Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A corrupção e o jornalismo

Já dizia Cidinha Campos, jornalista e deputada estadual pelo PDT do Rio de Janeiro: “A corrupção está no DNA das pessoas.” A frase foi verbalmente escancarada em plenário durante uma sessão da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde ela colocava em discussão a moral de colegas de parlamento por envolvimento em crimes de corrupção. O que Cidinha afirma pode parecer generalizado e soar ofensivo aos ouvidos de muitos, mas não foge à realidade de pelo menos 63% da população brasileira que, respondendo a um levantamento feito pela Pesquisa Social Brasileira, admitiu ter dado um “jeitinho” na vida.

O “jeitinho” nada mais é do que uma forma de quebrar e burlar leis e regras impostas à sociedade como um todo. É corromper um guarda para não ser multado. É atravessar o sinal no vermelho ou até mesmo parar o veículo em cima da faixa de pedestres e não se importar, acreditando que essa atitude não vai gerar punição ou que ninguém será prejudicado.

Analisando toda essa situação e voltando-a para o campo da comunicação, mais especificamente o jornalismo, vemos que o profissional deve agir com uma conduta cívica mais parecida com a de um “perfeito” cidadão do que qualquer outra coisa. Ele precisa conhecer os preceitos da moral e ética para aí, então, trabalhar como um agente social colaborando com a população, seja divulgando quebras de padrões sociais, seja cobrando tais práticas.

O jornalista como agente social

O relacionamento que se deve ter com a fonte, por exemplo, segundo o próprio Código de Ética, não pode passar de troca de informações, respeito, privacidade e garantia de segredo. O distanciamento pessoal faz parte da moral profissional do jornalista. Para se conseguir dados, o “jeitinho” é um péssimo aliado. Por quê? Simples: o jeitinho corrompe preceitos básicos. Mas e os profissionais que ainda devem se formar, será que eles podem trazer consigo uma possível falha no “sagrado” cumprimento do Código? Segundo informações publicadas no livro A cabeça do brasileiro, do escritor Alberto Carlos Almeida, os jovens entre 18 e 24 anos são os que mais praticam o “jeitinho”. 78% deles já fizeram isso, frente a 54% dos que possuem 50 anos ou mais.

Quando o assunto é fazer matérias tendenciosas, conseguir informações de forma imoral, beneficiar alguém pelo grau de amizade, a corrupção começa dentro do próprio caráter do profissional. O jornalista fere a si e à profissão, pois danifica sua moral e as já estabelecidas à prática. Embasar-se no Código de Ética e tê-lo como um livro de cabeceira é mais do que se atentar, é acrescentá-lo em seu conhecimento e utilizá-lo como um antijeitinho contra a quebra da prática coerente da profissão, além de ser uma forma de se eximir do quadro que aponta os corruptores e suas características.

Por fim, o jornalista como um agente social que é, ao corromper ou permitir ser corrompido se fere duas vezes: como pessoa e como profissional.

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[Dyego Queiroz é jornalista, Rio Verde, GO]