Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Uma pauta tirada da cartola

Na coluna “Painel” da Folha de S.Paulo, da jornalista Vera Magalhães (19/11/2012), sob o título “Dirceu deve começar a cumprir pena na prisão de Tremembé”, há muito de oportunismo voluntarista e pouco, muito pouco mesmo, de jornalismo. Com o injustificado (e injustificável, para não dizer leviano) subtítulo “Segurança Máxima”, a colunista inicia o seu “brilhante” furo de reportagem com uma frase condicional: “Se depender das avaliações técnicas do governo paulista, José Dirceu iniciará o cumprimento da pena imposta pelo STF na penitenciária José Augusto César Ribeiro, em Tremembé” e, não contente com a imprecisão das tais “avaliações técnicas”, vai mais fundo e acrescenta que “o Bandeirantes considera improvável a ida do ex-ministro para centros de ressocialização, como o de Limeira” (sic).

O que vem a seguir, no entanto, demonstra que se trata apenas de uma pauta inventada, tirada do bolso do colete com o único objetivo de realçar, com traços de realismo, a condenação a uma pena superior a dez anos do ex-ministro José Dirceu. A alusão ao presídio de Limeira deixa bem clara esta segunda intenção pois “em regra, esses estabelecimentos acolhem condenados a menos de 10 anos – Dirceu recebeu punição 10 meses maior pelo mensalão, embora deva ficar menos de 2 anos em regime fechado”. Agora, o mais engraçado de tudo é que a primeira frase do comentário – “se depender das avaliações…” é amplamente desmentida no final da imaginativa “notícia”, já que “a decisão está sujeita a manifestações do Judiciário e dos advogados do caso”. Pior (ou melhor) ainda: “O sentenciado pode opinar.”

E é tudo fechado com chave de ouro, pois “oficialmente, a Secretaria de Assuntos Penitenciários só se pronunciará após a solicitação judicial de vaga no sistema prisional de São Paulo”. Assim, fica o dito pelo não dito para os que leram a notícia até o final. Aos demais, os que se resumem à leitura da lide (a maioria, sabe-se) é prestado um grande desserviço; indecoroso, eu diria.

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[Joca Oeiras é jornalista]