Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O principezinho não me representa

É curioso procurar entender por quais motivos os veículos de comunicação do Brasil (a popular mídia) dão tanto destaque ao nascimento do bebê real britânico. Será que isto é notícia a ser estampada nas capas impressas (com fotos), nas escaladas dos telejornais, ou nas galerias de imagens dos portais noticiosos de internet? Será que os milhares de pessoas que saíram às ruas para protestar (contra alguma coisa) estão interessadas no terceiro na linha de sucessão do trono britânico?

Leio nas redes que o jornal inglês The Guardiancriou o Baby Blocker, uma ferramenta para filtrar as notícias do filho do príncipe e da duquesa. É interessante, principalmente em se tratando da imprensa britânica, conhecida pelos tabloides sensacionalistas – não é o caso do Guardian. Penso que esta superexposição é mais um triste reflexo da crise do jornalismo. Os colegas não entenderam nada do que se passou nas ruas, quando alguns foram hostilizados pela ira de muitos. Os repórteres de TVs sem identificação nos microfones e as substituições das placas de trânsito de Roberto Marinho e Otávio Frias por Vladimir Herzog são reveladoras. Enquanto os brasileiros clamam por serviços públicos de qualidade, a mídia se concentra na sociedade das celebridades.

Já passou da hora da mídia rever seus conceitos. Jornalismo é coisa séria. Deixem o espetáculo para as mídias de espetáculo. Um pé de página para o bebê real está de bom tamanho (com uma foto 3×4, vá lá).

Utopias existem para ser sonhadas

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman defendeu uma tese interessante sobre as manifestações que se espalham em todo o mundo durante o programa Milênio, na TV Globonews. Disse que há um divórcio entre o poder e a política (ver aqui). Acredito que nossa mídia está divorciada da sociedade. Para casar de novo e sobreviver, será preciso ouvir a voz forte das ruas.

O dia em que a principal emissora de TV trocar a novela das nove pelo programa de educação (exibido às 6h da manhã de sábado!) poderemos comemorar uma revolução de verdade.

As utopias existem para serem sonhadas.

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Fábio Galvão é jornalista e sócio-diretor da CGC Educação, assessoria de comunicação especializada em educação