Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Existe democracia no Brasil?

“Toda vez que um político desonesto é surpreendido em ligações telefônicas, trocas de bilhetes, imagens flagradas por câmeras etc., surge alguém para dizer que a corrupção vem à tona porque vivemos num Estado democrático. Segundo esses otimistas, isso se deve ao amadurecimento da democracia brasileira e ao bom funcionamento das instituições, capazes de apanhar maus políticos.” O trecho é de Anderson Felix, graduado e mestrando em Filosofia pela PUC-SP, professor da rede de ensino paulista, e nos leva a refletir sobre o assunto.

Aparecer na mídia e em palanques não é barato e todo político tem um financiador por trás de sua imagem. Alguém que investe muito dinheiro na campanha para ele chegar ao poder. Lembre-se: em um sistema capitalista como o nosso, ninguém dá dinheiro à toa sem receber nada em troca. Isso não é nenhuma novidade para os cidadãos. E começa aí o problema democrático do Brasil. Democracia é um regime de governo onde o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos, direta ou indiretamente, por meio de representantes eleitos. Você, caro leitor, acha que estamos realmente sendo representados nesse sistema democrático?

Lamento informar, mas no Brasil não existe democracia. Porque não há separação dos poderes e não funciona o Estado de Direito. “Estado de Direito”, para quem não sabe, significa que nenhum indivíduo, presidente ou cidadão comum está acima da lei. Quem é que nunca ouviu que o Maluf roubou dinheiro público? Quantas vezes isso foi publicado nos jornais? Roubar não é legal, literalmente falando. As diversas manchetes não geraram nenhum resultado prático, Maluf foi eleito deputado e goza de imunidade parlamentar. Como ele existem tantos outros que, se fosse para nomear, passaríamos meses lendo os nomes da enorme lista. Essa é uma simples demonstração de que neste país não existe democracia.

Umnome que ainda não inventamos

Temos as grandes corporações de imprensa do país monopolizadas pelos grandes grupos empresariais, tornando a informação manipulada de acordo com interesses elitistas e políticos – Rede Globo, Record e revista Veja são exemplos claros. Isso se deve a má formação educacional e cultural dos cidadãos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o acesso à cultura é praticamente restrito ao poder econômico. Só entre os jovens com 15 anos ou mais, a taxa de analfabetismo é de 8,6% –o que representa 12,9 milhões. De forma geral, onúmero de analfabetos é quatro vezes maior que o de brasileiros que possuem curso superior completo, totalizando mais de 24 milhões de não alfabetizados.

O acesso à educação de qualidade é cada vez mais restrito a pequenas parcelas da sociedade. A cada dia que passa está mais evidente a forte mobilização para uma educação voltada apenas para o mercado, atendendo aos interesses do Fundo Monetário Internacional (FMI) e transformando o cidadão numa “engrenagem animada” e de fácil manipulação.

Uma jovem disse o seguinte: “A democracia brasileira só funcionaria se todos os brasileiros fossem honestos. Aí sim, por uma questão ética, ninguém infringiria as leis. É um pouco como o comunismo: só funcionaria se o mundo fosse composto de anjos.” Anjos talvez fosse uma boa solução, mas como conseguir transformar todos em “anjos”? Praticamente impossível, pois quase toda a sociedade está corrompida.

Um dia ouvi um cidadão reclamar do sistema político, pois os representantes desse sistema roubavam muito. Sentia-se um inútil em votar. Em outra ocasião, poucos anos depois, disse: “Nossa, o vereador ‘Joaquim’ (nome fictício para preservar a imagem e tentar ser ético) é muito burro, ficou quatro anos na Câmara e não roubou nada”. Quanta contradição. Olha o pensamento da “criatura”: reclamou porque um roubou e criticou o outro por não ter roubado.

Dizer que há uma real e verdadeira democracia no Brasil se torna algo um tanto cômico, sendo complicado imaginar que desta forma possa haver uma conscientização política formadora de pessoas ativas e conscientes do interesse público (não estou dizendo que não há, mas que são poucos, ou melhor, raros). Contra os otimistas, entendo que essa é a maneira por “excelência” de se fazer política no Brasil. E, se estiver certo, o que quer que exista aqui ou é contrário à palavra “democracia” ou tem outro nome, que ainda não inventamos. Sinto muito, mas estamos longe da tão sonhada “democracia”.

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[Taffareu Tarcísio é jornalista, Rio Verde, GO]