foi nessa ocasião que tive notícia da peculiar pedagogia de Cortez. Um aluno meu, que participava da montagem fazendo uma ponta na qual teria que entregar uma mensagem nas mãos do Rei, disse-me que recebeu o seguinte desafio na coxia, assim que começou a temporada: ‘Você está encrencado. Cada dia eu vou fazer isso de uma maneira diferente’.


A morte de Raul Cortez, como foi a de Vianninha, serve para nos instigar a seguir em frente. O teatro, como o cinema e a TV, está em luto, deixando de lado preconceitos e mesquinharias. Que o muito que ele fez inspire o muito que se há de fazer ainda.’


Inácio Araujo


Trajetória tem altos e baixos


‘Se cada ator devesse deixar um filme apenas para ser lembrado, o de Raul Cortez seria ‘O Caso dos Irmãos Naves’ (1967), de Luis Sérgio Person, onde faz um dos irmãos presos e condenados por um assassinato com o qual não tinham nada a ver.


Cortez se destaca ao criar um personagem em que a submissão superficial ao poder não impede que transpareça a revolta e o espanto com a situação que vive. Em 2001, fez o pai no belo ‘Lavoura Arcaica’, de Luiz Fernando Carvalho.


Ao longo de sua carreira, esteve envolvido em comédias (de ‘Beto Rockfeller’, a ‘Os Trapalhões no Auto da Compadecida’), policiais (‘Pecado sem Nome’ ou ‘A Grande Arte’), eróticos (‘Amor de Perversão’), políticos (‘Tensão no Rio’), dramas (‘Vera’) e mesmo essa mistura de documentário e melodrama que é ‘Cinema de Lágrimas’, de Nelson Pereira dos Santos.


Numa cinematografia irregular, alternou poucos bons filmes com uma maioria de trabalhos medíocres. Seu nome pode ser encontrado em inúmeros filmes populares.


Nisso, aliás, não se afasta da média brasileira. E nem há no fenômeno nada que possa desabonar sua carreira: a vida do ator de cinema parece consistir, não raro, na busca de um filme que o eternize.


Cortez fez vários em que sua presença foi decisiva para o bom resultado.


E teve sorte: mesmo depois de sua morte, quem o vir em ‘O Caso dos Irmãos Naves’ reconhecerá ali um ótimo ator em um ótimo filme.’


Laura Mattos


Carreira deslancha na década de 80; papéis italianos marcam atuação recente


‘Foi já quarentão e veterano no cinema e nos palcos que Raul Cortez deslanchou na televisão. Até então, atuara em novelas da TV Excelsior, Tupi e Bandeirantes. Mas foi em ‘Água Viva’, de 1980, que iniciou uma seqüência de papéis marcantes na Globo, emissora na qual encerrou a carreira.


Na estréia global, foi um cirurgião plástico que disputava com o personagem de Reginaldo Faria o amor de uma moça (Betty Faria). No ano seguinte, interpretou o pai dos gêmeos (Tony Ramos) em ‘Baila Comigo’. Em 1984, teve uma das mais marcantes atuações, em ‘Partido Alto’, como o bicheiro Célio Cruz. Em seu site oficial, Cortez conta uma história curiosa desse tempo, quando teve sua casa invadida. ‘Corri aos berros e me deparei com os ladrões. Quando me viram, baixaram as armas e saíram imediatamente. Tempos depois, foram capturados e, no interrogatório, responderam que se espantaram ao ver Célio Cruz.’


Na década de 90, o ator interpretou uma seqüência de papéis italianos em novelas de Benedito Ruy Barbosa. O primeiro, em 1996, foi Jeremias Berdinazzi, em ‘O Rei do Gado’. Era rival de Bruno Mezenga (Antonio Fagundes). Em 1999, foi Francesco Magliano, em ‘Terra Nostra’. Na trama, a atriz Maria Fernanda Cândido formou com Cortez um par romântico de muito sucesso. Apesar da diferença de idade, o casal tinha uma química rara até entre mocinhos. Galante, Francesco chamava a amada de ‘amore mio’, expressão que se popularizou à época.


A trinca ítala se encerrou com ‘Esperança’, em 2002, não tão bem sucedida como as anteriores, em que ele interpretou Genaro, pai do herói.


Seu último trabalho foi uma participação especial na minissérie ‘JK’ (2006). Mas em ‘Senhora do Destino’ (2004), quando descobriu a doença, Cortez se despediu do público com o irresistível charme do Barão de Bonsucesso.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Debate da Record terá púlpito e platéia VIP


‘Os debates que a Record promoverá entre candidatos à Presidência (4 de setembro) e aos governos estaduais (11/9) terão o formato de arena e uma platéia só de VIPs _principalmente atores das novelas da emissora, além de apresentadores e celebridades convidados.


Na arena, os políticos ficarão em pé e se apoiarão em púlpitos. A Record prevê somente seis candidatos (os mais bem colocados nas pesquisas): três ficarão de um lado e outros três, de outro. Eventualmente, eles poderão se encarar _e a idéia é essa: provocar o ‘olho no olho’. A posição de cada um será determinada em sorteio prévio.


De acordo com a Record, essas regras foram aprovadas na semana passada por assessores dos candidatos à Presidência e ao governo de São Paulo. Hoje, serão submetidas aos aspirantes ao governo do Rio.


Contrariando a especulação de que o presidente Lula não participará de debates, o PT tem mandado representantes a todas as reuniões com as redes de TV. Já o tucano José Serra, líder nas pesquisas para o governo de SP, não enviou assessor à reunião na Record.


A platéia VIP servirá para ‘enfeitar’ a transmissão, em cortes rápidos quando os candidatos não estiverem falando. Não poderá fazer perguntas.


A Record pretendia usar cenário virtual com a projeção de videoteipes, mas a idéia foi abortada porque houve rejeição dos assessores dos partidos.


SEXO NÃO É TUDO Apesar de toda a polêmica, a primeira semana da novela ‘Páginas da Vida’ não chegou a ‘arrebentar’ no Ibope. Seus primeiros seis capítulos deram 46 pontos de média. ‘Belíssima’ e ‘América’ registraram 49 pontos no mesmo período.


BOA NOTÍCIA Está previsto para 27 de setembro o lançamento em DVD da microssérie ‘Hoje É Dia de Maria’. Segundo a Globo, serão vendidas as íntegras das duas temporadas do programa, mais o ‘making of’ e extras.


MÁ NOTÍCIA Apesar de lidar com o universo infantil, ‘Hoje É Dia de Maria’ teve seu DVD classificado como impróprio para menores de 12 anos, por causa de cena em que o pai da pequena Maria tenta violentá-la.


ULTIMATO NO SBT 1 Silvio Santos mandou um ultimato a Carlos Massa, o Ratinho: seu programa ganhou uma sobrevida (continuará aos sábados, por enquanto), mas terá que melhorar muito o conteúdo _se não vai sair do ar.


ULTIMATO NO SBT 2 A insatisfação não é só com a audiência do ‘Programa do Ratinho’ (sete pontos). O dono do SBT quer que a atração seja leve e divertida. O programa tem passado por um controle de qualidade _que já vetou até entrevista com Paulo Maluf.


MUSICAL NA GLOBO A Globo exibirá no dia 30, após ‘Sob Nova Direção’, a cerimônia do Prêmio Tim 2006, que será gravada uma semana antes no Teatro Municipal do Rio. A direção será de J.B. de Oliveira, o Boninho.’


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O Globo


Quarta-feira, 19 de julho de 2006


MEMÓRIA / RAUL CORTEZ
Obituário


Raul Cortez, o ator dos cem personagens


‘SÃO PAULO e RIO. O paulistano Raul Christiano Machado Cortez nasceu no bairro de Santo Amaro, em 28 de agosto de 1932. De família tradicional, ele sempre contou que foi impossível convencer o pai a aceitar sua carreira artística. Aos 22 anos, contrariando a família, ele trocou a a advocacia pelos palcos. ‘Meu pai nunca me viu atuando. Não tenho ressentimentos, acho que ele é que perdeu’, afirmou o ator certa vez. Ele gostava de dizer que não se achava bonito, mas sedutor. Era considerado galã, principalmente nos anos 70, mas costumava ser taxativo quanto ao rótulo: ‘Não me interessa como ator’. Entre seus sucessos no teatro, na televisão e no cinema, estima-se que tenha feito cerca de cem personagens. Em seu currículo há 66 peças teatrais, 20 novelas, seis minisséries e 28 filmes.


Um de seus momentos mais importantes foi em 1979, na peça ‘Rasga coração’, de Oduvaldo Vianna Filho. Com ela, ganhou o prêmio Molière de melhor ator. A obra venceu o concurso de dramaturgia do Serviço Nacional de Teatro em 1974 e foi censurada logo depois. A estréia nacional só aconteceu após cinco anos. Foi apontada pela crítica como a obra-prima de Vianninha.


Antes disso, em 1966, Raul Cortez fez a novela ‘Ninguém crê em mim’, na TV Excelsior. Depois, na Bandeirantes, fez ‘Os miseráveis’. Pelo filme ‘Capitu’, ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival de Brasília. Com Cacilda Becker e Walmor Chagas, excursionou pela Europa apresentando montagens como ‘Maria Stuart’ e ‘A dama das camélias’. Em 1969, participou, com o ator francês Gerome Savary, da montagem de ‘Os monstros’. Em 1970, voltou a trabalhar com o revolucionário Teatro Oficina. Raul Cortez também participou do Living Theatre, do americano Julien Beck, e fez sucesso interpretando o compositor Salieri em ‘Amadeus’, do inglês Peter Shaffer.


Sem papas na língua, ele disse numa entrevista: ‘Acontece que detesto trabalhar com atores funcionários públicos. Muita gente não entende que o teatro não pode ser uma rotina, tem que ser um jogo vivo todo dia’.


Sua estréia em novelas da Rede Globo aconteceu em 1980, com ‘Água viva’, interpretando o cirurgião plástico Miguel Fragonard. Depois disso, fez ainda ‘Baila comigo’, ‘Jogo da vida’, ‘Partido alto’, ‘Mandala’, ‘Rainha da sucata’, ‘O rei do gado’ e ‘Terra nostra’. Sua última novela inteira foi ‘Senhora do destino’, de Aguinaldo Silva (2004), em que interpretou o barão de Bonsucesso. Enquanto as gravações continuavam, o ator precisou ser operado para a retirada de um tumor maligno e ficou afastado por algumas semanas. Este ano, fez uma participação especial na minissérie ‘JK’.


Raul Cortez morreu ontem à noite, aos 73 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, em conseqüência de complicações relacionadas ao câncer no intestino delgado e no pâncreas, que se espalhou pela região abdominal. O ator estava internado desde o dia 30 de junho. O corpo será velado hoje, a partir das 7h, no Teatro Municipal de São Paulo. Depois, será cremado. Raul Cortez deixa as filhas Lígia Cortez, atriz, do casamento com Célia Helena, e Maria, do casamento com Tânia Caldas, além de duas netas.


Depoimentos


‘A cultura brasileira acaba de perder um talento inigualável. Raul Cortez foi um ator excepcional, seja no teatro, no cinema ou na televisão. A obra de Raul Cortez, que marcou a história da dramaturgia brasileira, deixa para as novas gerações um exemplo de seriedade e dedicação à arte’


LUIZ INÁCIO LULA DA SILVAPresidente da República


‘Raul foi um dos maiores atores brasileiros da segunda metade do Século XX. No teatro, esteve em todas as peças marcantes, e na TV era insubstituível. Trabalhei com ele em ‘Partido alto’ e ‘Senhora do destino’, em que ele fez aquela figura fantástica, que foi o Barão de Bonsucesso’


AGUINALDO SILVA Autor de novelas


‘O que primeiro me vem à cabeça é a saudade que vou sentir do meu amigo. Desde que trabalhamos juntos em ‘Terra nostra’ fizemos uma amizade muito bonita. É uma perda para o panorama artístico. Mas o mais forte para mim é a perda do meu amigo’


ÂNGELA VIEIRAAtriz


‘Raul foi uma pessoa com dignidade como ator e pessoa. Acredito que sua obra vai ter continuidade, porque deixou um registro grande. Foi um exemplo, uma pessoa que dignificou a profissão. Mesmo na fase terminal, continuou trabalhando’


PAULO GOULART Ator


‘Vou morrer de saudade. Ele tinha o apelido de Benzinho, que eu dei, porque tínhamos uma amizade muito grande’


BETTY FARIAAtriz


‘Raul era um dos atores que eu já admirava quando era pequeno’


DAN STULBACHAtor


‘Era um ator maravilhoso, ainda poderia fazer muita coisa pela arte’


BÁRBARA HELIODORACrítica de teatro’


TV DIGITAL
Mirelle de França


Rio pode ganhar com chegada da TV digital


‘A entrada da TV digital no país poderá beneficiar a economia do Rio, segundo representantes do governo fluminense e do setor de comunicações. Além do crescimento da produção audiovisual no estado, é possível que o Rio também se torne um importante produtor de conversores – os aparelhos que serão acoplados à TV analógica comum para receber e transformar o sinal de TV digital.


– Está sendo decidido pelo governo se os conversores serão incluídos na Lei de Informática, como elementos dessa indústria. Caso isso aconteça, seremos muito beneficiados. E não estamos sozinhos nessa briga. Conosco estão os estados de São Paulo e Minas Gerais e todo o Sul do país – disse o secretário estadual de Planejamento e Coordenação Institucional do Rio, Tito Ryff, durante seminário sobre TV digital realizado ontem na Associação Comercial do Rio.


Ryff explicou que, caso os conversores sejam classificados como um produto eletroeletrônico, Manaus se tornará forte candidata a receber essas indústrias, devido à política de isenção de impostos que já existe para o setor na região.


O vice-presidente das Organizações Globo João Roberto Marinho acredita que o Rio será um forte mercado de produção de conversores, caso o produto seja enquadrado na Lei de Informática:


– Se isso acontecer (o enquadramento), o Rio pode ser altamente competitivo e disputar essa indústria. Para nós seria melhor, pela proximidade, e também por questões de custo, já que o aparelho chegaria mais barato para os consumidores.


Fórum discute últimos detalhes sobre sistema


Segundo Marinho, as primeiras transmissões de TV digital no país deverão acontecer cerca de um ano depois da conclusão dos trabalhos do fórum criado para discutir os detalhes da regulamentação do sistema brasileiro.


– O decreto de TV digital já saiu com todo um conjunto de regras. E, nele, foi criado um fórum, com representantes de emissoras, indústria e universidades, para discutir pequenos detalhamentos, como a compatibilização do sistema japonês com os softwares criados pelas universidades brasileiras. A velocidade desse fórum é que vai determinar nosso prazo de implantação – disse Marinho.’


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