Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Veja


LUIS NASSIF
Diogo Mainardi


Nassif, o banana


‘‘Luis Nassif foi demitido da Folha pela suspeita de ter usado seus artigos no jornal para achacar o governo de Geraldo Alckmin. Falei sobre o episódio com o diretor da Folha. Ele confirmou. Com a carreira arruinada, Luis Nassif refugiou-se na internet, como Mengele em Bertioga’


Eu sou lobista de Daniel Dantas. É o que diz o blogueiro Luis Nassif. Como foi que eu ajudei Daniel Dantas? Acusando-o de ter financiado Lula. E também acusando Naji Nahas de ter financiado Lula. O fato de eu ter publicado uma série de documentos judiciais sobre Naji Nahas e a Telecom Italia me incrimina, segundo Luis Nassif. Entende-se: em meu lugar, ele teria picotado e obedientemente engolido esses documentos, que denunciam as ilegalidades cometidas pela empresa e pelo governo. Quem patrocina o site de Luis Nassif? A Telecom Italia. Quem impediu que ele falisse e perdesse até as cuecas? O BNDES.


Eu já ridicularizei Luis Nassif três anos atrás, demonstrando que ele reproduziu integralmente em sua coluna a nota de um lobista ligado a Luiz Gushiken. Ele foi demitido da Folha de S.Paulo pouco tempo depois, por causa de um fato ainda mais nauseabundo: a suspeita de ter usado seus artigos no jornal para achacar o governo de Geraldo Alckmin. Em 2004, Luis Nassif convidou o secretário Saulo de Castro para um fórum de debates organizado por sua empresa, Dinheiro Vivo. O detalhe sórdido era o seguinte: para o secretário poder participar do evento, o governo paulista teria de desembolsar 50.000 reais. Saulo de Castro negou o pedido.


Em 2005, Luis Nassif voltou à carga, cobrando uma tarifa ligeiramente mais modesta, de 35.000 reais. A assessora de Saulo de Castro mandou um e-mail para o chefe com este comentário: ‘Não é à toa que a empresa se chama Dinheiro Vivo’. Saulo de Castro negou o pedido mais uma vez. Luis Nassif decidiu retaliar. Em sua coluna, passou a atacar sistematicamente o governo Alckmin, em particular o secretário Saulo de Castro. Quando o diretor da Folha de S.Paulo, Otavio Frias Filho, foi informado das suspeitas em torno de Luis Nassif, demitiu-o imediatamente. Nesta semana, falei sobre o episódio com Otavio Frias Filho. Ele confirmou.


Com a carreira no jornalismo arruinada, Luis Nassif refugiou-se na internet, onde seu passado era desconhecido, como o de Mengele em Bertioga. O bando de Luiz Gushiken arranjou-lhe uma sinecura no iG. Enquanto fazia um blog para meia dúzia de leitores, ele era obrigado a escapar de seus credores no BNDES, que queriam penhorar seus carros e apartamentos para tentar recuperar uma parte do rombo de 4 milhões de reais da Dinheiro Vivo. No fim de 2007, depois de um misterioso encontro com a diretoria do BNDES, ele conseguiu fechar um acordo judicial altamente lesivo para o banco, que lhe garantiu os seguintes mimos: o abatimento de 1 milhão de reais de sua dívida, o prazo de dez anos para saldá-la, a retirada de todas as garantias para o pagamento do empréstimo e a dispensa de uma multa de 300.000 reais. Algumas semanas depois, ele retribuiu a generosidade estatal usando o único método que conhece: uma campanha de mentiras descaradas contra mim e contra VEJA, tidos como inimigos do governo.


Luis Nassif é um banana. Ninguém dá bola para ele. Por isso mesmo, minha idéia era persegui-lo apenas judicialmente. De fato, estou processando o iG. Tenho uma tonelada de mensagens, documentos e testemunhas que desmoralizam toda a imundície publicada em seu blog. Mas suas calúnias ganharam outro peso depois que Daniel Dantas e Naji Nahas foram presos. Claramente, o pessoal que o emprega está preocupado com o rumo que esse inquérito pode tomar. Há um empenho para impedir que os dois sejam associados a Lula, como eu sempre fiz. Quando Daniel Dantas e Naji Nahas foram presos, eu comemorei. Luis Nassif deve ter pensado em todos os documentos que terá de picotar e engolir. E em todos os patrocinadores que poderá ganhar.’


TECNOLOGIA
Rafael Corrêa


O toque que torna tudo mais fácil


‘A popularização dos computadores pessoais, nos anos 80, consagrou o mouse como ferramenta ideal e universal para acionar seus comandos. O surgimento do iPhone, há um ano, introduziu uma nova forma de interagir com aparelhos eletrônicos pessoais – a tela sensível ao toque, tecnologia que em inglês leva o nome de touch screen. O celular da Apple, empresa comandada pelo mago Steve Jobs, permite arrastar objetos e aumentar o tamanho de imagens usando somente a ponta dos dedos. O sucesso do iPhone, que já vendeu 6 milhões de unidades, abriu as portas para a ampliação da oferta de aparelhos com a tecnologia touch screen. O sistema já existia desde os anos 70, mas estava restrito a nichos sem graça, como caixas eletrônicos de bancos e totens de informações em shopping centers. Nos últimos meses, antes mesmo que o iPhone completasse um ano de existência, viu-se uma leva de lançamentos com telas sensíveis ao toque. São celulares feitos para concorrer com o modelo da Apple, computadores e até mesas digitais instaladas em bares e restaurantes para os clientes fazerem seus pedidos.


O entusiasmo dos compradores, que em algumas lojas fizeram fila para adquirir o iPhone 3G, a segunda geração do telefone da Apple, que começou a ser vendido na sexta-feira da semana passada, pode ser entendido como um sinal de que a tecnologia touch screen em pouco tempo poderá se tornar tão comum quanto o mouse. O primeiro setor a sentir o impacto da revolução causada pela tela do iPhone foi, evidentemente, o de telefones celulares. Os concorrentes da Apple correram para colocar a tecnologia touch screen em seus aparelhos. A coreana Samsung lançou o Instinct, que apresenta dois trunfos na disputa com o iPhone. O mais evidente é o preço. Nos Estados Unidos é vendido por 130 dólares, 70 a menos que o modelo da Apple. A segunda arma do Instinct é a forma engenhosa com que sua tela vibra ao ser acionada, criando a impressão de que o que está sendo pressionado é uma tecla de verdade.


A também coreana LG entrou na corrida com o modelo Vu, vendido a 300 dólares. Seu destaque é a capacidade de receber o sinal de televisão com qualidade razoável de imagem. A concorrência desses aparelhos com o iPhone 3G não é fácil, claro. O novo iPhone, ao contrário de seu antecessor, dispõe de acesso rápido à internet e de uma série de novos aplicativos que não poderiam ser usados num aparelho convencional, com comandos feitos em teclados. Um deles é o sistema de posicionamento GPS, que permite visualizar mapas e encontrar o melhor caminho para se locomover nas cidades grandes. O apelo principal do iPhone 3G é o preço – metade do que era cobrado pelo modelo anterior. Sai mais barato porque a operadora banca parte do custo.


Entre os computadores pessoais, a segunda versão do TouchSmart, fabricado pela americana HP, é a que melhor utiliza os recursos da tecnologia touch screen. A máquina oferece uma interface gráfica que transforma o Windows Vista numa central multimídia comandada por toques em sua tela de 22 polegadas. Os movimentos de dedos necessários para ouvir música, ver vídeos ou gerenciar arquivos de fotos são similares aos usados no telefone da Apple. O PC TouchSmart é vendido por 1 300 dólares. Como não quer ficar atrás na revolução provocada pelas telas sensíveis ao toque, a Microsoft passou a promover de forma agressiva a mesa digital Surface. Ela é controlada com movimentos das pontas dos dedos sobre a superfície de uma tela de 30 polegadas. Um computador embutido na peça pode ser usado para editar e arquivar fotos, ler e-mails, montar apresentações profissionais e até jogar games. Por enquanto, a Surface está sendo vendida somente a estabelecimentos comerciais pelo preço de 10 000 dólares. O grupo americano Harrah’s instalou algumas unidades no bar de um dos seus cassinos. Os clientes do iBar, no Rio All-Suite Hotel, de Las Vegas, podem usar a Surface para conversar com pessoas de outras mesas, pedir bebidas e, claro, jogar. A Surface também já é usada nas lojas da AT&T para ajudar os clientes a escolher entre os vários modelos de celulares e de planos de assinatura.


O touch screen pode vir a ser o charme do Windows 7, nome provisório do sucessor do Vista, o sistema operacional de que pouca gente gostou. A Microsoft já demonstrou um protótipo do novo sistema em um laptop com tela sensível ao toque. Em linhas gerais, será como usar um iPhone, com a diferença que o movimento dos dedos permitirá navegar pelos programas do computador. Com o touch screen ficaria mais fácil realizar operações como deslocar objetos em aplicativos de design gráfico, até mesmo naqueles simples, de uso doméstico. A previsão de que o Windows 7 só esteja pronto em 2010 é o sinal de que a Microsoft ainda tem um longo caminho a percorrer antes de criar um sistema operacional que faça um computador funcionar com a leveza de um iPhone. Não será surpresa se Steve Jobs, com seu toque de Midas, lançar uma versão do iMac com tela touch screen antes que o arqui-rival Bill Gates consiga concluir o projeto Windows 7.’


INTERNET
Sandra Brasil


Conversando com o inimigo


‘Uma dezena de ações policiais nos últimos tempos tem chamado atenção para o crime monstruoso do abuso sexual de crianças, classificado genericamente como pedofilia. Na Polícia Federal, foram seis grandes operações nos últimos três anos, sendo a mais recente a Arcanjo, realizada em Roraima no começo de junho, na qual entre os oito presos havia dois empresários, um major da PM e o procurador-geral do estado, Luciano Alves de Queiroz, exonerado após a detenção. A Polícia Federal também prendeu em plena biblioteca do Ministério do Planejamento, em Brasília, o corretor de imóveis Gusmar Lages Júnior, 45 anos, que usava os computadores à disposição do público para enviar e-mails com imagens de pornografia infantil. Na Polícia Civil de São Paulo, um pavoroso acervo de imagens de computador foi apreendido com Márcio Aurélio Toledo, 36 anos, operador de telemarketing e pai-de-santo em um terreiro de candomblé, para onde atraiu boa parte de suas vítimas.


Dono do site de relacionamento Orkut, um caminho pelo qual pedófilos têm circulado impunemente, o Google já abriu 3 261 álbuns e páginas privadas do site e concordou em liberar outros 18 330 à Comissão Parlamentar de Inquérito instalada em março para tratar do assunto. De janeiro a junho deste ano, a SaferNet Brasil, organização não-governamental que combate a pedofilia e a pornografia infantil, registrou 26 626 denúncias de ação de pedófilos, quase o dobro do total do mesmo período em 2007. Na Polícia Federal, o número de inquéritos relacionados a esse tipo de crime saltou de 28, em 2000, para 165, no ano passado. Aumentou a pedofilia ou aumentou a ação da polícia? Ambas aumentaram, e o denominador comum é a internet – a rede tanto abriu um campo novo e prolífico para os pedófilos quanto expôs mais o tipo de violência que estes perpetram, possibilitando punições mais freqüentes. ‘Só neste último mês recebemos 3 000 denúncias, e a maior parte delas envolve a internet’, informa Magno Malta (PR-ES), presidente da CPI do Senado.


A pedofilia é um transtorno sexual – a atração por crianças – que há sessenta anos, sob o número F65.4, faz parte da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde. Quando praticada, transforma-se em crime que assombra as famílias: todos sabem que são parentes ou conhecidos próximos os responsáveis pelos abusos mais freqüentes. Nesta reportagem, tratamos de casos que ocorrem fora da rede familiar, em que o pedófilo é um predador sexual de longo alcance. O papel da internet nesse mundo foi, basicamente, o de facilitar o acesso a crianças e reunir em uma espécie de comunidade pessoas que, pela repugnância universal que seus atos despertam, só muito raramente tinham contato mútuo. ‘Na internet, o pedófilo tem a ilusão do anonimato e a sensação da impunidade’, diz o presidente da SaferNet Brasil, Thiago Tavares. Ele atrai suas vítimas em salas de bate-papo e sistemas de comunicação popularíssimos entre crianças, como o MSN e o Orkut (veja o quadro). Usando apelidos infantis como ‘vanessinha10’ e ‘thiago8’, passa-se por criança. O terreno é fértil: em maio, pesquisa do Ibope/NetRatings constatou que, de 23 milhões de pessoas que acessaram 43 bilhões de páginas na internet, 2 milhões tinham entre 6 e 11 anos. Freqüentemente, o pedófilo se integra a sites fechados para troca de pornografia – cenas mais explícitas chegam a custar o equivalente a 150 reais, pagos com cartão de crédito internacional – e até de justificativas distorcidas para seu transtorno. ‘No Império Romano, era comum sexo entre adultos e crianças. Os imperadores tinham várias crianças para satisfazer suas vontades’, diz um deles. ‘A internet estimula a ação do pedófilo porque é lá que ele encontra seus semelhantes’, avalia Sérgio Suiama, coordenador do grupo de combate aos crimes de internet do Ministério Público de São Paulo.


A prisão de Márcio Toledo, em São Paulo, rendeu à polícia um dos mais aterrorizantes retratos da ação de pedófilos no Brasil com crianças brasileiras – apreensões de computadores em outras operações desvendaram cenas igualmente hediondas, mas a maioria provinha do exterior. Toledo fazia e oferecia sexo com crianças, em troca de relações com os interessados nas abominações, e compartilhava as imagens que obtinha. A polícia passou apenas quatro dias interceptando seus telefonemas. ‘Tínhamos autorização judicial para fazer escuta durante um mês, mas, na primeira oportunidade de uma criança ser violentada, nós o prendemos. Ele estava acompanhado de outro homem, a quem havia oferecido sexo com um menino de 8 anos’, conta o delegado Ricardo Guanaes. ‘Tenho uma filha de 4 anos e outra de 5. Como eu explicaria para o pai do menino que ia ser violentado que eu sabia do encontro e não fiz nada porque precisava de mais provas?’ Por provas entenda-se evidência de produção e distribuição de pornografia infantil, crime previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente, estupro ou atentado violento ao pudor, previstos no Código Penal. No Brasil, a posse de imagens e as conversas aliciadoras não são qualificadas como crimes. A CPI da Pedofilia encaminhou ao plenário do Senado um projeto de lei para mudar essa distorção, mas ainda não há data de votação.


O computador de Toledo continha cenas com dez crianças, mas não havia como divulgá-las. ‘Dependíamos da iniciativa de pais que soubessem que seus filhos tinham alguma relação com o sujeito’, explica Guanaes. Apenas um se apresentou: um vendedor cujo filho de 9 anos freqüentava o terreiro de Toledo havia dois, levado pela mãe. O vendedor assistiu às gravações – ou ao que conseguiu ver antes de desmoronar – e identificou o menino numa cena em que era submetido a relações sexuais com dois homens. A polícia pôde indiciar Toledo a partir do seu depoimento, confirmado pelo filho, que está sob acompanhamento psicológico. ‘Márcio dizia que, se ele não fizesse sexo, a mãe morreria de câncer. Chegou a pegá-lo na escola para um encontro com um homem’, disse o pai a VEJA.


Em casos de pedofilia fora da esfera familiar, é comum que os pais sejam os últimos a saber. ‘Os pais têm dificuldade de entender os sinais que os filhos passam. Se a criança tenta contar, eles duvidam dela. Não fazem isso por maldade, mas porque é difícil acreditar que uma pessoa tão próxima esteja fazendo algo tão cruel com alguém tão indefeso’, diz a psicóloga Daniela Pedroso, 34 anos, que há dez anos atende crianças vítimas de violência sexual no Hospital Pérola Byington, em São Paulo. Em 2007, 805 meninas e meninos de até 12 anos foram encaminhados ao serviço, que recebe, em média, setenta novas crianças por mês e utiliza brincadeiras e desenhos no diagnóstico e no tratamento das pequenas vítimas. Apesar do estigma, ainda existe certa tolerância cultural em determinados meios, em especial quando as pequenas vítimas são muito pobres e os criminosos dispõem de algum tipo de poder. ‘No Brasil, a pedofilia anda nas colunas sociais, tem mandato, veste toga, tem patente, anda com a Bíblia e reza o terço. É um monstro pior do que o narcotráfico’, alerta, consciente do peso de suas palavras, o senador Malta. O procurador-geral exonerado em Roraima chegou a ter três encontros com menores em um único dia. A polícia documentou sua ida a um motel com uma menina de 6 anos. É quase impossível ler os detalhes do depoimento da criança sem passar mal. Cadeia e execração social parecem pouco para os perpetradores desse tipo de crime, mas são os instrumentos de que a sociedade dispõe para puni-los. Sempre.’


TELEVISÃO
Marcelo Marthe


Reação burra


‘O DEFENSOR DA CLASSE – CAIO BLAT, ator (em carta de resposta a Manoel Carlos)


‘Em seu desprezo generalizado pelos atores, ele esquece que suas histórias jamais teriam repercussão alguma sem o brilho de centenas de intérpretes que deram vida a seus personagens. O cronista, sim, perdeu uma bela oportunidade de ficar calado’


Há duas semanas, um desabafo do noveleiro Manoel Carlos deu início a uma celeuma no meio artístico. Em sua crônica semanal na revista Veja Rio – veiculada junto com VEJA no Rio de Janeiro –, o autor da Rede Globo se mostrou indignado com as bobagens escritas e ditas pelos atores, em especial os da televisão. Declarou sentir vergonha das ‘declarações pífias, equivocadas, algumas pretensamente inteligentes, mas burras em seus propósitos’ que representantes da categoria vêm emitindo nos jornais, revistas e programas de TV ultimamente. Manoel Carlos lamentou que eles não fiquem calados quando não têm nada a dizer. Citou então frases de atores estrangeiros, de Charles Chaplin a Clint Eastwood, como exemplos do que considera manifestações que fazem jus à inteligência. E deu um conselho: ‘Que nossas atrizes e atores aproveitem o inverno, enfiem-se na cama com um bom livro e aprendam a pensar e a dizer alguma coisa além daquilo que decoram como personagens de ficção’. O noveleiro não cita quem o deixou tão tiririca da vida – fala apenas em gente que conhece ‘há dez, vinte, trinta anos’ e outros ‘bem novinhos’. Mas houve quem se sentisse ofendido por seu texto. Atores da novela das 6 da Globo, Ciranda de Pedra, lançaram uma carta coletiva de protesto, em que acusavam o autor de ‘um ato de censura’ à classe. Um deles, Caio Blat, enviou uma carta pessoal à revista. ‘O cronista, sim, perdeu bela oportunidade de ficar calado’, escreveu.


Manoel Carlos não foi a primeira pessoa – e certamente não será a última – a tornar pública sua irritação com as asneiras proferidas por atores. O cineasta Billy Wilder nunca escondeu que achava Marilyn Monroe, estrela de seu filme Quanto Mais Quente Melhor, uma burra. O colega Alfred Hitchcock disse que atores mereciam ser tratados como ‘gado’ (veja quadro). É claro que esses têm todo o direito de externar sua irritação com tais farpas – mas organizar abaixo-assinados contra a opinião de quem quer que seja é demais. Esse tipo de manifesto em rebanho, quer dizer, em grupo, é autoritário e estúpido em sua essência. Em 2003, um artigo ácido do poeta Nelson Ascher sobre o intelectual palestino Edward Said ensejou um protesto semelhante que levava a assinatura de gente como o crítico Antonio Candido e o escritor Milton Hatoum. O repúdio coletivo equivalia a abdicar de qualquer discussão. O simples fato de ser alvo de um abaixo-assinado por levantar um tema indigesto já dá total razão a Manoel Carlos.


A polêmica causou mal-estar nos bastidores de Ciranda de Pedra. No elenco da novela há um grupo de ‘atores-cabeça’ – entre os quais Caio Blat, com seu gosto por saraus, é um dos expoentes – que se mobilizaram contra Manoel Carlos. A carta-resposta ficou exposta num mural no estúdio da Globo onde a novela é gravada. Mas ao menos uma atriz de peso reclama de ter sido surpreendida com o envio de uma carta em nome de todos sem que tivesse sido consultada previamente. ‘Em todo esse episódio, o que me chamou a atenção foi me criticarem por querer calá-los e pedirem, ao mesmo tempo, que eu me cale’, diz o noveleiro. E completa: ‘Querem a liberdade só para eles. Que liberdade é essa?’.


Malhadores de atores


MANOEL CARLOS, noveleiro (em crônica na revista Veja Rio)


‘Tenho lido e ouvido muitas bobagens escritas e ditas por nossos atores e atrizes. São declarações pífias, equivocadas, algumas pretensamente inteligentes, mas burras em seus propósitos.


Sinto uma certa vergonha por lamentar que não fiquem calados quando nada têm a dizer’


ALFRED HITCHCOCK (1899-1980), cineasta


‘Eu nunca disse que todos os atores são gado. O que eu disse é que todos os atores deveriam ser tratados como gado’


H.L. MENCKEN (1880-1956), jornalista


‘Já fui um crítico de teatro profissional, mas desisti porque assistir às atuações estava fazendo mal à minha saúde. Tudo o que via eram pessoas mais ou menos charmosas tentando agir naturalmente’


BILLY WILDER (1906-2002), cineasta (sobre a atriz Marilyn Monroe)


‘Os seios dela são como granito, mas o cérebro é como queijo suíço’’


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Folha de S. Paulo – 1


Folha de S. Paulo – 2


O Estado de S. Paulo – 1


O Estado de S. Paulo – 2


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