Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Imprensa estrangeira destaca declaração sobre homossexualismo

Globalmente, houve mais destaque para a fala de Francisco sobre homossexuais do que para a Jornada Mundial da Juventude em si. Inicialmente mais restrita a nações cristãs, a cobertura da visita ao Papa foi só aparecer, por exemplo, no indiano “The Hindu”, publicado em inglês, depois de o Pontífice tocar nesse assunto, tabu para várias religiões.

“Papa diz que não julgará padres gays”, afirmou o jornal, dando destaque à sexualidade do clero, em abordagem semelhante à do “New York Times”. O jornal nova-iorquino observou ainda que a homossexualidade foi ignorada “por gerações” como “um mal moral intrínseco” pelo Vaticano. O “Los Angeles Times”, que havia enviado uma correspondente para a Jornada, publicou uma análise afirmando que a viagem de Francisco ao Brasil foi um “sucesso estrondoso”.

Nas redes sociais, o tema também teve ampla circulação. Chegou a circular um vídeo com o Papa fazendo o sinal de ok com uma bandeira LGBT ao fundo.

Outros jornais, como o chinês “Global Times” e o coreano “Korea Herald”, ambos em inglês, deram menos ênfase ao clero, citando diretamente a frase de Francisco: “Quem sou eu para julgar gays?”. O “Herald” destacou ainda outro tema polêmico da coletiva no avião rumo à Itália: as mulheres. “Papa ‘não julga gays’ e pede um papel maior para a mulher”. Mas para o “Indian Express”, a declaração do Papa “chocou”.

O site em inglês da Aljazeera informava que, para o Pontífice, os gays “não devem ser julgados”. O serviço em árabe da emissora do Qatar, no entanto, não noticiou a fala de Francisco, nem sua presença no Rio.

Na “Russia Today” — país que vetou a adoção de crianças por estrangeiros oriundos de nações onde o casamento gay é permitido — destaca apenas que “milhões se reuniram” na Praia de Copacabana. Mas, no site, uma reportagem de março ressaltava os esforços de Francisco, quando era arcebispo de Buenos Aires, para impedir a legalização da união homoafetiva na Argentina.

O assunto também teve destaque nos jornais do país vizinho. Segundo o “La Nación”, “a comunidade homossexual argentina percebeu uma mudança de atitude do Papa em respeito aos gays”. Já o “Clarín” destacou as críticas do movimento LGBT. “O Papa vincula a diversidade sexual aos lobbies, à mentira e à fraude”. E lembrou que “ele é o mesmo que conclamou uma ‘guerra santa de Deus contra o plano do demônio’ do matrimônio igualitário”.

‘FT’: nova postura

Já o “Página 12”, que anteriormente acusara o Papa de conveniência com a ditadura argentina, destacou a frase “O problema não é ser gay, e sim fazer o lobby”. E também citou as declarações do Pontífice sobre o Vatileaks — que, para alguns analistas, pesou na renúncia de Bento XVI —, de que, embora não tenha ficado assustado, considerou o escândalo um problema muito grande.

Na terra do Vaticano, o “La Repubblica” citou a frase do Papa, “Quem sou eu para julgar um gay?”, e citou a questão do chamado lobby gay que alguns apontam existir na Igreja. “O problema é o lobby, não o gay”. O “Corriere della Sera” teve abordagem semelhante.

O britânico “Guardian” e o “New York Times” deram em vídeo a fala do Papa sobre a importância da mulher, na figura de Maria, na Igreja Católica.

O “Financial Times” também apontou um “Papa mais conciliador em relação ao clero gay”, mas no fim da reportagem citou a possível reforma do Banco do Vaticano. E destacou a declaração de Francisco de que o que importa “é a transparência e a honestidade”. Em outra reportagem, ressaltou o estilo modesto do Papa, que “reflete um novo conjunto de prioridades”.

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André Lobato, do Globo