Monday, 18 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

O leitor

Nos dias de hoje parece que lemos cada vez mais e, ao mesmo tempo, cada vez menos, nos tornando leitores menos completos para a complexidade que o nosso presente exige. Explico minha reflexão: com tamanha agilidade e velocidade, os meios de comunicação trazem, minuto a minuto, num ritmo frenético e intenso, sem-número de informações que deve ser conhecido e absorvido para, rapidamente, dar lugar a outras informações. Neste sentido, sem dúvida, lemos cada vez mais.

Estão aí os jornais, a internet e os aparelhos móveis nos alimentando incansavelmente com um bombardeio de dados. Por outro lado, tenho a impressão de que lemos cada vez menos no sentido de nos apropriarmos das informações e a partir delas conseguir fazer associações, comparações, interpretações e reflexões críticas que poderiam contribuir para um (re) significado de nossas ações. O que lemos torna-se cada vez mais descartável, sem provocar e ou gerar impacto. Num mundo em que lemos de tudo, a sensação é que não lemos nada.

Leitura do mundo

A quantidade de conteúdo gerado e disponibilizado instantaneamente é um complicador. Pois há, sim, muito lixo, muita informação que na prática em nada contribui para a vida pessoal e ou profissional das pessoas, embora insistentemente sejamos induzidos a perceber o contrário. Muitas informações que nos chegam, na prática, não têm nenhum ou pouco cunho de interesse público. São, em grande medida, informações de interesse particular. Talvez separar o joio do trigo seja uma das primeiras e principais ações que deveríamos aprender.

Não é uma tarefa relativamente difícil, mas ela exige tempo (o que é raro nos dias de hoje) e investimento. É um processo que exige espaços qualificados para discutir o que consumimos e o que fazemos com o que nos chega. O objetivo não é olhar para a mídia como algo negativo e ou prejudicial à sociedade. A ideia não é essa. A questão é ser capaz de refletir sobre o conteúdo que é produzido por esta mídia, assumindo assim uma postura mais ativa e participativa na leitura do mundo, que não se dá de forma objetiva, unilateral e ordenada.

Muito se fala do papel da escola nos dias de hoje. Creio que a leitura do mundo, nesta perspectiva que apontei, deva ser o objetivo primeiro.

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Marcus Tavares é professor e jornalista especializado em Educação e Mídia