Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Veja

PÁGINAS DA VIDA
Marcelo Marthe

Exageros da novela das 8 reabrem debate sobre os limites do sexo na TV

‘Em apenas duas semanas de exibição, a novela Páginas da Vida produziu algumas das cenas mais impactantes da TV nos últimos tempos. Ao final do capítulo de sábado 15, foi ao ar o depoimento real de uma dona-de-casa de 68 anos, moradora do subúrbio carioca de Madureira, que descreveu seu primeiro orgasmo num linguajar espantoso. Ela disse que alcançou o prazer pela primeira vez aos 45 anos, numa noite embalada pela música O Côncavo e o Convexo, de Roberto Carlos. ‘Acordei com as pernas suspensas, com a calcinha na mão e toda babada’, afirmou. O autor Manoel Carlos conta que aprovou o depoimento em meio a dezenas de outros, um mês antes da estréia do novo folhetim da Rede Globo, e só percebeu seu potencial de estrago ao revê-lo no ar, naquele sábado. ‘Quando vi, pensei: estou perdido’, diz o noveleiro, que se apressou em pedir desculpas publicamente. De fato, uma imensa parcela dos espectadores ficou chocada, e choveram reclamações na central de atendimento da Globo. A principal preocupação das pessoas era o fato de as crianças terem sido expostas a um tema espinhoso – e com tal mau gosto. Diferentemente da TV paga, voltada para nichos de audiência, os canais abertos tendem a atingir a família toda. A maioria dos que se indignaram mencionou o constrangimento por estar na sala ao lado dos filhos ou de idosos quando a cena foi exibida. ‘Agora vamos precisar de bola de cristal para saber se o que passa na TV é adequado ou não para a família?’, criticou uma psicóloga e mãe. Para agravar a indignação, alguns dias antes o folhetim já havia atingido alta temperatura com um strip-tease da personagem de Ana Paula Arosio, que exibiu o corpo nu de frente e de costas e depois disse ao marido, interpretado pelo ator Edson Celulari: ‘Vem mais uma vez, mais duas, mais dez, vem dormir dentro de mim’.

Trinta anos atrás, a veiculação de cenas como as de Páginas da Vida poderia despertar reações moralistas. Seria vista como um atentado aos bons costumes. Hoje, a discussão é diferente. A questão-chave passou a ser a preocupação com a família, sobretudo as crianças. Psicólogos e educadores são quase unânimes em alertar para o fato de que a exposição dos jovens a temas como o sexo, a violência e as drogas deve ser acompanhada pelos pais e requer cuidados especiais dependendo da faixa etária (veja quadro). ‘Ao ser submetida repetidamente a certo tipo de imagem, a criança pode saltar etapas importantes de sua formação, desenvolvendo uma sexualidade prematura, por exemplo’, diz a psicóloga Magdalena Ramos, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ao contrário do que se poderia supor, na faixa das 21 às 22 horas, quando Páginas da Vida vai ao ar, há mais crianças diante da TV do que em qualquer outro horário. No dia do depoimento escandaloso, o público infantil, pré-adolescente e adolescente representava 18% da audiência na Grande São Paulo, ou seja, cerca de 1,3 milhão de espectadores somente nessa região. As emissoras estão cientes desses dados de audiência. Elas devem, sim, assumir responsabilidade por aquilo que transmitem – ainda que o papel primário de educar os filhos caiba aos pais.

Pesquisas patrocinadas pela ONG Midiativa, voltada às relações entre as crianças e a TV, mostraram que os pais gostariam que a TV os ajudasse a transmitir valores para os filhos. Em muitos casos, eles já a vêem como uma aliada. Ao abordarem temas como o preconceito, por exemplo, as novelas desempenham há tempos um papel que é considerado relevante. ‘A TV dá a deixa para os pais discutirem com os filhos assuntos que são complicados’, diz Ana Helena Meirelles Reis, coordenadora das pesquisas, que ouviram quase 700 pais, crianças e adolescentes no Rio e em São Paulo. Na própria Páginas da Vida existem exemplos positivos. ‘Há cenas que eu até gostaria que minha filha assistisse. Por exemplo, o núcleo que anunciaram que falará da exclusão por causa de problemas mentais. Coisas desse tipo me ajudam a incutir valores positivos nela’, diz a auxiliar administrativa gaúcha Luciane da Rocha Silva, mãe de uma garota de 9 anos. Os mesmos levantamentos, no entanto, mostraram que os pais têm dificuldade em lidar com as saias-justas criadas pela TV. ‘Uma coisa é colocar no ar um tema difícil de forma didática, capaz de gerar uma discussão saudável. Outra é abordá-lo de maneira grotesca’, afirma Ana Helena.

Uma das ferramentas que permitem aos pais prever o conteúdo dos programas exibidos pela televisão é a classificação indicativa por faixa etária e horário. Esse processo está passando por grande reforma no país. O Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação do Ministério da Justiça acaba de lançar um manual com novas diretrizes para que se cumpra essa tarefa. Ele deve ser regulamentado até o fim do ano. A classificação indicativa é vista com reservas na medida em que é associada à velha e autoritária censura do regime militar. Mas ela é uma forma em princípio civilizada de lidar com o assunto e é adotada na maioria dos países democráticos. Nos Estados Unidos, o controle se dá por meio da auto-regulamentação do setor e segue um código rígido, baseado naquele que vigora no país também para o cinema. Se qualquer deslize passa por esse filtro das próprias emissoras, entra em cena uma comissão reguladora vinculada ao Congresso americano. Conteúdos obscenos, violência e uso de drogas são punidos com multas pesadas. Quando a cantora Janet Jackson deixou um de seus seios saltar para fora do vestido em pleno horário nobre, na transmissão da final do campeonato de futebol americano de 2004, a rede CBS teve de se desculpar às pressas. Como a comissão de vigilância endureceu seu controle a partir disso, as emissoras passaram a transmitir eventos ao vivo com segundos de atraso, para evitar qualquer deslize. Mesmo em países europeus como a Inglaterra, onde a programação de TV é bastante liberal, há horários protegidos para as crianças.

No Brasil, o departamento de classificação não tem o poder de impor regras às emissoras. Suas decisões sobre quais programas se adéquam a determinada faixa etária e de horário são apenas indicativas. Se a determinação é descumprida, no entanto, as redes entram na mira do Ministério Público, o que pode levar a punições. As multas a que estão sujeitas são leves para empresas desse porte, mas as emissoras correm também o risco de ser tiradas do ar. Foi o que ocorreu no ano passado com a RedeTV!, que chegou a ficar um dia sem transmissões por descumprir uma decisão que a obrigava a se retratar em razão de um programa ofensivo aos gays. Em abril passado, a emissora se antecipou a uma nova punição ao passar o humorístico Pânico na TV das 18 para a faixa das 20 horas de domingo, acatando a reclassificação do departamento, que entendeu que o programa, até então considerado ‘livre’, tinha conteúdo erotizado inadequado para menores de 12 anos. O mesmo problema – o excesso de situações de sexo – colocou a novela das 7 da Globo, Cobras & Lagartos, na mira. Depois de ser notificada a esse respeito, no fim de abril, a cúpula da emissora recentemente determinou que o diretor Wolf Maya maneirasse nas tomadas.

O novo manual de classificação de programas foi elaborado, em tese, para restringir o arbítrio dos avaliadores do Ministério da Justiça. Ele propõe critérios objetivos para mensurar o nível de erotismo ou violência, entre outros fatores, de uma certa atração. Se um crime numa novela é precedido de tortura da vítima ou envolve uma criança, por exemplo, a obra poderá ter sua classificação aumentada. Se, pelo contrário, é seguido da condenação explícita da violência, a classificação pode ser reduzida. Ao explicitar essas regras, o manual procura tornar o julgamento dos programas menos subjetivo. As emissoras criticam o excesso de detalhes a que desce o documento, pois temem que ele se torne uma camisa-de-força. Em seu primeiro teste, contudo, as novas diretrizes produziram um resultado bastante liberal: o ministério liberou o beijo entre dois jovens gays no programa Beija-Sapo, que a MTV pretende exibir em breve, para o horário das 19 horas. Embora a temática homossexual desperte rejeição em boa parte do público, entendeu-se que um beijo entre pessoas do mesmo sexo merece a mesma classificação ‘livre’ que um entre um homem e uma mulher.

Depois da polêmica em torno de Páginas da Vida, a Globo anuncia que no segundo semestre lançará uma campanha de esclarecimento para os pais selecionarem o que os filhos vêem na TV. ‘Nossa liberdade criativa tem limites claros: não ferir a privacidade do espectador nem os valores da sociedade’, diz Octávio Florisbal, diretor-geral da rede. Apesar disso, a Globo não tem se revelado imune aos deslizes. No passado, exibiu baixarias como o famigerado ‘sushi erótico’, no programa Domingão do Faustão, para ficar num exemplo. O depoimento sobre orgasmo levou a um enquadramento imediato da novela das 8 nos filtros internos da emissora. Desde que o escândalo eclodiu, os testemunhos com personagens reais só vão ao ar depois de passar pelo crivo de Mário Lúcio Vaz, responsável pelo controle de qualidade e um dos principais nomes da cúpula da Globo. ‘Os artistas que criam as novelas são sempre mais liberais que a média da sociedade. Para manter nossa capacidade de inovar, é salutar estar sempre um passo à frente. Mas não um quilômetro’, diz Florisbal.

Depoimentos

‘Meus filhos dormem por volta das 9 da noite, mas, num dia excepcional, acontece de darmos de cara com uma cena de strip-tease. Não é nada bom. A gente não quer ser hipócrita, fingir que não existe o sexo. Nem quero que meus filhos achem que sexo é errado. Mas não podemos expor as crianças a tudo e achar normal. Atrás do que parece caretice, há valores importantes.’

Márcia de Andrade, 37, pedagoga, em São Paulo, com Ricardo, 39, Rodrigo, 4, e Júlia, 6

‘Proibir a TV só desperta curiosidade. Por isso, todos aqui estão liberados para ver o que quiserem. Mas, no dia do strip-tease da Ana Paula Arosio, Giulia estava no nosso quarto e tive de disfarçar o meu constrangimento. Felizmente, por enquanto ela só quer saber de desenho e o Bruno é louco por programas esportivos.’

Alexandra Gavina, 36, advogada, no Rio de Janeiro, com Rodrigo, 38, Giulia, 4, e Bruno, 11

‘O Daniel costuma ficar muito sem graça quando passa uma cena mais quente e a gente está perto. Pede até para mudar de canal. Ele tem uma TV no quarto, pode ver o que quiser. Mas o fato de não proibir-mos nada não quer dizer que estejamos desatentos. Manter um diálogo aberto com um garoto da idade dele é o mais importante.’

Bruno Levinson, 38, produtor, no Rio de Janeiro, com Cristina, 37, Pedro, 2, e Daniel, 14

‘Já se espera polêmica de uma novela das 8; por isso, cabe aos pais dizer se o filho pode assistir. Quando não quero que o Guilherme veja uma cena, mudo de canal. Não preciso expor meu filho a certas coisas. Tudo tem seu momento. Mas são os pais que têm de controlar, assumir a responsabilidade. Vejo menos problema na novela das 8 do que em algumas das 7. Essas mostram os mesmos assuntos polêmicos, só que escondidos atrás de comédia. Elas têm mais apelo para as crianças. As novelas das 7 são sacaninhas.’

Veridiana Morais, 31, jornalista, em São Paulo, com Guilherme, 6

‘Eu não acreditei quando vi aquela mulher falando do primeiro orgasmo em Páginas da Vida. Ainda bem que meu filho não assistiu, eu não saberia o que fazer. Aliás, teria vergonha até se fosse meu marido ao meu lado. É irresponsabilidade exibir cenas tão fortes nesse horário. Não quero que meu filho ultrapasse uma etapa da vida por causa de uma novela.’

Márcia Guimarães, 29, estudante de enfermagem, em Salvador, com André Martins, supervisor de vendas, 35, Gustavo, 8, e Henrique, 2

PROGRAMA EM FAMÍLIA

As recomendações dos especialistas para que pais e filhos tenham uma relação saudável com a TV

O que fazer

– As crianças com menos de 9 anos não devem ser expostas a programas que exploram temas como sexo, violência e drogas. Portanto, estipule regras e horários para elas verem TV

– Os pré-adolescentes, de 9 a 12 anos, já sabem do que tratam algumas cenas e fazem perguntas que podem embaraçar os pais. Se for inevitável que eles vejam um programa mais espinhoso, é melhor que adultos estejam junto – e preparados para enfrentar questionamentos

– Os adolescentes, dos 13 aos 17 anos, têm bastante noção dos assuntos abordados na TV. Controlar o que eles vêem é uma missão impossível, mas nem por isso os pais devem abrir mão de debater os programas a que eles estão assistindo – inclusive na TV de seu quarto

O que dizer se for questionado sobre uma cena forte

– Não transforme um papo desses numa aula de anatomia nem num sermão moralista

– Não fale em tom professoral, com o peito cheio de ar

– Seja honesto: se estiver constrangido, diga isso em vez de se esconder atrás de polissílabos proparoxítonos. Se não souber o que dizer, fique calado. Você não é um palestrante de passagem que tem de dizer tudo naquela hora

– Procure saber como seu filho está se sentindo diante da cena incômoda e abra espaço para a resposta

– Não seja hipócrita. Não adianta condenar a violência da cena se você é dos que acham que um tapa bem dado vale mais do que mil palavras

Fontes: Lídia Aratangy, psicóloga, Miguel Perosa, psicoterapeuta e professor de psicologia, Alexandre Saadeh, psiquiatra, e Magdalena Ramos, psicóloga’



ANGELI
Lailson Santos

Contra o humor a favor

‘Nenhum presidente escapou incólume do seu traço. Por meio dos pincéis do cartunista paulistano Angeli, José Sarney virou um ator mexicano de segunda categoria, Fernando Collor surgiu envergando uma faixa presidencial feita de correntes de ferro, Itamar Franco teve comentadas suas propagadas limitações intelectuais e Fernando Henrique Cardoso, sua ilimitada vaidade. Mas foi com o presidente Lula que o artista se superou. A coleção de mais de 200 charges produzidas desde o início do governo petista, em janeiro de 2003, traça um perfil devastador da era Lula – que Angeli, ao contrário da maioria de seus colegas, acompanhou com olhos críticos desde o primeiro dia. ‘Humor a favor não é comigo. Deixo isso para os publicitários’, diz.

Autodenominado franco-atirador, o cartunista, prestes a completar 50 anos, está acostumado a ir contra a corrente. Nos primeiros meses de 2003, enquanto boa parte dos chargistas brasileiros gastava suas tintas para saudar a chegada do ex-operário e líder sindical à Presidência da República, ele já farejava excesso de marketing e escassez de conteúdo no programa Fome Zero, o então carro-chefe do governo. Quando estourou o escândalo Waldomiro Diniz, envolvendo José Dirceu, o ex-homem forte de Lula, o cartunista produziu uma charge premonitória, em que mostrava o ‘encolhimento’ do presidente e de seu governo (veja desenho). Angeli, ex-punk e ex-militante do Partido Comunista, diz ter encarado com desconfiança a chegada dos petistas ao poder. ‘Sempre me incomodou aquele nariz empinado deles e aquela postura de detentores da honestidade’, afirma. A crise do mensalão viria mostrar que ele estava certo. ‘Angeli é o melhor chargista do Brasil’, diz o cartunista Laerte. ‘Ele fez o que todo humorista deve fazer, que é manter-se cético em relação a qualquer governo. Nenhum deles jamais vai conseguir sua adesão.’ Não que alguns já não tenham tentado. Em 1988, emissários do então senador Mario Covas sondaram o chargista com uma proposta: criar o símbolo do recém-fundado PSDB, o partido dos tucanos. Angeli não quis nem conversa.

Ex-office-boy, Arnaldo Angeli Filho começou a desenhar aos 14 anos, influenciado pelo cartunista americano Robert Crumb. ‘Não há um desenhista da minha geração que não tenha sofrido a influência do Crumb’, diz. Outro de seus ídolos é Millôr Fernandes, colunista de VEJA. ‘Ele tem uma originalidade e uma capacidade incrível de surpreender.’ Millôr, por sua vez, afirma que Angeli – ‘anagrama perfeito de genial’ – é mais do que um chargista político. ‘Ele é um comentarista gráfico que já há bastante tempo atingiu o ponto de absoluta competência’, afirma.

Para preencher o espaço de 11 centímetros quadrados que detém há 33 anos na página 2 da Folha de S.Paulo, jornal para o qual colabora desde os 17 anos, o cartunista se vale de dez xícaras de café por dia e dois maços de cigarro, combustível obrigatório num processo de criação que já teve lá suas crises. Em 1983, por exemplo, Angeli decidiu abandonar a charge política. ‘Nesse período, de início de abertura, houve um certo enaltecimento dos políticos por parte de veículos e desenhistas, empolgados com a nova situação’, lembra ele. Essa ‘cumplicidade’ entre os artistas e seus retratados fazia com que as charges, segundo o desenhista, ao contrário de despertar o senso crítico do leitor, acabassem por virar decoração de gabinete de deputado. ‘Eles gostavam de aparecer nos desenhos. Como eu não queria desenhar bichinhos engraçadinhos, resolvi mudar de tática.’ Por dez anos, voltou-se para as tiras em quadrinhos e criou personagens antológicos, como o Meia-Oito, caricatura do ‘revolucionário’ de esquerda, a dupla Wood & Stock, de hippies saudosos, e a tresloucada Rê Bordosa, ‘assassinada’ pelo autor em 1987, no auge da fama. Ultimamente, Angeli confessa que anda pensando, novamente, em ‘dar um tempo’ no humor político: ‘Não me canso da charge, e sim da repetição’, diz. ‘Os governos parecem todos iguais.’ Os governos podem ser, mas os cartunistas, não.’

JN NAS ELEIÇÕES
Ronaldo Soares

A redação ambulante

‘A principal estrela da cobertura das eleições no Jornal Nacional, da Rede Globo, será um ônibus. Não um ônibus qualquer, mas um misto de casa e escritório sobre rodas. O veículo, que passou por várias adaptações, ganhou camas, cozinha e banheiro e virou também uma redação ambulante, que a partir de 31 de julho vai percorrer o país levando uma equipe de produtores, técnicos e cinegrafistas comandados pelo apresentador Pedro Bial. Eles terão a missão de produzir e transmitir reportagens diárias para o JN, na série especial ‘Desejos do Brasil’. A idéia é mostrar, com base em situações encontradas no caminho, quais são os desafios do país para os próximos quatro anos. A trupe viajará por cerca de 15.000 quilômetros (veja o quadro). Num trecho, de Belém a Manaus, o ônibus será substituído por um barco, para a realização de reportagens em cidades ribeirinhas.

A caravana do JN parte da Região Sul e termina no dia 30 de setembro em Brasília, depois de percorrer todas as regiões do país e praticamente todos os estados. O local da partida, assim como as cidades ao longo do trajeto, não será divulgado. Não só por medida de segurança, mas para evitar inconvenientes – como, por exemplo, algum político oportunista aproveitar a passagem da equipe para promover um evento. A emissora informa apenas que o critério para a escolha das mais de sessenta cidades que receberão a visita do ônibus-redação foi evitar os grandes aglomerados urbanos, pois a Globo considera que as capitais e respectivas regiões metropolitanas já são satisfatoriamente cobertas pelas afiliadas. ‘Vamos procurar o que é notícia no Brasil, como se fizéssemos um road movie’, diz Carlos Henrique Schroeder, diretor da Central Globo de Jornalismo.

A idéia da redação ambulante surgiu de uma declaração do jornalista americano Peter Jennings. O célebre âncora da rede de TV americana ABC, morto em 2005, dizia se orgulhar de ter, ao longo da carreira, ancorado o telejornal da casa a partir de todos os estados americanos. A idéia inicial do JN era ancorar o programa de todos os estados do Brasil, mas a proposta se mostrou tecnicamente inviável. Optou-se, então, pelo ônibus, que levará a bordo uma versão compacta da estrutura de geração de imagens usada no dia-a-dia dos telejornais da Globo. William Bonner e Fátima Bernardes também participarão da série. A cada quinze dias, um dos dois vai viajar para a cidade onde o ônibus estiver e apresentar o jornal de lá. Nesses dias, o JN terá ainda a participação de repórteres da afiliada da Globo na região.

A cobertura das eleições começou a ser planejada em setembro do ano passado. A emissora programou entrevistas com os presidenciáveis nos principais telejornais da casa – JN, Jornal da Globo e Bom Dia Brasil – e um debate antes do primeiro turno. Em caso de segundo turno, haverá um debate em arena, com a presença de eleitores indecisos na platéia, como em 2002. Para não ficar apenas na repetição de fórmulas que deram certo na cobertura das últimas eleições presidenciais, a emissora resolveu apostar no ônibus. É uma boa idéia. Contanto que as precárias condições das estradas brasileiras – tema, aliás, obrigatório na pauta das eleições – não deixem a equipe da Globo no meio do caminho.

Pé na estrada

Os preparativos para a série de reportagens ‘Desejos do Brasil’

– O ônibus do Jornal Nacional possui fogão, geladeira, forno de microondas, chuveiro, banheiro e quatro beliches – além de uma sala de reuniões

– Seguem a bordo 360 quilos de equipamentos, entre eles uma antena portátil que permite transmitir imagens de qualquer lugar do país

– Toda a equipe fez seguro de vida e treinamento de primeiros socorros. Cada funcionário teve de tomar cinco vacinas, entre elas a tríplice viral e a que protege contra a febre amarela

– Os integrantes da caravana vão receber coletes com três celulares (cada um de uma operadora) e um mapa com os hospitais e as concessionárias do fabricante do ônibus ao longo do trajeto’



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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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