Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornal português adota fundo para empresas financiarem reportagens

Em meio à crise econômica que também atinge a imprensa em Portugal, o jornal “Público” renovou neste mês um projeto pioneiro para garantir verba à produção de grandes reportagens.

O diário mantém um fundo abastecido por sete grandes empresas que atuam como mecenas. Elas contribuem com cotas fixas para um bolo de € 175 mil anuais (R$ 556 mil). O dinheiro é usado exclusivamente para bancar viagens e reportagens investigativas.

O objetivo do projeto é driblar os efeitos da recessão sobre o diário, que sofre queda acentuada em suas receitas publicitárias desde 2007.

“Os jornais portugueses estão em crise profunda. Graças ao fundo, voltamos a fazer reportagens que já não conseguíamos bancar há muito tempo” diz a diretora do “Público”, Bárbara Reis

Classes A e B

O projeto completou dois anos em julho e foi renovado pelo mesmo período. Ele já financiou cerca de 50 reportagens. Um dos mais recentes investimentos foi o envio de jornalistas à Guiné-Bissau para buscar filhos abandonados por soldados portugueses que viveram na ex-colônia.

“Só gastamos o dinheiro do fundo com trabalhos que sejam marcantes e de interesse público”, afirma Reis.

Quando o projeto foi lançado, parte da Redação levantou dúvidas sobre a possibilidade de o sistema de mecenato comprometer a independência do jornal.

A diretora afirma que isso não ocorreu e que os patrocinadores só tomam conhecimento das reportagens quando elas são publicadas.

Uma vez por mês, o “Público” veicula um anúncio de agradecimento com os nomes dos colaboradores do fundo, que incluem dois bancos e uma empresa de telefonia.

O jornal é um dos principais voltados às classes A e B em Portugal e teve circulação média de 29 mil exemplares de março a abril, 4% mais do que no primeiro bimestre.

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Bernardo Mello Franco, da Folha de S.Paulo, em Londres