Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

TV Record quer Fernando
Henrique em reality show


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 17 de abril de 2006


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Depois da Copa


‘Entre a Paixão de Cristo e o porto de Suape, em suas andanças nordestinas, Geraldo Alckmin foi parar em Porto de Galinhas.


De lá, deu longa entrevista ao blog de Magno Martins, da Agência Nordeste, e saiu prometendo reabrir a Sudene como ‘um dos meus primeiros atos em favor do Nordeste’.


Mais importante, ecoou FHC e José Serra:


– Defendo a tese de derrotar Lula nas urnas, temos que ter campanha, enfrentá-lo nas ruas, nos debates, no voto, nunca no tapetão.


Mas acrescentou, sem mudar o raciocínio:


– O que vejo com certa apreensão é que, num eventual segundo mandato de Lula, ele teria mais dificuldades de governar.


O debate ocupa a rede há dias, pós-pesquisa Datafolha, em tom mais direto.


Ontem, Vinicius Mota escreveu na Folha Online sobre as ‘duas hipóteses de trabalho’ para o impeachment de Lula, num texto sob o título ‘À vista ou a prazo’.


A primeira hipótese é ‘já’, mas ela enfrenta a barreira da popularidade, da economia em expansão etc. A segunda é o ‘impeachment como hedge’:


– Parte do oposicionismo esboça a teoria do impeachment como seguro contra uma derrota em outubro.


Ano que vem, sem o Congresso e ‘com a repercussão duradoura do escândalo’, tudo vai ser diferente.


No site Nomínimo, com repercussão na blogosfera tucana, Marcos Sá Corrêa anunciou ontem, sob a manchete ‘Reeleição ou impeachment?’:


– Os brasileiros têm a chance de decidir nas urnas se vale a pena votar num presidente que já tem encontro marcado com o processo de impeachment no mandato que vem.


Segundo Kennedy Alencar, na Folha Online, não foi só com Alckmin e a oposição:


– A pesquisa Datafolha surpreendeu Lula e seus principais auxiliares.


E o candidato, sem cuidar se vem aí reeleição ou impeachment, à vista ou a prazo, já desenha o ‘plano de vôo’ até agosto. Vai priorizar o Nordeste, sua ‘fortaleza eleitoral’, São Paulo e Minas Gerais.


Assim pretende chegar ‘em posição de liderança’ ao horário eleitoral, quando vai ‘apanhar muito’ -e também gastar ‘munição para dar a resposta’.


Curiosamente, ao tratar da pesquisa em sua entrevista, também Alckmin adiou o jogo para agosto:


– Você não tem ainda intenção de voto, mas nível de conhecimento. A campanha só começa com a propaganda no rádio e na televisão, depois da Copa do Mundo.


ALVO PREFERIDO O ‘Jornal Nacional’ do Sábado de Aleluia saiu questionando se é o caso de ‘malhar Judas’ diante do novo ‘evangelho’. Para o telejornal, ‘até a voz do povo, que se diz a voz de Deus, ficou dividida’. Opiniões para todo lado. Nas cenas da malhação pelo país, nada de mensalão e seus personagens. Para contraste, o ‘SPTV’ mostrou como a dançarina Ângela Guadagnin (imagem acima) foi a mais visada, num sábado que ‘teve a corrupção como alvo preferido na capital e no interior’


O futuro


‘Lula ou Chávez’ era o título do editorial do ‘Le Monde’ na sexta-feira, com tradução no UOL. Defendia o brasileiro como modelo, contra o venezuelano Hugo Chávez, no conflito desenhado também pela ‘Economist’, pouco antes.


O argumento final:


– A solução brasileira de se submeter às regras do jogo da globalização impõe obrigações que limitam o crescimento. Mas os investimentos na educação e nas infra-estruturas, assim como a abertura da economia, preparam o futuro.


Além de editorial, o jornal publicou análise e despacho. Da correspondente em São Paulo, Annie Gasnier:


– Regularmente ameaçado de destituição, colocado na defesa, Lula permanece popular.


Uma ilusão


No curioso debate virtual a que se lançaram os correspondentes, o do ‘Financial Times’, Jonathan Wheatley, mal se contém. No texto ‘Nada importa’, ontem, pergunta ‘quem liga’ para as alegações de corrupção e logo responde:


– Os investidores externos, não. A maioria está convencida de que este governo é um guardião da ortodoxia fiscal.


Já ele vai ao ataque:


– O governo parece acreditar em seu próprio hype, de que ninguém fez tanto para colocar o Brasil no caminho do crescimento sustentável. Mas até que o governo pare de jogar dinheiro em pensões que não pode pagar e gaste em educação, infra-estrutura e outros indutores, o crescimento real vai permanecer uma ilusão.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Record sonha com FHC em ‘O Aprendiz 4’


‘O nome do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso é o primeiro de uma lista da Record para substituir, em 2007, o publicitário Roberto Justus na apresentação do ‘reality show’ ‘O Aprendiz’. Justus tem dito em entrevistas que o próximo ‘O Aprendiz’, o terceiro, no ar em agosto, será o último dele.


FHC surgiu em discussões internas da cúpula da Record sobre as próximas edições do ‘reality show’ mais ‘capitalista’ da TV -que dá dicas de ‘sobrevivência’ em um ambiente empresarial altamente competitivo e premia o vencedor com um emprego.


Um dos trunfos da Record para tentar seduzir FHC serão as mudanças que estão sendo estudadas para ‘O Aprendiz’ de 2007: o programa continuaria competitivo, com provas que mostrem habilidades empresariais dos competidores, mas o prêmio seria um emprego de gestor de projetos sociais em uma grande empresa.


Assim, no lugar das estratégias comerciais de Roberto Justus, o novo apresentador poderá ensinar um pouco dessa nova área em expansão nas grandes empresas, a da responsabilidade social, como investimentos na formação técnica de jovens carentes.


A Record ainda não fez proposta a FHC. Na emissora, muita gente duvida que ele possa aceitar, mas haverá pelo menos uma tentativa. Procurado pela Folha via assessoria, FHC não se manifestou até a conclusão desta edição.


OUTRO CANAL


Sinergia A parceria com a Gamecorp (produtora de Fábio Luís Lula da Silva, filho do presidente Lula) é vista na Band como promissora. A Gamecorp, que ocupará por dez anos parte da programação da Rede 21 (que passará a se chamar PlayTV), é especialista em games. E, com a TV digital, a convergência entre o televisor e o videogame é certa. A PlayTV poderá se tornar um canal de vendas de jogos.


Tchau Luana Piovani tentou emplacar um projeto de programa infantil na Band. Não teve sucesso.


Didático A Globo, que lançou ontem a promoção ‘Seleção do Faustão’, exibirá comerciais ensinando as pessoas a enviarem mensagens de texto via celular (SMS). É que para participar da promoção, que sorteará 2.006 prêmios, o dono de telefone celular terá que enviar uma SMS para sua operadora. E uma pesquisa da Globo mostra que muita gente não sabe como fazer isso.


Milhagem Há três anos e meio no ar, o ‘Late Show’, programa sobre a relação homem/animal na Rede TV!, será produzido fora de São Paulo pela primeira vez. Hoje, a apresentadora Luísa Mell embarca para o Amazonas, onde fará reportagens sobre meio ambiente. Em julho, ela já tem viagem marcada para o México.


UTI O programa que Márcia Goldschmidt apresentará na Band, e que deve ser gravado em Miami (EUA), deverá tratar de casos médicos.’


HQ
Marco Aurélio Canônico


Eisner ilustra ‘milagres’


‘Como bem define Will Eisner (1917-2005) na introdução de recém-lançado ‘Pequenos Milagres’, os acontecimentos miraculosos são uma questão de crença.


‘Ou você acredita neles ou não. Eu acredito. No quarteirão onde passei minha infância, os milagres aconteciam a toda hora’, explica o desenhista norte-americano, pai do ‘Spirit’ e da narração cinematográfica aplicada aos quadrinhos, naquilo que viria a ser conhecido como ‘graphic novel’.


‘Pequenos Milagres’, HQ escrita por Eisner em 2000 e lançada agora no Brasil pela Devir, é uma volta do escritor ao cenário de sua infância, a mesma avenida Dropsie de Nova York retratada em clássicos como ‘Um Contrato com Deus’ e ‘Avenida Dropsie’.


Eisner ilustra a tradição oral: as quatro histórias que compõe o livro, apesar de apócrifas, têm origem no que ele chama de ‘patrimônio comum’ de sua família. Mas seu trabalho vai além da mera reprodução de uma herança cultural: o autor adiciona aos contos sua arguta observação social e sua capacidade ímpar para retratar -em texto e em traço- os mais variados tipos humanos.


Os personagens de Eisner têm a esperteza típica de quem está cansado de apanhar, como o jovem primo Mersh, da história ‘Mágica de Rua’, ou o tio Amos, de ‘O Milagre da Dignidade’. São figuras como o próprio Eisner, um filho de imigrantes judeus, criado no Brooklyn nova-iorquino em plena Grande Depressão.


Mágica cotidiana


O que chama a atenção em ‘Pequenos Milagres’ é como Eisner, humanizando seus personagens, conta histórias críveis. Os acontecimentos extraordinários, como as mudanças causadas pela súbita aparição de um rapaz misterioso (em ‘Um Novo Garoto no Quarteirão’), são apenas a mágica cotidiana, os pequenos milagres do dia-a-dia, para os que sabem ver.


E, mesmo usando de ironia para caricaturar alguns comportamentos, o autor se abstém de julgamentos morais. Seus contos são surpreendentes justamente porque o encadeamento da ação não desemboca em um final feliz glorioso para os sofredores ou em uma merecida vingança para os injustiçados.


Como na vida real, as coisas simplesmente acontecem e pronto, segue-se a viver.


‘Pequenos Milagres’ tem humor, melancolia e causam no leitor a mesma ‘sensação de espanto’ que Eisner manteve em relação às histórias desde que as ouviu pela primeira vez.


Pequenos Milagres Autor: Will Eisner Editora: Devir Quanto: R$ 27 (112 págs.)’


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O Globo


Segunda-feira, 17 de abril de 2006


ALCKMIN SOB SUSPEITA
Tatiana Farah


‘Estou sendo usado contra um paciente’


‘O acupunturista Jou Eel Jia saltou das colunas sociais e de aconselhamento médico diretamente para o fogo cruzado da política brasileira. Médico do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), Jou mantém uma série de convênios com o governo do estado e sua revista, embora recém-criada, recebeu anúncios de duas estatais. Reservado, tem evitado holofotes. Continua dando expediente todos os dias em sua clínica, mas se esquiva dos jornalistas. Nesta entrevista, por e-mail, conta sua história pela primeira vez:


O senhor é um médico reconhecido, com uma carreira estável. Como está se sentindo em meio às acusações?


JOU EEL JIA: Estou triste por ser usado contra um paciente, que no caso é o ex-governador. Tenho pacientes pertencentes a outros partidos e me sentiria do mesmo modo se fosse usado contra qualquer um deles. Ao mesmo tempo, estou tranqüilo, pois toda a minha vida é pautada pela verdade. Não tenho rigorosamente nada a esconder e sequer desmarquei qualquer uma de minhas consultas.


Desde que começou essa confusão, o senhor conversou com o ex-governador Geraldo Alckmin? Recebeu solidariedade? São amigos há muito tempo?


JOU: Conheci o ex-governador cerca de uns oito ou dez anos atrás, quando ele era vice. Fomos apresentados por um paciente que é amigo dele. Quando começou essa confusão, falei com ele uma única vez e ele também está muito tranqüilo, pois me conhece e sabe que nem eu ou minha equipe recebemos um único centavo do estado para fazer qualquer convênio.


Essa situação de denúncias afetou o seu cotidiano?


JOU: Tenho recebido demonstrações de solidariedade dos meus pacientes, sem exceção. Eles sabem que não querem me atingir, e sim ao ex-governador.


O senhor imaginou que o envolvimento com projetos do governo teria essa repercussão? O senhor se arrepende?


JOU: Eu comecei a trabalhar neste projeto porque, como médico, é minha obrigação ajudar o próximo. Como cidadão também. Cheguei ao Brasil numa sexta-feira vindo da China, quando tinha 12 para 13 anos. Na segunda-feira já estava na escola, sem saber uma única palavra de português. Foi minha professora Iara que me ensinou. Com 16 ou 17 anos, sem ter acabado o segundo grau, passei na Escola Paulista de Medicina. Sou eternamente grato ao Brasil e sei a importância dos professores, que me acolheram e permitiram que eu estudasse. Minha dívida com o Brasil é eterna e, toda vez que puder retribuir, farei isso.


Como surgiu o interesse do governo para o termo de cooperação técnica para o Li’en Chi?


JOU: Aconteceu de modo indireto e foi através de um convênio que tenho há mais de 15 anos com a prefeitura de São Paulo para ensinar acupuntura aos médicos, sempre gratuitamente. Um dos médicos que estava fazendo o curso era da Polícia Militar. Ele me pediu para dar um curso de Li’en Chi aos professores de educação física da PM, que iriam repassar isso aos policiais. A Dona Lu era minha paciente e comentei com ela o trabalho que estava fazendo. Aí ela disse que eu precisava ensinar isso aos professores da rede estadual. Achei ótima idéia, pois poderia retribuir parte das coisas que ganhei dos meus professores para a nova geração. Ela falou com o secretário Chalita (Gabriel Chalita, ex-secretário de Educação) e começamos o trabalho. Volto a dizer: nunca recebi e nunca me foi oferecido nenhum tostão para fazer qualquer curso. Quem deve ao país sou eu, e não o contrário.


O senhor afirma não receber remuneração, como diz também o governo. O senhor trabalha sozinho? Quem cuida das despesas de sua equipe e dos gastos dos cursos?


JOU: O meu trabalho e o da minha equipe é feito gratuita e voluntariamente. Sou eu quem paga todas as despesas da minha equipe, como gasolina, refeições e pedágio. Mas se você está perguntando quem paga os ônibus e a alimentação dos 29 mil professores já capacitados, é a Secretaria de Educação. Os convênios com as outras secretarias não foram para frente, mas todos eram gratuitos.


Quantas pessoas se hospedaram no spa Ch’an Tao no ano passado?


JOU: Foram cerca de 1.800 hóspedes, dos quais 864 eram professores.


Pelo calendário da secretaria, este ano haverá mais 16 cursos, o que leva a crer que serão no mínimo mais 640 professores. O que o senhor tem a falar sobre isso?


JOU: Acho ótimo que a Secretaria de Educação continue com o convênio. Acho que sua pergunta é se eu ganho alguma coisa com isso. Eu ofereço o spa, a estadia e as refeições. Como disse antes, não cobro nada pelo curso nem pelas palestras. A diária normal custa R$ 165 e, dos professores, eu cobro preço de custo, que é de R$ 70. Quem fornece a diária para a estadia dos professores é a Secretaria de Educação e eles podem utilizar o valor que a secretaria lhes destina nos hotéis que bem entenderem. Para mim, é um prazer recebê-los.


No caso da revista ‘Ch’an Tao’, como o senhor obteve os anúncios? A negociação foi feita com quem?


JOU: Como a maioria das revistas, ela sobrevive de anúncios e de compra em banca. Encaminhamos pedidos por escrito para as áreas responsáveis de diversas empresas, tanto públicas quanto privadas.


Por que o senhor ficou encarregado de fazer os anúncios com as estatais e não o pessoal de publicidade da editora, que já fazia isso com as empresas privadas?


JOU: Não é bem assim. Assim como solicitamos para empresas públicas, também pedimos para a iniciativa privada. E conquistamos anunciantes de ambos. O procedimento é o mesmo para qualquer empresa.


Como nasceu a empresa de sua filha Suelyen Jou e de Thomaz Alckmin? O senhor tem participação nela?


JOU: Não participo e a JT é uma empresa minúscula. Como eu tratei o Thomaz, ele aprendeu sobre ervas medicinais. A Suelyen, obviamente, já conhecia. Os dois se tornaram amigos e então resolveram abrir uma microempresa. A Suelyen me perguntou o que eu achava e eu disse que era um negócio difícil, com competidores muito bons e com lojas em shoppings. Mas filhos a gente só controla quando pequenos. E acho muito boa a iniciativa deles, ainda que como negócio eu tenha as minhas dúvidas.’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 17 de abril de 2006


PUBLICIDADE
Carlos Franco


Previdência Privada desafia publicitários e seguradoras


‘Vender um produto pelo qual se paga hoje e se usufrui no médio e longo prazos. Esse é o desafio das agências de publicidade e das instituições financeiras para convencer o consumidor da importância dos planos de previdência privada. Os números mostram que a tarefa está dando resultados: a taxa de crescimento desse mercado foi de 20% ao ano nos últimos cinco anos. Em fevereiro, o dinheiro investido pelo brasileiro nesses planos chegou a R$ 79,728 bilhões (as chamadas reservas técnicas), 26,5% a mais que em fevereiro de 2005, segundo a Associação Nacional da Previdência Privada (Anapp). Desde que foi criada, há 25 anos, a Bradesco Previdência tenta convencer o brasileiro da importância de poupar hoje para ter o que gastar no futuro.


Não é única. Itaú, Sul América, Unibanco AIG, Porto Seguro, Icatu Hartford, Banco do Brasil e várias outras seguradoras têm a mesma tarefa. E, com isso, motivam agências de publicidade a criarem campanhas que sensibilizem aqueles que acreditam que o futuro está longe ou que nunca vão ficarão velhos.


O esforço da Bradesco Previdência, feito primeiro pela agência de publicidade Almap/BBDO e hoje pela Neogama/BBH, pode ser conferido numa mostra organizada pelo maior banco privado do País em sua sede, na Cidade de Deus, em Osasco.


Das páginas do jornal O Estado de S. Paulo, expressivas de cada ano aos comerciais para televisão e anúncios impressos. O que se vê é a evolução da linguagem e uma resposta direta aos fatos que ocorreram no período, no País e no mundo, na tentativa de fisgar o cliente. A Bradesco Previdência começou com o lançamento de um produto que prometia que a pessoa continuaria, no futuro, a ter uma vida feliz como a do presente, permitindo que a família crescesse. Nas imagens, o que se ressaltava era o homem como chefe de família, numa casa confortável cercada de filhos e netos. Depois, os incentivos fiscais, com a criação dos chamados PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) e VGBL (Plano Gerador de Benefício Livre), o foco passou a ser a vantagem do desconto no Imposto de Renda (IR) do primeiro e a facilidade do segundo para quem não precisa declarar o IR.


Hoje, diz o vice-presidente do Bradesco e presidente da Bradesco Seguros e Previdência, Luiz Carlos Trabuco Cappi, a idéia é mostrar ao consumidor que um plano de previdência privada é garantia de qualidade de vida e lazer no futuro. Também a visão das peças publicitárias passou a considerar a mulher que trabalha fora do domicílio. A empresa também acabou optando por um ícone para expressar a importância do produto. ‘Encontramos na árvore, que acabou por ser estilizada como nosso logotipo, a imagem ideal para falar da necessidade de poupar hoje para ter muita sombra e água fresca no futuro’, diz Trabuco.


Com uma carteira de 1,7 milhão de participantes, 39 mil empresas conveniadas, R$ 36 bilhões administrados na carteira de investimentos e mais de R$ 35 bilhões de reservas técnicas, além de um patrimônio líquido de R$ 1,43 bilhão, o Bradesco aponta que o brasileiro tem paulatinamente descoberto a importância da aposentadoria complementar. ‘Hoje, já é comum encontrarmos contratos assinados por quem tem menos de 30 anos, numa expectativa de resgate após 54 ou 60 anos’, diz Marco Antônio Rossi, presidente da Bradesco Vida e Previdência.


O mote que a Neogama/ BBH, de Alexandre Gama, adotou para comemorar os 25 anos dos produtos de previdência privada do Bradesco foi ‘O futuro também faz parte da nossa história’, sem deixar de lado a idéia de que ‘Nós cuidamos de todo o que você quer bem’ e ‘Você em boa companhia’, que transformou a árvore em duas mãos. Todas as ações reforçam a campanha Bradescompleto.


Já o Itaú, continua a apostar no mote ‘feito para você’ também no ramo de previdência privada, onde a preocupação é a mesma do concorrente, mostrar que quem poupa hoje ganha mais amanhã.


Cristiane Magalhães Teixeira, diretora de Comunicação e Marketing do Itaú, diz que ‘não é fácil trabalhar uma comunicação de um produto que quem é jovem evita e quem precisa, dispõe de pouco tempo para garantir um rendimento melhor’. É esse desafio, diz Cristiane, que foi repassado à agência de publicidade DM9 DDB, que optou por manter a idéia do feito para você, mas reforçou um mote próprio para o produto: ‘Uma escolha muda todo o seu futuro’. Para Cristiane, essa foi uma idéia feliz que permitiu ao Itaú encerrar o ano passado com R$ 12 bilhões em reservas de planos de previdência e 1 milhão de apólices de seguros em carteira.


O diretor de Comunicação Corporativa do Santander, Marcos Madeira, aposta no crescimento dos planos de previdência privada e diz que o banco que está investindo US$ 100 milhões em publicidade com jogadores da seleção brasileira vai reforçar, por meio da agência McCann-Erickson, esse segmento que tem tudo para manter o crescimento acima de 20% nos próximos anos.’O brasileiro já descobriu a importância da poupança, adia um pouco, mas a preocupação existe, o que é um bom sinal’, diz Madeira.


O Unibanco reforça em desenhos que procuram reforçar o mote ‘nem parece seguradora’, oferece também a garantia de uma velhice feliz em suas campanhas, criadas pela agência F/Nazca. Só que põe em cena a animação.


E mostra em desenhos, o horror que o brasileiro tem de contratos com letras miúdas, enquanto a tradição é reforçada por Sul América e Icatu Hartford, e o esporte pelo Banco do Brasil.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Arquivo da Band vira DVDs


‘Imagens de Tim Maia em shows nos anos 80, Raul Seixas e João Gilberto tocando no mesmo festival, cenas dos Novos Baianos em programa de auditório como Chacrinha.


Essas e outras pérolas podem ir parar em DVD. Rogério Gallo, ex-diretor da Band e da RedeTV!, firmou parceria de cinco anos com a rede dos Saads para o lançamento de DVDs com base no arquivo do canal. Foram meses de garimpo no arquivo até Gallo separar o material inicial desse acordo, que dará origem a um pacote de DVDs musicais e deve começar a ser lançado ainda neste ano. Além de passagens de Hebe, Chacrinha, Perdidos na Noite, de Faustão, o arquivo da Band tem musicais preciosos, festivais como de Águas Claras, uma espécie de Woodstock da época.


‘É uma parceria da minha produtora, a Samba, com a Band. Nós iremos remasterizar esse material, mas adicionaremos conteúdo a ele. Não será só passar tudo para o DVD’, conta Gallo. ‘Algo nos moldes do DVD do Chico (Buarque), sabe? No nosso caso, será um pouco diferente porque boa parte do material que temos é de artistas que já morreram. Então, vamos ter de convidar pessoas para darem depoimentos sobre eles.’


Segundo Gallo, além das entrevistas, os DVDs musicais podem contar com cenas extras de bastidores desses astros da música em programas e entrevistas na Band: ‘Podemos pegar o material de artistas como Tim Maia, Bethânia, Novos Baianos e fazer uma produção diferente com cada um. Podemos criar um documentário de uma hora para TV aberta, uma versão maior para TV a cabo e outra de 90 minutos para DVD’, explica Gallo. ‘Ainda não fechamos os nomes dos artistas, mas vamos lançar uma linha musical. Depois partiremos para um garimpo do material jornalístico.’’


OPUS vs. DA VINCI
O Estado de S. Paulo


Opus Dei quer aviso em O Código Da Vinci


‘O grupo religioso Opus Dei solicitou a autorização para incorporar um aviso de reprovação no filme baseado no livro O Código Da Vinci com a intenção de recusar descrições negativas da Igreja católica que aparecem na história. A Opus Dei é mostrada no livro de Dan Brown como uma seita homicida e com fome de poder, disse o grupo em carta à Sony Pictures.’


SOFTWARE LIVRE
Maurício Moraes e Silva


Software livre arma novos ativistas


‘Nada de coquetéis molotov ou atividades clandestinas. Nunca foi tão fácil se tornar um revolucionário como nos tempos da internet. Com alguns cliques no mouse, você pode se juntar ao movimento do software livre, que reúne milhares de ativistas no mundo todo. Muitos estarão presentes nesta semana em Porto Alegre, no 7º Fórum Internacional de Software Livre.


Lançada pelo norte-americano Richard Stallman nos anos 80, essa iniciativa propõe o desenvolvimento conjunto de programas para computadores por colaboradores de todo o mundo. Entre os exemplos mais conhecidos estão o sistema operacional Linux, o pacote de aplicativos OpenOffice e o navegador de internet Firefox.


Em geral gratuitos ou mais baratos que os programas proprietários, os softwares livres podem ser instalados, melhorados e redistribuídos por qualquer um. Com código aberto, estão em revolução permanente.


Já os aplicativos proprietários – o caso mais famoso é o Windows – são desenvolvidos e comercializados por uma empresa, que mantém os direitos sobre o código e suas novas versões. Ninguém pode fazer, legalmente, cópias ou tentar descobrir como o programa foi escrito, muito menos alterá-lo. Há quem não se incomode em pagar por esses softwares e obedecer às suas regras, desde que os programas funcionem bem no seu micro.


Outros, contudo, crêem que, no mundo altamente tecnológico de hoje, ferramentas essenciais para o trabalho e a vida social como os aplicativos de computador não podem ser caixas-pretas controladas por poucos – mas instrumentos abertos a toda a sociedade. ‘A evolução científica só foi possível porque as idéias estavam disponíveis para outras pessoas’, acredita o programador brasileiro Marcelo Tosatti, de 22 anos, que durante anos foi responsável pelo coração do Linux.’


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Movimento visa a ‘libertar’ softwares


‘Tudo começou com uma impressora que não funcionava direito, nos anos 70. Programador do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Richard Stallman sabia que tanto ele como seus colegas de trabalho podiam resolver o problema em minutos. Não conseguiram. O fabricante fechou o código em que tinha escrito o driver (programa que faz a comunicação entre o periférico e os micros), proibindo alterações. Inconformado, Stallman teve a idéia de criar aplicativos que dessem total liberdade para os usuários.


Nascia naquele momento o software livre, uma idéia que vem conquistando um número cada vez maior de seguidores ao redor do planeta – entre eles ativistas, empresas e governos. ‘Com esse modelo, deixamos de ser apenas consumidores de tecnologia’, explica o coordenador-geral da Associação Software Livre, Marlon Dutra. Ele é um dos organizadores do 7º Fórum Internacional de Software Livre, que começa na quarta-feira (leia reportagem abaixo).


Para entender a afirmação de Dutra, basta lembrar que os programas de computador mais usados e mais vendidos no mundo têm o código fechado – o Windows e o Microsoft Office, por exemplo. Apenas os fabricantes conhecem todos os seus segredos e não estão dispostos a compartilhá-los, para que não surja um produto com as mesmas características – capaz de conquistar uma fatia do seu mercado. É como uma receita de bolo misteriosa que garante o sucesso de um cozinheiro.


Qual é a saída? Aceitar a situação e comprar esses aplicativos, esperar que apareça um similar mais barato ou pôr a mão na massa e desenvolver um programa parecido, o que é bem mais complicado. O software livre tornou esta última alternativa possível. Como conhecem o ‘sabor do bolo’, voluntários de várias partes do mundo se juntam para elaborar uma receita semelhante. Com o tempo, o gosto pode ficar quase igual ou até melhor.


Agora imagine que o cozinheiro use na sua guloseima um produto que deixa o sabor irresistível, mas envenena os fregueses aos poucos. Vai ser difícil descobrir isso sem ver a lista de ingredientes. No software proprietário, esse risco existe. Caso o fabricante inclua em um programa um mecanismo para espionar clientes, dificilmente alguém vai descobrir. No software livre, o código é aberto e todo mundo sabe como ele funciona.


Grandes empresas produtoras de programas de código fechado, como a Microsoft, contestam essas idéias. Para elas, o desenvolvimento de softwares eficientes, confiáveis e seguros exige tempo, pesados investimentos e dedicação integral de centenas de profissionais altamente especializados.


ECONOMIA


A difusão dos aplicativos livres apóia-se também em questões financeiras. Se não estiver lucrando o suficiente com um programa, um fabricante pode decidir encerrar a produção – deixando os usuários desesperados. ‘Ficar na mão de um só fornecedor é muito perigoso’, observa Dutra. ‘A indústria às vezes também retarda avanços na tecnologia por questões comerciais, se modelos atrasados ainda vendem bem.’


Dificilmente os softwares proprietários saem mais baratos do que os livres, quase sempre gratuitos ou disponíveis a preços baixos. A vantagem funciona como um ímã principalmente para órgãos da administração pública e empresas, que têm de instalar programas em milhares de máquinas. No Brasil, tanto o governo federal como Estados e prefeituras têm optado por aplicativos livres para economizar recursos.


Dentro das corporações, a adoção desse tipo de programa cresce ano a ano. De acordo com uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre uso da tecnologia no mercado corporativo, o sistema operacional Linux está presente em 16% dos servidores. No ano passado, o índice era de 14%. Medições estatísticas como esta, no entanto, são raras. ‘Números não existem justamente pelo fato de ser livre’, diz Dutra. Fica difícil quantificar algo que pode ser distribuído por qualquer pessoa no mundo todo.


Do lado das multinacionais, o software livre faz parte de uma batalha comercial. Companhias como Novell, Sun e IBM começaram a apoiar seu desenvolvimento para competir com ‘gigantes’ na área. Em vez de comercializar os programas, vendem serviços associados ao uso desses aplicativos. ‘Esse movimento está transformando a indústria do software’, afirma o gerente de Novas Tecnologias da IBM Brasil, Cezar Taurion. ‘Se a gente não o acompanhar, um dia vai ser surpreendido.’


VOLUNTÁRIOS


Fora das disputas financeiras, uma multidão de voluntários de diferentes países ajuda a desenvolver o software livre. No Brasil, um dos principais colaboradores é o paranaense Marcelo Tosatti, de 22 anos, que vive em Porto Alegre. Com apenas 18 anos, ele ganhou destaque internacional ao ser escolhido como principal responsável pela versão 2.4 do núcleo (kernel) do Linux, o mais conhecido sistema operacional (software que gerencia todo o funcionamento de um computador) livre.


Sua experiência no mundo da informática começou aos 11 anos, quando brincava de fazer programas em micros montados pelo irmão. Quando a internet surgiu, ele descobriu o Linux (alternativa livre ao Windows) e resolveu experimentá-lo. ‘Ralei quase um mês para instalar’, lembra. O prazer de vencer o desafio fez Tosatti se aprofundar no estudo do sistema. Virou um especialista. ‘Quando você tem acesso ao código, aprender a programar fica muito mais fácil.’


Só tempos depois ele se deu conta da ideologia por trás do software livre. ‘Por estar dentro disso, para mim era comum você ter acesso a todo o código, ter essa garantia de liberdade’, conta. Hoje o núcleo do Linux está na versão 2.6 e, embora ele não seja mais o ‘chefão’, o programador continua a fazer parte do time de desenvolvedores.


Muitos dos colaboradores no Brasil vêm das universidades. Entre eles está o professor do Centro Universitário Senac Carlos Eduardo Dantas de Menezes, que desenvolve o primeiro corretor gramatical para a suíte de aplicativos OpenOffice. O projeto conta com mais dois participantes e chega bem perto do desempenho de aplicativos proprietários. ‘Hoje em dia a gente tem uma certeza. O software livre veio para ficar’, diz.


PRIMÓRDIOS


Até deslanchar, porém, a idéia percorreu um longo caminho. Em 1983, Richard Stallman iniciou o projeto GNU para desenvolver o primeiro sistema operacional que se enquadrasse na nova ideologia. Dois anos depois, criou a Free Software Foundation (www.fsf.org). Em 1989, a entidade publicou a primeira versão da licença incorporada a programas livres, a GNU General Public License.


O texto estabelece que um aplicativo dessa categoria precisa ter quatro liberdades garantidas: você tem o direito de rodar o programa em um computador para qualquer finalidade; pode acessar o código-fonte para estudar como o software funciona, adaptando-o se desejar; está autorizado a fazer cópias e distribuí-las; pode melhorar o aplicativo, liberando as alterações para a sociedade.


O problema é que o GNU não decolou. A salvação veio da Finlândia. No início da década de 90, o programador Linus Torvalds desenvolveu o sistema operacional Linux, que acabou incorporando elementos do GNU. Deu certo. Na mesma época, a internet explodiu, favorecendo a colaboração entre as pessoas. A combinação de fatores serviu de estopim para o software livre se popularizar. O próximo ativista pode ser você.’


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Fórum une aulas técnicas a debates sobre rumos


‘Na 7ª edição do Fórum Internacional de Software Livre (Fisl), que começa na quarta-feira em Porto Alegre, ativistas de todo o mundo terão uma grande chance de discutir o movimento e os seus desafios. O criador do software livre, o norte-americano Richard Stallman, virá ao Brasil para participar do encontro. Além disso, estão programadas mais de 250 atividades durante os quatro dias de duração do Fisl, incluindo palestras e debates sobre quase todos os aspectos dos programas livres.


Algumas apresentações são voltadas para quem quer aprofundar seus conhecimentos em questões mais técnicas, como a programação de aplicativos. Outras focam assuntos mais gerais – a adoção do software livre pelo governo federal é um exemplo. De acordo com um dos organizadores do Fisl, Marlon Dutra, a expectativa é de receber cerca de 4,5 mil pessoas. No meio da multidão estarão funcionários do Google, que vão a Porto Alegre para recrutar profissionais da área.


Stallman vai participar da 2ª Conferência Internacional sobre a terceira versão da GNU General Public License (GPL) – a licença que define as características do software livre -, programada para ocorrer dentro do fórum.


Ao longo de todo o ano, ativistas ao redor do mundo discutirão mudanças na GPL para adaptá-la à realidade atual. A nova versão da licença deverá, por exemplo, estabelecer parâmetros para a relação entre softwares livres e dispositivos criados para proteger direitos autorais, os DRMs.


Outras personalidades confirmaram presença no Fisl, como o vice-presidente de desenvolvimento da Novell e fundador do projeto Gnome – que procura dar um ambiente de janelas amigável para o sistema operacional Linux -, Miguel de Icaza. Também estarão lá o presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), Renato Martini, e o ex-presidente do órgão, Sérgio Amadeu. O ITI coordena projetos de software livre do governo federal.’


INTERNET
Ricardo Anderáos


Preservação online


‘Há cerca de três anos, a construção da minha casa em Ilhabela estava na reta final. Era hora de cercar o terreno, onde começa uma floresta que, unida à dos vizinhos, se liga ao Parque Estadual que ocupa 85% da área da ilha.


Essa floresta é cortada por um rio de águas cristalinas que delimita os fundos de minha área. Eu sabia que, a 30 metros dele, não poderia construir. Pela lei federal essa é uma área de preservação permanente, ou ‘APP’. Não pretendo fazer nada ali. Apenas manter a floresta, para poder curtir e tomar banho de rio com as crianças.


Num sábado pedi ao empreiteiro para encontrar, na floresta, os marcos divisórios do terreno, onde queria erguer a cerca com um terreno vizinho, então abandonado. A divisa com o vizinho do lado oposto já era cercada até o rio.


Na semana seguinte, em São Paulo, recebi uma ligação informando que a Polícia Ambiental havia sido chamada por um vizinho. Eu estava sendo multado por desmatamento. No local, constatei que o empreiteiro havia cortado mais vegetação rasteira do que era necessário para achar os piquetes. Mas nenhuma árvore tinha sido derrubada. Que ironia! Afinal, quando me mudei para a Ilha, criei uma ONG ambiental e trabalhei muito para a preservação do local.


A ONG que dirijo nasceu pela internet. Conhecia pouca gente na Ilha e fiquei assombrado ao descobrir que lá, em pleno 1999, não havia nenhuma organização dedicada à preservação ambiental. Consegui um apoio da Intel, num programa de conteúdo otimizado para o então moderníssimo Pentium 3. Com esse dinheiro criei o site da ONG, que tem até um modelo tridimensional da Ilha em realidade virtual.


Junto com meu parceiro Luiz Villares fiz apresentações desse site e de nossos projetos de preservação em vários locais na cidade. Conseguimos alguns apoios. Registramos nosso estatuto no começo de 2001. E começamos a viver o duro dia-a-dia de quem luta para defender o patrimônio de todos contra as vontades de alguns.


Há um grande fosso entre a detalhada legislação ambiental brasileira e a absoluta carência de fiscalização pelo poder público. Fala-se muito em educação ambiental. Mas o Estado e as ONGs não nos ensinam coisas básicas. Como o fato de que uma simples cerca, em área de APP, precisa ter projeto aprovado pelo órgão competente. No caso paulista, o Departamento Estadual de Proteção aos Recursos Ambienteis, ou DEPRN.


Quem é mal-intencionado estuda e burla essas leis. Agride o meio ambiente em larga escala e sai praticamente ileso. Já os bem-intencionados caem nas malhas de uma estrutura que cria dificuldade para vender facilidade.


Pensei em me afastar da ONG depois dessa infração. Minha amiga Elci Camargo, uma das mais batalhadoras advogadas brasileiras na área ambiental, me aconselhou ao contrário. Se deixasse de lado minhas fantasias de ‘pureza’, minha experiência poderia ser útil.


Ela me disse que os ambientalistas precisavam sair do gueto. Deixar de ser ‘ecochatos’, versão esverdeada para o século 21 dos ‘petelhos’avermelhados dos anos 80 e 90. Encarar as contradições de quem quer preservar, mas, como parte de nossa sociedade, contribui, mesmo que involuntariamente, para a destruição em larga escala. Ouvindo Elci, continuei.


A ONG que dirijo vem crescendo graças à internet. Através da rede nos articulamos com organizações de todo o litoral norte de SP. Pela rede também divulgamos nossos projetos e atraímos voluntários.


Mas ainda continuamos no gueto, falando principalmente com quem domina o jargão ambientalista. E muita gente bem-intencionada continua cometendo infrações ambientais sem saber disso. Será que as soluções para esses problemas também estão na internet?’


Pedro Doria


O amor livre está no ar


‘A Marware.com é uma simpática loja virtual que vende capas para iPods e notebooks boladas por surfistas – daí o mar do nome. Entre as bolsas de neoprene e couro, vendem também um pequeno aparelho chamado WiFi Spy. Tão pequeno que pode ser usado como chaveiro – embora, aí, trate-se de um chaveiro de US$ 30.


O WiFi Spy, após um botão apertado, localiza se, na vizinhança, há um hotspot wireless. Explica-se: se, no ar, circula internet. Se existe uma rede sem fio pelas redondezas. Se encontra acesso à rede, o aparelhinho informa também se a rede é aberta ou fechada.


Hoje em dia, não devem mais existir à venda notebooks que não venham de fábrica com a capacidade de entrar numa rede sem fio. Mas redes sem fio foram apenas lentamente entrando em nosso cotidiano. Há uns cinco anos, um ou outro as tinha. Coisa meio excêntrica, até – ter banda larga já era bom demais. Sem fio era moderníssimo.


Mas ande-se por aí em Sampa ou no Rio com um aparelhinho como o WiFi Spy e a surpresa é incrível. Há internet por toda parte. A internet está no ar, estamos imersos na grande rede. Basta abrir o notebook e sair navegando. Até porque a maioria das redes por aí está aberta, não carece senha – é só ir entrando.


A maioria está aberta porque configurar roteador sem fio é muito simples: basta ligá-lo ao modem e seguir dois ou três passos triviais que aparecem no manual. E, como é muito simples, todo mundo o faz em cinco minutos e nem sequer cogita que deve trancar sua rede porque, senão, outros poderão usá-la.


Aí está o pulo do gato: existe um tipo raro de sujeito que deixa sua rede aberta conscientemente. Há alguns argumentos para fazê-lo. Se você usa apenas um computador, na maioria das vezes não está exigindo muito de sua conexão. Isso só acontece quando vemos um filme ou fazemos um download pesado.


Então, ainda mais com as velocidades à disposição do público de banda larga de finais do ano passado para cá, pagamos por muita internet que não usamos. É um gesto gentil, pois, dividi-la. Dividir, assim, segue também o espírito da rede: a informação quer ser livre, a rede é boa quando é para todos. Uma rede wireless aberta é, portanto, um ato de consciência.


Naturalmente, as companhias telefônicas têm pavor da idéia. Uma rede aberta num prédio, por exemplo, pode desestimular a compra de banda larga em outros apartamentos. Mas fatalmente algo do tipo acontecerá de qualquer forma. Em mais alguns anos é bem provável que prédios comecem a oferecer conexão de rede como oferecem água: vem na conta do condomínio, todo mundo usa.


De qualquer forma, as telefônicas argumentam que esse serviço, o de acesso, é pago – e que ninguém tem o direito de revendê-lo ou mesmo oferecê-lo. É discutível. Afinal, é pago, sim, e quem já pagou não usará mais do que comprou. Nem tem como.


Deixar a rede aberta não é muito diferente do que permitir a um convidado que dê uma olhada no e-mail quando está hospedado em sua casa.


No segundo semestre de 2002, não se falava de outra coisa na internet que não de banda larga sem fio à disposição da comunidade. É que um designer inglês chamado Matt Jones inventou, naquele ano, uma série de ícones para representar redes abertas e fechadas. Um círculo representa uma rede fechada; um círculo partido, como que dois ‘U’s deitados, um de costas para o outro, é a versão aberta. Jones propôs então o conceito de warchalking.


A palavra vem de wardriving, direção em tempo de guerra, o hábito de circular com um notebook ligado por uma região à procura do sinal de uma rede aberta. O chalk de warchalking é de giz.


A proposta do designer, então, era de desenhar estes símbolos nas calçadas para designar que ali há sinal de rede. Quem quisesse abrir virtualmente sua casa à comunidade poderia indicá-lo com os riscos.


Muito se falou – mas não colou. O que não quer dizer que não venha a colar. Redes sem fio estão ficando, lentamente, cada vez mais comuns embora ainda não estejamos acostumados a pensar sobre sua ética.


Em meu computador, tenho um programinha que informa, a qualquer momento, se há redes sem fio por perto, se estão abertas, quais são.


Cá de minha mesa, este programinha detecta duas, sempre. Uma está fechada, a outra aberta. A aberta é minha.’


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