Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Valéria Blanc

‘Roberto Marinho discava um número ao telefone. Não era necessariamente para dar uma ordem. Aos 26 anos, já no comando da redação de O Globo, usava-o para fazer entrevistas. O recado era claro. Todos no jornal, independentemente da função, deviam ter espírito de repórter. O leitor de Dr. Roberto: 100 Anos, no Esporte, na Educação, na Cultura, no Jornalismo vai surpreender-se com novas histórias do poderoso jornalista, fundador das Organizações Globo, capaz de lançar mensagens sutis e, ao mesmo tempo, buscar seus objetivos com obstinação.

Mesmo a viúva, Lily Marinho, espantou-se com situações reveladas pelos autores da obra. Antônio Carlos de Almeida Braga, Arnaldo Niskier, Joaquim Falcão e Mauro Salles eram amigos do jornalista. Dona Lily foi a anfitriã do lançamento, no dia 14, na casa do Cosme Velho onde viveu com o marido até a morte dele, em agosto de 2003. O livro é alusivo ao centenário do homem que influenciou a História do país e teria festejado a marca no último 3 de dezembro.

Nos nove cadernos, lê-se sobre família, discursos na Academia Brasileira de Letras, poder. Há depoimentos dos três filhos – jornalistas João Roberto, José Roberto e Roberto Irineu – e de personalidades como Oscar Niemeyer, Antônio Ermírio e Jorge Amado. A renda obtida será destinada ao projeto Criança Esperança.

O empresário Almeida Braga conta que o amigo tinha nos esportes o ímpeto dos negócios. ‘Quando pensava em hipismo, queria investir em cavaleiros e cavalos que fizessem do Brasil uma potência hípica internacional’, relata. Outra paixão foi a pesca submarina. Ao longo dos anos, porém, arrumou tempo para inesperados esportes, como a sinuca, ‘que praticou clandestinamente e com que parceiro! Dom Helder Câmara (um dos idealizadores da CNBB)’, entrega Braga.

Colega na ABL, Arnaldo Niskier retratou a dedicação à educação. ‘Impressionou-me o empenho dele no ensino a distância, por meio do Telecurso’, conta. Diretor na FGV e ex-secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, Joaquim Falcão revela que, certa vez, um ministro da Educação perguntou a Marinho por que não produzia mais programas educativos, no lugar de novelas. A resposta: ‘Balzac escreveu uma comédia de costumes. É o que procuramos fazer com as novelas’.

O publicitário Mauro Salles, que foi diretor de redação de O Globo, ressalta ‘o gesto de grandeza do doutor Roberto’ na contratação do jornalista Franklin de Oliveira – antes, funcionário de Leonel Brizola, que atacava Marinho. A opção era pelo profissionalismo. E há também a história de que ‘Dr. Roberto’ ligava para Salles e dizia: ‘Mauro, estou indo para Nova York amanhã. Gostaria que fosse comigo’. Salles perguntava: ‘É convite ou ordem?’. ‘É ordem.’ E lá ia ele junto. Mas esse episódio não consta do livro. Como tantos outros que estão na memória de quem conviveu com esse personagem marcante, cuja história parece sem fim. TÍTULO Dr. Roberto AUTORES Antônio Carlos de Almeida Braga, Arnaldo Niskier, Joaquim Falcão e Mauro Salles EDITORA Edições Consultor PREÇO E PÁGINAS R$ 150/308′



O Estado de S. Paulo

‘Mais uma obra sobre a vida de Roberto Marinho’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/02/05

‘O arquiteto Oscar Niemeyer, o compositor Lulu Santos, o editor Paulo Rocco, o diretor do Museu Nacional de Belas Artes, Paulo Herkenhoff, e o presidente do Bradesco, Lázaro Brandão, estavam entre as 500 pessoas que foram anteontem ao lançamento do livro Dr. Roberto, na casa de sua viúva, dona Lily Marinho. A obra aborda a atuação de Roberto Marinho como desportista, jornalista, homem de educação e de cultura. Foi escrita pelo acadêmico Arnaldo Niskier, pelo publicitário Mauro Salles, por Joaquim Falcão, ex-presidente da Fundação Roberto Marinho, e pelo banqueiro Antônio Carlos de Almeida Braga e tem farta pesquisa fotográfica sobre a vida do empresário.

Este é o terceiro livro sobre Roberto Marinho publicado desde que se completou seu centenário de nascimento, em 3 de dezembro. Este ano ainda sai um quarto sobre a coleção de arte brasileira que o empresário acumulou durante seis décadas e que é motivo de exposição no Paço Imperial. ‘De todos, acho que o meu descreve melhor sua inteligência, sua bondade e seu modo de pensar’, disse dona Lily, que no entanto considera impossível esgotar a biografia de seu companheiro de mais de uma década. ‘Eu insistia que ele mesmo a escrevesse, mas ele alegava que nunca contaria tudo.’

Mesmo assim, boa parte dos 98 anos de vida de Roberto Marinho estão no livro que tem mais de 300 fotografias. O livro chega às livrarias por R$ 150,00.’



LÍNGUA PORTUGESA
Deonísio da Silva

‘O Baixo Clero Venceu Os Cardeais’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 16/02/05

‘O baixo clero sacramentou o nome do deputado Severino Cavalcanti contra a vontade dos cardeais dos partidos e do governo. Na recente eleição para a presidência da Câmara, ressurgiram palavras que mais pareciam tratar da sucessão no Vaticano e não no Brasil. Baixo clero, sacramentar e cardeais foram as mais utilizadas. Clero é palavra que veio do latim clerus, forma adotada pelos romanos para o neologismo grego klêros, dado, pedrinha, pedaço de madeira.

Passou a designar o estamento eclesiástico que abriga sacerdotes e padres porque em Bizâncio as pessoas que ocupavam tais funções recebiam um lote ou herança, originalmente definida em sorteio: os dados, de pedra ou de madeira, eram postos num vaso ou num capacete, semelhando o moderno recipiente das loterias onde são colocadas bolinhas numeradas.

Para pertencer ao clero, o indivíduo era e é ordenado padre pelo bispo. A ordem é um dos sete sacramentos. Os outros seis são o batismo, a crisma, a eucaristia, a confissão, a unção dos enfermos e o matrimônio. Alguns são designados também por outros nomes: confissão é sinônimo de penitência; unção dos enfermos, de extrema-unção.

O batismo está presente em muitas outras acepções, dando conta de primeiro ato decisivo na vida de uma pessoa, de que é exemplo a expressão batismo de fogo, o primeiro combate travado pelo soldado.

Embora mais raramente, também o último aparece como sinônimo de que não há mais esperança para a pessoa. A Igreja, entretanto, mudou o nome de extrema-unção para unção dos enfermos. Destinado a moribundos desenganados, o sacramento teoricamente só poderia ser administrado uma vez na vida, à beira da morte. Com o progresso da medicina, muitos moribundos se recuperavam, contrariando o adjetivo ‘extrema’, anteposto à ‘unção’. Daí a providência, aliás muito pertinente, de mudar a designação para ‘unção dos enfermos’. E afinal a crença sofreu variação importante: em vez de passaporte para o outro mundo, aquele do qual ninguém jamais retornou, apoio da fé para ajudar na recuperação da saúde.

Mas por que adjetivar o clero parlamentar como baixo clero? Ao designar o conjunto de parlamentares desconhecidos ou pouco influentes como baixo clero, a imprensa recorreu outra vez à linguagem da Igreja. Nem todos os padres são Antônio Vieira, Cícero Romão Batista, Frei Caneca ou Frei Betto! De forma parecida, há um contingente quase anônimo de parlamentares, obrigados a seguir decisões de lideranças, recomendações ou ordens dos cardeais dos partidos para sacramentar tais ou quais decisões.

E aí entramos nas duas outras palavras: o verbo sacramentar e o substantivo cardeal. Sacramentar veio de sacramento, quantia depositada diante das estátuas dos deuses, como adiantamento da remuneração prometida à divindade em caso de a reivindicação ser atendida. Como Roma era absolutamente democrática e republicana com todos os deuses do mundo, até a Porta era deusa. E ocorriam situações curiosas: se o fiel não fosse atendido, a Porta teria ficado surda às súplicas e era objeto de chutes, imprecações, ofensas, punições. Na eleição do atual presidente da Câmara, o Executivo, surdo como uma porta aos pedidos dos parlamentares do baixo clero, pagou o preço da ave da derrota, no caso um pato, ‘pagou o pato’.

Já cardeal, do latim cardinalis, veio de cardo, gonzo, eixo, de onde derivou o sentido de função importante. Os cardeais elegem o papa, autoridade máxima. Ao contrário, porém, do que aconteceu na Câmara, na Igreja o baixo clero não manda em ninguém, seguindo a velha ordem: manda quem pode e obedece quem precisa. Nem falta a tonsura para alguns parlamentares ficarem ainda mais parecidos com o baixo clero.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

‘Bebida, não!’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 16/02/05

‘Janistraquis escutava a Hora do Brasil (?!?!?!?!) quando puseram no ar a voz do senador Maguito Vilela, do PMDB de Goiás, e este, cheio de amor pra dar, anunciou projeto de lei de sua sempre inovadora e meritória contribuição legislativa, projeto segundo o qual a propaganda de bebida alcoólica deve ser banida da vida de todos nós.

Mais perplexo do que o deputado Luís Eduardo Greenhalgh depois da surra que levou de Severino Cavalcanti, meu secretário exalou um bafo cheio de indignação:

‘Considerado, neste país de terceira, onde o que não é proibido é obrigatório, sempre aparece um maluco pra radicalizar. Eu também sou contra alguns anúncios de bebida alcoólica, todavia por razões diversas das que apresenta o morigerado e abstêmio senador. Os anúncios de cerveja na TV, por exemplo, consideram como verdadeiros cretinos todos os que apreciam a lourinha suada; e aquele cujo slogan é ser redondo é ser do bem ultrapassa os limites do desrespeito, né mesmo?’

É verdade. E o senador Vilela deve ser redondo, posto que é do bem.

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Se a moda pega…

Deu no plantão do Globo Online este que, desde já, pode ser considerado o mais tenebroso título jornalístico de 2005:

Britânica condenada por arrancar testículo do amante com a mão

Mais arrepiado do que gato de desenho animado, Janistraquis vociferou, num esgar medonho:

‘Considerado, o Globo não deveria dar uma notícia dessa; se a barbárie ocorreu em Londres, cidade civilizada, avalie o que pode acontecer aqui, onde se imita tudo o que vem de fora!!!’

É mesmo de assustar. E a britânica do título, em verdade fogosa italiana, pois se chama Amanda Monti, pegou apenas dois anos e meio de cadeia por emascular o ex-amante, Geoffrey Jones, depois de ele se recusar a manter relações sexuais com ela.

‘Se a desgraça tivesse acontecido no Brasil, a criminosa seria condenada a doar uma cesta básica a uma instituição de caridade e ao prejudicado restaria dar sepultamento cristão ao pobre ovo esquerdo…’, completa, choroso, meu velho e alquebrado secretário.

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Cadê a foto?

Deu na Folha de S. Paulo:

Tsunami rende foto vencedora de prêmio anual

DA REDAÇÃO

A foto de uma mulher chorando por um parente morto pelo tsunami que atingiu 12 países da Ásia e África em dezembro passado foi a vencedora do World Press Photo 2004, a competição internacional mais importante para o fotojornalismo (…) Ela foi escolhida entre mais de 69 mil trabalhos de 4.266 profissionais, provenientes de 123 países.

Janistraquis leu em voz alta e foi logo avisando, para estupor de todos aqui em casa: ‘Não publicaram a foto, considerado; logo essa, que deve valer por muito mais que mil palavras!!!’

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Pra lá de Bagdá

O leitor Carlos Roberto de Assis lia O Globo quando, de repente, uma certeza desabou sobre seus ombros:

‘Considerado Janistraquis, demorou mas apareceu um jornalista pra fazer justiça ao nosso presidente! Aquele americano, o tal do Rother, meteu o pau no Lula; Clóvis Rossi e Jânio de Freitas não dão uma colher de chá ao homem; Elio Gaspari e Augusto Nunes, também. Pois O Globo, jornal democrático, abriu espaço para este coleguinha nosso, certamente iraquiano, chamado Ali Kamel, que acusa a imprensa de cometer, contra o presidente, crime pior que o racismo – o classismo.’

O texto do articulista de O Globo é deveras bizarro, porém o leitor não deve incorrer em erro só por que o autor tem nome de origem árabe. Ali Kamel, tão brasileiro quanto Zeca Pagodinho, é diretor-executivo da Central Globo de Jornalismo e a íntegra do seu artigo pode ser conferida aqui.

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Air Force

Camilo Viana, considerado diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte, despacha diretamente da piscina do Minas Tênis Clube, porque o calorão tá de matar:

A partir deste momento não chamo mais o nosso Airbus presidencial de aerolula; muito mais adequado e ajustado à personalidade do nosso presidente é a sigla do nome em inglês: BAFO – Brazilian Air Force One. O que achas?

Janistraquis adorou, ó Camilo, e passou a tarde inteira a correr pelo gramado como se fosse o Zagalo depois de um gol da Seleção Brasileira, aos gritos de ‘olha o bafo arretado no ar!…’

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Bombando…

O considerado Ricardo Romanoff Antunes, estudante do terceiro semestre de jornalismo na PUC do Rio Grande do Sul, passava os olhos pelas revistas expostas na banca e flagrou este título na capa da Capricho: Lu & Ju – Amigas na novela, Luma Costa e Juliana Lohmann são tipo irmãs na vida real.

Romanoff detestou:

Custava muito escrever ‘como’ em vez de ‘tipo’?

Janistraquis garante que o custo é zero; porém, o chamado jornalismo moderno, atento ao riquíssimo linguajar da juventude, precisa acompanhar o ritmo da balada quando o DJ anuncia que vai bombar…

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Louçania

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de onde foi possível assistir, na manhã de terça-feira, a esquerda brasileira a cometer haraquiri na porta do Congresso, segundo o jornal espanhol El País, Roldão, repetimos, relia um exemplar da Tribuna da Imprensa do mês passado (quando a vitória de Greenhalgh era dada como certa) e anotou:

A notícia dizia:

CALI (Colômbia) – A polícia colombiana deteve ontem em Cali, no Sudoeste do país, o suposto narcotraficante Juan Carlos Restrepo Suárez, cuja extradição é solicitada pelas autoridades dos Estados Unidos, informaram fontes do organismo.

Então, o redator se atrapalhou para dar o título e saiu isto: PRESO TRAFICANTE CUJO OS EUA PEDEM EXTRADIÇÃO.

Janistraquis tem certeza, ó Roldão, que o redator não se atrapalhou verdadeiramente; profissional culto, achou que estivesse a semear uma louçania de linguagem nesse terreno fértil que é o jornalismo brasileiro.

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Nota dez

Disfarçado de resenha, pertence à brilhante lavra de Wladir Dupont o mais instigante texto da semana. Veio a lume no Observatório da Imprensa, diz respeito aos tratos e maus tratos que envolvem a língua espanhola mas serve de alerta a estudiosos de qualquer idioma, principalmente o hermanito português. Leiam excerto abaixo e confiram a íntegra aqui.

LÍNGUA EM PERIGO

Defesa apaixonada do español

Wladir Dupont, da Cidade do México

Defensa apasionada del idioma español, de Álex Grijelmo, Punto de Lectura, Madrid, 398 pp.

A educação escolar deficiente, a força colonial da língua inglesa, a invasão da internet com seus e-mails, chats e blogs, e a desídia dos donos do poder político, informativo e econômico não seriam elementos suficientes para acelerar a crescente deterioração do idioma espanhol, escrito e falado por 400 milhões de pessoas em 23 países? Ou seria preciso acrescentar a esse panorama desolador a recomendação do escritor colombiano Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel de Literatura, para que se simplifique a gramática, começando, por exemplo, com uma reforma ortográfica, nela eliminando e mudando acentos escritos?(…)

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Errei, sim!

‘PÓS-PINOCHET – Em impressionante matéria turística publicada no Correio Popular de Campinas, o repórter diz: ‘As gaivotas são tão amistosas com os turistas que no começo da travessia nos aconselham a levar pão e bolachas para elas’. Janistraquis ficou besta: ‘Considerado, gaivotas que falam! Que nos dão conselhos! Esse lugar é o paraíso!!!’. Tal paraíso, segundo o jornal, é o Chile pós-Pinochet. Certamente.’ (Abril de 1992)’