Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Grupo Prisa está saneado, diz executivo

O presidente executivo do grupo PRISA (que edita o EL PAÍS), Juan Luis Cebrián, afirmou nesta segunda-feira ao Conselho Geral de Acionistas que o grupo se encontra em situação saneada, o que lhe permitirá continuar liderando o setor da comunicação e da educação, após o processo de desinvestimentos e refinanciamento da dívida que foi realizado.

“Depois das operações realizadas e com os projetos em andamento, que incluem, como todos sabem, importantes desinvestimentos e amortização acelerada da dívida, o Prisa estará numa situação saneada, que garantirá sua continuidade e crescimento”, disse Cebrián.

O executivo número um do Prisa afirmou, diante do Conselho Geral de Acionistas reunido em Madri, que, embora ainda não seja visível um crescimento sólido do mercado publicitário, é “completamente palpável que o setor chegou ao fundo do poço” no final de 2013, e que a partir de agora pode-se vislumbrar “com moderado otimismo o futuro imediato”.

Por isso, Cebrián mostrou-se convencido de que, depois da política de redução de custos aplicada nos últimos dois anos, que incluiu “dolorosas reestruturações de pessoal”, as margens e o lucro das empresas espanholas do grupo aumentarão quando a recuperação chegar de forma sustentável. O Prisa depende cada vez menos de seu mercado interno, dada a sua crescente implantação na América Latina, como prova o fato de que, excluído Canal+, 60% do faturamento e 91% do resultado bruto de exploração (Ebitda) provêm de fora da Espanha.

O presidente-executivo adiantou que o grupo continuará apostando no seu crescimento no mercado latino-americano, incluindo os mais de 50 milhões de hispanófonos nos EUA. “Por onde quer que se olhe, nosso futuro está na América, embora, é claro, será tão mais brilhante quanto mais se fortalecer o nosso mercado interno”, frisou.

Transformação digital

Ao lado do objetivo latino-americano, o outro grande eixo estratégico é a transformação digital, “que deve se acelerar o quanto antes”, pois está previsto que para 2014 o faturamento do grupo por via digital, junto do advindo dos novos sistemas de ensino digital, representará cerca de 8%.

Cebrián esclareceu será mantida a política de desinvestimentos para a redução da dívida com operações como a recém-definida venda de 3,69% da Mediaset España e a entrega da unidade de Edições Gerais para a Random House: “De resto, continuaremos, e em bom ritmo, com o processo anunciado de desinvestimento, sem que isso signifique que iremos incorrer em qualquer precipitação, na defesa da maior valorização possível dos ativos dos quais nos desprendermos e das melhores condições para a recompra da dívida da companhia.”

Situação financeira estável

Na mesma linha, o executivo-chefe, Fernando Abril-Martorell, frisou que a situação financeira do grupo se estabilizou depois da desaceleração da deterioração da economia espanhola, do fortalecimento dos negócios na América Latina (medidos em moedas locais), do esforço sustentável em gastos, dos desinvestimentos em negócios com prejuízos e do acordo de refinanciamento selado em dezembro passado.

“Com essa análise não quero dizer de forma alguma que tudo esteja resolvido. Nem o Canal+ tem um cenário de negócios fácil, nem seu processo de venda está sendo simples, nem tampouco quero dizer que os impactos da taxa de câmbio não sejam reais, mas sim, que se observa essa estabilização quando se leva em conta a evolução do core business do Grupo, o que restará após a execução paulatina do acordo de refinanciamento”, observou Abril-Martorell.

O executivo elencou os eixos prioritários de gestão que o grupo se coloca nas diferentes áreas: na imprensa, avançar na transformação digital, desenvolver as marcas e expandi-las internacionalmente; no rádio, melhorar o posicionamento em música, avançar no desenvolvimento digital e fortalecer o negócio na América Latina; em educação, desenvolver os sistemas de ensino digital e implantar o novo modelo educativo na Espanha; na televisão por assinatura, otimizar as ofertas comerciais de acordo com o conteúdo premium e com a posição competitiva, acelerar a inovação na Yomvi e continuar lutando contra a pirataria; na portuguesa Media Capital, manter a liderança de audiência e avançar na diversificação de faturamento e na expansão internacional; e, nas áreas corporativas, o controle dos custos da estrutura e a execução do plano de refinanciamento.

Aprovação das contas

O Conselho Geral de Acionistas aprovou as contas correspondentes ao exercício de 2013, nas quais o grupo registrou prejuízo líquido de 648,7 milhões de euros (2,012 bilhões de reais), com faturamento de 2,726 bilhões de euros (8,456 bilhões de reais) e um lucro operacional bruto (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 296,2 milhões (quase 918,8 milhões de reais).

A assembleia também ratificou a nomeação de Claudio Boada, Roberto Alcántara e John Paton como conselheiros, depois da renúncia de Harry Sloan, Martin Franklin y Nicolás Berggruen. Também aprovou um plano de incentivos de longo prazo, no período 2014-2016, para conselheiros executivos e diretivos do grupo, num valor máximo de 23 milhões de euros (71,35 milhões de reais), pagáveis em ações ou em dinheiro, quando for cumprida uma série de benefícios.

Além disso, a Rucando, holding da família Polanco, assinou um novo acordo de acionistas com a subsidiária mexicana do grupo Herradura Occidente, o Consorcio Transportista Occer, para ter direito a voto no PRISA, segundo nota enviada à Comissão Nacional do Mercado de Valores da Espanha (CNMV).

>> Download Discurso de Juan Luis Cebrián e Fernando Abril-Martorell (em espanhol)

>> Download Apresentação aos acionistas

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Combate eficiente à pirataria

O presidente-executivo do Prisa, Juan Luis Cebrián, pediu ao governo espanhol que adote medidas eficientes de perseguição contra a pirataria digital de obras e criações, assim como contra as emissoras ilegais e as emissões e retransmissões esportivas que “violam descaradamente” a legislação. Nesse sentido, qualificou de “louvável” a modificação da lei de propriedade intelectual que começou a tramitar no Parlamento, a qual ele disse esperar que se mostre efetiva.

Cebrian frisou, entretanto, que, num contexto tão difícil para o futuro da indústria de comunicação e de cultura, é preciso que “os governantes deixem de olhar para o outro lado” e adotem as medidas pertinentes para defender os direitos das empresas, dos autores e dos usuários, num cenário em que a irrupção das grandes operadoras de software e de telecomunicações está alterando os tradicionais modelos de negócio dos grupos de comunicação.

“Em meio a esse panorama, o IVA cultural de 21% é uma agressão aos direitos morais da nossa sociedade e à sua capacidade de desenvolvimento num futuro imediato. E a repetida incapacidade das autoridades para colocar ordem no mundo dos direitos do futebol permite que nos perguntemos sobre sua vontade política de fazer cumprir a lei nesse terreno”, afirmou.

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Ramón Muñoz, do El País