Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Veja


CRISE POLÍTICA
Diogo Mainardi


Marcelo Netto, Marcelo Netto


‘Marcelo Netto. O nome dele é Marcelo Netto. Repetindo: Marcelo Netto,
Marcelo Netto, Marcelo Netto, Marcelo Netto.


Os jornais passaram a semana inteira tentando descobrir quem violou o sigilo
bancário do caseiro Francenildo Costa. Está certo. Precisamos de uma resposta
urgente. Os mandantes do crime – todos eles – devem ser exemplarmente punidos.
Com demissão. Com cadeia. Com tomatadas e ovadas no cocuruto. É uma questão
fundamental para o país. Pena que eu não seja a pessoa mais indicada para tratar
de questões fundamentais. Pelo contrário. Meu negócio são as questões menores.
E, no caso, há uma questão menor que, por dias e dias, os jornais preferiram
escamotear: o nome de quem passou à imprensa o extrato bancário do caseiro. Em
todas as reportagens publicadas ao longo da semana, sua identidade foi
cuidadosamente resguardada pelos jornalistas, sempre com a mesma fórmula. ‘Quem
deu publicidade aos dados bancários do caseiro foi um assessor de Palocci.’ Ou:
‘Na quinta-feira, os dados teriam sido encaminhados a um assessor especial do
ministro’. Ou: ‘Na sexta-feira, um assessor do Ministério da Fazenda já difundia
a suspeita de que o caseiro poderia ter recebido dinheiro para acusar Palocci’.
Ou: ‘Naquela mesma noite, cópias do extrato do caseiro circularam junto aos
assessores do ministro’. Ou: ‘Uma fonte mantida no anonimato passou a dois
jornalistas de Época o extrato de sua conta bancária’.


Quem difundiu o extrato bancário do caseiro foi o assessor de imprensa de
Palocci, Marcelo Netto. Desde a semana passada, todos os jornalistas sabiam
disso. Mas nenhum se animou a denunciá-lo. Marcelo Netto é jornalista. E
jornalistas não denunciam jornalistas. Exatamente da mesma maneira que deputados
não cassam deputados. O escandaloso acobertamento do nome de Marcelo Netto,
porém, foi muito mais do que um simples ato de canalhice ou de coleguismo – foi
prejudicial ao próprio trabalho da imprensa. Marcelo Netto tem de ser
investigado a fundo. Ele pode explicar a origem dos dados sigilosos sobre o
caseiro. Ele pode explicar quando Lula foi informado sobre o caso, se antes ou
depois de ser veiculado pela imprensa. Ele pode explicar, por fim, o caminho que
o extrato bancário tomou a partir do momento em que foi parar em suas mãos. Um
dos filhos de Marcelo Netto, Matheus Leitão, é repórter da Época. O chefe da
sucursal da revista em Brasília, Gustavo Krieger, mandou-o correr atrás do
material sobre o caseiro. Ele correu. E a Época o publicou. O episódio é
ilustrativo dos esquemas de aliciamento, apadrinhamento e cumplicidade do
petismo. Um protege o outro. Um defende o outro. Um conluia com o outro. Um
contrabandeia mercadoria ilícita para o outro. Toda essa história surgiu porque
o caseiro Francenildo Costa não sabia quem era seu pai. O jornalista Matheus
Leitão sabe perfeitamente quem é o seu. É Marcelo Netto. Repetindo: Marcelo
Netto, Marcelo Netto, Marcelo Netto, Marcelo Netto.’


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