Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Último Segundo

CASO VARIG
Alberto Dines

Varig: hora de intervir, 16:55 23/06

‘‘Em time que está ganhando não se mexe’ disse o presidente Lula nesta sexta-feira em Florianópolis ao confirmar o convite a José Alencar para continuar como vice na chapa da reeleição.

Pisou na bola, Sua Excelência. Parreira, o Professor, mexeu drasticamente numa seleção que ganhou dois jogos e, depois de uma vitória extraordinária contra o Japão, dá a entender que mexerá novamente ao colocar em campo contra Gana o velho esquemão. Parreira alterou um time que ganhava porque o resultado do jogo contra o Japão só teria efeitos morais. E não poderia fingir que ignorava a voz rouca das ruas clamando por mudanças.

É próprio de estadistas prestar atenção ao sentimento da sociedade, mesmo como concessão, numa oportunidade secundária. Transmite a imagem de agilidade, desfaz qualquer impressão de caturrice, birra, teimosia. Anima, sobretudo, aquele que toma a decisão ao aumentar a sua autoconfiança.

Lula e seus conselheiros estão cometendo um erro trágico, de conseqüências imprevisíveis, ao aferrar-se cegamente à decisão de não intervir na situação da Varig. Fiado nas garantias de que ‘o mercado’ daria conta do problema, interessado em exibir ao público externo um perfil liberal, não-intervencionista e, com medo de correr riscos no início da campanha eleitoral, o presidente Lula capitulou. Foge da raia.

Confunde prudência com omissão, deixa-se enganar pela máquina burocrática que aposta na inação para não ser testada em emergências. O governo Lula está cometendo um crime de lesa-pátria ao permitir a implosão da empresa que, muito mais do que a Petrobrás, representa o país no exterior e muito mais do que qualquer outra, simboliza a unidade nacional propiciada pelo desenvolvimento da nossa navegação aérea.

É simplesmente ridícula a providência do Ministério da Defesa de disponibilizar os dois sucatões da F.A.B. para resolver a dramática situação dos 28 mil brasileiros que neste momento estão completamente desamparados nos principais aeroportos do mundo, sem possibilidade de retornar imediatamente ao país.

Quantas semanas seriam necessárias para transportar essa gente em duas carroças voadoras, lentas capazes de transportar no máximo 300 passageiros em cada vôo ? Alguém fez esta conta ? Alguém teria uma calculadora de 10 reais para emprestar ao presidente ?

A mídia revela todos os dias o número de vôos cancelados pela Varig. Mas não mostra o desespero nas enormes filas nos balcões da TAM e da Gol (as concorrentes melhor aparelhadas), incapazes de assumir, em tão curto prazo, as lacunas deixadas por uma empresa gigantesca com mais de meio século de existência.

O juiz Luiz Roberto Ayub, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, não tem condições de administrar um problema destas proporções e com tamanhos desdobramentos. Sua função é julgar. E ele a está desempenhado com rara competência e senso de responsabilidade.

O Judiciário não tem condições de operar, no máximo pode decretar a falência, promover outro leilão ou aceitar novas propostas para comprar o espólio. Isso levaria semanas. Alguém precisa agir. Imediatamente. Os funcionários estão empenhadíssimos em salvar a empresa que ajudaram a construir. Mas é preciso reconhecer que os funcionários são parte do problema.

Só o Poder Executivo está aparelhado para tomar providências urgentes. Uma intervenção breve e imediata evitará a calamidade que se prenuncia. Mesmo que pareça uma estatização. Não há outra saída, danem-se os liberais que viajam de jatinho.

É preciso deixar de lado a obstinação burra e a sua principal aliada, a preguiça dos incompetentes. A questão deixou a esfera da teoria econômica e das aparências políticas. O placar eleitoral não pode comandar as decisões diante de uma emergência nacional que afeta dezenas de milhares brasileiros, aqui e no exterior.

Lula, paz e amor, está correndo o risco de parecer um carrasco omisso e impiedoso. Está na hora de mexer no time e no esquema. A alternativa é o desastre.’



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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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