Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Protesto violento muda pauta de jornalistas estrangeiros

O fotógrafo japonês Yasuyoshi Chiba já cobriu conflitos, terremotos e outras catástrofes e por algumas de suas imagens recebeu prêmios importantes. Na noite de segunda-feira (22/7), Chiba, da agência France Presse, foi ferido por um policial com golpes de cassetete enquanto registrava a manifestação nos arredores do Palácio Guanabara, onde a presidente Dilma Rousseff e outras autoridades recepcionavam o papa Francisco. Terminou a noite no hospital, com três pontos na cabeça. Como o japonês, cerca de 6 mil jornalistas estrangeiros estão no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude. Câmeras em mãos e credenciais sobre o peito, eles não tiram os olhos do papa, e agora também dos protestos.

“Talvez seja um dos poucos jornalistas estrangeiros que podem entender o porquê das reclamações do povo”, conta Yasuyoshi Chiba, de 42 anos, que acabou de se mudar, com a mulher e a filha de nove meses, para o Rio. “Vim morar no Brasil há dois anos curioso para saber mais sobre a enorme comunidade japonesa em São Paulo. Amo o país, mas sei que agora vou ter que tomar mais cuidado.”

Trabalhando ao lado de profissionais brasileiros, os jornalistas estrangeiros representam os olhos do mundo na Jornada. Representam 1.200 veículos de 70 países. Um terço é vinculado a jornais, revistas e sites religiosos. A maioria dos correspondentes já imaginava que a vinda do papa poderia trazer de volta a onda de manifestações que tomaram o país durante a Copa das Confederações. O que eles não esperavam, entretanto, era que a multidão saísse do controle das forças de segurança. Giacomo Galeazzi, do jornal italiano La Stampa, já acompanhou papas em diversas viagens, mas jamais tinha visto pessoas avançarem sobre o carro do pontífice. “O único momento em que realmente tive medo foi quando vi o carro do papa parado no engarrafamento e os fiéis bloqueando a sua passagem. Ali, tínhamos uma manifestação de alegria, mas e se alguém escolhe aquele momento para protestar? Poderia haver uma catástrofe.”

O catolicismo na América Latina

Acostumado a cobrir confrontos no Oriente Médio, o correspondente de guerra italiano Alfredo Macchi, da TV Mediaset, se surpreendeu com a violência entre policiais e manifestantes. “Tudo bem que as pessoas queiram se manifestar pacificamente, mas a visita do papa não me parece o momento para tamanha violência. Ontem, uma garrafa em chamas caiu a menos de 30 centímetros da minha perna” relatou Macchi. “Estive nas manifestações no Cairo e na Turquia, sei me proteger. Mas ontem um fotógrafo foi agredido.”

Conterrâneo de Macchi, o jornalista freelancer Marcello B. também pensava que as manifestações seriam menos agressivas. Para o repórter, as cenas de violência da última noite estão tendo péssima repercussão ao redor do mundo. “Achei que o governo não fosse querer dar uma impressão ruim e, por isso, as coisas fossem correr bem. Depois da Copa das Confederações, os protestos no Brasil tinham sumido da mídia internacional. Agora, me parece que essa é uma guerra midiática e nela é a polícia que está perdendo”, diz Marcello, que foi atingido por uma bala de borracha nas costas anteontem.

O irlandês Paul Byrne também lamenta a imagem que o país está passando para a o resto do mundo. Correspondente da Associated Press em Buenos Aires, Byrne chegou anteontem ao Rio. “Entendo os anseios da população, mas em comparação com o tamanho do Brasil, esse grupo que protesta é muito pequeno. O triste é ver que só sairá isso na mídia internacional, quando o país poderia estar mostrando tantas coisas boas.”

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Barbara Marcolini e Roberta Salomone, de O Globo