Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Os desafios da parceria entre TV Globo e Globosat

Há duas [três] semanas, quando a TV Globo anunciou uma nova estrutura organizacional (ver aqui), uma informação chamou a atenção. O comunicado dizia que a área de entretenimento, sob a direção de Manoel Martins, abriria “novas oportunidades de desenvolvimento de talentos internos e de parcerias externas ao ampliar a produção de conteúdo para a TV fechada (Globosat) e para a internet (Globo.com) e aumentar a sinergia com o cinema, com a incorporação da Globo Filmes”.

No mercado, muita gente especulou que a Globosat estaria sendo absorvida pela TV Globo. Outras pessoas entenderam que ficaria tudo como é hoje, com a Globosat distribuindo o GloboNews (um canal que é da TV Globo), contratando a emissora para a produção do SporTV e comprando conteúdos do acervo da Globo para o Viva.

Segundo apurou este noticiário, contudo, a mudança que está se desenhando não é tão radical quanto uma incorporação da Globosat pela Globo (o que não faz sentido, até porque a Globosat tem um peso financeiro importante para o grupo como unidade de negócios), mas também não significa a manutenção do status quo. A tendência é que a parceria entre Globosat e Globo se estreite significativamente, com a Globosat encomendando à Globo programas para a grade de seus canais e a Globo propondo à Globosat ideias de conteúdos que não tenham espaço na TV aberta, mas que possam ser bem aproveitados na TV por assinatura e em outras plataformas.

TV aberta e TV paga

É um novo passo em um processo importante que o grupo já vem experimentando de aproximação entre a usina de produção de conteúdos que é a TV Globo e uma plataforma cada vez mais importante de distribuição, que são os canais Globosat. Hoje, a Globosat encomenda boa parte de seus programas junto a produtores independentes. Segundo apurou este noticiário, isso continuará acontecendo, pois é uma estratégia que tem dado certo. Mas será complementada por conteúdos Globo, inclusive inéditos, que se adaptem melhor ao público da TV paga. A Globo, assim, atuará como uma produtora parceira.

Evidentemente, é um processo que apresenta desafios. O primeiro é que a Globo, apesar de ter uma grande quantidade de projetos e ideias na fila, tem boa parte da sua capacidade de produção já dedicada ao que está no ar na TV aberta. Ou seja, não significa que todos os programas sairão imediatamente do papel para ganharem a TV paga, porque não há essa capacidade de produção excedente.

Outro desafio é o de custos: a Globosat encontrou uma fórmula de viabilizar conteúdos de qualidade a baixos custos. Muitas produtoras inclusive reclamam que a Globosat paga pouco, o que é compensado por ser a vitrine mais importante para a distribuição de conteúdos no Brasil. A TV Globo, por outro lado, tem tradicionalmente custos mais elevados de produção. O meio-termo é necessário para que a parceria funcione para os dois lados, o que não é tarefa simples. Trata-se, contudo, de mais um avanço histórico nas relações entre TV aberta e TV paga no Brasil.

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Samuel Possebon, do Tela Viva