No Brasil, a chegada da imprensa ocorreu em 1808, juntamente com a vinda da família real portuguesa. Após 25 anos, emerge então a chamada imprensa negra, que, em 2020, completa seus 187 anos – a publicação do primeiro periódico brasileiro protagonizado e direcionado para negros ocorreu em 1833, no Rio de Janeiro, com o jornal O Homem de Cor ou O Mulato.
Nos séculos XIX e XX, a imprensa negra discute intensamente a questão abolicionista, levanta-se contra o preconceito racial e é pautada na afirmação social da população negra. Os jornais e revistas da categoria eram, de modo geral, compostos por coletivos e grupos, que também utilizavam as mídias para divulgar eventos próprios da população negra. (Nestas primeiras décadas do século XXI, jornais e revistas negros continuam combativos e vigilantes, carregando bandeiras de integração e equidade racial dentro da sociedade brasileira, movimentada por mudanças governamentais e sociais.)
A partir de 1937, período do Estado Novo, o movimento midiático negro sofreu dificuldades e perseguições, enfraquecido no protagonismo em movimentos populares e extinto em partidos políticos.
O jornalismo negro recobrou o fôlego e voltou a organizar-se a partir de 1945, com a publicação do periódico Alvorada – organizado pela Associação dos Negros Brasileiros (ANB) e veículo principal da entidade – além de outros títulos, como O Novo Horizonte e Cruzada Cultural.
Já no período da ditadura militar brasileira, entre 1964 e 1985, o jornalismo negro e as próprias questões raciais sofreram impactos múltiplos, refletidos no sufocamento do debate sobre o preconceito, discriminação e desigualdade racial – veja o Arquivo de Memórias da Ditadura sobre a Comissão Nacional da Verdade e Negros para entender o contexto e a luta negra no período.
Em 1978, a prisão e morte sob circunstâncias suspeitas de Robson Silveira da Luz, feirante negro de São Paulo, culminou numa reunião de militantes que resultou na criação do Movimento Negro Unificado (MNU). Em 7 julho, mais de 3 mil pessoas se reuniram em frente ao Teatro Municipal de São Paulo, movimento que daria origem ao Dia Nacional de Luta Contra o Racismo.
A imprensa no Brasil hoje
A existência de uma imprensa negra no Brasil é fundamental em termos de representatividade e também um modo de contrapor práticas e o sistema essencialmente discriminatórios, estabelecendo-se como uma voz para o povo negro e servindo como veículo e documentação sobre a luta em favor da equidade racial.
Ainda em 2020, a imprensa negra tem o papel de documentar sua luta e história. Trata-se de um compromisso político realizado por e para negros – “A maior parte dos profissionais jornalistas é branca e a cobertura da mídia tradicional pouco fala da realidade do povo negro nos dias de hoje”.
Felizmente, com a crescente democratização do acesso à internet e suas ferramentas, a imprensa negra conquistou mais espaço na área digital e vem alcançando maior público e visibilidade em portais como Correio Nagô, O Menelick, Alma Preta e Blogueiras Negras. Embora o panorama soe positivo, a equidade racial não foi completamente alcançada e a mídia negra ainda tem muito trabalho a fazer.