Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Quanto mais eu vejo, menos eu sei

Movimentos sociais marcaram a década de 1980, mesmo oprimidos por uma ditadura que torturava e matava. O povo foi às ruas exigindo eleições diretas, pedindo a reforma agrária, garantias trabalhistas e conquistou grande marcos na história do país. Seja na música ou nas greves e passeatas, as pessoas mostravam o que queriam. Naquela época, elas tinham a esperança de que o que estavam fazendo naquele momento seria para o bem das futuras gerações.

O que se pode ver é que hoje em dia uma das lutas mais importante dos jovens é saber qual roupa irá usar na escola no dia seguinte. As pessoas estão cada vez mais alienadas e egoístas, a futilidade é motivo de adoração.

A música, que nos anos de ditadura foi tão marcante para muitos, hoje já não marca tanto, a menos que tchu-tcha subliminarmente esteja fazendo protestos contra a atual situação política do país. Um país que cantava que“é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanha”, hoje canta “Ai se eu te pego”. É notável que hoje em dia, para uma música cair nas graças do público e ser um sucesso, não precisa de mais do que duas palavras, basta ter um ritmozinho e um pouco, às vezes até demais, de sexismo e logo terá milhões de seguidores.

Esperar para ver

E os movimentos sociais que tomavam as ruas dos anos 1980 hoje são feitos pelo Twitter. Alguns creem que seus tweets salvaram o mundo. E a mídia também entra nessa alienação toda. Pois não seria ela ajudante na difusão de toda a futilidade que estamos cultivando? Os jornais dão poucos minutos para reportagens sobre as greves que tomam conta do país e um bloco inteiro é dedicado a certos jogadores de futebol. Há quem diga que as pessoas não querem ver a “verdade” na TV, e sim, o que elas gostariam que fosse verdade.

Assim ficam apenas as perguntas. Será que todos aqueles que participaram dos movimentos sociais em busca de melhores condições e liberdade de imprensa – dentre tantas outras reivindicações – queriam que o futuro melhor que eles tanto sonhavam é esse onde as pessoas preferem viver de ilusões a ver a verdade nua e crua, achando que o que está acontecendo fora da sua zona de conforto nada tem haver com elas? Será que toda a luta e sofrimento do passado serviram apenas para na atualidade as pessoas poderem fazer um “Tchê Tchê Rere” mais “tranquilos”? O jeito é esperar para ver até onde tudo isso irá chegar.

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[Tamara Pinho é estudante de Jornalismo, Mariana, MG]