Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A mercadoria “violência” banalizada

Tempos difíceis. A confusão social está em todos os lugares. São tragédias dando lugar a outras tragédias. Pessoas agitadas, enervadas, em uma busca incessante por algo que nem sabem identificar o que é. Uma insatisfação permanente. Estas são algumas das características da nossa sociedade, também identificada por estudiosos da comunicação como sociedade pós-moderna, sociedade da informação e ainda sociedade de consumo.

E, de fato, podemos afirmar sem muito esforço que na nossa sociedade a informação e o consumo estão atrelados um ao outro. Esta é a lógica que fundamenta a comunicação de massa. Toda a informação vem recheada de mensagens subliminares, criando necessidades, antes inexistentes. E, o que é ainda mais assustador, deparamos com um modelo que vende e reproduz aquilo que execramos e que paradoxalmente está presente no imenso Big Brother que se tornaram nossas vidas. Convivemos com ela, cada dia mais naturalmente: a violência.

A mercadoria “violência” é apresentada com outras do tipo aparelhos celulares, produtos de beleza, medicamentos naturais, tudo num pacote só. Ao mesmo tempo em que se fala da vida ceifada, muda-se o ângulo, substitui-se o semblante consternado por um grande sorriso e anuncia-se a última novidade em assunto de beleza. Naturalmente! Um modelo de comunicação muito perigoso que, segundo Horkheimer, traz o risco da padronização com apenas dois fins: a rentabilidade econômica e o controle social.

Lógica da mercadoria

Entretanto, é diante de um quadro social doente como o nosso que os profissionais de comunicação devem estar atentos à ética da informação. Do contrário, correm o risco de tornarem-se marionetes, joguetes especializados em informações superficiais, alienantes e passam a agir com a falsa sensação de “super-herois”. Aqueles que tudo podem, que estão acima do bem e do mal. Ameaçam, chantageiam, agem com emoção e parcialidade, manipulando a todo o momento a grande massa humana.

Profissionais desta “estirpe” ignoram, dentre outros, princípios comoa responsabilidade social de fazer o seu trabalho com consciência ética, responsabilizando-se pela informação transmitida ao grande público e tendo claros os vários interesses sociais. Ignoram o respeito à privacidade e à dignidade humana, deixando de lado a proteção aos direitos e à reputação dos outros, promovendo a calúnia e a difamação e ainda ignoram o respeito ao interesse público quando passam por cima dos interesses da comunidade, das instituições democráticas e da moral pública em favor dos interesses econômicos e de seus interesses pessoais de ascensão profissional.

Pensar a sociedade da informação requer cuidado, compromisso e responsabilidade. É pensar no bem comum, pensar uma sociedade de direitos e deveres, que a cada dia avança e busca se organizar nas suas reivindicações por uma vida digna, em que o direito à comunicação significa o direito de buscar a informação, de opinar e de criticar. A mídia que tem como princípio único a questão econômica, que passa por cima da dignidade humana, que aliena, que vende, desconhece valores. Pode, inclusive, na lógica da mercadoria, substituir do dia para noite a sua estrela, se o brilho desta já não mais representar os anseios da sociedade de consumo.

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[Geralda Ferraz é funcionária pública, assessora de Comunicação, Goiânia, GO]