Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O (triste) papel do jornalismo no período eleitoral

Jornalista e moradora da região metropolitana de Belo Horizonte, tenho acompanhado toda essa movimentação que o período eleitoral traz para as cidades. E, nessa época, não tem como deixar de lado ações que começam a incomodar (e muito) na reta final das campanhas eleitorais. Não falo aqui das bandeiras que nos deixam atordoados ao tentar fazer o caminho do trabalho para casa, ou sequer de chegar todos os dias cansada e precisar de recolher em meu portão centenas de papéis dos candidatos. Sequer reclamo, apesar do aborrecimento que isso provoca, de ter de pular todos os cavaletes com as fotos dos candidatos nos passeios.

Mas há algo de muito ruim que sempre me fez questionar o nosso papel, enquanto jornalista, durante um período em que a informação deveria ser tratada com a maior verdade possível, mas acaba, quase sempre, sendo deturpada, manipulando um grande número de pessoas e definindo, assim, o destino de uma cidade por quatro anos. Sempre quis ser jornalista, não com o idealismo de que escreveria somente o que eu quisesse e que trabalharia como uma revolucionária da escrita, mas com o objetivo de fazer o melhor para que meu trabalho fosse reconhecido, principalmente, pela honestidade com a qual escrevo.

Ao ver algumas notícias que põem fim a tudo o que aprendi, me questiono, e muito, sobre quais são os verdadeiros caminhos que o jornalismo tem seguido. Matérias requentadas, que não dão voz a todos os envolvidos e que levam o leitor a cair em erro, têm sido uma constante nos jornais.

Profissão vendida

Ao ler essas notícias e ter conhecimento de toda a verdade por trás do que foi escrito, me questiono: será esse o nosso papel enquanto jornalistas? Forjar uma notícia em prol de uma candidatura, manipular a verdade a favor de uma vitória nas urnas e enganar a população não deveria fazer parte do nosso currículo.

Enquanto produzimos rapidamente essas mentiras, a proporção que as mesmas tomam nas redes sociais provoca desastres ainda maiores ao serem defendidas como grandes verdades pelos internautas que pouco buscam apurar de fato se o que escrevemos é realmente algo a ser levado em consideração.

Fato é que neste período eleitoral tenho tido muita vergonha de ser jornalista. É a profissão que escolhi e que sempre vivenciei sem muito romantismo, mas que me deixa pasma ao vê-la tão vendida, suja e corrupta em prol daqueles que nunca se preocuparam com a melhoria de uma cidade ou da vida da população.

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[Juliana Rocha é jornalista, Nova Lima, MG]