Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Voz para história

“Senhor Watson, venha aqui. Quero vê-lo.” Segundo os cadernos do inventor do telefone, o britânico Alexander Graham Bell (1847-1922), esta foi a primeira frase dita no dispositivo, por ele mesmo, para um eletricista com quem trabalhava. Mas como era a voz do cientista? Graham Bell passou a vida inteira trabalhando na tentativa de capturar e reproduzir sons, mas só agora a sua voz foi revelada para a história.

Pesquisadores do museu Smithsonian, nos Estados Unidos, recuperaram a voz do cientista em um dos 400 discos de papelão e cera usados por Bell para gravar áudio em meados do século 19, depois da invenção do telefone. A coleção foi doada à instituição pelo cientista ainda em vida, mas ninguém tinha conseguido reproduzir nem um sonido sequer do material, já bastante arranhado e frágil.

Os discos foram gravados por Bell na tentativa de aperfeiçoar a técnica de capturar e reproduzir sons, inaugurada pelo seu rival, o norte-americano Thomas Alva Edison, que em 1877 deixou para a eternidade a canção ‘Mary tinha um carneirinho’, o primeiro registro sonoro, gravado em um fonógrafo. 

A equipe de pesquisadores do museu, liderada pelo físico Carl Haber, escaneou a superfície de sete dos discos com um scanner 3D de alta precisão. As imagens geradas, semelhantes a mapas topográficos, foram lidas por programas de computador que transformaram os relevos na cera em áudio. 

Em um dos discos, marcado com as inicias AGB e a data de 15 de abril de 1885, os pesquisadores encontraram o registro mais claro da voz de Graham Bell. A gravação tem ruídos, mas o recado, dito pausadamente, é nítido: “Hear my voice, Alexander Graham Bell” (em português, “Ouçam a minha voz, Alexander Graham Bell”). Ouça aqui.

Para surdos

Nos discos, os pesquisadores também encontraram um longo ditado de números e valores em dólar feito por Graham Bell. Eles acreditam que a ideia do inventor era criar algum dispositivo de gravação para auxiliar em transações mercantis.

A relação de Graham Bell com o som e a voz humana não se restringe ao telefone e aos dispositivos que inventou para gravar áudio. Ele era conhecido por sua boa dicção, adquirida com o pai, professor de elocução. Além de inventor, era professor de fisiologia vocal na Universidade de Boston e desenvolveu uma técnica de ensino para treinar surdos a falar. Sua própria mulher, Mabel Hubbard, era beneficiária dessa faceta de Graham Bell. Surda desde os cinco anos, dependia da leitura de lábios e do treinamento do marido para se comunicar. 

Depois de dar voz a tantas pessoas, tanto com a invenção do telefone, quanto com suas técnicas de elocução, Graham finalmente tem a sua voz gravada na história. 

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Sofia Moutinho, do Ciência Hoje On-line