Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

100 dias em 10 capas

Barack Obama está preocupado. Embora goze de popularidade acima de qualquer suspeita, o novo timoneiro da América tem andado mais introspectivo e pensativo nas últimas semanas, imagem oposta ao semblante rijo e olhar determinado que o levou a Washington em eleição vencida em novembro do ano passado. Cem dias após assumir a Casa Branca, o 44º presidente da maior potência mundial – 14º democrata a ocupar o posto – já sente precocemente o peso de governar o país, uma vez que a população exige postura firme diante da crise e o restante do mundo anseia por novas diretrizes na política externa.

Desde que assumiu oficialmente o governo estadunidense, em 20 de janeiro, Obama apareceu na capa de 10 edições de três revistas de grande circulação no país: The Economist, Newsweek e Time. Neste período, foram lançadas 45 edições semanais e o rosto do presidente, em foto ou charge, é destaque, pelo menos, uma vez por mês em cada uma delas. A 11ª capa será no próximo número da Time, em 4 de maio, que traz Obama, fotografado pelas costas, caminhando pensativo.

O novo comandante tem curvado seu queixo cada vez mais para baixo nas capas das revistas. O semblante de novo imperador, o sorriso largo ao lado da primeira-dama Michelle e a serenidade das primeiras semanas – explorados em cinco edições entre 17 de janeiro e 2 de fevereiro, acompanhados por frases esperançosas como ‘Renovando a América’ (The Economist, 17/01/2009) e ‘Grande Expectativa’ (Time, 26/01/2009) –, deram lugar no último mês à preocupação e à cautela.

Desempenho fraco

Obama – e parte de 2/3 do eleitorado americano que o apóia – descobriu que a política externa não se resolve apenas com apertos de mão (bem apertados!) com Hugo Chávez ou troca de afagos com Cuba. O presidente, embora inexperiente, terá que manejar ainda a questão da fronteira com o México, manter a ordem de retirada do exército do Iraque, conciliar-se com o mundo islâmico e recuperar o país do virulento antiamericanismo, que aumentou na era Bush. Ao mesmo tempo, lidará com um problema que deve ganhar contornos maiores nos próximos anos: a guerra no Afeganistão, tratada na capa da Newsweek (09/02/2009) como o ‘Vietnã de Obama’. A edição alerta para os contornos além do planejado que a batalha pode ganhar nos próximos meses e como pode custar caro aos americanos.

As revistas têm trocado o otimismo pela cautela. Se antes a ‘obamania’ não deixava brechas às críticas, desde lançado o plano salvador de US$ 787 bilhões, no começo de fevereiro, a imprensa preferiu se distanciar do mito para avaliar os riscos e não deixar que o timoneiro caia no mar levando junto o povo americano (The Economist, 14/02/2009). Para a publicação, o plano deve ser muito bem abalizado para que seja a solução, e não mais uma parte do problema.

Em casa, Obama tem sido mais criticado que no exterior. Para muitos, ainda precisa mostrar mais liderança e conciliar o Congresso, para que consiga apoio em projetos mais difíceis e arrojados no futuro, como o controle na emissão de carbono e reforma da saúde pública. A crítica mais dura recebida até agora foi do semanário The Economist (28/03/2009), que decreta que o desempenho caseiro de Obama foi fraco para aqueles que endossaram sua candidatura, incluindo a própria publicação.

Sol pode voltar a raiar

No entanto, esses obstáculos não excluem a competência de Obama no manejo da política externa e seu imensurável poder psicológico. ‘O novo psicólogo da América’ (Newsweek, 02/03/2009) inspira confiança a seu povo e tem apoio massivo para trabalhar. Segundo levantamento recente do Barômetro Iberoamericano de Governabilidade, o governante têm 85% de avaliação positiva, superando populares da América Latina, como Luiz Inácio Lula da Silva, que aparece em terceiro com 73%. Pesquisa do Washington Post revela que 69% dos estadunidenses aprovam seu trabalho.

Os americanos, apesar da crise, tiveram sua fé no futuro restaurada e sabem que não há cura fácil para os problemas do país, por isso são pacientes. A ‘obamania’ está longe do fim e o presidente, embora ande meio cabisbaixo pelos corredores da Casa Branca, sabe que o sol pode voltar a raiar nos próximos anos.

******

Jornalista, foi estagiário no jornal Estado de Minas e repórter do portal Uai e do jornal O Tempo