Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Todd Bishop

‘Dois pesquisadores surpreenderam a audiência num encontro sobre segurança de computadores em fevereiro com a conclusão de que uma versão do Microsoft Windows era mais segura do que um sistema operacional rival Linux. Esta semana, os pesquisadores divulgaram o relatório final, que incluiu outra surpresa: a Microsoft financiou todo o projeto.

Os pesquisadores, do Instituto de Tecnologia da Flórida e da Security Innovation Inc., de Boston, defendem o processo. Dizem que tiveram ‘total controle editorial sobre toda a pesquisa e toda a análise’ no projeto. O relatório detalha seus métodos e eles convidam outros especialistas a examinar e reproduzir seu trabalho.

Mas a revelação da fonte do financiamento do projeto está motivando novo debate sobre algo que, de resto, fora visto como uma notícia encorajadora para a Microsoft numa área em que a empresa enfrenta dificuldades. Os pesquisadores haviam feito a apresentação na RSA Conference, que atrai alguns dos maiores nomes do setor de segurança de computadores.

‘Eram evidências de que a Microsoft estava se saindo melhor, e agora as evidências estão manchadas’, disse Bruce Schneier, fundador da Counterpane Internet Security e antigo conferencista da RSA. ‘Os resultados poderiam ser corretos, mas agora ninguém vai ligar, porque o que todos vêem é uma tendenciosidade que foi revelada.’ Mas um dos pesquisadores, Robert Thompson, da Security Innovation, afirmou que ele e o colega consideraram o relatório final, e não a apresentação anterior, o lugar adequado para fazer a revelação. Além disso, acrescentou, a detalhada apresentação dos métodos de pesquisa no relatório deveria evitar quaisquer preocupações sobre uma potencial parcialidade.

‘Sabíamos que algumas das críticas ao relatório seriam motivadas pelo financiamento da Microsoft’, disse Thompson. Como resultado, continuou ele, ‘nosso próprio requerimento para a metodologia foi o de que ela deveria ser muito aberta e transparente. Queríamos dar a receita às pessoas, para que elas mesmas pudessem recalcular os números.’’



INTERNET
Angela Lacerda

‘‘Não sou gaga, nem maluca,nem burra’’, copyright O Estado de S. Paulo, 26/03/05

‘Ela tem boa dicção, desenvoltura e é acostumada a dar entrevistas. É nutricionista há 25 anos, tem mestrado em Ciências dos Alimentos, é vice-presidente do Conselho Regional de Nutrição. A fama nacional da pernambucana Ruth Lemos, no entanto, surgiu de um episódio daqueles que quem o vive só quer esquecer.

Em uma entrevista ao vivo à TV Globo local no Dia do Nutricionista, 26 de agosto, Ruth usou pela primeira vez um ponto no ouvido. Ficou desesperada com o barulho que escutava e ouvia a própria voz com atraso, como se a frase não viesse completa, impelindo-a a repetir as sílabas finais. Daí nasceu o ‘sanduíche-íche’ que já ganhou versão funk e sampleada.

Copiada, a entrevista do sanduíche-íche foi disseminada na internet e chegou de novo à televisão em fevereiro no programa Pânico, da Rede TV. Ruth virou sinônimo de piada, inspiração para comunidades do Orkut e alvo de charges eletrônicas.

Ainda assimilando o fato de ter se tornado a maior sensação atual da internet brasileira de forma indesejada, Ruth vai entrar na Justiça. A ação será de danos materiais e uso indevido de imagem. Também planeja escrever um livro sobre o episódio que a tornou essa celebridade às avessas. Sua intenção é restaurar sua imagem e alertar para o perigo da exposição leviana das pessoas.

Ruth Lemos virou uma personagem que é motivo de riso. Como a sra. tem lidado com isso?

A princípio, passei por um sofrimento terrível, foi um choque. Eu estava na Paraíba, por causa da morte de uma amiga, quando soube que a entrevista que dei à Globo seis meses antes estava no Pânico. Voltei para o Recife muito abalada. Cheguei a ir a um cardiologista porque a pressão subiu.

Quando foi isso?

Uma semana depois do carnaval. Em seguida, quando estava assimilando a situação, soube por sobrinhos da dimensão que a história havia tomado na internet e das conversas dos jovens em torno do assunto na universidade e em barzinhos.

A sra. acessou a internet?

Sim e o que vi não me agradou. Ver minha voz e imagem ridicularizadas, deturpadas, quando toda a vida primei por uma imagem e atitude profissional corretas foi muito difícil. Muito difícil também é ver um fato que eu imaginava estar no passado se tornar motivo de diversão nacional e eu não poder fazer nada. A única coisa que me conforta é que, mesmo com toda a dificuldade daquele ponto no ouvido, eu não disse nada de errado em relação aos alimentos.

O que mais a preocupa?

Não sei como vai se desenvolver minha vida na área do ensino. Receio oferecer um currículo a uma instituição e ser identificada como ‘a gaguinha do Pânico’ e o currículo nem ser levado em consideração. É algo preocupante.

Qual é o seu objetivo hoje?

Quero virar o jogo e mostrar que não sou gaga, nem maluca, nem burra. Penso até em escrever um livro.

Como seria esse livro?

Imagino um livro com o título Momentos de Ruth Lemos. Penso em contar o que passei e estou passando e fazer algumas reflexões sobre o que acontece hoje com as pessoas. Elas estão tão contidas no riso, há tanta violência, que ficam à procura de algo para se distrair. Também abordaria o perigo da internet. No meu caso eu tenho respaldo, maturidade, reconhecimento profissional, mas uma pessoa que estivesse começando poderia reagir diferente diante de uma exposição assim, poderia desmoronar.’



André Mascarenhas

‘A tecnologia está em todo lugar’, copyright O Estado de S. Paulo, 28/03/05

‘Dono de uma das editoras independentes mais bem-sucedidas do País, Paulo Lima sempre soube colocar a tecnologia a seu favor. Isso não significa dizer que o editor e fundador da revista Trip seja um usuário assíduo de produtos eletrônicos de última geração. Para ele, a boa tecnologia está presente em todas as coisas capazes de facilitar a vida das pessoas. Nas suas palavras, ‘fazer mais e melhor o que você realmente gosta. Seja ou não alguma coisa tecnológica’.

Não é por acaso que dois dos seus produtos tecnológicos favoritos dificilmente seriam lembrados como tal pela maioria das pessoa. Ao atender o pedido da reportagem do Estado para que mostrasse alguns dos equipamentos tecnológicos que mais usa, Paulo tira de dentro de uma sacola sua bota de trekking, da marca Salomon. Apaixonado por viagens, foi com ela que percorreu as trilhas geladas da Cordilheira do Himalaia, no Nepal.

‘Ela é de Gortex, um material que realmente isola a sua ‘pata’ das intempéries. E tem várias camadas de materiais diferentes, borrachas, etc’, diz. Para ele, na bota há ‘muito mais tecnologia do que em muito gadget’.

Paulo também diz que, não fossem os avanços da tecnologia, ele dificilmente poderia, aos 43 anos, ‘dropar’ uma onda como a que se vê na foto acima, clicada em 2003 em um pico chamado Lance s Left, em Sumatra (Indonésia). ‘A prancha de surfe que uso é uma das coisas com maior tecnologia que conheço. O ‘shape’, o material e a linha dela – o que se descobriu em termos de hidrodinâmica -, tudo facilita para me colocar, aos 43 anos, em uma onda que antigamente um cara da minha idade não conseguiria pegar’.

Quando está no Brasil, Paulo utiliza outros recursos para agregar valor a seu surfe. Pela internet, ele se informa sobre as condições do mar. Ao falar das webcams colocadas em algumas das praias do litoral paulista por sites como o www.waves.com.br, recorda de um sonho de quando era garoto: ‘Nos anos 70, no Guarujá, a gente falando ‘imagina se tivesse uma câmera em Maresias’. Dava para calcular um pouco a situação nas outras praias pela ondulação, pelo vento, mas, pô, era sempre uma dúvida. Hoje, ainda não é perfeito, mas você vê como estão as ondinhas até na Bahia, se quiser.’

Pioneirismo na internet

Mas não é só no lazer que Paulo Lima se relaciona com a tecnologia. A Trip, revista que fundou de forma quase que artesanal em 1986, foi uma das primeiras publicações brasileiras a chegar à web. A jogada, realizada em 1996, serviu para confirmar o pioneirismo da revista, com tiragem de 50 mil exemplares. Atualmente, o site www.revistatrip.com.br recebe cerca de 450 mil visitantes por mês.

E parece não ter sido à toa que, a partir de 1997, os negócios da editora se multiplicaram, com a entrada no mercado das publicações customizadas. Hoje, a editora publica, além da Trip, sete outros títulos.

Mas o sucesso do site não veio sem algum esforço de adaptação: ‘Começamos muito timidamente a disponibilizar o conteúdo da revista. Como esse material já era por si uma coisa, vamos dizer, diferente da média – tinha os ensaios das meninas, entrevistas, etc – o site fez um certo sucesso’, relembra.

Mas logo a equipe percebeu que, mais do que apenas transferir o conteúdo da revista, o legal seria aproveitar as ferramentas oferecidas pela web. ‘O nosso site ganhou vários prêmios, e acho que, mais do que tudo, a gente aprendeu e continua aprendendo a lidar com a interatividade, o conteúdo ilimitado e a interação entre a revista, o site e o nosso programa de rádio’, completa. O Trip FM, que comemorou 20 anos em 2004, é veiculado na rádio Eldorado FM na sexta-feira, às 20h.

Apesar de sua experiência positiva, Paulo é bastante crítico em relação aos efeitos da internet no modo de vida contemporâneo. Em uma coluna escrita em meados de 2000 para o Jornal da Tarde, ele relembrava a discussão que tivera com sua equipe anos atrás sobre, ‘afinal, para que serve a internet?’

‘A Trip está em um prédio novo, e estamos nessa época de chuva. Duas vezes neste mês, acabou a luz. E, mesmo sendo de dia, simplesmente todo mundo foi embora! Porque hoje, na maioria das empresas, praticamente não se pode mais trabalhar sem internet. Isso é extremamente preocupante. As pessoas estão esquecendo de bater papo, de fazer reunião, de conversar’, cutuca.

Tecnologia à favor

Mas ele credita ao e-mail, por exemplo, a possibilidade de trabalhar em casa no período da manhã. ‘Tenho tempo para fazer ginástica na hora do almoço, estar com a minha mulher, passear com o cachorro, sabe? Vivenciar a casa mesmo, almoçar em casa. Acho isso maravilhoso’, diz. Além disso, ele acha bom poder acessar as pessoas sem precisar interrompê-las, como acontece com o telefone.

Mas faz questão de ressaltar que não é dependente das mensagens eletrônicas. No final de 2004, em uma viagem à Ásia, ficou 40 dias sem acessar e-mails.

Mais do que entrar nos sites noticiosos tradicionais, o dono da Trip diz que prefere garibar informações em sites menos conhecidos, dedicados a assuntos específicos. Segundo ele, nesses endereços é possível encontrar ‘pérolas de informação’, notícias que geralmente são ignoradas pelos grandes portais.

Recentemente, em um site dedicado ao motociclismo, Paulo deu de cara com a notícia da morte de Adu Celso, o primeiro brasileiro a vencer uma etapa do campeonato mundial de motovelocidade. ‘O cara morreu e simplesmente não saiu uma linha em lugar nenhum. E eu tô entrando em um desses sites de motociclismo e vejo lá uma homenagem a ele. Aí eu dei na rádio e no site. Se você fica na home do Terra, do UOL e do iG, vai ver sempre as mesmas coisas. É Big Brother não sei o quê, mais um caminhão-bomba no Iraque, e por aí vai’, comenta.

Apesar de se considerar um ‘fotógrafo vagabundo, desgraçado’ por não ter paciência para aprender a lidar com as máquinas analógicas, ele diz que, com a tecnologia digital, descobriu o prazer de fotografar. Agora, carrega sua câmera Sony de 5 megapixels a tiracolo. ‘Acho que tenho um bom olhar, até por trabalhar com isso há tanto tempo’, pondera.

Na Trip, sempre apoiou o uso da fotografia digital. ‘Fui um grande incentivador porque acho que, por um tempo, houve uma certa resistência purista’. Pensando também em reduzir custos, procurou ‘forçar a barra’ para que os fotógrafos da casa assumissem a tecnologia. ‘O resultado estético da foto digital para a revista é fantástico’, diz.

Velharias

De volta aos ‘objetos tecnológicos inusitados’, Paulo coleciona aparelhos eletrônicos antigos, como um dos primeiros celulares da Motorola lançados no País. ‘Acho isso aqui o máximo. Isso sim foi um grande avanço’, diz, mostrando, orgulhoso, o ‘fusca’ dos celulares. Com seu celular atual em uma mão e o antigão em outra, compara: ‘Daqui pra cá foi fácil’.

Enquanto explica sua paixão por ‘tranqueiras’, o jornalista mostra outro de seus objetos mais queridos: um par de walkie talkies com uns 30 anos de vida. Ambos estão acomodados ao lado de baterias originais dentro de uma caixa forrada com papel felpudo vermelho, como se tivessem sido abertos naquele mesmo dia. Mas logo Paulo retira da sacola uma versão mais moderna de comunicador, que utiliza quando faz snowboard.

Entre os equipamentos eletrônicos que Paulo Lima guarda, há até espaço para aqueles que ele nunca soube exatamente para que serviam. ‘O nome deste relógio é ‘web anywhere’. Nunca consegui entender direito o que ele faz’, diverte-se. Para ele, o relógio é uma espécie de avô do modelo da marca Polar usado para correr.

Além dos seus aparelhos pessoais, o editor da Trip exibe também pequena coleção de ‘velharias’ que farão parte da decoração da nova sede da revista, um prédio de três andares no bairro de Pinheiros. Há raridades como uma TV que pertencia à avó de um dos sócios da editora e que foi adquirida pela revista logo quando a Trip foi fundada.

A idéia de montar essa espécie de museu funciona quase como uma lição: a tecnologia, presente em quase todos os objetos que estão ao nosso alcance, precisa ser decifrada para ser bem utilizada. ‘Tudo é tão descartável hoje, inclusive as relações pessoais, humanas. É legal ter algumas coisas que você sabe que vão ficar, e que as outras pessoas vão poder ver também’, explica. É sua receita para uma relação – humana ou tecnológica – verdadeiramente duradoura e saudável. Uma boa trip.’



FRANCE PRESS vs. GOOGLE
Folha de S. Paulo

‘France Presse processa Google por usar notícias’, copyright Folha de S. Paulo, 23/03/05

‘A agência de notícias France Presse está processando o site de buscas Google, pedindo indenização de US$ 17,5 milhões, por reproduzir informações de endereços eletrônicos de veículos que assinam seus serviços de fotos e textos jornalísticos.

A France Presse diz que o serviço Google News infringe direitos autorais da agência ao reproduzir pequenas imagens dos sites assinantes, além dos títulos e de algumas frases das reportagens.

O Google prometeu que vai tirar os itens com textos da France Presse de seu site, mas a agência declarou que vai manter o processo porque o dano já foi causado.

Muitos dos links exibidos pelo Google News têm uma imagem em miniatura do site em que está a notícia procurada, junto do título da notícia e das primeiras linhas da matéria.

A France Presse argumenta que o título e as primeiras linhas são a parte principal da matéria, e por isso o Google estaria desrespeitando uma decisão da Suprema Corte americana a respeito de direitos autorais.’