Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O peso da irresponsabilidade

Para onde pendula o peso da balança da justiça? Para nenhum lado. Ela procura equilibrar os pratos da culpa e do castigo. A deusa Themis não olha para o seu próprio umbigo. Está vendada às aparências e corporativismos.Mas o mundo idealista dos deuses não viceja na Terra, muito menos na Sua própria terra, e, ali, nem mesmo entre os que se autoproclamam “imparciais”.

Jornalistas e seu próprio sindicato alardearem a morte do cinegrafistacom um atentado à imprensa mas isso carece mais do que de bom senso, é uma barbaridade e beira a irresponsabilidade (beira?).Houve,sim,um atentado contra a imprensa feitopor ela mesma,colocando o acontecido como sendo de autoria de um Black Bloc(leia a matéria no site da revista Veja) em uma manifestação de hostilidade à imprensa.Onde houve a declaração do mesmo que era um Black Bloc? E que o manifestante estava fazendo tal ato contra a atividade de um jornalista? (Agora,já há declaração do seu advogado que o mesmo não “pertence” aos Black Blocs.)

Então partamos para as imagens. O que caracteriza aquele indivíduo como um Black Bloc? Pelas camisas sua e a do “comparsa” se trataria mais de uma dissidência, quem sabe, Gray Bloc?Quanto ao rojão, procura-se um especialista em balística que afirme que seria capaz de prever sua trajetória. Um rojão largado no chão em que se percebe logo sua mudança de direção ao subir contra um “alvo” não estático.

Movimentos açodados

Sacralizando a figura do jornalista e, por consequência, a morte de um dos seus, a imprensa coloca seu autor como o mais vil dos vis. De repente, Bin Laden virou garoto malcriado perto dele.E aí vem a “insuspeita” Abert e os inocentes úteis numa mesma cruzada. As Organizações Globo, por sua vez, fizeram desse fato seu editorialtanto no jornal impresso como no televisivo.Consequências? Primeiro uma associação a um deputado, até onde se sabe, digno, em que a suposição de que seu mandato teria ofertado ajuda jurídica ao manifestante implicado no caso o transformaria num elemento de uma quadrilha. Em pouco tempo foi demonstrado que o advogado denunciante fora defensor de miliciano, este sim, altamente perigoso para a sociedade, que foi combatido pelo referido deputado. Depois, que a conversa foi ouvida exclusivamente pelo advogado de Santiago, Jonas, mas, estranhamente, declarada como ouvida pelo seu estagiário. Mas nada disso foi descoberto pela imprensa, que eu saiba.

Aliás, por que a imprensa repercutiu uma possível ajuda advocatícia de um mandato como apoio a uma quadrilha? Por quê? Por que a imprensa não menciona o porquê deste ex-advogado de milicianos ir defender um Black Bloc? Ou por que um movimento anarquista, como seria o Black Bloc, estar atrelado a um mandato? E as diferenças entre o rapaz na filmagem, aparentemente de pele mais clara e cabelos mais longos, com o detido Caio?

E mais consequências: apresentação açodada de leis para manifestações. Denúncia do Caio e seu advogado de que manifestantes são pagos sem nenhuma concretude. Construiu-se um factoide de atentado contra os jornalistas. Queriam a defesa do trabalho da imprensa. Tacaram um molotov na sua reputação.

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Augusto Mendes é analista de mercado, Rio de Janeiro, RJ